Cartas de Setembro (17)

Foto cedida por Magno Herrera - Fotografias
Eu não fiz de propósito.

Muitos duvidaram e em algum momento da minha vida acharam que aquilo seria uma afronta contra meu pai, mas não foi.

É instintivo.

Inevitável.

Os sentimentos agem em nós como impulso fortíssimo. Eu tentei recusar aquela aproximação.

Tentei negar meus sentimentos, mas não pude fugir dela. Quando percebi já estava totalmente envolvido e me entreguei totalmente àquela estranha forma de amar. No início tentamos esconder porque era um absurdo para a época tão antiquada. Porém tínhamos necessidades de afeto.

Necessidade de permanecermos inteiramente ligados como um casal qualquer.
Como um casal hétero.

Fomos duas mulheres que desejavam se amar livremente e que enfrentaram uma série de discriminações em nome do nosso amor bizarro – como diziam muitos.

O fato é que fomos abandonadas por todos os nossos conhecidos que diziam ter vergonha de nós.

Enfrentamos tudo de cabeças erguidas quando percebemos que sofríamos menos se estivéssemos juntas.

Nossa vida foi difícil, mas superamos quase tudo.

O mais difícil foi quando tivemos que nos separar porque quando a morte se apresentou para nós percebemos o quanto nossos familiares poderiam ser ainda mais cruéis.

Todo o patrimônio que construímos juntas deveria ser então motivo de desavença para eles.

Eu parti após um acidente que me deixou definhando por alguns meses na cama.

Amália cuidou de mim com o maior carinho que pode existir. Não me privou de nada e mantínhamos nossas divertidas conversas apesar de minhas dores terríveis.

Ninguém me visitou, mas quando souberam de meu sepultamento não tardaram para se aproximarem e tentar obter algum lucro com meus pertences.

A união conjugal é importante porque formaliza perante os homens o que entre o casal já foi consumado.

Não importa se são de sexos iguais ou diferentes o amor pode existir assim mesmo, mas a lei deve assegurar a segurança material de quem fica.

Amália sofreu muito. Eles ganharam na justiça porque não havia nada que pudesse nos defender deles.

Nenhum papel que pudesse assegurar nosso enlace.

Meus parentes mais próximos ficaram com tudo o que estava no meu nome. Eu também sofri porque nunca quis deixá-la e nem que ela sofresse novamente e agora sem mim.

Deus é tão misericordioso que permite que dois seres que se amam possam se unir quantas vezes seja necessário para sua evolução.

É verdade que não estava nos nossos planos que fossemos um casal, por isso, viemos no mesmo sexo para que pudéssemos compreender e suportar a necessidade de nos envolvermos com outras pessoas que estavam nos planos, mas não pudemos resistir.


Quando Amália chegou a me reencontrar aqui no mundo espiritual ela nem acreditou. Eu já estava novamente caracterizado como homem.

Num corpo perispiritual masculino mantinha toda a energização inerente ao meu Espírito e assim que nos vimos ela sentiu.

Como nos amamos.

Naquela época eu era Lúcia e vivi num corpo feminino. Hoje reconheço que devíamos ter tentado, mas cada um só escolhe aquilo que acredita ser o melhor para si.

Quando no corpo de carne as provas são sempre mais difíceis do que acreditamos quando estamos deste lado.

Achamos que seria diferente, mas não conseguimos.

É natural que tenhamos que enfrentar esta situação novamente. Pedimos para que sejamos colocados em locais distantes do mundo.

Para que seja difícil nos acharmos e assim possamos concluir o que nos será apresentado.

O mais importante desta mensagem é deixar claro que nós todos somos iguais apesar de nossas diferenças e isso implica em abandonarmos nossas discriminações, nossos racismos. Olharmos um para o outro com igualdade e indulgência.

Que Deus possa nos perdoar por todos os nossos deslizes.

Marcelo.
04/09/16

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Roubei tudo e fugi.

Eles tinham muito e nunca imaginei que meu ato leviano fosse colocá-los numa situação complicada com a justiça e mesmo para que fossem passar privações.

Eu fui diretor de uma grande empresa e era um homem de confiança de uma rica família.

Acreditava que os ricos sempre tinham muito mais do que mencionavam, mas a verdade é que existem ricos que devem ganhar muito para manter seus luxos.

Eu não contava que aquilo que possuíam não dava conta das despesas que tinham. Meu ponto fraco sempre foi a filha dele.

Laura era uma mulher linda e delicada, meiga e passional.

Ela nunca olhou para mim.

Casou jovem e idolatrava um marido hostil e traidor.

Eu teria dado a minha vida por ela. Eu roubei tudo o que podia e fugi.

Soube, a distância de todas as privações que passaram. Seu Adolfo adoeceu rapidamente e morreu vítima de um infarto.

Laura foi abandonada pelo marido infiel que na certa só se interessava pelo dinheiro do sogro.

E eu aproveitei cada centavo com o peito cheio de remorso.

É verdade que o dinheiro não trás felicidade, mas me beneficiou muito.

Eu me casei e tive filhos, vive tanto que desejei a morte, mas ela não me queria. Tive a certeza de que vivia bastante para dar conta dos meus pensamentos. Sabia que aquela longevidade era para que eu pudesse remoer todos os meus erros.

