Cartas de Março (20)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“PASSA MUITAS COISAS NA CABEÇA DO INERTE”

Foi tanta saudade. Acho que o pior de tudo é você saber que não pode mais abraçar e nem conversar a qualquer momento. Quando me dei conta de tudo o que se sucedeu em minha vida, eu me arrependi. Me arrependi de todas as vezes que eu pude estar com eles e me recusei por preguiça de ir até a casa deles. Às vezes, a gente justifica que não foi visitar porque é longe ou está sem dinheiro, mas não é isso não. Passa muitas coisas na cabeça do inerte.

Eu pensava que eles poderiam me visitar, eles deviam fazer isso porque eram meus filhos e netos. Eu como mais velha deveria aguardar por eles, afinal eu já tinha meus problemas de saúde e não tinha cabimento pegar ônibus só pra matar a saudade, enquanto eles, de carro não iam me ver.

A questão é que a vida passa num piscar de olhos e, de repente, tudo se acabou, a existência se findou e eu agora com esta saudade que me sufoca. Se pudesse prever que não iria acabar, teria feito muito diferente. Eu teria deixado o orgulho e a inércia de lado, iria ver meus familiares sempre que tivesse vontade, apesar da cara feia das minhas noras e da bebedeira do meu genro. Mesmo sabendo que eles queriam a privacidade deles, eu me faria presente porque é muito bom um abraço. Agora eu sei.

Foi tudo tão errado. São tantas questões mesquinhas que nos torna um ser humano mesquinho de sentimento. Eu me arrependo muito. Sentimento deve ser doado aos montes e não tentar controlar o que se sente por medo de sofrer depois. Isso é um absurdo! A pessoa que não arrisca se aproximar de uma criança com medo do filho levar embora e não trazer de novo, é um covarde. Se a gente tiver que sofrer de tanto amor, que bom. Sinal que tem um coração grande dentro do peito, azar de quem não sabe amar.
Agora eu sei.

Demorou tanto doutor para notar que fiz tudo errado. E quando desencarnei e estive dentro do lar deles eu percebi. Passei uns anos no lar dos meus filhos porque eu sempre tive vontade de estar na casa deles e me controlava para não parecer uma velha ridícula e solitária. Eu evitei tanto e quando morreu meu corpo, o Espírito foi direto para junto daqueles que eu amo. Fiquei lá e pude perceber o quanto sofreram. Meus amados filhos que me amaram do jeitinho que eu sou. Com meus deslizes, defeitos e limitações. Eles me amam e nunca puderam expressar mais porque eu não permiti. Como eu me arrependo!

Aí fiquei do lado deles sentindo todo o amor e a saudade, fazendo com que sentissem minhas influências, coitados sofreram mais comigo ali, mas eu não sabia como ir embora e eu entendi tudo.

O correto é amar e só. Sentir o máximo do amor. Doar o máximo de amor e se a gente se ferir, tudo bem. Pode acontecer de não ser suficiente para contagiar o outro. Pode acontecer de não ser recíproco, mas tudo bem porque a gente evolui muito quando ama e sem querer a gente desperta o amor nas outras pessoas. É tudo o que fica, o amor. E eu sou agradecida ao Fabrício, Gustavo e Lídia por todo amor que eles me fizeram sentir. Jesus abençoando sempre.
MARINALVA
04/03/18


--------------------------------------Paula Alves----------------------------
“FILHA ENTENDA QUE SE VOCÊ FICAR SÓ CHORANDO VAI ERRAR COMO EU”

Vou dizer o quê? Que fiz tudo errado? E ainda assim eles sentem minha falta e se preocupam comigo. É demais pra mim. Tem gente que acha que vai ficar dormindo para sempre, mas não vai não. Eu falo que pode até demorar, mas quando a gente volta pra cá, uma hora ou outra, começa a se lembrar e faz conta de tudo o que prometeu. Coisas que deveria fazer, compromissos que assumiu com um monte de gente e quando volta, percebe que nem fez nada do que devia, nossa! É um horror!

Só perder tempo. Perder tempo empenhado em acumular, em curtir a vida. Perder tempo na ilusão de um tempo que não volta mais. Buscando alegrias de criança porque a gente se encanta com o prazer do cigarro, a gente se encanta com a beleza das mulheres e a gente se encanta com os carrões, mas do que me serviu tudo isso? Trocar de vida pra quê?

Eles ainda sentiram minha falta. Tem uma filha que chora direto quando pensa em mim. Eu nem fui um bom pai. Eu podia se quisesse. Acho que se estivesse com a cabeça no lugar poderia ter sido. Se eu me concentrasse no papel de pai, poderia ter sido muito bom nisso. Mas, eu me iludi e foquei errado entendeu? Acho que é isso que eu posso dizer.

Quando a gente tá na carne, deve se concentrar no que é importante, por isso, que falam que tem que seguir Jesus porque ele deu todas as coordenadas da lucidez. Quando a gente acorda para vida real, não se ilude e não perde tempo, não perde a vida com besteiras e faz tudo o que tem que fazer. Eu sinto pena da minha filha e não queria que ela chorasse por minha causa porque eu sou um cara que falhou, mas eu vou ter outra chance.

A gente não tem que ter pena de quem morreu porque é uma boa oportunidade de parar de errar, ver o que estava fazendo de errado e recomeçar com novos princípios. É como se você não tivesse mais jeito, fez tanta besteira que só recomeçando mesmo, entendeu?

Pra mim serviu, mas ela tem que entender que a vida dela pode ser muito melhor que a minha, se ela parar de sofrer por nada. Sofrer por mim não resolve nada. Ela tem que abrir os olhos e fazer por ela porque todo mundo tem um caminho que é individual. Apesar, da gente gostar muito da outra pessoa, é ela quem deve escolher por onde vai seguir. Não dá para segurar na mão e conduzir, igual criança? Não dá. A gente escolhe e pode se dar bem ou se dar mal e aí recomeça. Tudo bem. Filha entenda que se você ficar só chorando vai errar como eu. Vai esmorecer e perder a chance de acertar.

A gente tem que prosseguir sempre, independente dos erros alheios. Você tem o seu caminho e se desligou disso. Tem responsabilidades como esposa e mãe. Você pode conseguir resolver tudo aí. Resolver tudo o que tratou aqui. Eu torço por você. Acorde Isabel! Mexa-se filha! Eu estou prosseguindo e não sou coitado não. Deus te abençoe.
ISMAEL
04/03/18

-------------------------------------Paula Alves----------------------------


“NÃO FALTOU NADA NO CORAÇÃO DESTE VELHO PAI”

Era tanta dificuldade que, quando conseguia dinheiro para mistura, ria de felicidade. O objetivo era tão simples: não morrer de fome. Eu trabalhei tanto que tinha hora que achava que ia cair desfalecido de tanto cansaço. Sabe quando seus braços não aguentam mais a marreta? Era eu.

Eu trabalhava noite e dia para sustentar minha família, parecia que não tinha futuro para nós. Eu tinha muitos filhos é verdade. Amava minha esposa e quando via, ela estava grávida de novo. Sei lá, tem gente que critica. Pobre e com este monte de filho...

