Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“PASSA
MUITAS COISAS NA CABEÇA DO INERTE”
Foi
tanta saudade. Acho que o pior de tudo é você saber que não pode mais abraçar e
nem conversar a qualquer momento. Quando me dei conta de tudo o que se sucedeu
em minha vida, eu me arrependi. Me arrependi de todas as vezes que eu pude
estar com eles e me recusei por preguiça de ir até a casa deles. Às vezes, a
gente justifica que não foi visitar porque é longe ou está sem dinheiro, mas
não é isso não. Passa muitas coisas na cabeça do inerte.
Eu
pensava que eles poderiam me visitar, eles deviam fazer isso porque eram meus
filhos e netos. Eu como mais velha deveria aguardar por eles, afinal eu já
tinha meus problemas de saúde e não tinha cabimento pegar ônibus só pra matar a
saudade, enquanto eles, de carro não iam me ver.
A
questão é que a vida passa num piscar de olhos e, de repente, tudo se acabou, a
existência se findou e eu agora com esta saudade que me sufoca. Se pudesse
prever que não iria acabar, teria feito muito diferente. Eu teria deixado o
orgulho e a inércia de lado, iria ver meus familiares sempre que tivesse
vontade, apesar da cara feia das minhas noras e da bebedeira do meu genro.
Mesmo sabendo que eles queriam a privacidade deles, eu me faria presente porque
é muito bom um abraço. Agora eu sei.
Foi
tudo tão errado. São tantas questões mesquinhas que nos torna um ser humano
mesquinho de sentimento. Eu me arrependo muito. Sentimento deve ser doado aos montes e não tentar controlar o que se
sente por medo de sofrer depois. Isso é um absurdo! A pessoa que não
arrisca se aproximar de uma criança com medo do filho levar embora e não trazer
de novo, é um covarde. Se a gente tiver que sofrer de tanto amor, que bom.
Sinal que tem um coração grande dentro do peito, azar de quem não sabe amar.
Agora
eu sei.
Demorou
tanto doutor para notar que fiz tudo errado. E quando desencarnei e estive
dentro do lar deles eu percebi. Passei uns anos no lar dos meus filhos porque
eu sempre tive vontade de estar na casa deles e me controlava para não parecer
uma velha ridícula e solitária. Eu evitei tanto e quando morreu meu corpo, o
Espírito foi direto para junto daqueles que eu amo. Fiquei lá e pude perceber o
quanto sofreram. Meus amados filhos que me amaram do jeitinho que eu sou. Com
meus deslizes, defeitos e limitações. Eles me amam e nunca puderam expressar
mais porque eu não permiti. Como eu me arrependo!
Aí
fiquei do lado deles sentindo todo o amor e a saudade, fazendo com que
sentissem minhas influências, coitados sofreram mais comigo ali, mas eu não
sabia como ir embora e eu entendi tudo.
O
correto é amar e só. Sentir o máximo do amor. Doar o máximo de amor e se a
gente se ferir, tudo bem. Pode acontecer de não ser suficiente para contagiar o
outro. Pode acontecer de não ser recíproco, mas tudo bem porque a gente evolui
muito quando ama e sem querer a gente desperta o amor nas outras pessoas. É
tudo o que fica, o amor. E eu sou agradecida ao Fabrício, Gustavo e Lídia por
todo amor que eles me fizeram sentir. Jesus abençoando sempre.
MARINALVA
04/03/18
--------------------------------------Paula
Alves----------------------------
“FILHA ENTENDA QUE SE VOCÊ FICAR SÓ
CHORANDO VAI ERRAR COMO EU”
Vou
dizer o quê? Que fiz tudo errado? E ainda assim eles sentem minha falta e se
preocupam comigo. É demais pra mim. Tem gente que acha que vai ficar dormindo para
sempre, mas não vai não. Eu falo que pode até demorar, mas quando a gente volta
pra cá, uma hora ou outra, começa a se lembrar e faz conta de tudo o que
prometeu. Coisas que deveria fazer, compromissos que assumiu com um monte de
gente e quando volta, percebe que nem fez nada do que devia, nossa! É um
horror!
