Cartas de Outubro (16)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografia

“GENTE QUE ACHA QUE CRIANÇA ATRAPALHA E PREJUDICA. COMO PODE?”

Não vou te dizer que não foi difícil. Foi e ainda é. Difícil demais conviver com as lembranças. Saber que o seu pai, que deveria te proteger e te amar, pode te ferir tanto só pode machucar mesmo, mas depois que eu soube de tudo que se passou foi mais fácil aceitar.

Eu era tão jovem e tão inocente. Inocente próprio da idade. No íntimo eu sei que ainda tenho tendências negativas que devem ser eliminadas e só com as diversas provas, diversas existências para depurar. Sei que o que fiz a ele justifica tudo o que vivemos, mas mesmo assim, eu queria que tivesse sido diferente. Após tudo o que aconteceu, eu creio que as crianças merecem mais atenção, afeto. São corpos tão frágeis e são criados nestas condições exatamente para que os adultos vejam neles seres frágeis que necessitam de apoio e cuidados, mas tem quem repudia criança. Gente que acha que criança atrapalha e prejudica. Como pode?

Eu fiz muita coisa errada, mas nunca envolvendo criança. Sei que não é mérito porque errado é errado de qualquer jeito, mas foi muito ruim o que me aconteceu. Do início ao fim, foi uma vida muito triste. Eu passei centenas de anos amaldiçoando meu pai, desejando que ele fosse castigado pelas piores criaturas. Eu o persegui e ele me perseguiu como dois infelizes. Isso vem de tempos... Mas teremos outra oportunidade porque a atração só cessa quando existe paz.

E entre nós esta paz ainda não chegou. Eu não aguento pensar na ideia que nos reuniremos de novo porque sei que ainda existe rivalidade e tudo pode acontecer. Seria bom se as pessoas pudessem dominar seus instintos e seguir em frente realizando o que tem que ser. Acho que os piores problemas da humanidade estão relacionados a assuntos mal resolvidos. Se eu pudesse deixaria pra lá. Preferia não ter contato com ele, mas no meu caso, não existe escolha. Estaremos novamente ligados. Rezem por nós.
EUCLIDES
07/10/17

-------------------------Paula Alves-------------------
“A VIDA DA GENTE É UM FIAPO. VAI QUE A GENTE NEM PERCEBE”

Eu ainda lembro a faca. Naquela terra tudo se resolvia na peixeira. Cara atrevido que chegou me bajulando e depois falou desaforos da Rosa. Ela não devia nada pra ninguém, sei que era mulher honrosa, mas o cabra queria comprar briga comigo mesmo. Coitado, ficou na lembrança do dia que o maluco falou da vida de mulher de família. Eu não podia deixar era uma questão de honra porque ela era comprometida comigo. Vê se pode de casamento marcado e tudo.

A moça fazendo enxoval bordado à mão e sendo mal falada por salafrário. Eu não deixei não. Cabra da peste. Puxei a faca e sentei no lombo dele. Vi o disgramado sangrar, mas depois me apavorei porque era coisa de alvoroço, sabe? Quando vi que tinha perfurado demais fiquei amedrontado porque não era pra matar não. Era só pra fazer sofrer mesmo. Corri pra rua pra ver se alguém podia socorrer, mas quando cheguei perto ele tava duro. Morreu o danado. Fiquei parado e só juntando gente. Eu nem sabia o que dizer, todo mundo olhando o morto e comentando. Daqui a pouco gritaria e choro porque todo mundo sofre a morte de alguém, mesmo de quem não presta. Eu fiquei por ali e nem me dei conta de que tinha sido ferido. Fui pra casa esperando o delegado me prender porque todo mundo me viu com a miséria da faca na mão.

Passou dias e nada. Eu nem queria sair de casa porque achava que ia direto pro xadrez, mas resolvi ver a Rosa. Assustei quando cheguei na casa dela. A Rosa tava de viúva, toda de preto, chorando, triste mesmo. Eu pensei que ela tava assim por causa do mardito, mas não era isso não. Eu nem podia chegar perto dela. Aí que eu percebi uma faca fincada na minha barriga também. Nem vi quando ele me acertou, nem percebi que morri junto com o canalha.
A vida da gente é um fiapo. Vai que a gente nem percebe. Por causa de cada bobeira a gente perde a vida e se arrepende do que nunca vai viver. Tem outras chances, mas não com a mesma pessoa, na mesma época, nas mesmas circunstâncias. Eu tinha uma vida traçada com a Rosa. Pessoas que deveriam aparecer como nossos filhos e provas que deveríamos enfrentar juntos. Por causa de uma briga idiota tudo ficou adiado. A Rosa e os filhos não tiveram nada a ver com nossos erros e tiveram os planos modificados pra que pudessem continuar evoluindo, só nós dois perdemos. Agora, mesmo tendo aceito tudo isso, eu vou ter que aguardar. Vou ter que me reajustar com meu inimigo e esperar pelo tempo oportuno quando poderia me reencontrar com todos num novo plano. Quanta tolice e perda de tempo.
VICENTE
07/10/17


----------------Paula Alves-------------

“EU NOTEI QUE NADA FICA IMPUNE E COMO A COISA É JUSTA.”

Foram ligações muito perigosas. A gente tem mania de se achar tão esperto. Até que chega outro mais esperto que você e você se dá mal. Eu nunca gostei de pegar no pesado. Não queria estudar, nem trabalhar de empregada de ninguém. Fazer faxina como a minha mãe era uma afronta.