Falam de tudo. Até entendo que é mais fácil falar do que ajudar. Só tem quem reclama. Aí acha de lote. Eu nunca fui pedinte não. Saia de madrugada e ia trabalhar. Labuta difícil e voltava com uma comida para todos. Meus filhos estavam sempre felizes. É fácil agradar criança. Brincava um pouco, todo sujo, ninguém olha estranho para o pai que chega em casa sujo e fedido. Criança ama de qualquer jeito.

Pegava no colo, era um na perna, outro no braço e até na corcunda. Um monte de criança no sujeito suado. Não ligavam não. Minha mulher corria para o fogão sem reclamar. Fazia o que tinha com o maior capricho, comida cheirosa e gostosa, logo estava todo mundo com o buchinho cheio e carinha feliz dormindo agarrado na mãe. Tudo junto, não tinha cama. Vida boa com amor. Uma vontade de ficar junto, nunca recusamos filho não. Deus ia mandando, a gente amando e educando. Sem estudo, leitura pouca e lendo o Evangelho. Vida difícil, vida boa. Lembrei de tanta coisa. Tudo misturado.

Lembrei de vida que fui rico avarento, padre preconceituoso, egoísta e mulher que praticou aborto. Aí vim pobre, matuto, tive uma mulher joia rara que me ajudou a ter muitos filhos bons e a educar no Evangelho, com dignidade, sem reclamar, fazendo o que tinha que fazer. Lembrei que meus filhos foram os melhores. Um pastor decente, pregador dos bons, boas mães, ótimos pais, valorosos. Bons empreiteiros, tive filha faxineira, riqueza de serva de Deus. Filhos que cuidaram da gente com honra e amor.

Eu lembro do dia do açougue que eu queria comprar a mistura e não pude. Muita privação, mas no sentimento foi uma montoeira. Não faltou nada no coração deste velho pai.
OSMAR
04/03/18

----------------------------------------Paula Alves----------------------------------

“DEUS TEM UM PLANO PARA CADA UM DE NÓS”
Rejeitei? Depois de tanto apanhar? Eu nunca quis aquele marido. Eu fui empurrada para casar com ele. Aí lembrei de uma vida onde eu era um homem e perseguia o meu marido que era uma mulher lindíssima até que consegui casar com ela. Perseguição que avançou em duas jornadas. Quando a pessoa não perdoa avança as vidas, muitas existências de sofrimento. Tá vendo como é bom perdoar, enquanto está encarnado?

Casei com ele sem querer, meus pais brigaram porque ele tinha terras e eu era pobre de tudo. Pra quê? Preferia passar fome porque foi tortura sem fim. Morria de ciúmes, me batia, falava que eu não sabia fazer nada, me batia, ainda por cima me traia e ainda falava para todo mundo que eu não valia nada. Quis separar e pra quê fui falar isso, surra. Eu já pensava que ia sofrer para sempre. Recebi a visita de uma beata que me falou que eu tinha que ter fé. Fé para curar a ira do meu marido. Ela achou que o terço ia curar a maldade daquele homem?

Não sei, mas teve um dia que eu estava tão cansada que peguei o tal do terço. Deu alívio para o meu coração. Acostumei. Comecei a rezar para tudo. Para ele não beber, para não ir procurar mulher, para não me bater. Achei estranho porque eu estava mais na minha e ele melhorou um pouco. Acho que eu melhorei primeiro. Não vou te falar que surgiu amor dentro da gente, era vingança de outras vidas mesmo, mas aconteceu que a gente se respeitou mais. Acho que a idade foi avançando e ele cansou de me bater, cansou da vida de sempre e parou de teimar, eu também.

Estávamos acostumados a brigar e, de repente, parou. Eu também provocava e batia bastante. Era um duelo. Não sei dizer o que aconteceu com a gente, mas um belo dia, eu olhei para ele diferente. Perdi pai, mãe e irmãos, achei bom não estar sozinha. Não tinha carinho e nem afeto, mas tinha um alguém ali na casa para resmungar um pouco. Quando ele estava na hora final, eu achei que sofreria porque não tinha costume de ficar sozinha e me aproximei dele, dei a mão. Ele olhou para mim e repirou fundo. Não precisava falar nada, era um pedido de perdão pela vida miserável que a gente viveu junto.

Eu entendi e falei que ele estava perdoado, podia partir em paz que eu já nem lembrava do que ele tinha me feito, zerou. Eu falei com voz firme e ele fechou os olhos, calminho de tudo. Eu não chorei não. Estava aliviada que cumpri meu papel. Se era da vontade do Senhor que eu reencontrasse aquele homem, foi feito.

Eu não creio que as mulheres tenham que se sujeitar a maus tratos, pelo contrário. Não desejo para ninguém. Acho que é o fim da picada homem que se aproveita da força, terrível, dói pra valer, mas Deus tem um plano para cada um de nós. A gente nunca pode perder a fé que dias melhores virão. Aquele terço me fortaleceu. Eu tive ânimo para superar a vida difícil e acho que fez brotar em mim uma mulher diferente. Ele percebeu e também mudou. A oração é tudo na vida da gente.
JOAQUINA 
04/03/18


-----------------------------Paula Alves--------------------


Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias


“JESUS ESTAVA COMIGO PAI”

Veja que era outra época, num local distante onde o frio era de congelar. Era difícil para eu andar, parecia que minhas pernas estavam paralisando, muito frio. Tínhamos a nossa casa tão modesta e eu era o pai, precisava alimentar todos eles, mas meus meninos já estavam mocinhos e eram tão educados, tão responsáveis. Sara estava grávida e ficamos preocupados com o dia em que nasceria o bebê.

Tudo era pouco, menos o nosso amor. Eu saí para trabalhar naquela manhã. O trabalho da fábrica era o que mantinha nossa alimentação em dia. Quando Timóteo viu a mãe passando mal não pensou duas vezes. Ele era o mais velho e deveria chamar alguém porque o momento havia chegado, o bebê nasceria. Estava tão frio e a mãe ficou com medo do menino sair. Ele tinha quinze anos e era homenzinho. Eu senti uma coisa estranha naquela manhã. Me arrependi por ter saído de casa. Falei com meu chefe e retornei para o lar. Sara estava ofegante e as outras crianças choravam preocupadas. Minha esposa falou que Timóteo tinha saído na geada e não retornava. Ela estava aflita e entrou em trabalho de parto. Eu não sabia se saia atrás do menino, mas não deu. Tive que ajudá-la no parto. Meu caçulinha nasceu e eu senti um aperto no coração. Chorei sentido, Sara também. Foi como se tivéssemos a certeza do destino do nosso Timóteo.
Demorou quatro dias para chegarem com a notícia do falecimento do Timóteo. Eu entristeci sobremaneira, foi como se Deus risse de mim. Eu desejei não estar vivo para ouvir uma noticia daquelas. Sei lá, dizem que as mães amam mais do que os pais, eu não sei dizer. Só sei que o amor que eu senti por cada um dos meus filhos me fez um homem muito melhor. Eu senti tanto a perda dele, eu senti tanto. Doeu fundo dentro do meu peito a perda do meu filho. Não só porque eu me senti responsável pelo que aconteceu, mas senti que eu o amava e permitiria que um pedaço fosse retirado de mim se deixasse o meu filho vivo e bem. Vivi tanto tempo tentando sorrir satisfeito depois daquilo. Eu nunca consegui. Tinha outros filhos, mas um não substitui o outro.

