Cartas de Novembro (17)


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“NÓS QUE ESCOLHEMOS POTENCIALIZAR O MAL. DEVERÍAMOS POTENCIALIZAR O BEM E SEGUIR POR ESTE CAMINHO SEMPRE”

Eu fui uma pessoa que se melindrava, que reclamava de tudo. Achava que era injustiçada pela sociedade, pela vida. Perdi tanto tempo assim. Nunca parei pra pensar que eu perdi a oportunidade de fazer algo de bom por mim e por alguém. Eu não enxergava que ao meu lado estavam pessoas que precisavam de minha lucidez e eu, revoltada.

Hoje eu sei que a gente sempre pode fazer alguma coisa de útil se estiver empenhado em fazer o bem.

Se eu soubesse que ao meu lado estavam seres abnegados acredito que teria agido diferente, mas este mundo nunca me foi apresentado. A gente nasce, cresce e, desde novo, começa a ouvir umas histórias horripilantes. Tem tantas... Bruxas, homem do saco, monstros, fantasmas, tudo pra fazer a criança morrer de medo e, através do medo, fazer com que ela se ate, fazer com que ela bloqueie seus pensamentos e suas ações.

É um jeito de fazer ficar quieto porque senão, a coisa ruim te pega. E eu fui crescendo medrosa. Na adolescência eu tinha medo das pessoas porque minha mãe me colocou na cabeça que poderia ser estuprada, sequestrada, morta de alguma forma por revoltados ou delinquentes. Fiquei adulta, me casei e nunca me envolvi realmente com ninguém porque acreditava que poderia esperar qualquer coisa das pessoas. Eu fui levada a crer que as pessoas desejavam alguma coisa de mim e que, quando eu não tivesse nada de bom para oferecer elas, fatalmente, iriam me abandonar ou me fazer sofrer.

E aconteceu mesmo. Meu marido me traiu e me abandonou, meus filhos foram embora tão logo tiveram condições financeiras para isso e eu achava que a vida era só isso. Eu fui me arrastando em vida e quando desencarnei fui viver ao lado de fanáticos, de hipócritas, de pessoas que não tinham sentimentos intensos, pelo contrário, pedintes emocionais como eu. Levou muito tempo até que eu pudesse me sentir tocada por uma flor. Eu caminhava sem rumo quando vi a flor mais linda que já existira e eu me inclinei para admirá-la, acho que neste momento estava sendo tocada pelo Senhor.

Eu ouvi alguém dizer: “todos nós temos um quê de belo.” Quando ergui meu olhar para vê-lo fui ofuscada por sua luz e isso me tocou no íntimo do ser. Era ele... Meu amigo espiritual. Naquele dia ele me trouxe para cá e, desde então, tenta me conscientizar de minhas obrigações com a evolução que deve ser natural. Ele me provou que sempre esteve ao meu lado e eu não havia sentido sua presença. Ninguém nunca está só. Somos levados a crer que a vida é ruim. Que tudo é difícil, mas não precisa ser assim. Podemos sorrir, podemos se gratos. Nós não precisamos transformar todas as coisas em terríveis. Nós que escolhemos potencializar o mal. Deveríamos potencializar o bem e seguir por este caminho sempre. Ficar atentos com as flores que espalhamos pelo caminho. Boa sorte pra vocês. Consciente de tudo.
JUSSARA
04/11/17

---------Paula Alves-------

“EU DESEJO QUE VOCÊS POSSAM SENTIR QUE TUDO CONSPIRA PARA A EVOLUÇÃO DE VOCÊS”

No dia em que voltei estava tão confuso. Eu estava feliz por estar no antigo lar. Era tudo o que eu queria. Poder abraçá-los. Olhar pra eles. Fiquei tanto tempo longe e todo aquele horror me deixava com as saudades mais doloridas que poderiam existir. Entrei em casa e tudo tinha um cheiro, um som e um sabor. Tudo era maravilhoso e eu me perguntei:
“Por que a gente não dá valor para as coisas simples da vida?
Por que na vida tem que ser judiado para aprender a respeitar tudo o que tem de tão valoroso?”
Eu tive muita sorte porque eu vi o inferno e pude retornar para o paraíso.

Eu me casei com uma amiga de escola e a minha esposa era um anjo em forma de gente. Educada, delicada. Nós tivemos três filhos, mas de repente a guerra começou e eu fui convocado. Por um momento, eu acreditei que nunca voltaria para casa. Eu estava certo que todos seriam mortos e eu nem mesmo tinha convicção de que estava do lado certo porque toda guerra só destrói. É impressionante como, muitas vezes, passando por um momento terrível nós conseguimos valorizar tanto a nossa vida simples.

Eu voltei aleijado. Fui mandado pra casa porque não tinha mais condições de lutar. Fui atingido e a minha perna foi destruída, mas eu agradeci por perdê-la e sabia que isso me daria um passaporte para minha casa.
Quando eles me viram na cadeira de rodas, choraram. Os menores procuraram minha perna e foi até engraçado. Eu juro pra vocês que não tive um sentimento de revolta porque sabia que poderia ser bem pior e eu podia estar com eles.

Depois que vim pra cá compreendi que minha pena foi muito aliviada porque em tempos passados eu já havia conspirado pra que uma guerra se formasse e nem sequer participei dela. Fiquei de fora só fazendo intrigas e mandei soldados serem mortos. Foram massacrados e eu nem mesmo me emocionei por eles. Eu fui muito feliz. Passei por privações necessárias que me deram juízo, honestidade e ainda pude usufruir do seio familiar que me ensinou tanto. Valorização da família é tudo. Eu desejo que vocês possam sentir que tudo conspira para a evolução de vocês. Desejo que tenham a certeza de que está sendo mais fácil porque Deus é misericordioso e trata todos os Seus filhos com especial atenção. Grato.
NELSON
04/11/17

---------------------Paula Alves-------------------

“É ESPERTA A MULHER QUE SABE RECONHECER O TERRENO EM QUE DEVE PISAR”

As palavras brotavam na minha mente e quando percebia tudo já estava feito. Tudo já estava escrito. Naquela época eu me sentia como alguém que sabia tanto. Tão convencida do meu potencial intelectual. Soberba, altiva. Eu, apenas sabia. Não me interessei em estruturar família. Tinha horror ao poder masculino, eu era feminista e não podia permitir que um homem me dissesse o que fazer.