Eu era linda, podia ter tudo o que quisesse com minha aparência. Estragar minhas mãos com produtos de limpeza? Tenha dó! Sempre conseguia uns amigos pra passear e foi numa destas saídas que encontrei meus afins. Dinheiro fácil, bastava ser esperta e eu me achava muito esperta, então topei. Era só esconder os papelotes e fazer as entregas. Mulher linda abre as portas, mas não convence todos, foi aí que eu dancei. Entrei, mas não saí.

Foram tantas entregas, tanto dinheiro que poderia ter mudado a nossa vida, minha e da mamãe, mas eu não pensei nela. Eu gastava muito em roupas, sapatos, viajava e minha mãe na faxina, coitada. Eu cheguei a pensar que era castigo porque eu não a honrei. Ter vida longa eu não tive, então deve ser porque eu não a honrei, mas depois fiquei sabendo que atraí de outros tempos. Esta da honra deve estar escrita pras próximas, né? Eu notei que nada fica impune e como a coisa é justa. Perfeita.

Eu não soube disso, minha mãe me deu exemplos de honestidade, mas não me apresentou a Deus. Eu não o conheci. Foi uma pena. Foi rápido. Eles se divertiram comigo e me apagaram. Aí eu fui direto para uma região de traficantes e fiquei presa como mula por um bom tempo. Foi bem estranho porque as características eram parecidas com o animal e isso mexeu muito com a minha cabeça porque eu fui tão vaidosa e me observei como um animal. Estou bem melhor depois do tratamento. Agora já com aspecto humano graças a Deus. Aqui tudo é bom e eu sinto saudades da minha mãe que já está reencarnada. Sinto não ter notado a mulher extraordinária que ela foi pra mim. Eu não considerei muitas coisas e me arrependo.
NÚBIA
07/10/17


--------------------Paula Alves----------------------

VOCÊS QUEREM ACRESCENTAR E SALVAR O MUNDO, MAS O MUNDO ESTÁ MUITO BEM SEM VOCÊS”

Pra muitos nós seremos sempre nomes. Nomes de pessoas que morreram e que ainda possuem problemas existenciais. Se conseguirem chegar no final do relato podemos nos sentir satisfeitos porque a maioria está tão envolvida com sua vidinha que nem leva  em consideração a real intenção deste trabalho. Eu realmente não sei por que deveria ser importante, pra mim, mencionar tudo o que me ocorreu. Tornar público. Explicar? Por quê? Ninguém é melhor do que eu. Acho até que eles cometem mais erros todos os dias e terão a oportunidade de me avaliar, de me criticar. Espírito imperfeito, delinquente, assassino. Pra quê? Pra ser julgado, pra me sentir mártir, coitado, ser apontado?

Eu passo a vez. Não tenho a intenção de me expor. Encarnados que se acham superiores. Eu também já fui assim. Vivendo na matéria nunca perdi meu tempo com questões espirituais. Eu tinha tanto pra viver. Nunca pensei que pudesse passar por isso. Eu preferia que extinguisse. Que findasse. Viver e morrer para sempre. Ter que continuar pra mim é o triste. Continuar tudo de novo e ter que ser julgado. Colher sempre dependendo dos meus acertos e erros. Sem barganha, sem justificativas. Eu nem sei o que dizer de tudo isso. Chegar aqui e perceber que poderia ter sido e não foi. Chegar aqui depois de tudo o que eu peregrinei e ter que agradecer todos os dias por ter sido recebido aqui por vocês.

Eu nem sei se eu gosto mesmo de estar presente neste local onde sou tratado como louco. Fazer tratamento depois de morto? Vai facilitar? Se eu mudasse minha consciência? Eu não tenho nada a perder e nem a ganhar. Eu não deixei ninguém em parte alguma. Não existe ninguém por mim e eu detesto falsidades e bajulações. Acho que tudo isso é desnecessário e vocês estão perdendo seu tempo comigo e com todos os outros. Encarnados e desencarnados porque ninguém se importa. Vocês querem acrescentar e salvar o mundo, mas o mundo está muito bem sem vocês. São tolices e eu não compactuo.
GUIMARÃES   
07/10/17   


-------------Paula Alves------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“ME ENTREGUEI A EXPLORAÇÃO”

Nem sei como aconteceu. Só senti um baque. Tão intenso e tão forte que me arremessou para longe. Eu não pude nem gritar. Estava tão distraída, pensava em tantas coisas e quando percebi estava desacordada. Eu acordei e me ergui na aeronave que estava em frangalhos, assim como eu. Foi horrível! Me lembrei dos meus pais e não os encontrei, fiquei confusa. Por um momento, não sabia se estava dormindo e se tudo havia acontecido, se era minha imaginação. Eu pensei em sair dali e, de repente, estava no chão. Havia muitas árvores e animais estranhos, diferente do habitual, quase me certifiquei de que era mesmo um sonho incrível. Me entreguei a exploração e, achando que sonhava, fiquei satisfeita com o que vi, mas sentia dores fortíssimas que me levavam a crer que em nada se parecia com um sonho normal. Isso durou muito tempo, tanto que cansei. Desejei voltar para meu lar, mas quando consegui, percebi que estava vazio. Eu não entendi nada e fiquei por ali até que achei melhor me colocar entre os transeuntes. Caminhei por todos os lados e ainda sofria de dores, agora sentia fome e solidão. Achei uma senhora que entregava folhetinhos religiosos na rua e percebi que ela me viu. Ela não queria que eu me aproximasse dela, mas me viu e me ouviu. Falou comigo sem mover os lábios e parecia tão assustada. Mas, de repente, ela começou a orar e disse que eu não fazia mais parte daquele mundo. Eu entendi que tudo estava errado pra mim e chorei. Aí eu vi muitas pessoas vestidas de branco. Elas levavam outras pessoas de aspecto feio, machucadas e chorando. Um deles me estendeu a mão e eu segurei. Estou aliviada de estar aqui. Ainda não consegui compreender por que precisávamos passar por isso e por que meus pais não puderam vir para cá. Eu sinto saudades e estou preocupada com eles. Gostaria tanto de achá-los e de poder ajudar, mas no momento isso não é possível. Meu desencarne foi muito violento e a dor de cabeça melhorou, mas ainda é difícil adormecer. Mesmo assim, eu agradeço por tudo o que estou recebendo de vocês. SAMIRA
14/10/17

