Cartas de Março (5)


Foto cedida por Magno Herrera - Fotografias

Durante a elaboração do livro Sob a Luz recebemos alguns amigos espirituais interessados em “se fazer ouvir”. 

Aqui estão eles:


Ricardo Fonseca

Nós sempre tentamos culpar alguém por nossa derrota, afinal o ser humano ainda é tão egoísta e narcisista. Eu confesso, já fui muito pior do que sou atualmente. Achava que o mundo inteiro deveria se curvar à minha vontade e a minha definição de vida perfeita deveria ser respeitada sempre. 

Pois bem, eu estava enganado, descobri aos 17 anos que não era filho dos meus pais. Eles me criaram, pois minha mãe, empregada deles, me doou por falta de condições em me criar. Eu me decepcionei tanto, ninguém compreendeu minha revolta, já que sempre tive carinho e atenção de sobra dos meus pais.

Tive dois irmãos que me tratavam com amor, nunca me rejeitaram, enfim, tive boas condições de vida. Tinha uma família maravilhosa que me tratou com respeito e dignidade e eu, ao invés de ser grato fui ofensivo e desleal.Passei a roubá-los, me meti com gangs, marginais. Chegava em casa alcoolizado e os agredia verbalmente. Minha mãe chorava preocupada, não sabia o que fazer para me ver bem.

Quando eu estava sóbrio dormia o dia todo tentando me refazer fisicamente.Ela cuidava de mim, levava meus pratos prediletos, tentava conversar, mas eu não permitia uma aproximação.Nunca mais fomos uma família, eu os culpava pelo meu fracasso.

Numa noite após beber muito me envolvi num assalto e roubei um carro. Foi mais por curtição do que por necessidade mesmo, mas perdi o controle da direção e bati num caminhão, desencarnei de imediato. 

Peregrinei por muitas décadas em terrenos pegajosos, em lugares sombrios. Tinha muita gente pedindo socorro, uns pareciam loucos e outros queriam me bater, me roubar. 

Eu fugia, senti fome e dor até que um dia eu estava tão cansado, me lembrei dos meus pais e irmãos. Desejei estar com eles, lembrei das orações que minha mãe ensinou na infância florida e, de repente, ela e meu pai apareceram.

Eu estava nos braços deles e eles estavam tão lindos.Sorriram para mim, foi como se me perdoassem por ter sido tão leviano. 

Desde então, eles me ajudam, me amparam novamente. 

Eu não entendo nada de Deus, nem sei ainda como pode ser tudo isso. Eu só sei que fiz tudo errado, eles sempre cuidaram de mim como um filho igual aos outros. Eu me arrependo muito e tento melhorar. 

Obrigado.

12/08/2012 


João Bastos

Todas as vezes que ambicionamos conquistas, produzimos reações químicas em nosso cérebro, da mesma maneira que ocorre quando nos decepcionamos fortemente ou estamos muito felizes. Tudo em nosso organismo aponta para reações químicas que geram reações físicas. Sendo assim, podemos constatar o quanto a oração, o perdão, o positivismo podem nos auxiliar a favor da cura e do bem estar.

Na antiguidade isto era um fato real que artistas famosos conseguiam expressar através de tudo o que era mais belo e radiante, contrastando com o abstrato e sombrio. Até na poesia ou na música é fácil de notar quando a canção é harmônica daquela que é estridente, cheia de acertos graves fazendo produzir em nós os mais intensos arrepios.

Tudo em nós é energia.

Por tudo isso felicito a todos aqueles que aspiram viver alegremente pelo mundo da bondade.Aqueles que progridem por inspirações enobrecidas de caráter.

Meus parabéns! Vocês sabem como viver.

Hoje são inúmeros os que têm síndromes diversas, os que se enchem de orgulho para exaltar o seu mal estar e suas doenças incuráveis. Sentem-se intimidados ao se perceberem melhor que ontem e, portanto, mais infelizes que amanhã. Preocupam-se tanto com novas drogas farmacológicas que entopem sem renúncia todos os vasos com toxinas.

A retórica serve por assim dizer para salientar, caros irmãos, o quanto é mal tratado, por ignorantes de vários matizes, nossos corpos físicos tão divinos e perfeitos como o próprio criador. Pois aí é que está a verdade quando disseram “a sua imagem e semelhança”.Tudo aquilo que foi criado pelo divino criador, só poderia ser divina criatura. Mas que engano do destino, tantos de nós se esmerando em superar o Pai de toda a criação, daí catástrofes e desvarios desenfreados.

O dia em que o homem perceber o quanto seu corpo é solo de primor e esplendor. O quanto ele próprio carrega em si toda energia criadora e curadora, terá em suas mãos, aliado à humanidade, a possibilidade de agradecer aos céus e realizar todas as proezas que sentir necessidade.

19/08/2012                       

 Samuel


A todo instante percebo claramente meus erros e, os motivos que me levaram a trair meus ideais, agitam-se insanamente. Levei uma vida modesta, fui trabalhador agrícola. Sonhava apenas em ter uma casa própria para sossegar uma família com nove crianças ainda pequenas. Minha senhora me ajudava em tudo, era minha companheira de todas as horas.

Honrou-me até o fim. 

Por ela recebi o socorro no tempo oportuno devido suas orações e pedidos ao alto. Foi abnegada e, após o meu desatino, soube com louvor se entregar ao trabalho digno e concluir a criação de nossa prole, que aos poucos foi seguindo os seus passos e tornando-se mulheres e homens de bem.

Aos 39 anos eu já estava cansado da luta diária. Trabalhava sem descanso e fomos surpreendidos com uma seca que arruinou as plantações. Neste período meu caçula alcançava os sete anos. Vi meus filhos passando fome e me indignei com aquela vida de miséria. Foi então que comecei a frequentar os bares da cidade próxima e consolidei fortes inclinações ao tráfico de drogas. 