Era repulsiva a autoridade. Por que esperar que soubessem mais do que nós? Tantas mulheres de mentes brilhantes que eram tratadas como escravas sexuais e de reprodução. Absurdo! Eu realmente acreditava que nós poderíamos fazer mais do que isso. Enquanto meu pai era vivo eu consegui me safar de todos eles porque nossas reservas financeiras eram inestimáveis, mas quando papai morreu eu fui entregue aos cuidados de minha mãe que era enérgica e sempre reprovou meu comportamento.

A primeira decisão dela foi que eu me casasse e, apoiada por quatro irmãos, me entregaram como uma maçã para um senhor viúvo e muito mais velho. Eu desejei matá-los porque sempre se recusaram a me ouvir. É muito triste quando as pessoas não escutam o que você grita.

Eu não queria me casar, eu não queria ser mãe. Queria estudar, queria pesquisar, mas tinha coisas para aprender e foi o que aconteceu. Eu me casei e tinha uma vida dura ao lado daquele marido machista e impiedoso. Marido que quer domar a esposa. Em parte ele conseguiu. Eu não tive muito a fazer, fui vivendo. Fui abrandando e polindo meu jeito de ser. Eu precisava ser mãe. Quando nasceu meu primeiro filho eu compreendi o que deveria ser minha vida. Só aí eu me conscientizei do que a mulher tem de bom, de verdadeiramente bom. Nós somos muito especiais. Eu o amei dentro do meu ventre quando ainda estava do tamanho de um feijão. Eu amei os chutes e quando ele nasceu eu o amei em todos os momentos de sua vida. Eu amei tanto aquele bebê que tive mais sete. Não me importava com o pai deles. Aos poucos, fui sabendo quem era ele e fui fingindo não ouvir algumas coisas, oferecendo algumas moedas de troca e a vida se tornou um pouco mais fácil.

É esperta a mulher que sabe reconhecer o terreno em que deve pisar. Um pouco se recua, outro passo pode-se dar. Meus filhos se tornaram a minha razão de viver e por eles vivi feliz. Eu sempre disse para as meninas que elas eram perfeitas, deveriam estudar, não para que fossem superiores, mas para obter conhecimento, para se elucidarem. Homens e mulheres são especiais aprendi isso com meus filhos. Tive oito pessoas excelentes que viveram sempre ao meu lado e que me fizeram perceber o quanto eu estava errada. Todos nós somos importantes e não precisamos viver em briga de sexo. Devemos respeitar as diferenças, respeitar as decisões e os pensamentos de uns e outros. Eu tive muito mais da vida do que poderia desejar. ISABEL
04/11/17

--------------------Paula Alves--------------

UM HOMEM DIGNO ENFRENTA DE CABEÇA ERGUIDA, MAS NÃO FAZENDO O MAL PORQUE ISSO NÃO É COISA DE HOMEM

Eu poderia ter vivido para sempre como entregador de jornal se fosse para vê-la todas as manhãs.
Por que será que os homens não podem demonstrar os seus sentimentos?
Eu sempre fui apaixonado por ela. No ensino médio cheguei a me declarar e o que aconteceu?

Fui ridicularizado. Quando se é ridicularizado nasce um sentimento diferente dentro da gente. Um sentimento ruim que vai crescendo e se transforma numa coisa que não dá pra controlar. Aquilo mexeu comigo de um jeito que quando eu percebi, o amor que eu sentia doía demais. Não era pra doer porque eu me sentia bem por gostar dela e desejava que ela tivesse uma vida feliz. Eu poderia ter feito tudo pra vê-la feliz, mas ela não quis.

Naquele dia, eu colhi as flores do quintal da mamãe. As flores estavam lindas e eu ofereci pra ela. Achei que as moças gostavam de flores e quis agradar, mas quando todos riram, ela não pegou as flores e também riu. Eu jurei que iria me vingar e fui embora. Não quis ver ninguém, não queria conversa. Eu queria vingança. As pessoas não deviam fazer mal para as outras. Eu pensava que o mundo devia ser bom, eu era bom. Nunca imaginei que iria doer assim e armei um plano.

De repente, eu que era bom, só pensava em coisa ruim e, por um momento, achei estranho aquele monte de pensamento ruim saindo de mim. O fato é que, quando não tem que acontecer, a vida não favorece. Minha mãe era tão preocupada com a gente. Ela estava sempre por perto, sempre atenta e percebeu que eu estava quieto demais, enfurecido. Minha mãe me observou, mas eu não estava nem notando e quando eu estava pronto pra fazer mal pra moça que eu gostava, minha mãe apareceu antes de mim no quarto e desapareceu com todas as coisas que podiam me fazer cometer o mal.

Eu fiquei de queixo caído. Como aquela mulher poderia ser tão astuta? Na hora eu gritei, berrei e destruí alguns móveis. Ela estava sentada na minha cama e simplesmente esperou. Quando eu cansei, ela falou que eu deveria virar homem. Ela falou que homem não era aquilo não. Falou que um homem de verdade enfrenta seus medos, as injustiças que o mundo faz você passar. Um homem digno enfrenta de cabeça erguida, mas não fazendo o mal porque isso não é coisa de homem, isso é coisa de monstro e ela não tinha parido um monstro. Minha mãe falou tanta coisa. Falou de Jesus e que eu não podia abrir as portas pra coisa ruim me dominar. A mulher era muito esperta (risos). Minha mãe naquele dia me transformou num homem mesmo.