----------------Paula Alves------------

“É DIFÍCIL MESMO SUPRIR TODAS AS NECESSIDADES QUANDO A PESSOA NÃO PODE SE EXPRESSAR”

Foi um alívio. Eu já não aguentava mais ficar naquele corpo. Sei que precisava expiar. Eu sempre senti dentro de mim uma estranha necessidade de produzir o mal e como me irritavam todas as pessoas que pareciam sentir pena de mim. Estranho porque não é de uma hora pra outra que se torna bom, que se depura. Eu olhava pra elas e percebia a vergonha que sentiam por estar ao meu lado, eu percebia que tinham dó, alguns sentiam até nojo de mim. Mas, eu mereci tudo e mais do que isso, creio que Deus facilitou muito o meu percurso.

Tive pais maravilhosos, pessoas que cuidavam de mim com todo carinho, apesar das minhas marras. Eu nunca esquecerei porque a mente pode estar um pouco confusa pela deficiência, mas dá pra sentir quando alguém gosta da gente de forma sincera. As pessoas que gostavam de mim, estas não poderia esquecer e peço a Deus que sejam amparadas dentro de suas necessidades porque vocês me fizeram sentir humano e fui feliz por uns instantes. Eu agradeço. Os outros, eu tento não me lembrar deles.

Houve uma época em que eu fui terrível. Um senhor feudal que só pensava em amontoar riquezas e não me importava com os criados, nem com a família. Nem me doía os castigos que aplicava. Quando desencarnei, necessitei passar um tempinho na região umbralina que tanto se assemelhava comigo, mas nem isso foi capaz de me ensinar o que devia aprender, coração de pedra, por isso, nem me foi questionado, simplesmente reencarnei e numa condição tão limitada física e mentalmente. Eu sofria calado. Dor, fome, solidão, mas não por maldade dos meus pais. É difícil mesmo suprir todas as necessidades quando a pessoa não pode se expressar. Às vezes, tava quente demais, noutras estava frio. Ou eu não suportava o sabor, mas ela precisava me alimentar com o que tinha em casa. Eu mereci tudo. Sempre fui tão egocêntrico, tão arrogante. Não tinha escolha.

Eu ainda tenho muitas coisas negativas em mim. Agora me esforço para readquirir os movimentos que estavam ausentes durante anos. Estou melhorando. Dos sentimentos é que preciso melhorar mais. Ainda preciso de muitas lições importantes.
ONOFRE
14/10/17

-------------Paula Alves--------------

CONSEGUIU TANTAS COISAS POR MEU INTERMÉDIO, ESPOSA, CASA, EMPREGO DO BOM
Vodka genuína. Era isso o que eu queria e ele sempre me levava uma garrafa. Cliente dos bons. Eu não podia perder. Quando percebi que ele estava adentrando a casa, corri para apertar o laço. O danado bem que sentiu, deu até falta de ar. Entenda que eu não queria prejudicá-lo, apenas fazê-lo perceber que o elo que nos unia era vantajoso para ambos.

Ele foi tantas vezes até mim. Conseguiu tantas coisas por meu intermédio, esposa, casa, emprego do bom. Teve tudo, viagens e até amante sem ninguém nunca ter percebido, aí decide mudar de lado. Foi uma ofensa. De repende, se transformou num religioso, que história é essa? Não pode ser porque aí já é picaretagem, falcatrua, foi ingratidão. Eu virei o diabo e comecei a me indispor com ele.

O cara tinha a coragem de se arrumar todo, de terno e gravata pra falar do Mestre, todo de bom samaritano, quem diria? Se soubessem da nossa antiga amizade... Se soubessem que ele gostava mesmo era de fumar com a gente... Tem muita gente que é assim doutor. Muita gente que de dia é Maria... Tem gente que se esconde, que omite. Tem gente que cria uma imagem de bonzinho e que nas encruzilhadas da vida se mostra como é. Faz pose e vende a alma. Eu admito que errei, só eu perdi. Passei centenas de anos sendo adorado, recebendo agrados e não percebia que era tudo enganoso, não tinha real satisfação, era mundo de mentira porque isso aqui é que é real. É mundo de trabalho e de esforço. Mundo onde cada um é por si e Deus com Seu amor ainda nos permite recomeçar mais uma vez.
Eu vou voltar porque só assim mesmo pra tirar tudo da cabeça. Este local é bom demais pra mim e eu nem acredito que vocês me receberam, mas vou ter que retornar. Voltar a ser criança. Eu sei que não vai ser fácil não porque a colheita é necessária. Não tenho medo. Me esforçando pra lembrar a ter fé que é o que vocês estão me convencendo aqui. Lembrar de Jesus e que ninguém está sozinho. Vou nascer em família evangélica. Deus está me facilitando a jornada pra conhecer os ensinos do Mestre. E seguir com ele. Espero voltar melhor da próxima vez. MULATINHO
14/10/17