Só
perder tempo. Perder tempo empenhado em acumular, em curtir a vida. Perder
tempo na ilusão de um tempo que não volta mais. Buscando alegrias de criança
porque a gente se encanta com o prazer do cigarro, a gente se encanta com a
beleza das mulheres e a gente se encanta com os carrões, mas do que me serviu
tudo isso? Trocar de vida pra quê?
Eles
ainda sentiram minha falta. Tem uma filha que chora direto quando pensa em mim.
Eu nem fui um bom pai. Eu podia se quisesse. Acho que se estivesse com a cabeça
no lugar poderia ter sido. Se eu me concentrasse no papel de pai, poderia ter
sido muito bom nisso. Mas, eu me iludi e foquei errado entendeu? Acho que é
isso que eu posso dizer.
Quando
a gente tá na carne, deve se concentrar no que é importante, por isso, que falam
que tem que seguir Jesus porque ele deu todas as coordenadas da lucidez. Quando
a gente acorda para vida real, não se ilude e não perde tempo, não perde a vida
com besteiras e faz tudo o que tem que fazer. Eu sinto pena da minha filha e
não queria que ela chorasse por minha causa porque eu sou um cara que falhou,
mas eu vou ter outra chance.
A
gente não tem que ter pena de quem morreu porque é uma boa oportunidade de
parar de errar, ver o que estava fazendo de errado e recomeçar com novos
princípios. É como se você não tivesse mais jeito, fez tanta besteira que só
recomeçando mesmo, entendeu?
Pra
mim serviu, mas ela tem que entender que a vida dela pode ser muito melhor que
a minha, se ela parar de sofrer por nada. Sofrer por mim não resolve nada. Ela
tem que abrir os olhos e fazer por ela porque todo mundo tem um caminho que é
individual. Apesar, da gente gostar muito da outra pessoa, é ela quem deve
escolher por onde vai seguir. Não dá para segurar na mão e conduzir, igual
criança? Não dá. A gente escolhe e pode se dar bem ou se dar mal e aí recomeça.
Tudo bem. Filha entenda que se você ficar só chorando vai errar como eu. Vai
esmorecer e perder a chance de acertar.
A
gente tem que prosseguir sempre, independente dos erros alheios. Você tem o seu
caminho e se desligou disso. Tem responsabilidades como esposa e mãe. Você pode
conseguir resolver tudo aí. Resolver tudo o que tratou aqui. Eu torço por você.
Acorde Isabel! Mexa-se filha! Eu estou prosseguindo e não sou coitado não. Deus
te abençoe.
ISMAEL
04/03/18
-------------------------------------Paula
Alves----------------------------
“NÃO
FALTOU NADA NO CORAÇÃO DESTE VELHO PAI”
Era
tanta dificuldade que, quando conseguia dinheiro para mistura, ria de
felicidade. O objetivo era tão simples: não morrer de fome. Eu trabalhei tanto
que tinha hora que achava que ia cair desfalecido de tanto cansaço. Sabe quando
seus braços não aguentam mais a marreta? Era eu.
Eu
trabalhava noite e dia para sustentar minha família, parecia que não tinha
futuro para nós. Eu tinha muitos filhos é verdade. Amava minha esposa e quando
via, ela estava grávida de novo. Sei lá, tem gente que critica. Pobre e com
este monte de filho...
Falam
de tudo. Até entendo que é mais fácil falar do que ajudar. Só tem quem reclama.
Aí acha de lote. Eu nunca fui pedinte não. Saia de madrugada e ia trabalhar.
Labuta difícil e voltava com uma comida para todos. Meus filhos estavam sempre
felizes. É fácil agradar criança. Brincava um pouco, todo sujo, ninguém olha
estranho para o pai que chega em casa sujo e fedido. Criança ama de qualquer
jeito.