Eu me arrependi sim, mas nunca me confessei para a justiça. Eu entendo quando as pessoas dizem que acham um absurdo a justiça humana, mas não duvidem da lei de Deus. Eu já recebi meu plano reencarnatório e dessa vez eu pagarei tudo o que devo.

Eu reencarnarei na expiação. Terei uma doença congênita, filho de pessoas extremamente pobres.

Estou amedrontado, mas esta é a única chance que tenho de não roubar e passar por uma necessidade material.

Sei que será terrível, não desejo para ninguém.

Rezo todos os dias para que o tempo não seja estendido. Acredito que seja suficiente alguns poucos anos nesta condição, mas tenho que aprender a respeitar os desígnios de Deus, respeitar Suas leis. Que seja feita a Sua vontade em nossas vidas.

Ivan.
04/09/16

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Não se trata de uma confissão.

Não se trata disso porque para todos nós o mais importante deve ser o juiz de nossa consciência.

Eu acho que este trabalho é importante porque podemos contribuir de alguma forma com todos aqueles que não farão o mesmo que nós.

Estas pessoas ainda têm chance de acertar.

Elas ainda podem evitar o irremediável.

Todos nós temos o livre arbítrio, faz parte da lei, mas muitos não têm a noção exata desta lei.

Muitos de nós, erram porque possuem as vicissitudes morais e não têm informação doutrinária suficiente para avançar com suas vidas.

Jesus contribuiu com toda a humanidade e mesmo tendo contato com Ele conseguiram matá-lo.

Eu fui assim.

Recebi uma grande quantia em dinheiro para assassinar alguém.

Foi discreto e rápido.
Ninguém notou.

Pelo menos era o que eu achava naquele momento.

Fui enfermeira e adorava o que fazia, mas a vida não é fácil para mãe solteira e eu precisava de dinheiro o tempo todo. Me pediram para aplicar uma substância que seria deletéria para um sujeito que eu nem sabia quem era.

Preferi nem investigar.

Apenas me certifiquei que o caso dele era de difícil solução médica.

Li os prontuários e conversei com o médico.

Soube que estava com os dias contados.

Certamente não suportaria a lesão que fora feita pelo golpe sofrido.

Não pensei duas vezes.
Na minha cabeça eu não estava matando ninguém porque ele já estava quase morto.

Depois daquilo minha vida virou um inferno.

Fiquei tão atormentada.

Vive décadas depois daquilo sem nunca me esquecer do ocorrido e quando desencarnei de uma forma muito dolorosa fui arrastada para um local terrível.

Adivinhem quem foi que eu encontrei correndo atrás de mim com uma seringa na mão? O próprio!

O paciente que matei.

Depois de tanto sofrimento unidos naquele lugar de trevas.
Trevas da nossa própria consciência.

Viemos para cá socorridos por bondosas pessoas.

Aqui soubemos que ele não deveria desencarnar naquele momento. Estava nos seus planos que conseguiria resistir e eu fui sim responsável pelo seu desencarne então, prematuro.

Ele desejou se vingar de mim.

Sofreu muito com a substância que lhe apliquei. Eu já pedi perdão e fui perdoada.

Também terei a oportunidade de reparar com meu processo reencarnatório e rezem por mim será difícil.

Não posso recusar, não existe esta alternativa. Sei do que está previsto e é impossível que não aconteça porque foram escolhidos os pais perfeitos para que eu tenha uma doença que me colocará no leito por toda a minha futura vida encarnada.

Eu peço a Deus que tenha a oportunidade de ouvir falar nas Suas leis. Para que eu ouça alguma coisa que me faça crer que nada é castigo de Deus.

Eu me conheço e sei que possivelmente me revoltarei.
Rezem por mim.
Flávia.     
04/09/16

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Por que tantos questionamentos?

Para quê as dúvidas se vocês já sabem o que é propício?

Eu venho por amor e não para cobrar o que quer que seja. Não duvido da capacidade de aprimoramento e de reajuste.

Creio na evolução dos seres e creio que vocês conseguirão ser melhores. Quando os recebi tive esperanças de que poderia ser um pai excelente, melhor do que o que tive, muito melhor.

Me esforcei, sei que não consegui porque vocês foram reflexo dos meus atos. Eu os privei de coisas boas porque tentava ensinar o que achava que deviam saber. Tinha comigo que precisavam ser bem educados, mas nunca deixei de amá-los.
Parem de se atormentar buscando soluções para o que já têm nas mãos.

A vida é isso mesmo errar e acertar constantemente.

Eu só peço para que fiquem de olhos abertos e não se deixem iludir por pessoas que se aproveitam da saudade e da fragilidade de vocês.

Creiam em Deus porque Ele sabe de todas as nossas necessidades.

A vida é eterna sim.

Nós não morremos.

Nenhum de nós.

Isso tudo é uma mudança natural que serve para todos. Nós estamos bem, só não estamos melhores porque sentimos suas angústias.
Aqui não nos importa quantos carros vocês estão adquirindo ou se as casas serão vendidas.

O que importa é se estão felizes e se estão seguindo o caminho que foi traçado porque isso os fará evoluir.

É tudo o que desejo e qualquer coisa contrária a isso, acreditem não é legítimo, portanto parem de pagar para obter provas porque deste lado ninguém tem tempo para isso, filhos.