Todos são raros, únicos e essenciais na vida de um pai amoroso. Quando chegou no minuto final, eu ainda pensava nele. Sempre estiveram todos juntos no meu pensamento. A gente não esquece, simplesmente aprende a viver com as lembranças que restaram, vive de saudade.

Quando eu estava prestes a partir, eu pensei tanto nele, eu sentia que estava acabando o meu tempo e quis tanto revê-lo. Meu Timóteo apareceu um tanto mudado, mas eu sabia que aquele olhar era dele. Foi um bálsamo poder abraçá-lo, beijá-lo e ouvir a sua voz: “Pai!”  

Eu nem percebi que já estava aqui. Ele me ajudou e falou que nem mesmo sentiu dor ou angústia: “Jesus estava comigo pai.”

Jesus estava com ele? Eu nem sei se poderia um dia me aproximar de Jesus, se eu seria digno, mas meu filho disse que Jesus estava com ele e isso para mim foi uma glória porque ele nunca esteve sozinho, esteve amparado pelo Mestre e eu agradeço a Deus por tudo. Pelo menino eternizado, pela partida maravilhosa que tive e pelo Mestre Jesus existir.
ROSENVAL
11/03/18


---------------------Paula Alves-------------------

“NO FUNDO, A GENTE CHEGA SEMPRE NA FAMÍLIA CERTA”

A gente fica distribuindo papéis, folhetos, panfletos. Eu fazia isso o dia inteiro e via tanta gente, mas acho que ninguém me via. Era gente bonita e feia, cheirosa e alegre, irritada e animada. Gente de todo tipo, a pé e no carrão. Tinha dia que eu ficava com vontade de jogar todo papel no chão porque não valia nada mesmo.

Propaganda que ninguém nem lê. Era pra ganhar uns trocados e não dava pra nada. Chegava em casa passando fome e dava pra comprar pão, feijão? Quase nada. E era tanta fome. Só que eu também acho que tava tudo errado na minha casa porque era um monte de gente jogada, reclamando e ninguém fazia nada, só eu. Eu saia pra entregar panfleto porque era o que dava pra fazer, mas o pessoal lá em casa acordava meio dia e não tava nem aí com aluguel ou conta de luz. Qualquer coisa era gato, qualquer coisa dava um jeitinho. Eu tava cansado do jeitinho. Eu queria ter paz. Dormir em paz, comer em paz, trabalhar em paz, sem ter que correr da chuva. Sabia que trabalhar molhado é muito ruim?

Eu me lembro de tudo e achei terrível o despejo, mas era tanta gente lá em casa. Eu pensei que, se todo mundo fizesse um esforço, a gente ficava até rico. E era o quê, tudo aquilo? Preguiça? Porque eu até ouvia reclamando de um montão de coisas, mas nunca via ninguém se esforçando pra trabalhar. Os vizinhos ficavam com pena das crianças chorando descalças, ofereciam trabalho pras meninas, faxina, cuidar da roupa. Tinha vizinha que levava comida e as preguiçosas riam, faziam chacota.

Eu ficava com pena, mas cansei, arrumei minhas coisas e fui embora. Dois anos depois eu estava bem empregado numa fazenda. Era trabalho pesado, mas eu gostava de trabalhar. O patrão percebeu e me ajudou, eu estudei e virei empregado de confiança. Casei, tive filhos e até voltei para ver minha família, mas perdi contato, eles mudaram de lá. Eu entendi muitas coisas. A lembrança é difícil, no fundo eu achei que tinha abandonado. Passei anos sem saber deles e me achei culpado por isso.

No fundo, a gente chega sempre na família certa. Família que tem ligação com a gente. Família que tem afinidade, mas a gente escolhe se quer continuar igual ou se vai se esforçar e melhorar. Quando a gente escolhe, pode ser que mude sozinho e muda o rumo, se separa dos outros. Eu precisava mudar, melhorar e mudei, me separei dos outros. Eu gosto de todos, ainda sinto saudades, mas precisava sair daquele círculo vicioso de inércia e preguiça. Quando a gente quer, a gente consegue.
FLÁVIO
           11/03/18
---------------Paula Alves------------

“ONDE ELES ESTAVAM?”

O criminoso sempre paga o preço e a cela pode ser eterna não é doutor? Eu não queria me lembrar, mas acho que este é meu calvário. A lembrança me força a me penitenciar. Não pense que só eu sou nojento porque tem muito homem vestido de bonzinho e pensa em crueldade. Eu fiz o mal e isso me assusta porque aqui eu vivo com meus monstros. Apesar, de já ter sido socorrido, como vocês dizem, um foco de luz já surgiu em mim.

A luz não fez desaparecer o que cometi. Isso só me fez acordar para não querer que a criatura do mal retornasse. Eu não vou entrar em detalhes doutor porque nós dois já sabemos o que homens maus fazem com crianças. Nós dois já sabemos como eles podem iludir as meninas e meninos que se afastam dos seus pais. Eu vendia algodão doce no parquinho e as crianças adoram algodão doce. Sempre foi tão fácil, mas eu não quero me lembrar. Eu queria que fosse possível deixar tudo para trás e me livrar desse homem sujo que fui.

Quando a maldade se revela dentro do ser humano, o desgosto, a ira, a revolta tomam conta dele. Eu não sei como pude. Nada poderia me ferir mais do que estas lembranças, mas sei que mereço a punição e, por isso, me entrego ao retorno. Eu mereço sentir o que eles sentiram. Eu poderia culpar os pais. Por um momento, durante esta reabilitação, eu desejei culpá-los por tornar tudo tão fácil. Onde eles estavam? Depois colocavam cartazes, choravam, mas onde eles estavam quando as crianças se aproximavam de mim? Como deixavam seus filhos livres? No fundo eu queria achar outro culpado que não fosse eu. E não adianta porque eu fiz muita maldade e preciso sofrer a reparação.

Eu pensei em muitas coisas. Pensei em ajudar em orfanatos, mas não sei se já estou curado. Pensei em ter família que é uma missão grandiosa, mas não sei se já estou curado. Por isso, me entreguei ao retorno e ficarei próximo a um irmão que como eu tem tendências. Eu estou orando porque será uma prova e tanto. Eu sei o que é carregar o mal dentro de si e este irmão precisa provar que não errará mais. Se ele se controlar, não passarei por nenhum tormento e retornarei tranquilamente, mas se ele ainda não estiver curado de todo o mal que carregou em outros tempos, eu serei mais uma vítima para sentir na pele o que fiz outras crianças sofrerem.

Eu preciso ser forte doutor porque, para mim, o reajuste apenas está começando. Eu segui o lado errado e preciso mudar a trajetória da minha existência. QUE TODOS POSSAM ORAR POR MIM, APESAR DE TUDO.
TOBIAS
11/03/18

-----------------------------Paula Alves----------------

“EU SOFRO PORQUE ESTOU PERDENDO A FÉ EM NÓS”

Eu queria fechar os olhos, eu não queria ouvir mais. Acabei ficando tão compadecido de todas as histórias que não quero mais ajudar. É tudo muito louco.