Pegava
no colo, era um na perna, outro no braço e até na corcunda. Um monte de criança
no sujeito suado. Não ligavam não. Minha mulher corria para o fogão sem
reclamar. Fazia o que tinha com o maior capricho, comida cheirosa e gostosa,
logo estava todo mundo com o buchinho cheio e carinha feliz dormindo agarrado
na mãe. Tudo junto, não tinha cama. Vida boa com amor. Uma vontade de ficar
junto, nunca recusamos filho não. Deus ia mandando, a gente amando e educando.
Sem estudo, leitura pouca e lendo o Evangelho. Vida difícil, vida boa. Lembrei
de tanta coisa. Tudo misturado.
Lembrei
de vida que fui rico avarento, padre preconceituoso, egoísta e mulher que
praticou aborto. Aí vim pobre, matuto, tive uma mulher joia rara que me ajudou
a ter muitos filhos bons e a educar no Evangelho, com dignidade, sem reclamar,
fazendo o que tinha que fazer. Lembrei que meus filhos foram os melhores. Um
pastor decente, pregador dos bons, boas mães, ótimos pais, valorosos. Bons
empreiteiros, tive filha faxineira, riqueza de serva de Deus. Filhos que
cuidaram da gente com honra e amor.
Eu
lembro do dia do açougue que eu queria comprar a mistura e não pude. Muita
privação, mas no sentimento foi uma montoeira. Não faltou nada no coração deste
velho pai.
OSMAR
04/03/18
----------------------------------------Paula
Alves----------------------------------
“DEUS
TEM UM PLANO PARA CADA UM DE NÓS”
Rejeitei?
Depois de tanto apanhar? Eu nunca quis aquele marido. Eu fui empurrada para
casar com ele. Aí lembrei de uma vida onde eu era um homem e perseguia o meu
marido que era uma mulher lindíssima até que consegui casar com ela.
Perseguição que avançou em duas jornadas. Quando a pessoa não perdoa avança as
vidas, muitas existências de sofrimento. Tá vendo como é bom perdoar, enquanto
está encarnado?
Casei
com ele sem querer, meus pais brigaram porque ele tinha terras e eu era pobre
de tudo. Pra quê? Preferia passar fome porque foi tortura sem fim. Morria de
ciúmes, me batia, falava que eu não sabia fazer nada, me batia, ainda por cima
me traia e ainda falava para todo mundo que eu não valia nada. Quis separar e
pra quê fui falar isso, surra. Eu já pensava que ia sofrer para sempre. Recebi
a visita de uma beata que me falou que eu tinha que ter fé. Fé para curar a ira
do meu marido. Ela achou que o terço ia curar a maldade daquele homem?
Não
sei, mas teve um dia que eu estava tão cansada que peguei o tal do terço. Deu
alívio para o meu coração. Acostumei. Comecei a rezar para tudo. Para ele não
beber, para não ir procurar mulher, para não me bater. Achei estranho porque eu
estava mais na minha e ele melhorou um pouco. Acho que eu melhorei primeiro.
Não vou te falar que surgiu amor dentro da gente, era vingança de outras vidas
mesmo, mas aconteceu que a gente se respeitou mais. Acho que a idade foi
avançando e ele cansou de me bater, cansou da vida de sempre e parou de teimar,
eu também.
Estávamos
acostumados a brigar e, de repente, parou. Eu também provocava e batia
bastante. Era um duelo. Não sei dizer o que aconteceu com a gente, mas um belo
dia, eu olhei para ele diferente. Perdi pai, mãe e irmãos, achei bom não estar
sozinha. Não tinha carinho e nem afeto, mas tinha um alguém ali na casa para
resmungar um pouco. Quando ele estava na hora final, eu achei que sofreria
porque não tinha costume de ficar sozinha e me aproximei dele, dei a mão. Ele olhou
para mim e repirou fundo. Não precisava falar nada, era um pedido de perdão
pela vida miserável que a gente viveu junto.
Eu
entendi e falei que ele estava perdoado, podia partir em paz que eu já nem
lembrava do que ele tinha me feito, zerou. Eu falei com voz firme e ele fechou
os olhos, calminho de tudo. Eu não chorei não. Estava aliviada que cumpri meu
papel. Se era da vontade do Senhor que eu reencontrasse aquele homem, foi
feito.