Eu voltei pra escola, olhei nos olhos de cada um daqueles que havia me humilhado e senti pena deles que não tinham uma mãe como a minha pra orientá-los a serem do bem. Logo, eu arrumei uma namorada linda e especial, me casei com ela e tivemos a nossa família. Todas as vezes que eu percebia um jeito meio estranho nos meus filhos, me lembrava daquela história toda e como eu poderia ter arruinado a minha vida e a vida daquela garota que me rejeitou. Eu seguia o exemplo de minha mãe e observava meus filhos, agia sempre para que pudesse transformá-los em homens de bem. Eu agradeço a Jesus por ter permitido que estivesse ao meu lado.
TIMÓTEO
04/11/17  
---------------------Paula Alves---------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“ACREDITO QUE AS PESSOAS DEVEM HONRAR SEUS PAPEIS NO MUNDO”

Eu tentei amá-los. Deus sabe que eu tentei. Fiz um esforço enorme para justificar todas as trapaças e armações. No fundo, eu sabia o quanto eram levianos. Eu sempre quis ter uma família normal. Sonhava com o dia em que ele chegaria em casa sóbrio  e diria que arrumou um emprego numa fábrica ou qualquer coisa assim. Ela, então, como eu queria que se importasse comigo, com as minhas necessidades infantis. Eu senti vergonha por tantas vezes, eu não nego. Me usavam para pedir esmola no farol, eu era tão pequena e me lembro do frio e da fome, depois com os míseros trocados que recebiam, por causa da compaixão de algumas pessoas, eles corriam para o bar.

Quando eu cresci, senti raiva do dono do bar. Por que as pessoas apoiam os atos errados das outras pessoas levianas? Mas, ele não tinha culpa, só estava ganhando o seu. Foi piorando, conforme fui crescendo porque fui compreendendo que tudo era mentira, tudo era errado. Eles roubavam em toda parte, enganavam e eu fui me envolvendo. Eles ficaram mais astutos e se aproveitavam de minhas amizades para roubar mais, cartões, carros. Eu tinha que mudar de escola e até de identidade. Foi terrível! Eu me perguntava por que era tão diferente deles. Eu não podia continuar passando medo de polícia e da vergonha, do constrangimento. Eu merecia uma vida de verdade e fugi. Fugi dos meus pais.

Achei que fosse conseguir me esquecer deles e levar uma vida nova, normal. Eu arrumei emprego e também um bom relacionamento. Nunca mencionei para meu noivo a vida que levara, mas numa noite fria de dezembro, vi meus pais esmolando. Eu senti um aperto no coração porque parecia que sofriam realmente. Eu pensei e resolvi me aproximar.

Meu pai estava muito doente e ela não sabia o que fazer. Eu cuidei deles e percebi, o quanto os amava. Meu noivo soube de toda a verdade e me apoiou. Eu não me arrependo porque fiz o que devia. Meu pai não durou muito e minha mãe esteve ao meu lado cuidando dele. Parecia uma nova pessoa, sofrida e consciente do que tinha me feito. Eu sinto porque sei que poderia ter sido diferente. Agradeço por meu noivo que me apoiou e foi para mim um companheiro perfeito. Ele me possibilitou ter uma família normal e eu fui feliz.

Acredito que as pessoas devem honrar seus papeis no mundo. Ser a melhor mãe que puder. Ser o melhor pai que puder. Se quiser ter filhos, amar, proteger, educar, ensinar a ser bom. O objetivo deve ser fazer o bem o tempo todo.
MAIARA
11/11/17

-----------------------------------Paula Alves--------------------------------

“EU TENTEI ME ILUMINAR”

Fui para igreja e rezava. Me confessei e achei que era o demônio que tomava conta de mim. Cheguei a pensar em dupla personalidade, fui para o psiquiatra, nada resolveu. Tem gente que até poderia ajudar, mas não quer aceitar quando a pessoa que está na sua casa tem problemas. Eu falava para os meus pais o quanto as vozes me atormentavam. Eu suava frio e minha mãe dizia que eram os hormônios, que com o tempo ia passar, mas não passou.

Eu tinha pensamentos terríveis e sabia o que era certo e errado, mas a vontade de fazer o mal acabava comigo. Com o tempo percebi que alguns medicamentos podiam me acalmar e quando as vozes vinham ferozes, eu tomava os remédios. Mas, com o tempo eles foram sendo neutralizados e eu precisei de doses mais fortes até que vim pra este lado. Nem consegui perceber direito que havia morrido porque tudo estava tão parecido, confuso. Quando ouvia as vozes e consegui vê-los evidenciei que as coisas se modificaram, fiquei desesperado, mas entendi tudo. Eles me perseguiram por tanto tempo na intenção de me fazer produzir o mal novamente. Queriam que eu as maltratasse como antes, violência com as mulheres.

Eu sabia que devia resistir e consegui, mas cai num erro fatal. No desejo de me livrar das vozes, eu consumi doses altíssimas de medicação e desencarnei. Eu provoquei meu suicídio. Eu antecipei minha morte e eles estavam contentes com isso, me esperavam para me açoitar. Eu sofro com tudo o que causei de ruim nesta vida e em outras. Eu sinto muito, gostaria de ter aproveitado a minha chance e de ter evoluído. Espero me restabelecer e ter lucidez para seguir num bom caminho.
LUCAS
11/11/17

-----------------------------------Paula Alves------------------------------

“POR QUE SERÁ QUE A GENTE NÃO ESCUTA OS PAIS?”
Nós estávamos tão felizes. Era formatura e tudo o que se conquista merece ser comemorado. Eu era jovem, estava apaixonada e tinha planos de vida. Nunca imaginei que fosse acabar por uma tolice. Acabar por uma imprudência. Carro e bebida não podiam dar certo. Eu nem sabia dirigir, estava com meu namorado e quando ouvi o baque do veículo só pensei na minha mãe.