Por que tantas injúrias?
Por que tantos desastres?
Violência e caos?

Será que as pessoas são tão gananciosas e egoístas sempre? Eu pensei que conseguiria, mas eu não consigo doutor. Eu vivi encarnado para cuidar das pessoas. Com um sonho revolucionário de paz para todos, de felicidade e saúde que chegasse a todos os locais, independente da classe social, independente do credo ou do escrúpulo.

Eu fiz o meu papel como médico e nunca me casei, não tive filhos porque meu mundo era tratar dos meus doentes com imenso amor. Doando tudo o               que tinha, se preciso fosse, afinal eu não precisava de nada mesmo.

Eu desencarnei quase sem sofrimento e quando cheguei aqui pude escolher a tarefa que desempenharia e eu só podia seguir com o que fiz, enquanto encarnado. Eu decidi servir nas zonas umbralinas, mas eu não consegui. Após dez anos, eu enlouqueci doutor. Eu vi tanta coisa que misturou dentro de mim os sentimentos e confundiu minha razão. Acho que não estava preparado para tanto empenho das legiões, acho que não tinha tanto amor dentro de mim, acho que eu não sou tão fervoroso em meus propósitos.

Eu sucumbi doutor e não sei o que fazer. Eu acho que as pessoas sofrem o que merecem sofrer. Eu vi tanta injustiça e vi tantos que desejam se vingar e me pergunto se ainda temos jeito. Me pergunto se existirão outros como Jesus por que eu não vejo outros como ele. Eu sofro porque estou perdendo a fé em nós. E eu gostava de mim quando acreditava que as pessoas tinham bondade e fé. Eu amava ajudar o próximo e enxergar neles um ponto positivo, mas agora eu só vejo o mal e me pergunto se o mal não está nascendo em mim.

Será possível se deixar levar pelo mal doutor? Será possível cometer o mal mesmo sem querer? Eu não quero mais voltar porque eu acho que eles devem sofrer. Todos eles que fingem e maltratam uns e outros. Eu não sei como posso dar certo depois de perder minhas ilusões.
OMINAH
11/03/18

-----------------------------Paula Alves---------------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“NÓS ESTAMOS SEMPRE NOS ATRAINDO”

Quando é que eu poderia imaginar. Confesso que me sentia tão esperto. Por algum tempo, foi como se eu tivesse controle sobre minhas ações.

Eu achava graça, ria satisfeito.
Falava: “Que otário!”.

Pequenas enganações, eu achava que era só isso e me sentia sortudo porque parecia próspero. O fato é que todas as vezes que eu enganei, eu fiquei no débito. Pouco a pouco, começaram a acontecer em todos os lugares. Se eu fosse comprar pão, erravam no troco. Se eu estava andando pela rua, via alguém perder a carteira. Se eu fosse ao mercado, alguém esquecia a sacola com as compras. Alguém entregava na minha casa algo que eu não comprei. O fato é que eu sempre era beneficiado e me sentia feliz. Nunca pensei que, para ser beneficiado, alguém estaria se prejudicando. Eu sempre pude mostrar que era alguém decente. Poderia ter entregado o troco que estava errado, poderia ter entregado a sacola ou a carteira, mas me apossei de tudo o que não me pertencia e sorri satisfeito me achando esperto.

Eu tive chances de mostrar para mim mesmo que era um homem de bem, mostrar que havia me regenerado. As provas me foram apresentadas e eu falhei novamente, tamanha ganância. É certo que, desta vez, menos que antes. Eu que, em outras existências, feri para roubar, eu que prejudiquei com ímpetos de crueldade, desta vez, me transformei num ser impassível. Continuei corrupto, continuei ladrão.

Achei que fosse parar por aí. É bom não enxergar a espiritualidade porque eu atraí para junto de mim uma legião de Espíritos que me perseguiram para me incentivar nos delitos e outros para me açoitarem pelo mal que eu cometia indiretamente às vítimas. O fato é que somos alavanca uns para os outros, não existe o coitado. Nós estamos sempre nos atraindo. Só perdia a carteira quem estava devendo alguma coisa para outro alguém. Enfim, quando desencarnei sofri um tanto com os credores. Tanta gente que me cobrava. Eu devia um pouco de tudo. Me arrastaram, correram atrás de mim e eu não fazia ideia de como poderia quitar dívida com eles. Cheguei aqui naquele estado lastimável que o senhor viu. Nem sei o que pensar. Acho que eu ainda acredito que é bom ter as coisas com certa facilidade. Já fui tão rico, filho de rico que recebe fortuna na manha. Já fui tão insolente e agora tenho que aprender a ser humilde, mas como?
RODOLFO
18/03/18

----------------------Paula Alves-------------------

“POR QUE AS PESSOAS BEBEM?”

Eu adorava cuidar da minha casa. Limpar tudo e colocar na mesa aquela toalha branca. Tão branca. A janela aberta e o vento levava a cortina sobre a mesa, o sol iluminava a toalha branca. Mas, naquele dia foi um horror quando ele chegou em casa. Estava tudo limpinho, a casa toda tão cheirosa e meu marido chegou bêbado. Por que as pessoas bebem?

Eu nunca bebi, achava o gosto terrível e nunca senti necessidade de beber. Achava mesmo é que Deus não fez bebida alcoólica. Para deixar todo mundo perder o juízo? Estava lá em casa feliz com meu serviço, a criançada dormia em paz. Eu estava bordando. Precisava entregar a encomenda da dona Maricota e estava fazendo um bordado à mão. Ele chegou querendo me abraçar. Não pede licença não, acha que a gente é propriedade. Chega agarrando e acha que mulher é posse. A gente tem que gostar de marido bêbado e suado? Não faz um carinho, não conversa. Passou um tempo, eu me perguntei quem era ele que eu não conhecia mais. Nem falava comigo, comia rápido parecendo um bicho e saia da mesa correndo, não tirava nem o prato. Esquisito, nenhuma gentileza. Olha para mulher que parece a empregada da casa e só.

Aí chega em casa daquele jeito e quer agarrar, aí não. Eu já tinha tolerado muito. Tolerei para conservar o casamento, para não acordar as crianças, para fazer da minha casa o berço da paz, mas a gente cansa sabe?

Chega uma hora que você cansa de ser mal tratada, Deus me livre. Tolerar um homem sujo que eu nem conheço mais tocar em mim. Cansei. Veio me agarrar e eu empurrei. Pensei comigo: “É melhor ir dormir, senão, lá vem ele!” Que nada o cara tava doido. Veio para cima de mim na mesa. Eu não pensei duas vezes, peguei o vaso de flores lindo que eu decorei a mesa e taquei na cabeça dele. Desaforento! Não me arrependo não. Chega! O pior é que depois disso eu que me dei mal porque o desgramado ficou ruim. Mas, não era tão forte e não aguentou com um vaso?