Eu
não creio que as mulheres tenham que se sujeitar a maus tratos, pelo contrário.
Não desejo para ninguém. Acho que é o fim da picada homem que se aproveita da
força, terrível, dói pra valer, mas Deus tem um plano para cada um de nós. A
gente nunca pode perder a fé que dias melhores virão. Aquele terço me
fortaleceu. Eu tive ânimo para superar a vida difícil e acho que fez brotar em
mim uma mulher diferente. Ele percebeu e também mudou. A oração é tudo na vida
da gente.
JOAQUINA
04/03/18
-----------------------------Paula Alves--------------------
-----------------------------Paula Alves--------------------
Foto Cedida por Magno Herrera Fotografias
“JESUS ESTAVA COMIGO PAI”
Veja
que era outra época, num local distante onde o frio era de congelar. Era
difícil para eu andar, parecia que minhas pernas estavam paralisando, muito
frio. Tínhamos a nossa casa tão modesta e eu era o pai, precisava alimentar
todos eles, mas meus meninos já estavam mocinhos e eram tão educados, tão
responsáveis. Sara estava grávida e ficamos preocupados com o dia em que
nasceria o bebê.
Tudo
era pouco, menos o nosso amor. Eu saí para trabalhar naquela manhã. O trabalho
da fábrica era o que mantinha nossa alimentação em dia. Quando Timóteo viu a
mãe passando mal não pensou duas vezes. Ele era o mais velho e deveria chamar
alguém porque o momento havia chegado, o bebê nasceria. Estava tão frio e a mãe
ficou com medo do menino sair. Ele tinha quinze anos e era homenzinho. Eu senti
uma coisa estranha naquela manhã. Me arrependi por ter saído de casa. Falei com
meu chefe e retornei para o lar. Sara estava ofegante e as outras crianças
choravam preocupadas. Minha esposa falou que Timóteo tinha saído na geada e não
retornava. Ela estava aflita e entrou em trabalho de parto. Eu não sabia se
saia atrás do menino, mas não deu. Tive que ajudá-la no parto. Meu caçulinha
nasceu e eu senti um aperto no coração. Chorei sentido, Sara também. Foi como
se tivéssemos a certeza do destino do nosso Timóteo.
Demorou
quatro dias para chegarem com a notícia do falecimento do Timóteo. Eu
entristeci sobremaneira, foi como se Deus risse de mim. Eu desejei não estar
vivo para ouvir uma noticia daquelas. Sei lá, dizem que as mães amam mais do
que os pais, eu não sei dizer. Só sei que o amor que eu senti por cada um dos
meus filhos me fez um homem muito melhor. Eu senti tanto a perda dele, eu senti
tanto. Doeu fundo dentro do meu peito a perda do meu filho. Não só porque eu me
senti responsável pelo que aconteceu, mas senti que eu o amava e permitiria que
um pedaço fosse retirado de mim se deixasse o meu filho vivo e bem. Vivi tanto
tempo tentando sorrir satisfeito depois daquilo. Eu nunca consegui. Tinha
outros filhos, mas um não substitui o outro.
Todos
são raros, únicos e essenciais na vida de um pai amoroso. Quando chegou no
minuto final, eu ainda pensava nele. Sempre estiveram todos juntos no meu
pensamento. A gente não esquece, simplesmente aprende a viver com as lembranças
que restaram, vive de saudade.
Quando
eu estava prestes a partir, eu pensei tanto nele, eu sentia que estava acabando
o meu tempo e quis tanto revê-lo. Meu Timóteo apareceu um tanto mudado, mas eu
sabia que aquele olhar era dele. Foi um bálsamo poder abraçá-lo, beijá-lo e
ouvir a sua voz: “Pai!”
Eu
nem percebi que já estava aqui. Ele me ajudou e falou que nem mesmo sentiu dor
ou angústia: “Jesus estava comigo pai.”
Jesus
estava com ele? Eu nem sei se poderia um dia me aproximar de Jesus, se eu seria
digno, mas meu filho disse que Jesus estava com ele e isso para mim foi uma glória
porque ele nunca esteve sozinho, esteve amparado pelo Mestre e eu agradeço a
Deus por tudo. Pelo menino eternizado, pela partida maravilhosa que tive e pelo
Mestre Jesus existir.