Sigam com as vossas vidas de forma responsável e estejam unidos.

Nós amamos vocês.

Joaquim e Ana. 

04/09/16



Foto cedida por Magno Herrera - Fotografias



Alguns amigos espirituais interessados em se fazer ouvir. 

Aqui estão eles:


Tive uma longa vida e agradeço a Deus por tudo o que vivi.

Tudo o que aprendi nesta existência foi de grande valia. Foram tantos anos, quase uma centenária.

Quando se vive muito se aprende a conviver com as perdas. Eu perdi vários filhos, meu esposo amado e meus netos desencarnaram antes de mim.

Isso me fez aprender a conviver com as perdas.

No inicio foi terrível porque parecia que eu iria me desmanchar de tanto pesar. Quando Antônio morreu, eu não entendi o que Deus tinha contra mim e contra a minha capacidade de ser mãe.

Logo depois Ele me tirou o Argemiro e eu achei que não iria conseguir seguir em frente sem meu esposo que tanto me auxiliou.

A dor da perda é um buraco no meio do peito.

Nunca mais se fecha, mas de alguma forma se aprende a conviver com isso.

Eu segui em frente mais uma vez porque não tinha outro jeito e fui aprendendo a aceitar o que Deus colocava pra mim. Nem sempre eu gostei, mas aceitava.

Outros filhos partiram, eu chorei muito e segui em frente, mas quando vi um neto morrendo atropelado eu achei que o mundo estava desabando. Passei tão mal que achei que ia junto.

Eu não fui e segui.

Segui a trajetória de uma vida penosa cheia de turbulências com privações materiais e medo de tudo, mas fazer o quê?

A boa notícia é que quando finalmente a morte se apresentou pra mim eu já estava tão desejosa dela que foi um ato totalmente natural.

Eu não sofri.
Foi como se estivesse indo dormir.

Eu simplesmente me deitei para dormir e desencarnei. Quando acordei já me sentia super disposta. Com uma vitalidade que não tinha há uns quarenta anos ou mais. Eu me ergui com tamanha facilidade que logo percebi que alguma coisa havia acontecido.

Eu observei aquele quarto tão limpo e claro. A minha casa não se parecia em nada com aquilo.

Um barraquinho mal arrumado (risos).

A alegria de rever os que partiram é o que dá o colorido especial à nossa vida. Eu olhei aqueles olhinhos que vi nascer e Antônio estava ainda mais bonito que antes.

Ô menino bonito o meu Antônio!

Eu abraçava e beijava tanto que ele nem respirava direito, só sorria. Depois foram entrando no quarto todos os outros que podiam estar lá.

Eu acho que vieram aos poucos pra eu não me emocionar muito, mas eu me emocionei. Queria que todos estivessem juntos novamente, mas alguns se perderam por aí.

Eu tenho fé de que poderemos auxiliá-los e nos reencontraremos como uma grande e abençoada família.

Nesta última vida eu fiz afetos que me amam muito e sou grata por isso. O meu desencarne me encheu de alegria porque pude rever e estar com eles.

Sinto saudades dos que deixei, mas é a lei.

Nós devemos ir e vir cada qual no seu momento e devemos respeitar Deus por tudo o que Ele faz por nós.
Fiquem na paz.
Eulália.
11/09/16

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Foi um bonito fim.
Acreditei que as borboletas faziam parte da minha imaginação porque sempre gostei delas e nem sei o que era realmente real.

Eu já estava bem dopada por tantos medicamentos e no fundo almejava uma cena de filme para um desfecho tão triste.

Minha mãe chorava o tempo todo e meu pai franzia a testa numa atitude de quem tenta negar o encerramento daquela fase.

Eu tive irmãos maravilhosos que me faziam sorrir apesar de tudo. O câncer acabou comigo de forma violenta e eu não tinha mais forças para reagir, então me entreguei.

Era como levitar, uma sensação engraçada de quem flutua.

De repente eu flutuei de verdade.

Percebi ao lado da minha cama alguns profissionais que me arrumavam aqui e ali. Eles sorriam pra mim de forma tão amistosa.

Foi agradável senti-los.

Eu achei que era o grupo de enfermeiros do hospital, então nem falei nada. Minha mãe chorava e eu nem falei nada porque nos últimos dias ela só fazia isso.

Senti falta das nossas conversas sem preocupação.

Quando eles terminaram de me soltar eu flutuei. Eu nem sabia que era assim... Nem sei dizer quando foi que morri porque eu simplesmente me soltei e flutuei.

Eu continuava vendo meus familiares e eles nem perceberam nada, continuaram conversando, reclamando dos médicos e dos tratamentos.

A moça que me soltou estendeu a mão e eu segurei estranhando tudo. Ela falou:

 “Agora vamos.”

Eu fui, então, pude escutar minha mãe gritando um não tão alto que fez minha cabeça doer.
Eu aprendi que, quando a gente sabe que vai morrer ou desencarnar como me ensinaram aqui, é melhor pra gente e pra todo mundo que a gente se apegue às coisas boas.

Não adianta reclamar ou então ficar se desesperando pra tentar segurar a pessoa porque cada um tem o seu dia certo pra voltar pra verdadeira morada.

A questão é que algumas pessoas se apegam muito às coisas negativas e perdem tempo com isso.