-------------Paula Alves-----------

“VIDA DE MÉDIUM NÃO É FÁCIL, SÃO MUITOS TOMÉS”

Eu também estava empenhada. Houve momentos em que pensei que iria desistir. Vida de médium não é fácil. Nós sentimos tanto, nós vemos um mundo que ninguém vê, nós ouvimos e somos chamados de loucos. Chega um momento que é melhor esconder. Fazer cara de que nada está acontecendo é melhor porque ninguém acredita. São muitos Tomés.

Eu escrevi e desejei que o mundo todo fosse diferente. Desejei que as pessoas pudessem se reformar. Que elas pudessem ser mais decentes umas com as outras. Eu desejava que fossem boas e que pudessem enxergar como eu. Enxergar a necessidade de auxiliar todos que precisam. Eu cheguei a crer que iria ver esta transformação do mundo. Me lembrei das guerras e de tantos que foram mortos por uma causa ridícula que envolvia dinheiro e poder.

Eu me lembrei de todas as médiuns, que como eu, aspiravam o contato com a espiritualidade, aspiravam a liberdade de expressão, aspiravam a fé, e foram jogadas na fogueira por um ideal que se dizia cristão.
Cristão?
Como alguém pode usar este nome em vão? Como podem deturpar as palavras?
Como o mal pode ganhar mais força que o bem?
Por que as pessoas permitem que isso aconteça até nos dias de hoje?

Muitos são esclarecidos e não sentem, tantos sentem e se deixam convencer pelos esclarecidos. E o mal continua pairando entre nós. Mas, ter fé em tudo o que foi pregado, ter fé no trabalho das formigas e que, um dia, a voz do mundo será do bem que irá destruir todo o mal e trazer um céu benevolente entre todos os homens. Eu creio minha irmã que toda proposta do bem merece ser apoiada. E não importa quem ouve. Se um ouvir e se reformar já será benção. Se o amor eclodir nos corações dos homens pequeninos pela lembrança de um Cristo amoroso e cheio de perdão, aos poucos, seremos salvos. Quando os homens estiverem limpos da imoralidade poderemos alcançar escalas evolutivas maiores. Quando não disputarem o poder, quando souberem dividir e se tornarem responsáveis uns pelos outros com a simples preocupação de produzir amor, estaremos evoluindo realmente. Que Deus permita que os planos sejam concretizados e que os homens abram seus olhos para não desviarem dos planos do Senhor. Agradecida pela atenção.
ALEXANDRA  
14/10/17      
------------------Paula Alves------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografia


EU NÃO VI, NEM OUVI NADA, MAS SENTI ALGO ME TOCAR NO ÍNTIMO DO SER

Pra mim tudo surgiu como um lampejo de sensatez. Foi como se a consciência descobrisse uma portinha entreaberta para me passar todas as informações que eram necessárias para conduzir minha vida. De repente, fiquei tão lúcido. Claro que não foi fácil seguir Jesus porque, para acompanhá-lo, nós devemos abrir mão daquilo que fomos. Ser outro, uma nova pessoa empenhada em defendê-lo. Uma nova pessoa certa de que só pode ser feliz se seguir-lhe. Eu era como todos.

Um viciado na vida fútil. Um alguém que se achava importante pelos títulos que possuía. Alguém que perdia dias e noites tentando acumular e estava cego com a matéria, com tudo o que eu acreditava que era possível obter com ela. Eu estava fascinado pelo prazer material. Quando descobri Jesus, tudo mudou tão radicalmente. Eu simplesmente me olhei no espelho, nu. Eu não encontrei nada de bom. Sozinho porque no fundo todos estão sós. E eu chorei porque percebi a minha ridicularidade.
Percebi que era mesquinho e zombava daqueles que mostravam a sua fé. Eu não tinha fé em nada e caí. Caí no meu orgulho e na minha falta de fé. Chorei e olhei pro teto do banheiro como se buscasse uma explicação pra viver aquela vida sem sentido. Eu não vi, nem ouvi nada, mas senti algo me tocar no íntimo do ser. Eu senti uma certeza de que tudo estava errado daquela maneira. Eu paralisei e tive a nítida sensação que Ele estava comigo. E eu me deixei senti-Lo. Jamais fui o mesmo.

A partir daquele dia não me permiti questionar muito sobre o que vivenciei. Eu busquei uma Bíblia e abri, eu lia e chorava como se ali estivessem contidas as explicações que necessitei ouvir a vida toda. Me entreguei a Jesus e fui discriminado, ridicularizado, fui tido como louco e fui abandonado por meus amigos e meus familiares. Eu sofri o abandono, mas não temi porque estava seguindo os passos do Senhor. Continuei meu trabalho e não permiti que ninguém julgasse minhas convicções. Orei e pedi que Deus colocasse em meu caminho os trabalhos que deveria desempenhar para seguir o Mestre e eles simplesmente foram aparecendo. Quanto mais auxiliava meu semelhante, mais eu me sentia no caminho certo. Eu me ergui como uma pessoa que se define, que se assume. Passei muito tempo com saudades dos meus. Eu os amava e esperava que compreendessem minha mudança. Eu queria ser aceito, mas não pretendia continuar errando.