ROSENVAL
11/03/18
---------------------Paula
Alves-------------------
“NO
FUNDO, A GENTE CHEGA SEMPRE NA FAMÍLIA CERTA”
A
gente fica distribuindo papéis, folhetos, panfletos. Eu fazia isso o dia
inteiro e via tanta gente, mas acho que ninguém me via. Era gente bonita e
feia, cheirosa e alegre, irritada e animada. Gente de todo tipo, a pé e no
carrão. Tinha dia que eu ficava com vontade de jogar todo papel no chão porque
não valia nada mesmo.
Propaganda
que ninguém nem lê. Era pra ganhar uns trocados e não dava pra nada. Chegava em
casa passando fome e dava pra comprar pão, feijão? Quase nada. E era tanta
fome. Só que eu também acho que tava tudo errado na minha casa porque era um
monte de gente jogada, reclamando e ninguém fazia nada, só eu. Eu saia pra
entregar panfleto porque era o que dava pra fazer, mas o pessoal lá em casa
acordava meio dia e não tava nem aí com aluguel ou conta de luz. Qualquer coisa
era gato, qualquer coisa dava um jeitinho. Eu tava cansado do jeitinho. Eu
queria ter paz. Dormir em paz, comer em paz, trabalhar em paz, sem ter que
correr da chuva. Sabia que trabalhar molhado é muito ruim?
Eu
me lembro de tudo e achei terrível o despejo, mas era tanta gente lá em casa.
Eu pensei que, se todo mundo fizesse um esforço, a gente ficava até rico. E era
o quê, tudo aquilo? Preguiça? Porque eu até ouvia reclamando de um montão de
coisas, mas nunca via ninguém se esforçando pra trabalhar. Os vizinhos ficavam
com pena das crianças chorando descalças, ofereciam trabalho pras meninas,
faxina, cuidar da roupa. Tinha vizinha que levava comida e as preguiçosas riam,
faziam chacota.
Eu
ficava com pena, mas cansei, arrumei minhas coisas e fui embora. Dois anos
depois eu estava bem empregado numa fazenda. Era trabalho pesado, mas eu
gostava de trabalhar. O patrão percebeu e me ajudou, eu estudei e virei
empregado de confiança. Casei, tive filhos e até voltei para ver minha família,
mas perdi contato, eles mudaram de lá. Eu entendi muitas coisas. A lembrança é
difícil, no fundo eu achei que tinha abandonado. Passei anos sem saber deles e
me achei culpado por isso.
No
fundo, a gente chega sempre na família certa. Família que tem ligação com a
gente. Família que tem afinidade, mas a gente escolhe se quer continuar igual
ou se vai se esforçar e melhorar. Quando a gente escolhe, pode ser que mude
sozinho e muda o rumo, se separa dos outros. Eu precisava mudar, melhorar e
mudei, me separei dos outros. Eu gosto de todos, ainda sinto saudades, mas precisava
sair daquele círculo vicioso de inércia e preguiça. Quando a gente quer, a
gente consegue.
FLÁVIO
11/03/18
---------------Paula
Alves------------
“ONDE
ELES ESTAVAM?”
O
criminoso sempre paga o preço e a cela pode ser eterna não é doutor? Eu não
queria me lembrar, mas acho que este é meu calvário. A lembrança me força a me
penitenciar. Não pense que só eu sou nojento porque tem muito homem vestido de
bonzinho e pensa em crueldade. Eu fiz o mal e isso me assusta porque aqui eu
vivo com meus monstros. Apesar, de já ter sido socorrido, como vocês dizem, um foco
de luz já surgiu em mim.
A
luz não fez desaparecer o que cometi. Isso só me fez acordar para não querer
que a criatura do mal retornasse. Eu não vou entrar em detalhes doutor porque
nós dois já sabemos o que homens maus fazem com crianças. Nós dois já sabemos
como eles podem iludir as meninas e meninos que se afastam dos seus pais. Eu
vendia algodão doce no parquinho e as crianças adoram algodão doce. Sempre foi
tão fácil, mas eu não quero me lembrar. Eu queria que fosse possível deixar
tudo para trás e me livrar desse homem sujo que fui.