Tempo que poderiam usar para viver os momentos mais felizes junto daqueles que amam. Eu senti falta da minha família no finzinho porque eles só falavam da doença e eu ainda estava ali.

Eu cansei.
Cansei daquela vida chata.

Estou bem melhor agora.
O meu recado é pra todos.

Vivam intensamente cada minuto porque a vida é um piscar de olhos. Amem aqueles que estão ao vosso lado porque tudo é imprevisível, mas se souberem o tempo que resta façam este tempo render.

Façam este tempo ser precioso.

Este tempo ser eterno no sentimento e em sua importância porque no final só restarão às boas lembranças.
Que Deus abençoe a todos.
Jordana.
11/09/16

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Você se pergunta se valeu a pena?

Todo o sacrifício que fiz? Pra mim não houve sacrifício porque fiz tudo com amor e gratidão. Tudo valeu a pena e eu faria tudo novamente.

Arrisquei os melhores anos de minha vida para salvar a vida de outras pessoas e agora me sinto beneficiado por todos aqueles que ajudei.

Não existe renuncia maior do que esta. Quando colocamos a vida daqueles que nem conhecemos antes da nossa.

E eu fiz e agradeço pela oportunidade.

Em outra ocasião fui egoísta e arrogante.
Tirei do povo para o meu beneficio.

Tive um desencarne difícil e me comprometi a fazer diferente nesta oportunidade. O plano que se formou para mim foi arquitetado com meu pedido sendo atendido e eu fiquei sim inseguro se conseguiria realizar, mas quando cheguei aqui e pude readquirir minhas lembranças fiquei tão feliz.

Feliz demais porque a prova foi cumprida com louvor.

Eu sei de minhas limitações e sei o quanto tem valor o que realizei.

Valor pra mim porque pude ampliar meus horizontes de moralidade. Eu me superei e isso me enche de alegria.

Foram muitas derrocadas.
Foram inúmeros fracassos para chegar até aqui.

Eu cai muitas vezes e cheguei a receber o mesmo plano sem conseguir realizá-lo.

É como repetir na escola várias vezes, visualizar a mesma prova e repetir os erros. Triste! Mas agora eu triunfei e te afirmo que foi um sucesso.
Letícia eu sempre te amarei.

Você é a minha vida, sempre foi a minha razão de viver, mas pare de se questionar por que foi que saí de casa naquele dia.
Você pediu que eu ficasse, mas eu não podia falhar nos meus compromissos civis.

Eu estou feliz e grato por Deus ter sido um Pai amoroso comigo.

Você tem possibilidades de avançar também amor.
Sei que conseguirá.

Eu estou sempre te observando e sei que cuidará bem do nosso filho. Eu vos amo de todo o coração. Nélio
11/09/16


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Eu confesso que não quis abandonar tudo o que tinha e chegar aqui onde todos me olharam diferente.

Eu fui de um grupo que muitos desejam não cruzar no caminho e realizava todo tipo de serviço que nos pedem.

Desde que pagassem bem, estava realizando tudo.

Eu levei mais de duzentos anos nesta vida e acreditava que não tinha vida melhor que esta.

Até que um dia eu a vi.
Estava mudada.

As roupas eram diferentes das antigas, seguiam a moda atual e os cabelos totalmente diferentes, mas ela possuía o mesmo brilho no olhar. Continuava sendo a Larissa de sempre.

Eu me encantei.
Foi como se voltasse no tempo.

Me vi como aquele homem de antes, casado com aquela que me fez viver cheio de esperança.

Eu a vi enquanto realizava uma perseguição.
Foi o meu fim.

Eu abandonei o meu posto para segui-la. Eu não podia perdê-la novamente. Nós ficamos tanto tempo afastados e eu sempre a amei.

Meus superiores deram por minha falta e mandaram me prender. Eu fui preso e me maltrataram, mas isso de nada importa. O que realmente importa é que o amor sempre triunfa.

As lembranças que tive de Larissa foram a minha salvação. Eu lembrei daquele tempo em que orávamos no lar e eu orei. Eu clamei ao Senhor e fui resgatado.

Aqui onde estou todos me tratam bem, mas percebo que me observam diferente. Eu sou como um peixe fora d’água.

Ainda não consegui me livrar do meu aspecto. Leva um tempo porque eu não tenho tanto treino e habilidade, mas vou conseguir.

Eles me orientaram e estão me ajudando. Aos poucos eu estou fazendo amigos e já me alertaram que em breve ela estará aqui conosco. Eu estou contando os dias. Ansioso e deslumbrado com esta possibilidade de felicidade que se apresentou para mim. Eu estou mudando em nome deste amor e conseguirei.

Não desprezem o amor amigos. Eu peço perdão aos que prejudiquei.
Valdemar.
11/09/16

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Tudo é especial.
O sabor das frutas e toda a natureza.
Aqui o céu tem um tom mágico e tudo é infinito.

Eu não tive conhecimento de todas estas coisas quando estava na carne, então estou fascinada.

Assim como todas as moças que se encontram aqui sou ainda muito sonhadora e adoro os livros. Formamos um grupo de pessoas que foram molestadas e que desencarnaram após esta violência. Os superiores acham justo que fiquemos agrupadas para que possamos passar por tratamentos adequados.

Muitas de nós chegam deveras transtornadas e não permitem a aproximação de ninguém. Por isso, aqui o número de mulheres é quase total.