Minha querida Eustáquia percebeu de pronto minha mudança, porém, sensata se calava e corria a tirar os peraltas do meu caminho quando chegava drogado e cheio de fúria.

Lamento tanto as grosserias e insultos, quebrava a casa e colocava o terror debaixo do nosso teto humilde. Hoje seios motivos do plano superior em me colocar numa situação precária financeiramente. Eu necessitava de trabalho árduo para abrandar meus sentimentos mesquinhos e gananciosos, mas fracassei. 

Não contribuí em nada para evolução dos meus familiares que, apesar de tudo, souberam alavancar sua redenção uns com os outros. Uniram-se enormemente, já que eu os abandonei.

Isso me leva a crer que a máxima do Cristo: “amar ao próximo como a si mesmo” é com toda a certeza o que pode nos libertar das amarras do egoísmo.

Oro por eles.Agradeço-os de todo o meu coração e também oro por mim, para que seja forte o suficiente da próxima vez.

       09/09/2012

George Domingos – a seu dispor.

A vida é uma caixa de surpresas, quando atiramos uma pedrinha no lago nunca sabemos o que pode acontecer, assim é a lei de ação e reação. As leis divinas são imutáveis, o que quer dizer que servem para todos, sem exceção, e não podem ser demolidas, nem barganhadas como dizem vocês. 

Alguns têm o hábito de rezar e fazem compensações com Deus.Se eu fizer isso, você, Senhor me dá aquilo que tanto almejo. Tolices! 

Não existem barganhas. 

Quando se atira a pedrinha no lago tudo depende da força de ataque para definir se o lago continuou calmo ou se espirrou água para todos os lados. De qualquer forma sempre existe algo a ser corrigido, então não tarda o período onde a lição deve ser aprendida. 

É verdade que o livre arbítrio, que é sim relativo, está sempre presente nas decisões, até mesmo como uma forma de analisar a maneira como o indivíduo resolve tais situações. Então, dependendo do caminho escolhido, as portas se abrem ou não.

Por isso, é fácil definir quando estamos no “caminho certo” pelas possibilidades que o suposto “destino” nos coloca diretamente nas mãos.

O fato é que nós sempre seremos responsáveis pelas escolhas.

Nunca somos.vítimas.

Jamais penalizados, apenas devemos evoluir com racionalidade, modificando coerentemente nossas atuações nos palcos da vida, dependendo de nossas necessidades morais e espirituais para que, desta forma, possamos cada vez mais nos socializar e ofertar mais aos nossos semelhantes, fazendo parte do todo que é Deus.

       16/09/2012


É um prazer estar presente.

Hoje, após tanta preparação chega o momento que eu tanto almejei. Foi muito difícil aceitar o fato de que a vida física para mim havia se encerrado.Com toda certeza levava meus dias interessado numa busca ardente pelos bens materiais.

Era professor e como tantos meu salário não foi dos melhores, não para me proporcionar o que minha vaidade pedia. Esbanjava orgulho. Com passos firmes e cadenciados espalhava aos quatro ventos todas as minhas aquisições: carro importado, roupas de grife, um apartamento localizado em área nobre da cidade grande, mas o que ninguém sabia é que para isso eu fui obrigado por mim mesmo a me prestar a serviços levianos, me prostitui.

Eu desencarnei, vítima dos meus atos errôneos, peguei uma doença venérea.Não havia ninguém no meu enterro, pois não consegui formar amigos leais. Nem família, já havia perdido meus pais décadas passadas. Meus bens foram confiscados pelo governo e eu fui levado por um grupo de entidades leviana e arruaceira.

Passei por sofrimentos variados, não gosto nem de lembrar.Não faço ideia de quanto tempo fiquei nesta situação.Até que um dia, o pior de todos, após ser abusado fui trancafiado numa cela, eu chorei, eu realmente chorei e sinceramente lamentei tudo o que vivi.

Lembrei dos meus pais com tantas saudades e vislumbrei uma luz que chegou a me cegar momentaneamente, eu senti segurarem minhas mãos e ouvi:

Venha não tema, estamos contigo, você já pode descansar.

Eu dormi, dormi por dias eu acho. Quando despertei vi um jardim fantástico com flores de todas as cores e formatos. Me percebi sentado numa cadeira de balanço, limpo e bem ajeitado. Ao meu lado uma jovem senhora lia um livro que falava de Jesus:
      
Finalmente! Estava ansiosa por seu despertar. Seja bem vindo, meu filho!

Eu demorei a acreditar, mas aquela era mamãe.Ela estava mais jovem, forte e bonita, porém logo reconheci em suas palavras a ternura de sempre:
      
Venha ver Antônio, ele acordou.

E assim também pude abraçar meu pai com todo amor como na minha infância.

Estou há dois anos aqui na colônia.Desde que fui resgatado agradeço todos os dias pela tolerância de Deus, por sua bondade. Logo necessitarei retornar para novamente pôr em prática o que não soube realizar, hoje sou feliz. 

Muito obrigado.

23/09/2012

2 comentários:

  1. Fiquei particularmente tocado pela história de Ricardo Fonseca que, como filho adotivo de pais carinhosos, abraçou a delinquência, descobrindo bem tarde e com amargura os doces prazeres da vida em família.
    Acho que mensagens desse teor nos auxiliam a enxergar a verdadeira benção que se configura a presente encarnação, não obstantes as vicissitudes que todos nós, sem exceção, enfrentamos...

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  2. É este o objetivo irmão. Sermos tocados. Sentir através destas experiências que todos nós erramos, mas somos merecedores de novas oportunidades e graças a Deus nós as temos incessantemente. Bom que esteja sentindo.

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