Quando
a maldade se revela dentro do ser humano, o desgosto, a ira, a revolta tomam
conta dele. Eu não sei como pude. Nada poderia me ferir mais do que estas
lembranças, mas sei que mereço a punição e, por isso, me entrego ao retorno. Eu
mereço sentir o que eles sentiram. Eu poderia culpar os pais. Por um momento,
durante esta reabilitação, eu desejei culpá-los por tornar tudo tão fácil. Onde eles estavam?
Depois colocavam cartazes, choravam, mas onde eles estavam quando as crianças
se aproximavam de mim? Como deixavam seus filhos livres? No fundo eu queria
achar outro culpado que não fosse eu. E não adianta porque eu fiz muita maldade
e preciso sofrer a reparação.
Eu
pensei em muitas coisas. Pensei em ajudar em orfanatos, mas não sei se já estou
curado. Pensei em ter família que é uma missão grandiosa, mas não sei se já
estou curado. Por isso, me entreguei ao retorno e ficarei próximo a um irmão
que como eu tem tendências. Eu estou orando porque será uma prova e tanto. Eu
sei o que é carregar o mal dentro de si e este irmão precisa provar que não
errará mais. Se ele se controlar, não passarei por nenhum tormento e retornarei
tranquilamente, mas se ele ainda não estiver curado de todo o mal que carregou
em outros tempos, eu serei mais uma vítima para sentir na pele o que fiz outras
crianças sofrerem.
Eu
preciso ser forte doutor porque, para mim, o reajuste apenas está começando. Eu
segui o lado errado e preciso mudar a trajetória da minha existência. QUE TODOS POSSAM ORAR POR MIM, APESAR DE
TUDO.
TOBIAS
11/03/18
-----------------------------Paula Alves----------------
“EU
SOFRO PORQUE ESTOU PERDENDO A FÉ EM NÓS”
Eu
queria fechar os olhos, eu não queria ouvir mais. Acabei ficando tão
compadecido de todas as histórias que não quero mais ajudar. É tudo muito
louco.
Por
que tantas injúrias?
Por
que tantos desastres?
Violência
e caos?
Será
que as pessoas são tão gananciosas e egoístas sempre? Eu pensei que
conseguiria, mas eu não consigo doutor. Eu vivi encarnado para cuidar das
pessoas. Com um sonho revolucionário de paz para todos, de felicidade e saúde
que chegasse a todos os locais, independente da classe social, independente do
credo ou do escrúpulo.
Eu
fiz o meu papel como médico e nunca me casei, não tive filhos porque meu mundo
era tratar dos meus doentes com imenso amor. Doando tudo o que tinha, se preciso fosse, afinal
eu não precisava de nada mesmo.
Eu
desencarnei quase sem sofrimento e quando cheguei aqui pude escolher a tarefa
que desempenharia e eu só podia seguir com o que fiz, enquanto encarnado. Eu
decidi servir nas zonas umbralinas, mas eu não consegui. Após dez anos, eu
enlouqueci doutor. Eu vi tanta coisa que misturou dentro de mim os sentimentos
e confundiu minha razão. Acho que não estava preparado para tanto empenho das
legiões, acho que não tinha tanto amor dentro de mim, acho que eu não sou tão
fervoroso em meus propósitos.
Eu
sucumbi doutor e não sei o que fazer. Eu acho que as pessoas sofrem o que
merecem sofrer. Eu vi tanta injustiça e vi tantos que desejam se vingar e me
pergunto se ainda temos jeito. Me pergunto se existirão outros como Jesus por
que eu não vejo outros como ele. Eu sofro porque estou perdendo a fé em nós. E
eu gostava de mim quando acreditava que as pessoas tinham bondade e fé. Eu
amava ajudar o próximo e enxergar neles um ponto positivo, mas agora eu só vejo
o mal e me pergunto se o mal não está nascendo em mim.