Eu estou aqui há dez anos e hoje me sinto bem melhor. Já se cogita o meu desprendimento do grupo. Pode ser que nos próximos anos eu passe a frequentar uma colônia mista. Eu já me sinto mais preparada e ansiosa para o contato com os meninos.

É bem complicado no início porque muitas de nós chegaram aqui jovenzinhas e têm as imagens imantadas no perispírito.

O tratamento consiste em regressão para que possamos compreender de onde surgiu esta lei de atração e também tratamento ligado ao perdão, mas para muitas de nós isso é impossível, então pode-se desejar libertar-se no corpo físico com o câncer.

Esta doença permite expurgar as chagas emocionais que nós somos incapazes de eliminar de forma consciente.

Eu estou passando pela fase de indulgência.

Pra mim é difícil porque não consigo aceitar os motivos pelos quais alguém pode invadir o corpo de outra pessoa. Ainda é difícil me lembrar dele sem produzir algumas sensações dolorosas, por isso, ainda não me mudei para a colônia mista.

 A verdade é que apesar de atrairmos com a lei, porque tudo o que fazemos gera uma consequência que um dia ou outro nos cobrará, somos responsáveis pelas escolhas que temos. Eu errei no passado é verdade, mas não aceito que todos continuem errando.

Eu acho que eu sofri e que ninguém merece sofrer assim.

Ainda é difícil.

Os instintos humanos são terríveis e devemos ter consciência disso para que possamos avançar mais e mais. Para que possamos parar de ferir e avançar para outras formas de vida. Eu agradeço a oportunidade que tive de me manifestar e também pela oportunidade que tenho de me tratar com meu depoimento.
Inês.
11/09/16

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Foto cedida por Magno Herrera - Fotografias

Sinto que fracassei.

Deveria ter me esforçado para fazer o bem.
Fui alguém que passou pela vida sem fazer diferença.

Uma das tantas pessoas que vive por viver.

Apenas carregando comigo pensamentos levianos e anseios secretos. No fundo eu almejava ser alguém que possuía bens. Alguém a quem todos respeitassem.

Eu desejei ter uma bela posição social, mas não me esmerei para isso.
Nem para nada.

Eu dormi bastante, trabalhei um pouco para obter uma forma de me sustentar. Não formei família e nem a minha dos pais e irmãos desejou viver comigo por muito tempo.

A verdade é que muito se sofre depois de viver na leviandade.

Eu desperdicei inteiramente a oportunidade que me concederam. Não era para ser assim. Eu fiz planos, planos fantásticos. Se eles tivessem dado certo teriam me impulsionado tanto, mas isso ficou no projeto no plano espiritual.

Quando reencarnei eu me acomodei.

Me acostumei com a vida prática da infância quando sempre existe alguém que nos fornece o necessário e acreditei que quando mais velho ainda teria ao meu lado os velhos pais para me auxiliarem.

Por longos anos estive morando no lar com eles até que o derradeiro dia chegou para ambos e eu fiquei sozinho.

Fui covarde, fui melindroso e também medíocre.
Quando cheguei aqui nada mudou porque desencarnado a única coisa que muda é que não se tem o corpo, mas os pensamentos continuam os mesmos.

É a mesma pessoa sem corpo, só isso.
Eu não me tornei melhor porque morri.

Levou um tempão para me dar conta de que aquela casa não era mais minha e não adiantava em nada viver com os novos moradores.

Percebendo-me um fantasma que tentava assombrá-los para que fossem embora me surpreendi com um ser que trabalhava intensamente para promover o bem para aquela família e isso foi o que me encantou.

Nunca imaginei que acharia tão bela a situação de proporcionar ao outro o bem estar.

Ela cuidava do lar com alegria e tudo ficava iluminado. Eu vi por pouco tempo, mas foi o suficiente para começar a pensar em outras coisas e isso foi o início de tudo.

Meus pais puderam me resgatar e hoje estou com eles novamente, porém por conta dos meus deslizes e vícios morais não posso habitar a mesma moradia.

Eu fico isolado para aprender a ser independente e já temos uma breve ideia do meu plano. Acho que sem pais terei a necessidade de fazer mais por mim, talvez isso me leve à evolução necessária, por isso, serei abandonado logo após meu nascimento e, como ninguém terá a predisposição em me adotar, eu serei órfão.

Será muito bom, eu sei.

Confio em Deus e me esforçarei para colocar em prática o que estou aprendendo aqui. Quanto a ela – o ser que brilhou para mim, fazendo com que a consciência voltasse a me alertar sobre as verdades da vida – ela veio me ver.

É uma pessoa maravilhosa a Rosa. Tenho fé que se melhorar, um dia pode ser que eu tenha a concessão de viver ao seu lado, mas por hora infelizmente estamos ainda muito distantes em vibração.

Que seja feita a vontade de Deus.
Rogério
18/09/16

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A vida passou rápida como um clarão.

E todos os dias eu tinha uma disposição incrível para realizar minhas atividades. Eu adorava a minha vida. Tive condições de pôr em prática os planos que foram traçados para mim. Não havia nada de extraordinário. Seria uma vida pacata de dona de casa.

Eu me casei e tive dois filhos que me deram sim, algum tipo de descontentamento porque todos nós temos falhas e nós não fomos sempre os afetos que nos tornamos.