Ave, mas eu aguentei a vida toda com os maus tratos e nem dei sinal de doença. É mole, isso sim. Ficou lá todo caído, acordou os meninos que ficaram chorando porque para filho pai é tudo santo. Tive que cuidar, foi uma frescura danada. Nem sei como foi que eu aguentei. Depois disso, ele melhorou e nunca mais tentou me tocar. Acho que ele ficou com medo (risos). Eu não vou te falar que foi certo o que eu fiz. Eu sei que não foi. Acho que a gente vai ter que voltar junto de novo porque não brotou o amor ainda não, mas eu tenho certeza de que as pessoas deveriam prestar mais atenção umas nas outras. Prestar a atenção nos sentimentos porque homem e mulher podiam se ajudar mais na casa e não viver nessa revolta, onde um maltrata o outro que acha que é mais fraco, inferior.
JUREMA
18/03/18

-----------Paula Alves------

POR QUE SÃO TODOS CEGOS PARA AJUDAR?

Eu corria e achava uma maravilhosa sensação aquela de utilizar meu corpo e sentir a leveza dos movimentos. A corrida veio para me ajudar no controle mental e eu comecei a participar de maratonas, mas depois de um acidente precisei de amputação. Foi uma dor terrível quando acordei e percebi que não tinha todo o corpo. Na minha mente eu tinha virado um inútil, um incapaz e não havia ninguém que pudesse me confortar porque eu passei a sentir pena de mim mesmo. Eu me isolei e tinha vergonha de sair na rua de cadeira de rodas. Ficava em casa e não queria ver ninguém porque as pessoas me olhavam com pena e isso me irritava porque no fundo elas me mostravam aquilo que eu mesmo sentia por mim.

Até que um dia, eu fiquei sem comida em casa e precisei sair na rua. Foi tudo pior porque não tem acesso para deficiente. Que lixo eu me senti. Um nada. A cadeira não conseguia me levar onde eu precisava e eu demorei tanto para chegar ao meu destino que eu quase pirei. A mente com a mesma velocidade e o corpo inerte. Foi como se eu tivesse entrado no mercado umas cinquenta vezes naquele dia. Quando retornei para casa a cadeira virou e eu derrubei todas as minhas compras. Demorou até que as pessoas percebessem que eu, de fato, precisava de ajuda para me reerguer e voltar para cadeira. Por que são todos cegos para ajudar?

Eu não acreditei que estava passando por aquilo. Cheguei em casa e me permiti chegar no fundo do poço, aí sequei minhas lágrimas e liguei para o médico que me operou. Conversamos e eu pedi para que ele me ajudasse a ficar de pé novamente. Andei com muletas, me senti um bípede novamente, mas ainda assim, não estava bom e quis a prótese. Era tão cara para mim, mas aquilo havia se tornado meu objetivo. Um sonho que eu deveria alcançar. Após três anos trabalhando e economizando cada centavo, eu consegui a prótese e tudo começou a ser uma novidade para mim. Como é bom poder prosseguir doutor. As experiências que pareciam me destruir abriram um novo leque para minhas possibilidades. Eu me descobri um ser humano indestrutível, confiante, perseverante. Exatamente quando o mundo ruiu, eu senti dentro de mim uma energia que me impulsionou para o auge da minha existência.

Sei que foi a força de Deus. Sei que foi Ele. Hoje estou aqui novamente em reabilitação. Desta vez, para que meu corpo espiritual possa refazer a parte que foi amputada. Em breve renascerei e não precisarei de deficiências, por isso, vou me esmerar para corrigir esta imperfeição. Sei que conseguirei com sua ajuda. Sou muito agradecido.
THOMAS
18/03/18

--------------Paula Alves-----------

“EU FUI PESSIMISTA E NÃO SABIA QUE ISSO ERA DOENÇA”

A gente se acostuma a reclamar. Fala que o céu está escuro, que está quente demais. Reclama da política e da falta de dinheiro. Nos últimos anos, eu só sabia reclamar. Dizem que é doença de velho, mas eu não era tão velho assim. Eu me acostumei a ver a parte negativa de tudo. Acho que virou um vício para mim.

Eu fui pessimista e não sabia que isso era doença. No início, você só vê o lado ruim, depois você passa a ser perseguido pelo mal. Muito ruim porque os monstros passam a te perseguir. Vicia, só assiste a filmes de terror e noticiário que sangra. Você só atrai desastres para sua vida. Eu saia de casa e era fatal! Só presenciava delinquência, assalto, violência. Perto de mim nunca tinha um ser bondoso. Aí, eu fiquei com medo de tudo.

Tinha medo de ser sequestrado, roubado, tinha medo de acidente de carro e de avião, então? Nunca entrei num avião. Não comia coisa redonda porque podia morrer engasgado. Não comia nada na rua porque podia estar estragado. Não saia a noite com medo dos marginais, enfim, não fazia nada. Nem me envolvi com ninguém porque tinha medo de golpe.

Eu só enxergava o mal. Por mais que as situações se revelassem para mim promissoras ou eu encontrasse alguém melhorzinho, ainda assim, eu via algo negativo. Foi indo, comecei com pesadelos. Eu achava que eram pesadelos, mas depois eu via os monstros mesmo acordado. Eles me perseguiam e eu morria de medo. Fantasmas que estavam em toda parte, seres rastejantes que ficavam na minha casa. Eu achei que estava enlouquecendo, mas não, era tudo real. Criação mental que se materializou com efeito daqueles que me perseguiam. Eu dei força, eu os capacitei. Tanto temi que não tive uma morte terrível. Eu deixei meu lar num campo vibratório tão propício ao trabalho do mal que morri de susto, de tanto medo. Os legistas afirmaram que foi um ataque cardíaco. Que nada!

Você sabe que eu morri de medo. E quando passei para o lado das sombras, foi pior ainda. Todos os meus fantasmas estavam lá. Porque eu só acreditava nisso. Fui socorrido de tanto que implorei. Não fui ruim com ninguém. Não fiz o bem e não dei crédito para as pessoas. Eu dei forças para o mal.

Está difícil demais controlar os pensamentos porque eu me acostumei com aquela forma de pensar. Estou me esforçando para não ter que passar pelos abortos espontâneos. Estou me esforçando. Aqui é bom e as paisagens lindas facilitam uma nova forma de pensamento. Eu vou conseguir.
EUSTÁQUIO VILELA
18/03/18

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“VIREI A FOFOQUEIRA”

       Eu sei que é vício, já adquiri esta consciência. Nem sei como comecei. A lembrança mais antiga que tenho é de escutar atrás das portas, pequenina de tudo, nem entendia o que se passava nos quartos ou salas onde os adultos confabulavam, mas adorava ouvir as coversas. Fui crescendo com este costume e achava tudo tão engraçado. Ficava chocada com os segredos das minhas irmãs mais velhas. Ria de algumas verdades que descobria pelos cantinhos, sorrateira, nunca me pegaram.