Seguir Jesus me deixou em paz.

Eu doei amor, auxiliei e fiz o que a consciência mandava. Eu me senti bem, merecedor do amor de Deus e, isso, foi o bastante. Hoje eu ainda me questiono por que as pessoas não fazem mais em nome de Deus. Eu me pergunto por que elas não doam o seu tempo para amar. Por que as pessoas não reconhecem o quanto é bom ser seguidor do Cristo? Não estou fazendo apologia a nenhuma religião. Estou afirmando que Jesus salva e conduz. Então, se você tiver que falar alto o nome do Senhor, exalte, vibre, faça o seu papel diante do mundo. Mas, faça com alegria, com certeza, com confiança. Não se esquecendo de que: “Aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai.” Com fé.
JOSÉ INOCÊNCIO
22/10/17                                                      

---------------Paula Alves-------------

“FUI LEVADA A CRER QUE A VIDA ERA UMA MISTURA DE LÁGRIMAS COM AMBIÇÃO”

Todos podem mudar. Eu vivi mais de quarenta anos me enganando. Fui levada a crer que a vida era uma mistura de lágrimas com ambição. Eu desejei possuir coisas e trabalhava incansavelmente para consegui-las, mas nunca tinha nada de meu.

Então, achei que fosse mais fácil um trabalho extra. Me envolvi com homens, eu fazia programas e levava como se fosse uma profissão. Nunca me envolvi, mas num certo dia eu achei que já tinha visto de tudo e percebi que a vida podia ser muito dura com a gente. Vi uma amiga ser tão maltratada que quase morreu. Eu rezei tanto por ela e me comprometi com Deus. Jurei que se ela sobrevivesse, eu nunca mais seria leviana.

Teria uma vida mais modesta, mais honesta. No fundo, acho que eu nem acreditava que ela iria sobreviver. Ninguém acreditava, nem os médicos. Fui pra casa e me preparei par ouvir o telefone tocar de madrugada. Eu estava esperando a notícia da morte dela, mas quando o dia clareou, eu me impressionei. Fui vê-la e ela estava tomando o café, sorria. O médico falou comigo que não sabia como ela tinha melhorado porque a surra foi muito violenta. Eu senti que aquilo tinha sido obra de Deus. Chorei e aceitei o seu chamado.

Eu abracei minha amiga e fui embora pra mudar de vida. Tratei de arrumar emprego em outra cidade, levei Marcela comigo porque ela era como uma irmã. E nós tratamos de arrumar empregos como arrumadeiras. Eu senti que isso ainda não era o bastante. Eu precisava viver pra Deus. Naquele mesmo dia eu passei em frente a uma creche e uma mãe estava chorando, ela soluçava. Eu não sabia o problema dela, mas senti vontade de falar e falei. Eu disse que ela precisava confiar nos planos do Senhor. Ninguém está desprovido de socorro porque Ele não abandona nenhum de Seus filhos. Ela me abraçou e sorriu. Eu senti que precisava falar e, daí em diante, eu comecei a falar de Deus por todos os lados. Me sentia tocada em ajudar algumas pessoas e tinha vontade de falar de Deus.

Tudo mudou a partir daí. Conheci um homem maravilhoso que era missionário e se encantou comigo. Começamos a ter um relacionamento, fui pra igreja e quando percebi estava com meu filhinho nos braços, casada e pregadora em nome de Jesus. Quando alguém poderia imaginar que uma mulher da vida poderia ser aceita pra trabalhar pro Senhor? Reformada graças a Deus. Eu agradeço por tudo o que recebo de Ti ó Pai.
DORA
22/10/17

--------------Paula Alves---------


FOI MUITO BOM OUVIR FALAR DE JESUS, OUVIR FALAR DE DEUS

Eu não acreditava nas mudanças de caráter doutor. Eu acreditava que “pau que nasce torto, morre torto” mesmo. Sei lá, a maioria de nós, quase todos, indo pra sofrer. Achava que se Deus existia, Ele devia fazer distinção não é possível. Isso porque uns têm tantas facilidades na vida. Parece que o cara nasce rico e isso ainda não é o bastante, ainda tem que ser bonitão. Eu nasci pobre e feio, horroroso. Duro e mau caráter. Quem diria, ainda tinha quem gostava de mim. Eu sempre fui brincalhão, divertido porque alguma coisa tinha que contar né?!

Mas, eu não tive vida boa não. Era trabalhar de pedreiro o dia inteiro e no final do dia torcer pra ter um dinheirinho pro forró, mas e daí? Quem quer dançar com cara feio? Não tinha estímulo nenhum. Era viver por viver mesmo. Vivi tanto. Envelheci, os parentes foram morrendo e eu sozinho. Tive uns amigos, uns vizinhos legais. Tem vizinho que vale mais do que família. Quando eu fiquei doente, se uniram pra cuidar de mim. Não era nada grave, mas precisei ficar de convalescente e quem ia cozinhar? Passar uma vassoura na casa?