Por que será que a gente não escuta os pais? Eu sempre achei que meus pais me amavam muito, mas também pensava que eles tentavam me podar. Eu sabia o que deveria fazer e eles pensavam que eu não tinha juízo, eu me irritava com eles tantas vezes. Me arrependo das diversas situações que não dei atenção, deixando falar sozinhos, eu fingia que ouvia, mas queria fazer outras coisas, queria aproveitar minha vida. Sei lá, é coisa da idade né?

Depois de tudo, eu fiquei com raiva dos meus pais. Quando conseguimos nos separar do corpo ferido, nós brigamos ensandecidos. Eu, meu namorado e meus amigos, estávamos loucos e acreditávamos que estávamos muito feridos, mas não mortos. O tempo passou na confusão dos doentes e fui pra minha casa, aí eu notei tudo errado e desejei culpá-los. Queria que eles tivessem me proibido de namorar tão cedo. Queria que tivessem me proibido de sair com jovens irresponsáveis. Queria que tivessem me proibido de beber, sendo ainda menor de idade. Eu queria que eles tivessem impedido aquele acidente e eu poderia estar com eles na nossa casa. Hoje eu sei que fui ingrata o tempo todo. Fui ingrata e inconsequente.

Não dá pra culpar os outros por nossos atos. Eu ainda estou tentando organizar a minha mente, mas é difícil conviver com a culpa.
MIRELA
11/11/17

---------------------Paula Alves--------------------

“TEM GENTE QUE ENTENDE, TEM GENTE QUE NÃO ENTENDE”
Eu desejei ficar com cada um deles. Ouvi uma vez que a mãe que dá um filho parece uma gata ou uma cadela. É como um animal que não tem amor por seu filho, simplesmente põe no mundo e dá, sem sentimento, igual bicho. Não é verdade.

Eu tive dois filhos, um menino e uma menina. Eu os amei desde o ventre e quando olhei nos olhinhos deles meu coração encheu de contentamento. Nós vivíamos bem com o pai deles. Quando o menino estava com três anos, a menina com um ano e meio, aconteceu o pior. Meu marido foi vítima de um assalto e morreu. Eu não acreditei quando recebi a notícia. Achei que não conseguiria suportar a dor. Não tínhamos posses e minha família morava em outro estado. Eu não tinha ninguém a quem pudesse recorrer, mas procurei os parentes mais próximos e pedi que cuidassem dos meus filhos.

Tem gente que entende, tem gente que não entende. Eu queria trabalhar e depois de algum tempo voltar a ficar com eles. Ninguém quis ficar com os dois alegando que dariam muita despesa. Tive que separar os dois e seguir em frente. Foi tão difícil, passar privação, solidão e preocupar com eles. Não saber se estavam bem, se eram bem tratados. Só Deus pra saber dos meus apelos.

A verdade é que eu fiquei tempos sem ver as famílias que ficaram com meus filhos. Eles se negavam a falar comigo e confesso que tudo era complicado, a comunicação não era como hoje em dia. O tempo passou, eu da mesma forma e um dia eu consegui encontrá-los. Já estavam mocinhos e não me queriam mais como mãe. Eles foram criados, estavam bonitos, bem vestidos. Tanto um quanto o outro, me olharam medindo, comparando com as mulheres que os criaram. Eu senti dor quando vi o olhar deles. Eu senti rejeição. Como podiam ser minhas crianças adoradas, aqueles dois que me reprovavam? Eles não me queriam.

Eu sei doutor das providências divinas e todos os resgates. Sei que no passado eu abandonei por leviandade, sei de tudo, mas ainda me dói. Eu fui informada que eles deviam estar nas famílias dos outros, crescerem separados, tudo foi providencial, mas eu ainda estou confusa. Acho que errei. Deveria ter ficado com eles. Passar fome, mas estarmos juntos. Eu acho que teria coseguido.

Talvez, eu tenha ido pelo caminho mais fácil, não sei. Eu queria que tivesse sido diferente. DAMIANA
11/11/17


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“EU QUERIA QUE AS PESSOAS PUDESSEM SE ENXERGAR NESTE MUNDO”

Nos filmes, nas novelas, tantas vezes foi possível relembrar o que ocorreu. Foram tantos a sofrer. Sofrer na pele a covardia de alguns que estavam em situação de poder. Fomos arrancados da nossa terra e fomos obrigados a viver em situação sub-humana. Alguns falavam em compaixão, mas nem a religião estava para nós.

Piedade, consideração? Por quê? Se, éramos tratados como peste, praga, mas os músculos mostravam a nossa garra, a nossa força. Fomos uma raça que conseguia trabalhar intensamente para propiciar frutos para nossos semelhantes que nos tratavam como inferiores. Eu assisti muitos irmãos serem chicoteados. Nossas irmãs, nossas mães, eram arrastadas pelos cabelos e eram forçadas a serem servas do sexo e amas de leite, para isso, serviam. A questão toda foi muito além, das barreiras do preconceito porque fomos ultrajados em nossas expectativas de seres eternos.

Fomos humilhados tão sordidamente que desejamos não ser mais negros, nunca mais. Eu pensei nisso muitas vezes. Desde criança, via como era discrepante a diferença. Nunca foi só a pele. Sempre foi muito mais que isso. Eu via os meninos brancos e toda a sua diplomacia. A forma como eram educados e todas as oportunidades que iriam ter. Mas, nós nunca poderíamos ter o conhecimento deles, a literatura deles, a educação deles. Eu desejei ter uma vida normal. Um local onde pudesse dormir como gente. O direito de ser cumprimentado com respeito e também direito de ter uma família que não sofresse tanto com o medo e a indignação. Eu desejei tanto que percebi que estava odiando minha condição de negro, doutor. Eu cheguei a odiar o fato de ser negro e escravo.