A coisa foi complicando porque a curiosidade foi tomando conta do meu ser. Eu sentia necessidade de saber de tudo. Eu queria estar por dentro do que se passava na vida dos outros. E quando eu não sabia dos detalhes, eu ficava muito nervosa e me atrevia a ir à casa dos outros para descobrir o que estava acontecendo. Na meia idade ganhei alguns apelidos: bisbilhoteira, mexeriqueira. Eu detestava ouvir, acho que odiava porque sabia que era verdade pura. O fato é que algumas notícias me indignavam e quando descobri alguns pobres dos meus cunhados eu desejei não ter conhecimento do que se passava e nasceu outra pessoa dentro de mim, virei a fofoqueira. Isso porque eu não podia permitir que minhas irmãs fossem traídas tão ingenuamente. Fiz de tudo para que descobrissem a traição dos dois malandros que saiam para se divertir juntos. Quando elas souberam da traição, simplesmente me agrediram e disseram que eu era má e egoísta. Elas disseram que preferiam continuar na vida de mentira e felicidade do que ter de tomar decisões. Elas não queriam a separação e eu estava forçando que elas se decidissem a viver sem eles. Eu nem acreditei.

Elas gritaram que eu devia aprender a tomar conta da minha vida. Eu chorei naquele dia porque percebi que as vidas das pessoas eram mais interessantes do que a minha vidinha sem graça. Eu me tornei uma pessoa intrometida e futriqueira. Eu perdi minha existência e me acostumei a cuidar da vida dos outros. Nem assim consegui parar. Me conformei que era assim mesmo e chegava a me  coçar de necessidade de passar a notícia para frente. Eu não consigo viver sem isso doutor.

Eu tenho muita necessidade de saber o que acontece na vida dos outros. Estou doente. Sei que perdi o controle dos meus pensamentos. Eu queria ter tido uma vida interessante, mas eu não fiz nada, nem fui alguém importante que se pudesse lembrar. Um nome comum de alguém que não fez nada. JULIANA
25/03/18

--------------Paula Alves-------------

“MAS EU NÃO SABIA QUE NÃO É PARA TODOS”

       Fui muito cabeça dura. Estava num lugar querendo ir para outro, sempre insatisfeito. Sabe quando a pessoa não para em emprego e diz que não se conforma com a situação difícil, mas não se mexe? Fui eu.

Tentei estudar, mas abandonei os cursos que inicialmente me davam tanto entusiasmo. A verdade é que eu fui um covarde. Eu tinha planos. Todo mundo tem planos. Muito se engana aquele que pensa que não tem nada para fazer na vida. Pode ser até uma vida muito simples, mas quando a pessoa leva com seriedade, aprende tanto, ensina tanto. Eu poderia ter concluído meus planos. Eu tinha capacidade. Enquanto estava encarnado eu achava que não tinha capacidade, que não tinha habilidades, nem talentos, mas quando cheguei aqui e visualizei minhas chances perdidas...

Ah! Quanta tristeza.

Sabe aquela sensação de frustração? Quando você percebe que tinha tudo nas mãos e não fez nada? Como se sua sorte te encontrasse e você desperdiçasse tudo por tolices. Eu poderia ter conseguido. Não me esforce. Na real, eu pensava que poderia me escorar. Eu achava que o bom da vida é quando você vive a vida das facilidades e dos prazeres.

Eu queria um emprego que eu trabalhasse pouco e ganhasse muito. Queria ser reconhecido e bem tratado, então, quando alguém me exigia demais ou me humilhava, eu abandonava me sentindo injustiçado. Eu queria viajar e me divertir, aproveitar o mundo belo que Deus coloca ao alcance de todos, mas eu não sabia que não é para todos.
Eu não tive como me lembrar que existem provas que nos limitam moral e fisicamente. Eu não pude raciocinar que existem humilhações que nos elevam e trabalhos muito dignos que nos cansam e sobrecarregam. Eu não pude pensar em beneficiar meu próximo e nem encontrei a esposa que me aguardava para ter filhos que ansiavam pela oportunidade de nos reencontrar porque eu pretendia viver a felicidade do encantamento e das descobertas. Eu queria ser feliz, eu não queria sofrer os problemas da vida. Eu me recusei a ter dissabores, sem compreender o quanto eles poderiam me elevar. Era tudo tão simples e eu compliquei tanto. Agora estou aqui soterrado com meus arrependimentos.
LAURO
25/03/18

----------------------Paula Alves-------------------------

“O QUE VAI IMPORTAR SÃO OS EXEMPLOS”
       O dinheiro engana a gente. E agora?
Eu nem sei por onde começar. As lembranças estão todas aqui. Eu me lembrei de detalhes de outras vidas. Vidas de homem e vidas de mulher que trazem a certeza de tudo o que deveria ter feito. Pessoas que me prejudicaram tanto e que agora desejavam se aproximar de mim. A revolta fez com que eu deixasse todos para fora da minha vida. Eu tive sorte e ganhei tanto dinheiro. O dinheiro serviu para dar asas à revolta e ingratidão. Meus pais se esforçaram para que o ódio do pretérito pudesse ser transformado num sentimento positivo.

Um sentimento qualquer que nos unisse e, quem sabe um dia, pudesse fazer brotar o amor. Aquele dinheiro que poderia ter facilitado a existência dos meus pais só nos separou mais.  Eu fui embora e recusei todo tipo de aproximação. Saboreei todos os prazeres, nem me lembrei deles.

Soube por intermédio de amigos em comum que estavam sofrendo doenças e dificuldades financeiras, mas não quis ajudar. O tempo passou, eu tive filhos e nunca mais vi meus pais e irmãos. Nós envelhecemos e com normalidade adquirimos algumas doenças. Eu me surpreendi quando ouvi meus filhos dizendo que cada um carregava o fardo que merecia. Eles nunca me ajudaram. Eu senti como se não fosse amado por eles e eu os amei. A rejeição de filho dói. Eu não sabia.

Nunca imaginei que minha ausência teria ferido meus pais. Eu senti tanto que meus problemas de saúde se agravaram. Após meu desencarnei, ainda tive algumas explicações. Eles desejavam meu dinheiro porque justificaram que alguma coisa de bom eu deveria deixar para eles. Afirmaram para todos que eu fui um homem embrutecido e cruel. Disseram que eu nunca me preocupei com a família porque nem mesmo os meus pais eu auxiliei sabendo que eles não tinham onde cair mortos, ou seja, NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ DIZ PARA OS SEUS FILHOS. TAMBÉM NÃO IMPORTA MUITO OS CARINHOS QUE VOCÊ OFERTA. O QUE VAI IMPORTAR SÃO OS EXEMPLOS. A FORMA COMO VOCÊ TRATOU SEUS FILHOS, O CARTEIRO, O PADEIRO, OS AVÓS, A MÃE DELES, ISSO SIM VAI IMPORTAR PARA ELES.

A visão que seus filhos têm de você estará relacionada com a maneira que você se expressou com o mundo. Eles terão, de alguma forma, discernimento ou intuição para saber se  você foi um  homem decente ou não e isso implica em ter admiração ou repulsa por você. Eu precisei passar por isso para me projetar para um local apropriado ao sofrimento porque eu não honrei meus pais. Sofri muito, por tanto tempo e gostei de saber que eles estavam sendo bem tratados pelos netos porque reencarnaram como filhos dos meus filhos e se dão bem.
Quanto a mim?
Estou aqui me tratando desejoso de ser mais humano e menos ambicioso.
TADEU
25/03/18

-------------Paula Alves-----------------

“QUANDO A JUSTIÇA DOS HOMENS NÃO ACONTECE NUMA VIDA FICA PARA OUTRA”

       Ô vida desgraçada essa de ter inveja. Pobre, pobre que não tem dinheiro para nada. Trabalhava na padaria pra não morrer de fome. Não era vagabundo não, mas pobre. Morando de aluguel, dois cômodos, lutando pra não cortar a água, vencendo a fatura do cartão porque precisa de roupa. O dinheiro era pouco e tem gente que ainda pergunta por que não consegue manter a casa.