As vizinhas se uniram e cuidaram de tudo. Nunca fui tão bem tratado que nem daquela vez. Teve até um pessoal que ia rezar lá em casa. No início eu achei que estavam encomendando a minha morte, mas eu não entendia nada de religião, tava cismando com eles. Foi muito bom ouvir falar de Jesus, ouvir falar de Deus. Eu lembrei de minha mãe. Eu me senti bem e quando melhorei eu senti mais falta da oração do que da comida. Fui pra igreja e fui tão bem recebido. Eles estavam bem vestidos, de terno, as mulheres de vestido, mas ninguém falou da minha roupa gasta. Entrei e fui tratado que nem gente. Adorei tanto que virei pregador. Falar bonito nunca falei não, mas falava o que saia do peito, cheio de emoção com aquilo que ouvia falar. Nem sabia ler. Falava pra seguir sem olhar pra trás. Que pra Deus a gente é tudo igual, nem importa se é homem, mulher, criança ou se é bonito, se é rico, se saber dançar. Ele recebe tudinho de braços abertos. E pra entrar no Reino nós temos é que ser obedientes, mansos e misericordiosos. Seguir o Mestre pra passar pela porta estreita e, assim consegue entrar. Parece que eu só comecei a viver depois que comecei a falar da obra do Senhor e eu agradeço poder fazer parte da equipe agora. Como eu sou grato.
EMANUEL
22/10/17

--------Paula Alves--------
A GENTE TEM MEDO DO QUE A GENTE NÃO CONHECE

Eu me apeguei a Nossa Senhora pra pedir a cura da menina. Minha querida criança que tava doente e eu nem sabia o que era. O corpo da menina ficou todo empolado e a febre veio com tudo. Achei que a pobre ia morrer. Não tinha médico não. Nem luz tinha na nossa tapera. Longe de tudo, só remédio caseiro pra cuidar das crianças. Remédio caseiro e reza.

Eu passei a noite toda na beirada da cama e o João comigo, meu marido. O João falou bem alto que trocava de lugar com ela. Eu critiquei, falei que ele era bobo porque pra Deus todo mundo é filho. Todo mundo é igual. Eu não aceitava que levasse a minha menina. Eu não queria que ele levasse a minha fia. Eu arrebentei meus joelhos no milho e falei que se fosse castigo eu podia trabalhar pra pagar do jeito que fosse, mas a menina tinha que ficar viva.

Pedi pra Nossa Senhora porque ela sentiu pelo filho na cruz. Era uma dor tão forte dentro do peito. Eu queria cuidar dela e fazer a dor parar porque ela gemia de dor na barriga coitada. E eu não podia fazer a menina melhorar. Eu não sabia o que fazer, era tanto cansaço que dormi quando ela pregou os olhinhos. Eu sonhei com ela bonita, risonha e falava que tudo era do jeito que tinha que ser. Falou que tinha gente que só vivia um pouco mesmo. Vivia um pouquinho pra mostrar o que é mais importante. Pra deixar claro que o que é realmente importante é a gente se amar e ter a certeza de que não acaba. Deus cuida de todos. Eu tentava segurar a mão dela e não conseguia. Ela sorriu e falou que nunca mais ia sentir dor. Eu acordei e vi que a menina tava gelada.

Ela tinha morrido e eu não senti mais dor porque entendi que ela tava despedindo de mim. Eu aceitei sem revolta porque pra mim tudo o que aconteceu, aconteceu mesmo. Ela veio me avisar que tinha que partir. Foi difícil pra mim viver sem a Lidiane, menina boa demais, um anjo. Amei todos os meus filhos e nunca esqueci dela. O tempo passou com todas as dificuldades de um pobre e quando eu adoeci, já velha e condoída, eu temi a morte porque a gente é tudo incrédulo. A gente tem medo do que a gente não conhece.

Eu temi porque eu sabia que tinha chegado o meu dia e eu não sabia o que ia encontrar do outro lado. Eu lembrei da menina e vi quando ela entrou no quarto. Igualzinha, bonita demais. Estava cheirosa e me beijou na testa, falou: Mainha. Ela falou mainha pra mim e eu não fiquei mais com medo de nada. Eu me soltei pra aquela sensação de alívio e quando eu percebi estava aqui com vocês. Ainda estou tentando entender muitas coisas. É difícil mudar de realidade porque aqui é tudo possível. Eu to muito feliz. Feliz porque ela ta bem e agora a gente ta junto de novo. Se encontrei com ela, posso muito bem encontrar com todos os outros. Ah! Que bom.
MARIA DE LURDES
22/10/17

--------------------------Paula Alves-----------------------

Foto cedida por Magno Herrera Fotografia


“PODE ATÉ SER DIFÍCIL, MAS NÃO É IMPOSSÍVEL”

Eu insistia e acreditava que podia dar certo. Desde o início, me comprometi em ser leal e fiel. Achei que receberia o mesmo. Sonhava em construir uma família que pudesse ser completa de sentimentos. Que não tivéssemos tudo o que o dinheiro pudesse comprar, mas que fossemos unidos. Eu me entreguei àquele homem. Eu me apaixonei por ele e como disse o Mestre, eu deixei a casa de meus pais e fui viver com ele em matrimônio, almejando que ele fosse pra mim, tudo o que eu seria para ele. Eu sempre achei que no lar, homem e mulher tivessem o mesmo peso. Eu acreditava que a mulher tinha pontos fundamentais e o homem tinha outros, que os dois se completavam para tornar a casa um ambiente harmonioso para toda a família. Acreditei que deveria ser submissa no sentido de respeitá-lo, de aceitar que ele nos conduzisse com respeito e pulso forte, que nos protegesse em determinadas situações.