Eu amava minha gente, mas ser escravo e aceitar as chicotadas, o serviço que matava uns e outros era demais pra mim. Por que eles não se rebelaram com toda a sua força e garra?
Muitos toleravam aqueles maus tratos. No fundo, acreditavam que eram inferiores. Eu desejei ser branco e quando retornei pra cá, eu me vi estranho, distorcido. Foi difícil morrer. “Negro insolente!” - dizia o coronel. Eu fui insolente e morri pra dar o exemplo do que não deve ser feito. Apanhei tanto e morri no tronco. Fora do corpo a revolta tomou conta de mim e resolvi atormentar. A pele já não era mais negra, tudo mudou pela vontade. Depois de tanto tempo, eu já nem sei quem sou. No fundo acho que todos nós sofremos as discriminações na sociedade.

Daqui a gente sabe das noticias doutor. Todo mundo tão culpado. Discriminando pobre, mulher, nordestino, dona de casa, obesos, homossexuais, deficientes físicos. Um discrimina o outro. Então, ficou difícil viver o fácil, né? Eu queria que as pessoas pudessem se enxergar neste mundo. Perceber o quanto têm de bom e o quanto têm de ruim. Queria que percebessem que fora do corpo todos nós podemos ser qualquer coisa.

Podemos ser homem ou mulher, bonito ou feio, negro ou branco, basta Deus querer. Tomar cuidado com as palavras, com os pensamentos e os atos que ferem porque tudo na vida trás consequências que daremos conta, cedo ou tarde. E assim, a gente vai seguindo em frente.
CAIUBI
19/11/17

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“AQUELE QUE AINDA NÃO SENTIU ADOR DA DISCRIMINAÇÃO É MUITO FELIZ”

Eu cuidei de todas aquelas crianças e eu amei cada uma delas. Tinha as minhas e tinha as da sinhá. Eu tive muitos filhos. Sete de sangue e cinco do coração. Dei mamá pra todos porque a sinhá não queria deformar o corpo. Bobagem! Tinha um corpo lindo minha sinhá (risos). Só sei que tinha dias que eu desejava não existir. Pedia pra Deus fazer o dia correr pra não ver a tortura dos meus meninos.

Moças que emprenharam de senhor e tiveram que tirá o menino. Meus filhos que eram castigados no tronco. Tudo doeu em mim, mas o dia que o menino branco me ofendeu doeu demais. Tem coisa que fere mais do que pancada. Palavra feia, um olhar de revolta fere muito. Eu cuidei daquele menino como se fosse saído das minhas entranhas. Cuidei tanto com amor e carinho. O danado ficou forte e bonito, crescido demais e um belo dia tomou nojo da mãe Leontina. Não queria nem passar perto da minha cozinha. Escutei um rapazinho zombando dele porque ele mamou em mim e escutei direitinho quando ele disse pro menino nunca mais falar que ele tinha feito isso numa negra fedida. Como doeu. Eu chorei e senti como se aquele menininho que dormiu abraçado comigo tivesse morrido ali mesmo.

Dói muito o descaso e a rejeição. Estranho porque eu não tinha parido ele não, mas dei mais afeto que a mãe dele que nem queria segurar o menino pra não amassar a roupa cara. Aquele que ainda não sentiu a dor da discriminação é muito feliz.

Esta vida foi muito difícil e depois de tudo feito, eu retornei. Sabia que tinha tanta coisa pra fazer pelos meus e pedi pra retornar com a mesma família. Eu tinha que voltar e aceitaram meu pedido, mas uma coisa foi alterada. O menino branco, também viria como meu filho. Todos nós negros, inclusive ele. Ô seu moço precisava de ver a indignação do danado do menino. Meu amor por ele ainda era forte demais, mas o danado não queria saber de ser mulato não. Que sofrimento. Ele mesmo se repugnava. Eu só entendi quando me contaram a história inteira. Vivia de cabeça baixa como se tivesse aprontado. Já era outra época. Nada de quilombo ou submissão. Mesmo assim, ele se rebaixava e estava sempre querendo ser prestativo pra branco. Estranho de ver. Eu bem que tentava ensinar, tinha os irmãos que eram trabalhadores e dignos, mas ele nada. Foi colocado pra fazer serviço leviano, foi usado e morreu na revolta. Nem sei dizer.

Essa questão de preconceito vira as vidas e não sai da gente. Entra numa fase, muda de corpo e quando vê, ta no preconceito de novo. A gente recebe a oportunidade, mas não larga as mazelas morais, aí é só na dor mesmo. Eu ainda estou orando pra ver se ele melhora. Queria poder ajudar mais. Que Deus possa ampará-lo.
LEONTINA
19/11/17

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“MAS, E OS MEUS DIREITOS DE MÃE?”

Eu amei aquele homem e percebi que, apenas fui usada por ele. Nunca imaginei que fosse casado porque eu não teria me envolvido, se soubesse. O pior é que a esposa sabia de tudo. Até onde pode ir a baixeza de alguém? Quando engravidei fiquei tão feliz. Ele me cobriu de afetos e eu nem percebi o quanto ele estava ausente. Dizia que viajava a trabalho e eu acreditei em tudo. Ele nunca queria sair comigo porque afirmava que era muito melhor no nosso modesto lar e eu achava tudo muito lindo.

Mas, quando a criança nasceu, ele falou: “Ah! É branco!” Eu não entendi porque ele nunca havia demonstrado qualquer aversão à cor da minha pele. Quando eu soube que podia sair do hospital recebi uma noticia terrível. Meu companheiro já havia levado a criança. Como assim? Era possível? Mas, e os meus direitos de mãe? Como puderam deixar que ele levasse o meu filho? Me desesperei, não conseguia entender o que estava acontecendo. Fui pra casa e não tinha mais nada lá que fosse dele ou do bebê. Procurei por ele nos telefones e no suposto trabalho. Eu não consegui encontrar, nunca. Passei a vida toda sem compreender o que houve do Alberto e do meu bebezinho.