Acredito que as discussões que tivemos e todos os empecilhos vieram por conta do egoísmo.

Ele nos arrasta a cometer bobagens.
Eu compreendo.

Milena e Afonso vocês são meus filhos lindos e serão sempre adorados.

O que devíamos aprender foi aprendido porque o amor nasceu em nós.
Do início ao fim eu amei.
Todos os dias foram incríveis.

Cada sorriso, cada afago foi maravilhoso e nossas discussões não devem ser lembradas porque isso acontece. Eu sou uma pessoa difícil, tentei controlar tudo, o tempo todo.

Não queria que casassem quando se casaram, não queria que tivessem escolhido os vossos companheiros, mas hoje eu sei que estava errada.

Eu peço perdão por tudo o que houve e também se magoei alguém. Eu não tinha o direito como disseram.

Eu estava errada, mas o amor existiu sempre. Penso no seu pai e reconheço que foi um bom homem, mesmo que tenha me feito sofrer ele cumpriu o seu papel.

Ele deveria me auxiliar com vocês e ele fez isso.

Eu agradeço.

No geral acredito que cumpri. Tive o socorro tão logo parti porque obtive o merecimento.

Nunca desejei mal, nem o cometi.

Minhas funções de esposa e mãe foram desempenhadas e apesar de algumas discussões não tive mágoa de ninguém. Aquele atropelamento tinha que ocorrer porque foi chegada a hora e eu precisava retornar.

Tudo deu certo e hoje eu apenas sinto saudades.

Me reencontrei com os nossos que partiram antes de mim e estamos felizes. Fazemos planos de um trabalho edificante.
Rezem por mim.
Com amor Tereza.
18/09/16

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Te confesso que também achava uma grande besteira.
Por anos sufoquei dentro de mim minha sensibilidade. Achava crendice, charlatanismo ou qualquer coisa que eu não devia me envolver.

A verdade é que eu não queria me ligar com os assuntos espirituais. Eu sofria de dores de cabeça intensa e tinha visões que me atormentavam. Achei pelo caminho da minha jornada muitas pessoas que me falaram sobre mediunidade.

Naquela época era mais difícil ter acesso a todas as informações, mas eu poderia ter aprendido se quisesse.

Eu não quis saber disso, não me interessei.

O que ocorreu foi que eu não produzi com o que recebi da espiritualidade.

Eu escolhi não distribuir e me comprometi com isso.

Tive tantas informações, distorcidas é certo porque não me informava e elas vinham de forma distorcida, mas eu poderia ter ajudado. Eu não fiz nada.

O caso mais delicado foi o de uma menina que chegou perto de mim e eu tinha a certeza de que ela possuía determinada doença. Falaram claramente para eu alertar os pais, mas eu simplesmente me neguei a transmitir a mensagem. Quando eles descobriram era tarde demais para combatê-la. Eu sei que tudo depende da intercessão divina e nós não somos vítimas, mas os fatos se apresentaram para mim para que eu tomasse decisões e nem assim fiz nada.

De qualquer forma ela iria desencarnar, mas isso fez com que eu analisasse minha vida toda.

Eu só perdi tempo com festas e um trabalho que me rendia dinheiro, só isso.

Eu me escondi. Uma médium que se escondeu com vergonha das suas habilidades.

Eu poderia ter feito mais. Me sinto constrangida deste lado. Eles são muito educados, ninguém comenta os deslizes que demos.

Ninguém aponta.

Eu já havia sofrido há tempos com minha mediunidade. Em outra existência fui queimada na fogueira e não tive coragem de me revelar desta vez.

Eu sinto muito porque perdi uma chance proveitosa.

Desejo de todo o coração que Deus lhe proteja em seu trabalho. Que os bons Espíritos sempre estejam ao seu lado porque eu sei o quanto é difícil se revelar.

Tenho planos que serão realizados, mas no momento me foi concedido um longo período para estudar.

Eu preciso ter consciência do trabalho coletivo.

Ter consciência do que significa fazer o bem sem olhar a quem.

Fazer pelo outro independente das críticas implica em abnegação e certeza do compromisso assumido.

Eu quero fazer e preciso, mas hoje não estou preparada.

Muito se engana quem pensa que é só chegar e fazer.

Eu tenho um caminho árduo de disciplina e trabalho. Irei conseguir.
Torça por mim.
Renata.
18/09/16
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Quando o fim está próximo tudo o que resta é dedicação e oportunidade de aproximar-se daqueles que amamos.

Não deixar para depois, pra outra hora porque os minutos são como fleches. Todos nós temos ambições e todos nós somos tão iguais em nossas redundâncias.

Esperamos e nos reformulamos para alcançar objetivos cada vez maiores.

A evolução nos fez tão adaptáveis, quanto mais nós perdemos mais estaremos maduros para aceitar as perdas.

O fato é que a morte não deve ser um marco do fim, mas um ponto de transição para o retorno para a verdadeira realidade.

A realidade da vida sem o esquecimento. Onde tudo é possível. Onde temos todas as habilidades inerentes ao nosso ser divinal porque fomos criados por Ele. Eu apenas agradeço a oportunidade de me manifestar.

Queria tanto que pudessem ver.
Ver o que existe além da carcaça.
Enxergar e perceber.