Será que fui uma sonhadora?
Este homem nunca existiu?

Eu tinha minhas opiniões e, de repente, precisei silenciar porque ele não gostava de me ouvir. Eu tinha minhas amizades e, de repente, precisei me afastar delas porque ele não achava que fossem convenientes para mim. Meus filhos foram nascendo e eu era obrigada a aceitar uma educação cheia de autoridade e repressões. As surras que levavam doíam mais em mim do que neles. Eu errei. Eu me calei e aceitei viver na covardia de uma mulher amedrontada, percebi tarde demais que nunca tive o respeito dele e nem o seu amor.

Onde estão os homens de bem?
Eu me cansei dele e de tudo o que eu poderia ter de qualquer homem. Foi aí que eu errei. Achava que não tinha solução. Achava que ninguém me aceitaria.
Você sabe o que era feito daquela que se separava?

 As mulheres que se separavam não tinham valor algum para a sociedade. Eu não queria perder meus filhos. Pensei em tantas coisas e estava disposta a deixar tudo para lá. Eu poderia viver assim, mas ele passou dos limites. Me ofendeu e machucou tanto que acabou com a decência que havia em mim. Eu me transformei em criminosa por causa dele.
Será que tem perdão?
Acabei com tudo. Acabei com aquele casamento que não tinha nada de real, em tudo uma farsa, uma mentira. Forjei uma morte acidental e me livrei materialmente do meu marido. Eu sempre senti a presença dele. Sempre. Eu sofri muito mais depois que errei. Depois do meu desencarne, nos encontramos e como não poderia deixar de ser, passamos tanto tempo acorrentados...

Eu pensava alto: poderia ter te amado, mas e você? Eu sentia as lágrimas dele. Eu sentia que, de alguma forma, nós poderíamos ter dado certo. Enfim, hoje estamos bem. Ambos fazendo os tratamentos necessários para poder voltar como irmãos. Eu acho que sempre pode dar certo, se o casal se esforçar de verdade. Eu ainda creio no amor. Eu sei que as pessoas amam e podem demonstrar mais. A pessoa pode abandonar seus maus instintos para ficar feliz com quem se ama. Pode até ser difícil, mas não é impossível.
LILIANE
29/10/17

------------Paula Alves------------

“É SÓ OUVIR A VOZ INTERIOR”
“FAZER O BEM”
“QUE TUDO DÁ CERTO”

Eu saí tão apressada que me esqueci de fechar o gás. Por uma fração de segundos tudo pode mudar na nossa vida. Quando eu voltei correndo tive uma surpreendente visão. Minha mãe estava na cozinha e preparava um café. Eu sorri aliviada porque não imaginava que ela se lembraria de como prepará-lo. Me sentei e tomei o café que estava delicioso.

Deixei o tempo pra lá e não me importei mais com o compromisso. Foi a última vez que tomei café com ela. Naquele dia, ela segurou na minha mão, me beijou e falou do bebê lindo que eu havia sido. Achei tão curioso. Já fazia muito tempo que minha mãe se esquecera das coisas. O Alzheimer acabara com ela. Realmente transformou minha mãe. As coisas ficaram difíceis pra mim porque tive que mudar minha vida para recebê-la em casa. Recebê-la e cuidar dela, cuidar de tudo. Me preocupar com tudo e ainda dar conta de mim. Por algum tempo, era como se eu não precisasse de muitas coisas que são normais. Cheguei a dormir sem tomar banho e quantas refeições eu perdi porque estava cansada demais para isso. Mas, minha mãe estava sempre bem cuidada.

Eu trabalhava fora, só meio período e ficava tão preocupada com ela. Ela virou minha vida inteira. Tinha momentos em que eu me irritava com a mente dela, com a falta de juízo. Culpava meus irmãos, que nem mesmo a visitavam. Achava injusto tudo ficar só pra mim. Eu era a mais nova e nem mesmo tinha a minha família. Não tinha ninguém, só ela. Isso tudo durava só um tempinho porque logo eu colocava os pensamentos em ordem e me lembrava de como minha mãe era adorável. Nós conversávamos tanto e agora aquele silêncio, então, eu colocava as músicas e eu dançava pra ela quando o dia parecia difícil demais, logo ela tentava dar um sorriso.

Quando ela se foi eu chorei tanto que parecia que as lágrimas iam acabar comigo. Doía a dor da saudade e eu preferia ter que trocar frada pra sempre a vê-la partindo. Mas, depois daquele café, eu cheguei em casa e ela só estava deitadinha, parecia que estava dormindo, tão bela minha mãe. Não vivi muito tempo depois disso. Logo desencarnei e nos encontramos aqui. Tão bonito. Soube do nosso passado e dos porquês que me levaram a atrair tudo isso com ela. Um belo reajuste o nosso. Era eu quem tinha que tomar conta dela e nós ficamos juntas até o fim. No fundo a gente sempre sabe o que deve fazer. É só ouvir a voz interior. Fazer o bem. Que tudo dá certo. Eu agradeço por tudo o que nos aconteceu.
LINDALVA
29/10/17


-----------------------Paula Alves---------------------

“ESPERANÇA A GENTE SEMPRE TEM”

Um belo dia a pessoa abre o guarda roupas e não tem mais nada, nenhuma peça de roupa e você pensa: o que foi que eu fiz para aquela criatura me abandonar?
Onde foi que eu errei?
Será que ele não poderia ter conversado comigo?
Precisava fugir?
Eu nem acreditei quando eu vi. Lembrei das contas. Do aluguel atrasado que ia vencer no meu nome. Lembrei dos credores e também que eu não estava muito bem de saúde. Lembrei de tudo o que poderia me arrasar ainda mais. Me lembrei de tudo o que eu fiz por amor àquele homem infeliz. Eu desejei matá-lo. Foi embora. E eu não sabia o que fazer.