Recomecei, reconstruí minha vida com outro homem. Agora, com um negro que demonstrou o seu amor. Tivemos uma linda família e chegou o dia em que eu deveria retornar. Quando despertei deste lado, eu desejei saber desta parte da minha vida que foi uma incógnita para mim. Alberto tinha esposa que não podia ter filhos e ele se envolveu comigo na intenção de fazer um filho. Trama sórdida. Ele levou o filho e foi apoiado pelo médico e também por algumas pessoas que me conheceram e não revelaram o seu paradeiro. Meu filho foi muito bem criado. Teve uma vida boa e a sua mãe foi excelente. Eu sei que ele foi amado e que teve contato com as pessoas que deveriam participar desta sua vida, mas eu ainda não consigo esquecer. Eu ainda não consigo aceitar doutor. Eu ainda acho que foi injusto tudo o que vivi.

Já me mostraram como sinhá. Eu, uma sinhá que maltratava os escravos tinha um relacionamento amoroso com um escravo e abortei o seu filho. Eu como sinhá em nada me assemelho com a mulher que sou hoje. Tudo mudou e eu ainda tive que pagar este preço tão alto. Por quê?
CLARA
19/11/17

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“QUANDO O NEGRO E O BRANCO SE UNEM PRA FAZER O AMOR ENTRAR NA VIDA DOS OUTROS”

Foi um trabalho de mais de cinquenta anos. A minha vida toda eu desejei servir. Eu tinha a certeza de que estava neste mundo pra fazer a diferença. Eu pretendia auxiliar os desfavorecido como eu. Nasci numa família de negros e morei num local afastado da cidade onde as pessoas trabalhavam para comer, onde não tínhamos médicos ou educação. Trabalhamos duro, mas as coisas foram ficando difíceis para os pais doentes e pobres. Quando eu cheguei na cidade, não esmoreci.

Peguei os trabalhos que apareciam e trabalhava dia e noite para criar os meus irmãos, cuidar dos meus pais. Eu passava pelos cantos da cidade e via tantos jogados, pedindo, necessitando. Tantos que são invisíveis para a sociedade que vive apressada. Eu não queria ser só mais um na multidão. Mais um que luta pelo pão difícil de ganhar e não dá bola para tantos outros que vivem da mesma sorte. Eu não desejava me estapear com eles em busca de uma vaga de emprego. Eu queria ser mais que isso.

Eu queria dignidade, fé. Comecei a fazer trabalhos sociais. Pôr a mão na massa e encontrei Leonora. Mulher de fibra, decente, íntegra. Cuidava das crianças de rua. Não tinha nojo, vergonha, nada e era branca, branquinha demais. Que saudades eu tenho da Leonora. Vivemos unidos no ideal de auxiliar independente da raça, do credo ou da classe social porque rico também se droga e vai parar na rua. A gente levava tudo, comida, roupa e pregação. Lavava o corpo aos domingos na igreja e lavava a alma quando apresentava Jesus. Foi lindo demais. A nossa união auxiliou muitas famílias. Quando o negro e o branco se unem pra fazer o amor entrar na vida dos outros. A gente formou uma parceria linda demais. Eu aprendi muito com a Leonora. Aprendi a ler e depois fui estudar mais e mais. Aprendi as Leis, me instruí. Eu virei um tipo de gente que nem acreditei que era possível virar, tudo por ela. É uma benção quando Deus permite que Espíritos de luz estejam no meio de pessoas normais pra ajudar nas causas nobres. Se não fosse por ela eu não teria conseguido chegar tão longe. Fundamos algumas organizações para auxiliar os menos favorecidos e até hoje, tem filhos nossos cuidando de tudo. Pessoas sem igual foram colocadas ao nosso lado.

Isso trás a certeza de que quando as pessoas estão inclinadas em fazer o bem, a espiritualidade permite e facilita a tarefa edificante. Quando as pessoas perceberem que todos nós somos iguais e devemos nos apoiar nas causas nobres, o mundo será outro. Local pacífico e apropriado para regeneração. Ah! A Leonora? Apenas, recebo noticias dela de tempos em tempos.

Conseguiu a evolução necessária para mudar de mundo, por isso, tanta saudade. Eu permaneço aqui, aguardando novas oportunidades de elevação. Enquanto isso, eu me comprometi a continuar os trabalhos na falange que atua com os viciados em drogas. Atenciosamente.
MARCO AURÉLIO
19/11/17

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Data importante para refletir.

TER A CONSCIÊNCIA NEGRA É ADMIRAR QUEM LUTOU PELA DIGNIDADE DE TER SEUS DIREITOS ASSEGURADOS”

Quem não tolerou ser tratado com diferença e discriminação. Pessoas íntegras que lutaram para estabelecerem-se na sociedade, apesar das críticas e dos apontamentos. Pessoas que ouviram abusos e hoje, numa época tão democrática, ainda percebem os olhares de distinção, esquivos e cheios de abuso moral.

O dia deve ser vivido com a mais plena consciência de que Deus fornece para todos oportunidades adequadas de ajustes. Todos nós chegaremos ao Pai, cada um no seu tempo. O certo é que servimos de alavanca de progresso uns para os outros, por isso, é fundamental a percepção das necessidades alheias para que possamos auxiliar e sermos auxiliados. Com sincero devotamento para com o semelhante.

O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA DEVE SER UTILIZADO PARA NOS DESPOJARMOS DE QUAISQUER DISCRIMINAÇÕES QUE TEMOS CONTRA NOSSOS IRMÃOS ENCARNADOS E DESENCARNADOS. Não apenas relacionados à cor da pele, à raça, mas também em outros aspectos.