Crer que existe em todos os locais seres que zelam por vós com uma paciência inacabável.

Eu desejo que vocês sejam mais lúcidos e se preparem para a transição que não tarda em chegar. Que Deus os abençoe.

Clóvis.     
18/09/2016


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Foto cedida por Magno Herrera - Fotografias



A minha infância foi como a de tantas crianças que vivem na precariedade deste país.

Cheio de ilusões e com certa inocência.

Aquela que cabia para a pouca idade que eu possuía na época. Me lembro bem dos desejos secretos que nem por um momento eu revelaria para os pais paupérrimos.

Eu só queria uma bola.

Meus olhos brilhavam ao contemplá-la. E são tantos os apelos materiais aos que não possuem...

Precisei me virar como engraxate. Meus pais precisavam de todos os recursos que pudéssemos trazer.

Éramos muitos, alguns de nós ainda em tenra idade e mamãe se esforçava para nos alimentar com todo o capricho. Ela foi uma formosura em nossa vida.

 A vida foi uma escola pra mim.

Eu aprendi muito com meus amados pais, com meus queridos irmãos. Toda a vida difícil que reverteu para mim como aprendizado edificante me fazendo compreender que há muito mais para ser vivido do que os simples prazeres materiais.

Eu não tive nada da fonte material, mas adquiri tudo o que podia em moral e espiritualidade.

A bola nunca me chegou aos pés descalços, mas os sapatos caros, eu pude esfregar até o final da vida humilde me fazendo enxergar o quanto é importante o trabalho digno.

O quanto é importante a coragem, a fé e o empenho.

Hoje eu posso desempenhar uma tarefa que me deixa deveras feliz. Foi um júbilo para saber que realizei adequadamente minha jornada carnal.

Tenho tido boas perspectivas de tudo o que se realizará no futuro e o que devo acrescentar para todos os que podem ler esta mensagem é que a vida é muito mais do que podemos observar com nossos olhares limitados.

A vida é tudo o que Deus quiser para nós e para Ele não existe limitações.

Não existe impossível para Deus.

Se você desejar ardentemente conquistar uma bola, persista e se esforce dentro do bem que um dia ela será sua.

Um abraço fraterno do amigo Eduardo.
25/09/2016

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O fato de não ter conseguido não faz de mim um covarde. Eu fraquejei.

Abandonei um ideal porque fui convencido de que não era importante para mim e para ninguém.

Me disseram uma vez que eu não coseguiria realizar coisas grandiosas para o mundo e eu acreditei nisso.

É incrível como nós podemos ser responsabilizados pela forma como persuadimos a mente de outrem.

Ela era minha professora e eu, ainda menino, tinha minhas invencionices. Acreditava de todo o coração que poderia criar coisas importantes que facilitassem a vida das pessoas.

Mas, é verdade, eu não tinha nada de meu. E qualquer um que me visse sentiria pena de meus anseios infantis.

Eu a adorava e confidenciei meus anseios a ela. Mas infelizmente ela me desacreditou. Aquilo que falei aos sussurros foi dito por ela em voz estridente para todos os adultos que estavam diante de nós.

Todos riram, fizeram chacota, gargalhavam me ridicularizando. Eu a odiei. Naquele instante se perderam para mim todas as ilusões e toda a minha capacidade de auxiliar o próximo ficou extinta naquela existência.

Tudo foi modificado por causa do sentimento que aflorou em mim. Depois de alguns anos eu a esqueci completamente como se um bloqueio necessário surgisse para me facilitar a continuação do caminho árduo.

Eu cresci e me tornei um adulto amargo.

Trabalhei sem grandes propósitos e não consegui me envolver amorosamente com ninguém porque não confiava nas mulheres.

Meu desencarne foi tão de repente.
Eu fui atropelado e retornei.

Deste lado soube que voltara porque me desviei do caminho que havia sido traçado para mim.

Eu deveria me tornar prefeito daquela cidade. Era sim, para ser alguém que fizesse algo importante para muitas pessoas.

E ela me fez fraquejar.

Hoje eu compreendo que as pessoas só ofertam o que podem e eu não sei dos motivos que a fizeram me tratar daquela forma.

Mas eu me sinto mal em pensar que pessoas podem fazer isso todos os dias.

Não existem vítimas é certo, mas com o comportamento que temos podemos impulsionar ou derrotar as pessoas.

Alguns de nós ganham voz ativa para levar o bem e fazem o inverso. As pessoas devem ter a certeza de que as palavras que jogam no ambiente são ouvidas por alguém e, por isso, devem pensar antes de dizer qualquer coisa.

Respeitar a criança porque ela se torará um adulto e será o adulto que a sociedade moldar.

Ter a consciência de que todos são responsáveis.

Todos que lhe cruzarem o caminho, não apenas a família.

Eu terei outras chances.

Da próxima vez tudo dará certo porque estou me esforçando para reforçar minha atitude de fortaleza mental.

Isso quer dizer que de uma próxima vez nada poderá influenciar meus propósitos. Independente do que digam, eu seguirei confiante.

Que Jesus os inspire porque Ele foi o nosso melhor modelo de amor.
Joaquim.
25/09/2016

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Foi o melhor dia da minha vida.

Eu nem acreditei quando vi aquele bolo. Era todo decorado com tantas flores coloridas que eu nem podia contar.