Fiquei feliz porque não tivemos filhos. Eu sempre quis ter filhos, mas agora seriamos dois abandonados e recomeçar com criança pequena seria bem difícil. Chorei dois dias e depois arrumei a casa, tirei as fotos dele, lavei tudo, lavei a casa toda e fui atrás de serviço. Não estava muito bem, mas iria melhorar. Eu consegui um bom emprego numa fábrica e conversei com o dono da casa que esperou pelo salário. Eu me sentia triste, ofendida, mas fui à luta e consegui. Em dois anos eu estava bem. Me tratei e restitui minha saúde, um belo dia ele me reaparece pedindo pra voltar. Disse que se meteu com gente errada que precisava de ajuda, precisava de um lugar pra ficar, que eu era a única família que ele tinha. Que eu estava bem e ele poderia cair pelos cantos a qualquer momento.

Eu dei risada na cara dele. Mandei embora e ele começou a quebrar toda minha casa. Eu não pensei duas vezes, peguei a faca e o feri. Não foi nada letal não. Era só pra ele ficar assustado comigo porque era muita afronta. Depois de tudo ter que ficar bancando marginal. Já pensou? Quem apanha uma vez, apanha sempre. Comigo não. Ele não quis ir embora?
Então, não precisava nem voltar. O desgraçado foi embora e no outro dia quando eu saí pra trabalhar fui atingida por um carro em alta velocidade. Quando acordei já estava no hospital. Aqui na colônia.

Pra falar a verdade nem sei como pude vir parar neste local onde todos me tratam tão bem. Eu compreendo o tratamento. São muitas lembranças de uma estranha obsessão. Aquele homem já esteve ligado a mim em muitos outros momentos. Eu gosto demais dele e não desejei que isso acontecesse. Quisera Deus que ele tivesse por mim um sentimento bom. Eu não desejo mal algum. Acho que se desencarnei desta forma, eu merecia porque Deus não castiga ninguém. Acredito que tudo de ruim que acontece na vida da gente é porque a gente faz coisa errada. Quem planta, colhe. 
LEDA
29/10/17


---------------Paula Alves---------------

“ELES SÃO REALMENTE A JANELA DA ALMA”

Ela era muito feia e ficava me paquerando. Eu sempre soube da conta bancária, filha de rico. Foi indo que o jeito foi me entregar à sedução. Começamos a namorar, eu sentia que ela era louca por mim, mas não valia a vergonha que eu passava. Meus amigos faziam chacota o tempo todo. Tiravam sarro de mim. Achei que não aguentaria tudo aquilo e me separei dela. O ruim é que, enquanto estive longe, senti saudades. As coisas fugiram do controle e eu me lembrava de nossos papos, de como eu me sentia feliz com ela. Não por causa dos passeios que ela proporcionava, mas porque ela era fascinante. A gente é muito preconceituoso. Quem não se encaixa nos padrões é discriminado. Eu também discriminei a Celinha, mas não a conhecia e quando conheci fiquei impressionado com tanta simpatia e conhecimento.

Mulher delicada com as palavras, educada. Fora do comum. Eu me afastei e senti saudades dela. Não me sentia como antes e os amigos me irritavam, por isso, fiquei de fora das festinhas e do grupo social. Eu tentei procurá-la, mas soube que ela tinha ido morar em outra cidade. Nós não nos encontramos mais, porém, ela foi importante para que eu pudesse dar mais valor para o que as pessoas têm de fato. Anos depois conheci uma moça incrível que tinha um problema na perna, ela era manca. Eu me encantei por seus olhos verdes e, apesar dela necessitar de auxilio para se locomover, eu me apaixonei e nos casamos.

Vivemos uma vida maravilhosa, com altos e baixos, com as provas necessárias, com filhos, dívidas e muito amor, lealdade e respeito. Quando desencarnei tive a oportunidade de vir para cá e pude reencontrá-la. A Celinha estava tão diferente. Só a reconheci pelos olhos. Eles são realmente a janela da alma. Ela apresentava os traços fisionômicos perfeitos e uma beleza difícil de ver por aí. Eu não pude disfarçar o meu espanto e ela me explicou que tudo o que ocorreu era necessário para que ela pudesse depurar. Em outras existências se aproveitou da beleza para conquistar homens e ter o que desejava. Passou a privação da beleza para conseguir cativar as pessoas através de suas virtudes, mas mesmo assim, alguns a rejeitavam.


Tudo necessário para sentir na pele tudo o que outros sofreram. Eu fui apenas uma pessoa que cruzou o seu caminho e que, sem querer, aprendi com tudo aquilo. Eu a amei e por ela me liguei com a Antonia, amor de minha vida, com quem tive uma linda família e uma vida abençoada. Só Deus para saber dos Seus desígnios.
LUIS CARLOS
29/10/17 


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