Trabalhava tanto. Quando vi aquele moleque de carrão. Não bastava ser rico dono da porcaria da padaria?
O pai deu, pode?
Garoto novo não queria saber de nada não. Pai rico só deu a padaria pra saber se ele dava conta de cuidar de uma coisa maior. É tanto dinheiro que nem sabe onde vai gastar. Quando vi o carro do garoto deu até raiva.
Por que tanto?
O carro custava milhões... Pra quê?
Correndo risco de morrer por causa de um carro? Foi aí que eu tive a ideia de roubar o menino. Ele não sabia quanto entrava na padaria. Ele deixava tudo na minha mão mesmo e nem sabia quanto tirava. Pra quem ganha pouco qualquer dinheiro na folga já ajuda. Eu tô achando que a coisa é fácil e fui levando na alegria. Tava todo mundo feliz. O menino no carrão e eu lucrando. O pai dele achando que ele que tomava conta de tudo e era eu. Quando é que eu ia imaginar que ia dar polícia e tudo?

Outro teve a ideia que eu tive e tentou roubar o carro, o menino morreu por causa do carro e o pai ficou louco. Colocou polícia pra investigar a morte do filho e descobriram que eu roubava. Mexeram em tudo, vasculharam a minha vida e valia tanto entregar um matador pro pai do menino que eu me dei mal. Quando querem transformam o inocente no bandido fácil, fácil. Mas, até que ponto eu era inocente?

E, se eu tivesse sido um trabalhador honesto?
E, se eu tivesse orientado o menino do serviço bem feito que ele deveria desempenhar?

Eu poderia ter ensinado o serviço para o moleque e ele se tornaria um homem trabalhador. O carrão estaria em outro lugar e ele trabalhando na hora do homicídio. Será que eu poderia ter evitado? Eu não sei. Só sei que fui preso e fiquei muito tempo me questionando sobre tudo o que aconteceu. Eu tive tempo para pensar. Inveja não leva ao bem só faz piorar as coisas.

Ele precisava de ajuda e eu poderia ter vivido a vida que Deus colocou no meu caminho sem ficar de olho nas coisas dos outros. Vim pra cá sabendo que não foi a primeira vez, pelo contrário. De outras vezes, o homicídio foi praticado por mim. No desejo de obter os bens alheios eu me entreguei a crimes. A prisão deveria acontecer pelos crimes praticados no passado. Quando a justiça dos homens não acontece numa vida fica para outra.
ELISEU
25/03/18

---------------------Paula Alves----------------------


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“PRECISAVA COMPREENDER A NOBREZA DE CARÁTER E A DOAÇÃO DESINTERESSADA”

       Compreendo que os sentidos eram muito limitados. Limitação intelectual de bebê, mas os sentimentos já estavam sendo imensamente estimulados por eles. Eu sou tão agradecido. Dentro do ventre eu me senti amado. Ela cantava e eu estava ligado ao corpo que ela nutria com o seu próprio sangue e com todo o seu amor. Ela cantarolava e eu sentia imenso prazer de ouvir aquela canção. Quando ele chegava e tocava a barriga dela, eu sentia um bem estar inenarrável. Nem sei como isso foi possível, mas eu podia sentir de longe aquele contato e eu gostei. Não raciocinava bem, mas sentia tão bem.
Quando nasci senti medo, não conjecturava, mas sentia medo e quando obtive aquele abraço, quando senti o cheiro dela foi maravilhoso. Eu me encolhi no seu abraço e gostei de me sentir aconchegado naquele colo. A verdade é que eu não pensava muito, mas sentia demais. Tudo foi bom, mesmo quando souberam da minha doença, ainda assim, foi tudo bom para mim. Eu ganhei tanto. Ganhei afeto no máximo do meu ser, eu fui tão amado.
      
Um bebê que nem mesmo podia chorar. Eu tive todos os colos dos meus familiares, de todos. Não tive luxo, é verdade. Foi escassez material, privações deveras, tudo perfeito para quem deveria passar pela prova de uma doença de difícil resolução. Talvez, se eu tivesse sido um afortunado financeiramente, tivessem me curado e não era o propósito de minha reencarnação.

Foi tão bom passar pela prova, bem amparado no afeto. Eu digo que nada me faltou, pelo contrário, na roça, muitos irmãos. Eu fui só mais um e fui tratado como todos. Recebendo tanto amor daqueles genitores. Recebi tantos carinhos dos meus irmãozinhos. Foi uma experiência do sentir que muito me enobreceu. Nem sei explicar o quanto.

Compreenda que em outras existências, eu fui tão culto, tão estudado, um médico, outrora um diplomata, vivi em países de primeiro mundo e sentia a necessidade de ser sentimental.

Precisava compreender a nobreza de caráter e a doação desinteressada. Saber o que era este estranho amor que tantos dizem e poucos sentem. Foi a melhor das experiências e eu quero mais doutor. Eu quero muito mais. Eu senti daquela mulher humilde tudo o que eu precisava e me elevei. Escolhi a pouco e recebi a permissão. Agora restam alguns ajustes para se iniciar uma nova fase. Eu desejo ser mulher. Quero sentir este amor sublime.
Preciso me preparar para adequar o pensamento no feminino. Preciso ambientalizar com o corpo em questão para que possa, na carne, aceitar a transferência adequada, mas eu preciso disso. Preciso sentir o amor materno dentro de mim. Sei que será maravilhoso. De outras vezes, não me doei como deveria. Agora tenho a consciência necessária para honrar este papel tão nobre. Sou agradecido aos genitores que hoje são velhinhos e que possibilitaram, ao pequeno bebê que tiveram, tão boas experiências na última encarnação. Graças a Deus.
DEOCLÉCIO
31/03/18

--------------------------Paula Alves-------------------

“PARA ELES, O MAL EXISTE E O BEM É UMA DÚVIDA”

       É um trabalho digno, nobre e que exige renúncia e abnegação. Eu não pensava que fosse tão sério o compromisso de um Protetor. Estava ansioso para desempenhar este papel e me preparei arduamente para assumi-lo. O fato meu amigo é que, às vezes, chego a pensar que muitos dos nossos tutelados não creem confiantemente em nós.

Eles acreditam desconfiando e abrem brechas, fendas. Se eles acreditassem com toda a fé que existe dentro deles, nosso trabalho seria facilitado. Sabemos que nada pode vencer o bem porque o bem é de Deus. Deus é o Criador bondoso, amantíssimo e, apenas deseja o bem para Seus filhos. O mal é um erro momentâneo de todas as criaturas. Permitido por Deus para que possamos resistir a ele e, assim, possamos ter mérito nas nossas escolhas.