E tinha doces e convidados.
Tudo pra mim.

Ela foi a maior colaboradora para que tudo aquilo se realizasse. Eu recebi dela tanto afeto que por toda a minha vida não fui capaz de retribuir por mais que quisesse.

Pessoa maravilhosa dona Eva.
Ela foi a patroa de minha mãe.

Recebeu a gente em casa com todo o respeito. Nos deu moradia, alimentação, salário pra mãe e ainda foi nossa amiga.

Eu era pequena quando chegamos na casa dela.

Minha mãe chorava, bateu na porta e caia uma chuva fininha, gelada. Eu tinha chinelinhos diferentes, um de um pé, outro do outro pé. Vestidinho de chita. O cabelo era uma mola. A mãe carregava uma trouxa de roupa, era a nossa mala.

A mãe chorava só da lágrima escorrer. Eu não falei nada o caminho inteiro porque eu preferia qualquer coisa do que vê-la apanhar de novo.
A gente fugiu e a dona Eva nem perguntou nada. Ela recebeu a gente com sorriso. Fez um chá e perguntou se eu tava com fome.

Eu tava sempre com fome, comi uma comida gostosa. Foi a comida mais gostosa antes daquele bolo colorido. A dona Eva perguntou se a mãe precisava de emprego e naquele dia a gente ganhou uma casa pra morar e uma família que sempre respeitou a gente.

Eu agradeci toda a minha vida porque Deus criou aquela mulher.

E quando eu desencarnei muitas décadas depois encontrei a dona Eva segurando a minha mão aqui na colônia.

Toda bonita, igual no primeiro dia que a vi.

Eu chorei de felicidade porque o dia que ela morreu eu chorei tanto. Eu não queria pensar que nunca mais iria vê-la.

Foi tão bom o nosso reencontro.

Eu tive curiosidade de saber de tudo e ela me explicou que somos seres afins de muito tempo. Ela já foi minha mãe outras tantas vezes e o nosso amor é fortíssimo.

Era dos planos de Deus que nos reencontrássemos e tudo aconteceu. Fui muito agraciada.

Então quando alguma coisa ruim acontecer não pense que é o fim do mundo porque talvez este seja o princípio da sua felicidade.

Alícia.
25/09/2016

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Subversivos, profanos, incestos.

As pessoas julgam e falam coisas que não deviam.

Por que confrontar e dizer o que não sabem?

A vida já era difícil dentro da minha cabeça. Eu vivia num mundo que ficava fora do mundo real e percebi quando alguns parentes reclamaram da minha presença nas comemorações.

Eu era feia e sem graça. Não sorria e nem participava das conversas frívolas. Eu pensava muito e sabia que não era apropriado falar o que eu pensava, então eu só observava, mas parecia que eles sabiam o que eu estava pensando.

Só ele me compreendia. Ao seu lado eu era realmente feliz. Sempre foi assim. Eu podia falar, eu me expressava sem medo dos questionamentos porque era possível a sua compreensão.

Almir era pra mim o raio de sol.

Tudo se iluminava quando meu irmão estava presente. Ele era mais importante que tudo, do que todos. Meu coração palpitava quando ele se aproximava e eu tentava sorrir para ele. Foi mais ou menos fácil até que ele a encontrou.

Eu a detestei e ela acabou com a chance que eu tinha de ser feliz quando se casou com ele e levou meu irmão para morar em outra cidade.

Aquela mulher acabou com a minha vida e ainda hoje é difícil pra mim, pensar nela. Eu ainda sou a mesma e quando relembrei de tudo depois que reativei todas as minhas lembranças foi ainda mais difícil.

Nós sempre estivemos ligados. Os três sempre se confrontaram. Ela já me enfrentou outras vezes e ainda não conseguimos assumir uma posição de respeito e tolerância por causa dele.

Depois que ele foi embora eu desejei morrer porque nada mais me trazia alegria. Meus pais perceberam.

Eu me tranquei e fiquei dias no quarto. Almir veio me visitar e pedi a ele que ficasse, mas ele não podia abandonar seus compromissos de homem de família.

Ele pensou em me levar com ele, para morar em sua casa, mas eu não iria suportar vê-la todos os dias e ele sabia disso. Naquele dia nós nos despedimos para sempre.

Ele sabia que era o último dia que me abraçava e ele chorou. Eu apenas aguardei que fosse embora e cometi meu maior delito.

Eu tomei todos os comprimidos de mamãe e quando acordei estava num lugar terrível. Eu estava ainda mais louca e atormentada. Isso durou muito tempo, mas para vós algumas décadas que foram suficientes para meu irmão aumentar a sua família.

Ele teve filhos e netos e agora Almir se prepara para receber os seus bisnetos.

Após o meu socorro, da desgraça em que me atirei, agora tenho a chance de retornar e pedi para ser colocada na mesma família. Eu receberei a oportunidade de mais uma vez tê-los ao meu lado.

Eu sinto saudades de Almir. Sei que serei feliz em seus braços idosos. Peço a Deus para colocar em mim um toque de amor e de paciência para que possa sentir em Flora a certeza de que estamos nos perdoando.

Tomara que ela possa ver em mim um doce traço infantil e que goste de receber como bisneta. Que Deus abençoe a todos.
Camila.           

25/09/2016




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