Será
possível se deixar levar pelo mal doutor? Será possível cometer o mal mesmo sem
querer? Eu não quero mais voltar porque eu acho que eles devem sofrer. Todos
eles que fingem e maltratam uns e outros. Eu não sei como posso dar certo
depois de perder minhas ilusões.
OMINAH
11/03/18
-----------------------------Paula Alves---------------------
-----------------------------Paula Alves---------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“NÓS
ESTAMOS SEMPRE NOS ATRAINDO”
Quando
é que eu poderia imaginar. Confesso que me sentia tão esperto. Por algum tempo,
foi como se eu tivesse controle sobre minhas ações.
Eu
achava graça, ria satisfeito.
Falava:
“Que otário!”.
Pequenas
enganações, eu achava que era só isso e me sentia sortudo porque parecia
próspero. O fato é que todas as vezes que eu enganei, eu fiquei no débito.
Pouco a pouco, começaram a acontecer em todos os lugares. Se eu fosse comprar
pão, erravam no troco. Se eu estava andando pela rua, via alguém perder a
carteira. Se eu fosse ao mercado, alguém esquecia a sacola com as compras.
Alguém entregava na minha casa algo que eu não comprei. O fato é que eu sempre
era beneficiado e me sentia feliz. Nunca pensei que, para ser beneficiado,
alguém estaria se prejudicando. Eu sempre pude mostrar que era alguém decente.
Poderia ter entregado o troco que estava errado, poderia ter entregado a sacola
ou a carteira, mas me apossei de tudo o que não me pertencia e sorri satisfeito
me achando esperto.
Eu
tive chances de mostrar para mim mesmo que era um homem de bem, mostrar que
havia me regenerado. As provas me foram apresentadas e eu falhei novamente,
tamanha ganância. É certo que, desta vez, menos que antes. Eu que, em outras
existências, feri para roubar, eu que prejudiquei com ímpetos de crueldade,
desta vez, me transformei num ser impassível. Continuei corrupto, continuei
ladrão.
Achei
que fosse parar por aí. É bom não enxergar a espiritualidade porque eu atraí
para junto de mim uma legião de Espíritos que me perseguiram para me incentivar
nos delitos e outros para me açoitarem pelo mal que eu cometia indiretamente às
vítimas. O fato é que somos alavanca uns para os outros, não existe o coitado. Nós
estamos sempre nos atraindo. Só perdia a carteira quem estava devendo alguma
coisa para outro alguém. Enfim, quando desencarnei sofri um tanto com os
credores. Tanta gente que me cobrava. Eu devia um pouco de tudo. Me arrastaram,
correram atrás de mim e eu não fazia ideia de como poderia quitar dívida com
eles. Cheguei aqui naquele estado lastimável que o senhor viu. Nem sei o que
pensar. Acho que eu ainda acredito que é bom ter as coisas com certa
facilidade. Já fui tão rico, filho de rico que recebe fortuna na manha. Já fui
tão insolente e agora tenho que aprender a ser humilde, mas como?
RODOLFO
18/03/18
----------------------Paula
Alves-------------------
“POR
QUE AS PESSOAS BEBEM?”
Eu
adorava cuidar da minha casa. Limpar tudo e colocar na mesa aquela toalha
branca. Tão branca. A janela aberta e o vento levava a cortina sobre a mesa, o
sol iluminava a toalha branca. Mas, naquele dia foi um horror quando ele chegou
em casa. Estava tudo limpinho, a casa toda tão cheirosa e meu marido chegou
bêbado. Por que as pessoas bebem?
Eu
nunca bebi, achava o gosto terrível e nunca senti necessidade de beber. Achava
mesmo é que Deus não fez bebida alcoólica. Para deixar todo mundo perder o
juízo? Estava lá em casa feliz com meu serviço, a criançada dormia em paz. Eu
estava bordando. Precisava entregar a encomenda da dona Maricota e estava
fazendo um bordado à mão. Ele chegou querendo me abraçar. Não pede licença não,
acha que a gente é propriedade. Chega agarrando e acha que mulher é posse. A
gente tem que gostar de marido bêbado e suado? Não faz um carinho, não
conversa. Passou um tempo, eu me perguntei quem era ele que eu não conhecia
mais. Nem falava comigo, comia rápido parecendo um bicho e saia da mesa
correndo, não tirava nem o prato. Esquisito, nenhuma gentileza. Olha para
mulher que parece a empregada da casa e só.