Lançamos a reflexão: o quanto podemos ser maldosos e ingratos com todos os que estão ao nosso lado? Pessoas que trabalham em posição subalterna e que, nem mesmo, recebem um bom dia. A dona de casa que trabalha no lar e nunca é auxiliada em suas tarefas, trabalha dia e noite para o bom andamento do lar e apoio dos familiares.
Ricos discriminados, pobres discriminados, estrangeiros, crianças que são mal tratadas até por seus genitores, cristãos que brigam com cristãos em nome de suas igrejas. Tudo, meus irmãos, que não for com amor, está errado. Em nome da paz já se fez muita guerra.

Agora, olharmos uns para os outros sabendo que o futuro a Deus pertence e só Ele é capaz de saber o que precisaremos enfrentar para sermos mais tolerantes e amorosos com nossos semelhantes. O que é necessário para estarmos livres do preconceito. Bendita seja a reencarnação que nos possibilita sermos em outra vida tudo o que odiamos ver no outro.
ERASMO GURGEL
19/11/17    



Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“O OTIMISMO NUNCA FOI TÃO IMPRESCINDÍVEL”

Eu queria que as pessoas fossem mais honestas consigo mesmas e percebessem o quanto estão tentadas a cometer o mal. Ser otimista implica em ver o bem, implica em almejar o bem, desejá-lo para si e paras os outros.

Como seria bom se por todos os lados as pessoas fossem mais positivas. Alguns justificam sua postura dizendo que a vida está difícil, que a sociedade está deveras violenta e coisa e tal, mas não é isso não. Num mundo de prova e expiação não poderia ser diferente. O fato não é o que temos que enfrentar, mas a maneira que enfrentamos as dificuldades, tornando-as mais penosas para nós e para todos aqueles que são obrigados a ficarem do nosso lado, sim porque existem pessoas que mesmo desejando se afastar não podem, exemplo disso são as crianças menores, os animais e os idosos, alguns subalternos que precisam nos suportar porque estamos vinculados a sua fonte de renda. Muito triste ter de conviver com pessoas pessimistas e que estão sempre emburradas, parece que estraga até um dia de sol.

Tão complicado quando você acorda cheio de disposição e vai comprar o pão e a moça do balcão te recebe com uma carranca, mas por quê?
Pra quê ser mal humorado?
Sermos gratos com todas as coisas, sermos gratos com todas as oportunidades. Sermos cordiais porque um tem sempre alguma coisa de importante pra aprender com o outro, na humildade. Saber reconhecer que somos fortes quando estamos juntos. Somos bons, somos filhos do Altíssimo e podemos avançar mais rápido se pudermos enxergar melhor os fatos.

O otimismo nos impulsiona, tira o medo e afasta os maus Espíritos, aqueles que estão dispostos a nos fazer vacilar.
O otimismo é a sementinha de fé que nos faz transpor as montanhas. As montanhas da dificuldade, todos os obstáculos que são as provas. Sabendo que não somos castigados por nada, simplesmente temos a colheita que serve para compreendermos o quanto devemos melhorar. Esforço com sorriso nos lábios é muito melhor para todos.
JACINTO
26/11/17

--------------------------Paula Alves--------------------------

“COMO É BOM LEVAR A VIDA COM ALEGRIA E GRATIDÃO”

É verdade. Eu costumava reclamar de tudo e tinha uma vida boa. Era casada com um homem trabalhador, bom pai e esposo que demonstrava todos os dias sua lealdade e carinho. Eu me queixava tanto, dizia que o trabalho do lar era exaustivo e exigi que meu marido contratasse uma empregada. Ele não podia pagar, mas se esforçou e me forneceu o que eu pedia. Quando a Maria chegou em meu lar, eu respirei fundo porque acreditava que ela me daria mais trabalho. Eu achava que somente eu podia fazer tudo ficar perfeito.

Ela me surpreendeu com a rapidez, disposição e felicidade com a qual executava o seu trabalho. No início aquela cantoria até me irritou, mas não adiantava falar porque ela não parava de cantar. Os dias foram passando e a mulher era incansável, sorria e trabalhava. Como sorria, ela até gargalhava e eu fiquei pensando: como ela sorria tanto, empregada, dizia ter cinco filhos, cada um de um pai, sozinha, morava num barraco, tinha uma mãe doente, ela já não era tão jovem e parecia mancar no final do dia, mas ela nunca reclamava e quando acabava o serviço me dava uma boa noite tão feliz que até me irritava.

Eu pensei: como ela podia ser feliz com tanto problema?
Fiquei pensando nisso por dias até que não aguentei e perguntei pra ela. No fundo não me importei se ela sofreria porque achei que ela era maluca e nem sabia discernir o que era sofrer, só ria. Fiquei bem constrangida com a resposta que ela deu.

Ela falou que não tinha problemas. Falou que eu tinha problemas existenciais e via problema em tudo e em todos. Falou que ela tinha uma mãe muito querida que precisava de cuidados e que ela tinha o maior prazer de cuidar da mãe. Falou que os cinco filhos eram as alegrias que Deus tinha colocado na vida dela. Que ela não precisava de marido pra sustentar filho na dignidade, isso também não era problema e que o lar simples era o que ela podia bancar, estava satisfeita por ter um teto pra família. Ela só tinha motivos pra sorrir mesmo, trabalho, saúde e fé.

Deus tinha dado tudo o que ela tinha, o sorriso era pra agradecer o presente todo. Eu chorei de vergonha. Eu nem sabia que ela pensava tanto, que era tão lúcida e sábia. Eu fui tão má. Fui preconceituosa, grosseira e preguiçosa. Conversei com meu marido naquela noite e nem conseguia olhar nos olhos dele. Abracei meus filhos antes de dormir e naquela noite eu orei pedindo perdão porque tinha esquecido até de Deus.