A questão é que, quando as pessoas acreditam e fortalecem o mal, nossas ações ficam limitadas porque eles nos repelem. Minha tutelada, por exemplo, é uma moça maravilhosa. Uma excelente mãe, dona de casa e esposa leal. Ela se esforça para produzir o bem e ser digna de ser chamada de filha de Deus, mas ela teme o mal. Ela vê o mal em tudo e se entrega a este sentimento. 

A fé em ruínas amigo. Eu tenho tido dificuldades para alertá-la. Ela me ouve sim. Se tivesse a certeza que sou eu, poderia alcançar todas as coisas, mas ela ouve e deixa pra lá. Tenho insistido para deixar os maus pensamentos de lado. Tenho incentivado a persistir no casamento. Queria que ela tivesse a certeza do quanto o marido a ama, mas ela vê onde não tem e sofre. Eu a amo amigo. Não desejo que ela sofra, mas é tudo difícil quando, para eles, o mal existe e o bem é uma dúvida. Seria bem mais fácil meu caro se, ao invés, de falarem dos obsessores, eles falassem mais nos Protetores, nos Puros, nos Espíritos de Luz. Eu não desisto amigo. Sei que para mim é a prova que necessito. Da mesma forma que ela deve ter fé em mim, eu careço adquirir fé nela também. Desejo que ela tenha a certeza de que nunca sairei do seu lado, talvez um pouco afastado pela repulsa que ela emana quando teme, quando forma o mal pelo pensamento invigilante, mas todos têm o seu tempo. Eu tenho fé e agradeço pelo trabalho que recebi.
PERCIVAL (Espírito Protetor)
31/03/18

----------------Paula Alves--------

“EXISTEM MUITOS TIPOS DE AMOR, MAS DEVEMOS RESISTIR AOS IMPULSOS LEVIANOS”

       Eu sempre soube a verdade. Não me pergunte como, mas eu sempre chamei de intuição. A certeza, você sabe se a pessoa é boa ou ruim, se ela mente ou fala a verdade. Uma sensação que te prova que ela vai te fazer sofrer ou não. Eu sempre soube de olhar para as pessoas. Eu sempre estive certa. Tive isso a vida toda e, com o passar do tempo, eu chegava perto das pessoas e sabia que tinha que me manter perto delas ou me afastar. Estranho quando a gente segue os sentimentos, a gente nunca se engana. Foi assim que eu o conheci.

Trabalhamos juntos na escola, eu lecionava e ele era o segurança. Eu simpatizei com ele de cara e tentei me aproximar, mas vi a aliança. Ele era casado. Eu não quis prosseguir e entendi que, muitas vezes, a gente tem que sufocar os sentimentos para não causar sofrimento para outras pessoas. Sem querer nos tornamos amigos e fui convidada para conhecer sua família. Eu gostei de sua esposa e fiquei muito próxima dos dois, das crianças. Senti estranhamente que estava apaixonada por ele, mas ninguém podia notar porque não era correto.

Nos tornamos tão amigos que Margareth me apresentou seu irmão. Foi um brilho diferente que me aproximou do Jonas. Era um amor diferente. Eu não conseguia entender porque eu sempre soube falar de sentimentos, mas depois daquela família fiquei confusa. Eu me casei com Jonas e sempre estive com eles sem compreender todo aquele sentir. Sempre fui fiel e nossa amizade só cresceu. Foi bom poder contar com eles em todos os momentos da minha vida e afirmar que nossa família era unida e feliz.

Só pude compreender tudo quando cheguei aqui e posso dizer que existem muitos tipos de amor, mas devemos resistir aos impulsos levianos. Todos nós devemos ter firme propósito de adquirir hábitos moralizadores. Aquele casal com quem tive tanta afinidade foram meus pais na reencarnação anterior. O marido, o segurança da escola, havia sido minha mãe por quem eu tive adoração. Eu obtive a facilitação de reencontrá-los e receber novamente todo o amor e carinho vindo deles. Acreditando que fossem pessoas ocasionais em minha vida, eles são meus afetos. Fazem parte da família espiritual que Deus abençoa unindo por diversas vezes tamanha vontade que temos de estarmos próximos.

Deus permite que estejamos sempre nos esbarrando como amigos ou entes queridos nos laços consanguíneos. Que bom que eu pude me unir ao Jonas e me mantive como esposa leal podendo desfrutar de mais um laço de afinidade que só me possibilitou ser feliz.
TICIANE
31/03/18

---------------Paula Alves-------------



“ESCOLHER DOENÇA?”

       Eu diria que nunca vi alguém sofrer tanto quanto eu. Acho que foi injusto tudo o que recebi nesta vida. Muito me espanta vocês ficarem me falando que eu escolhi. Escolher doença?

Eu escolheria ser feliz, bela, fazer carreira, trabalhar ou ter filhos para aproveitar mais minha vivência, mas escolher doença?

Eu nunca me casei, nunca formei família. Tive que aguentar meus irmãos me jogando de um lado para o outro depois que meus pais morreram. Eu sempre tive desejos, sempre tive vontades. Eu fui uma mulher que sonhou e apenas isso. A doença aparecia em mim, nem sei como. Começou com o Lupus e foi se agravando pouco a pouco. Era tanta doença reumática que eu não conseguia nem sorrir e o padre ainda falava de gratidão. E, por um acaso, ele sabia o quanto eu sofria com aquelas dores?

Me criticavam de só reclamar da vida, mas veja bem, eu ainda sofro e vocês insistindo com esta acusação de que fui eu que escolhi. Não acho certo porque eu já estou aqui, já fui socorrida e ainda estou sofrendo. Você pode ver o quanto eu penei depois de morta né?

Agora me fale onde está o lado bom disso tudo? Me informe porque eu ainda não percebi. Eu não consigo ter acesso a outras informações e aquela moça que fala que sempre esteve ao meu lado, já me disse que isso é porque eu sou revoltada. Cadê a compaixão?

Veja minhas pernas. Sempre inchadas, eu ainda tenho dificuldades para andar e ela me disse que tudo sempre esteve ligado ao meu padrão mental. Isso é muito descaso. Me falou que, se eu tivesse sido grata a todas as provações, as dores teriam sido amenizadas. Me falou que existem pessoas que sofrem muito mais e não são egoístas com o mundo porque elas sofrem, mas são generosas e bondosas. Sofrem com sorriso no rosto. Eu acho isso um desaforo, mas não posso falar porque, senão posso voltar para a zona umbralina. Isso é ameaça?

Voltar depois de tudo o que eu passei? Aí ela quis me explicar que quanto mais eu reclamar de tudo, mais reduzirei meu padrão vibratório e isso me expulsará daqui. Legal! Eu não sei o que fazer porque no fundo eu me sinto injustiçada. Acho que todos que me falam que eu não devia sofrer assim, deveriam viver só uma vida de doença bem dolorida para aprender a não apontar o dedo para ferida alheia. Não é para falar nada é só para ouvir. Cadê a caridade que vocês falam?

Eu só quero reclamar um pouco da minha sina. E não fui eu que escolhi nada. Agora lembrar mesmo eu não me lembro. Estou achando que é melhor não lembrar porque deve ter coisa pior escondida por aí, do jeito que eu sofro.
SALUSTIANA
31/03/18    







   

   


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