Como pode esquecer de Deus?
Eu nem orava mais, estava sempre com pressa. Conversei com ela, pedi desculpas e ela foi pegando a bolsa porque achou que eu fosse despedir. Aí, eu propus um negócio. Eu tinha aprendido tanta coisa e não queria ficar inerte. Eu propus que trabalhássemos juntas. Artesanato. Trabalhos lindos que foram fonte de renda pra nós duas. Eu voltei a cuidar da minha casa, ter o prazer nas pequenas tarefas do dia-a-dia. Nos tornamos grandes amigas e depois de algum tempo, ela me fez perceber que eu também estava sorrindo por todos os lados. Como é bom levar a vida com alegria e gratidão. LÚCIA
26/11/17

--------------Paula Alves-----------

“NÃO FOI AMOR, FOI TUDO, MENOS AMOR”

Eu me ajoelhei porque achei que ele se compadeceria e deixaria o menino comigo. Eu orei com tanta fé. Me senti merecedora e voltei pro quarto crente de que meu menino voltaria comigo pra casa. Eu nunca fui religiosa, mas me convenci de que este era o único caminho quando fui informada de que meu filho estava gravemente adoecido. Eu não tinha o que fazer. Foram tantas consultas, tantas internações e ele era tão novinho, como poderia suportar?

O fato é que eu pretendia barganhar com Deus.

Eu me tornaria uma nova pessoa, se ele reformulasse seus planos, se ele pudesse curá-lo. Eu nem sei o que de fato se passava na minha mente. Aos poucos, eu estava adoecendo junto com ele.  Hoje eu acredito que Deus conhece cada um de nós como a palma da mão. Sabe nossos deslizes e nossas inclinações. Ele sabia o quanto eu era leviana. Eu tive o menino e amava meu filho, mas acho que poderia ter dado mais atenção. Eu só fiquei bem ao lado dele, lá no hospital. Eu me desesperei quando vi o abatimento dele e como estava emagrecido. Naquele dia, o médico me deu uma boa notícia e eu fui pra casa com o menino, mas minha alegria não chegou às altas horas porque ele piorou muito e teve uma parada. Que horror! Ver um filho morrendo nos seus braços. Eu me revoltei porque eu pedi, eu implorei pra Ele e ainda assim, meu menino não suportou.
Que Deus é este? – eu pensei.
Tem coisas que ninguém aceita ouvir da gente e ninguém aceitava que eu dissesse que não acreditava em Deus. Isso criou uma revolta em mim.

Meu marido não aguentava tanto mau humor, tanta indignação. Eu precisava culpar alguém, então, eu culpei a Deus e quando vi, meu marido estava se divorciando de mim. Levou tempo pra eu entender que ele também havia perdido um filho, mas eu olhava para cena toda como se fosse apenas eu, aí eu fiquei sozinha mesmo. Não lutei por ele, eu achava que ele era um covarde. Ele também não tinha me ajudado a ficar com o menino. Foi indo, eu não comia, bebia bastante e contraí uma doença hepática que reduziu meus dias. Eu adiantei bastante o meu regresso, por isso, foi tido como suicídio.

Eu peregrinei num local bem ruim e quando finalmente pude ser socorrida, vi um anjo se aproximando de mim, mas o anjo me parecia tão familiar. Era o Léo, meu filhinho, estava já homem feito, lindo e tão educado. Ele me trouxe para cá e me explicou que tudo estava nos planos de reajuste. Ele precisava retornar daquela forma e eu não consegui compreender as necessidades dele. Com o meu jeito, ainda dificultei o seu reestabelecimento. Quando é que eu iria imaginar que fiz tudo errado?

Não foi amor, foi tudo, menos amor. Entendi que foi posse, revolta, mas amor não. Nós teremos uma nova chance. Eu preciso ser mãe e treinar meus sentimentos de mãe porque a mãe ama de verdade e isso só nos impulsiona. Eu sou agradecida.
ESTER
26/11/17

----------------------Paula Alves----------------------------

“Ô COISA BOA, SABER QUE MORRE SÓ O CORPO E A GENTE VAI MELHORANDO”

Foi uma bonita jornada. Eu ainda tenho saudades de todos. Foram tantos que me amaram. Foram tantos que eu tenho a maior satisfação de relembrar. Foram filhos, netos, um marido incrível e um montão de amigos leais.

Em outras existências, eles foram desafetos, nesta voltaram de mansinho, despertaram um sentimento estranho e pela insistência eu fui me aproximando deles. Quando percebemos, estávamos amigos e hoje eu posso dizer que amo muitos. Sou feliz! Eu até queria ficar mais tempo no meio deles, mas o corpo não aguenta tanto. Chega uma hora que é dor, as doenças vão chegando. É inevitável! Eu me cuidei. Nunca fumei, nunca bebi. A comida sempre foi simples, dormia cedo, pra pegar no batente bem cedinho. O corpo aguentou bem, mas não é eterno. Aqui só é eterna a alma.

Ô coisa boa, saber que morre só o corpo e a gente vai melhorando. Coisa boa chegar aqui e depois de um tempinho lembrar de tudo e ver que passou por tudo o que tinha que passar. Na medida certa mesmo. Não teve um dia fora de ordem, ô Senhor Deus todo perfeição. Eu lembro de tudo agora. Todos eles estavam no lugar certo. Aquela filha rebelde que eu castiguei lá atrás. Aquele marido que bebia tanto e que eu tinha dado surras quando foi minha esposa em outra vida. Meu pai que me abandonou porque em outra vida eu fui um pai que molestei. Tudo pena abrandada meu sinhô. Ô glória!

Se tem gente que reclama é porque não tem percepção das coisas do céu. Jesus tentou avisar, mas eles nem escutaram o Mestre, que pena! Eu também fui assim como eles e recebi tanto. Eles estão recebendo e sempre acontece uma coisa importante na vida deles que é pra perceber a bondade do Senhor. Deus seja louvado!
ZILÁ
26/11/17

------------------------Paula Alves---------------------
      

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