Aí
chega em casa daquele jeito e quer agarrar, aí não. Eu já tinha tolerado muito.
Tolerei para conservar o casamento, para não acordar as crianças, para fazer da
minha casa o berço da paz, mas a gente cansa sabe?
Chega
uma hora que você cansa de ser mal tratada, Deus me livre. Tolerar um homem
sujo que eu nem conheço mais tocar em mim. Cansei. Veio me agarrar e eu
empurrei. Pensei comigo: “É melhor ir dormir, senão, lá vem ele!” Que nada o
cara tava doido. Veio para cima de mim na mesa. Eu não pensei duas vezes,
peguei o vaso de flores lindo que eu decorei a mesa e taquei na cabeça dele.
Desaforento! Não me arrependo não. Chega! O pior é que depois disso eu que me
dei mal porque o desgramado ficou ruim. Mas, não era tão forte e não aguentou
com um vaso?
Ave,
mas eu aguentei a vida toda com os maus tratos e nem dei sinal de doença. É
mole, isso sim. Ficou lá todo caído, acordou os meninos que ficaram chorando
porque para filho pai é tudo santo. Tive que cuidar, foi uma frescura danada.
Nem sei como foi que eu aguentei. Depois disso, ele melhorou e nunca mais tentou
me tocar. Acho que ele ficou com medo (risos). Eu não vou te falar que foi
certo o que eu fiz. Eu sei que não foi. Acho que a gente vai ter que voltar
junto de novo porque não brotou o amor ainda não, mas eu tenho certeza de que
as pessoas deveriam prestar mais atenção umas nas outras. Prestar a atenção nos
sentimentos porque homem e mulher podiam se ajudar mais na casa e não viver
nessa revolta, onde um maltrata o outro que acha que é mais fraco, inferior.
JUREMA
18/03/18
-----------Paula Alves------
POR
QUE SÃO TODOS CEGOS PARA AJUDAR?
Eu
corria e achava uma maravilhosa sensação aquela de utilizar meu corpo e sentir
a leveza dos movimentos. A corrida veio para me ajudar no controle mental e eu
comecei a participar de maratonas, mas depois de um acidente precisei de
amputação. Foi uma dor terrível quando acordei e percebi que não tinha todo o
corpo. Na minha mente eu tinha virado um inútil, um incapaz e não havia ninguém
que pudesse me confortar porque eu passei a sentir pena de mim mesmo. Eu me
isolei e tinha vergonha de sair na rua de cadeira de rodas. Ficava em casa e
não queria ver ninguém porque as pessoas me olhavam com pena e isso me irritava
porque no fundo elas me mostravam aquilo que eu mesmo sentia por mim.
Até
que um dia, eu fiquei sem comida em casa e precisei sair na rua. Foi tudo pior
porque não tem acesso para deficiente. Que lixo eu me senti. Um nada. A cadeira
não conseguia me levar onde eu precisava e eu demorei tanto para chegar ao meu
destino que eu quase pirei. A mente com a mesma velocidade e o corpo inerte.
Foi como se eu tivesse entrado no mercado umas cinquenta vezes naquele dia.
Quando retornei para casa a cadeira virou e eu derrubei todas as minhas
compras. Demorou até que as pessoas percebessem que eu, de fato, precisava de
ajuda para me reerguer e voltar para cadeira. Por que são todos cegos para ajudar?
Eu
não acreditei que estava passando por aquilo. Cheguei em casa e me permiti
chegar no fundo do poço, aí sequei minhas lágrimas e liguei para o médico que
me operou. Conversamos e eu pedi para que ele me ajudasse a ficar de pé
novamente. Andei com muletas, me senti um bípede novamente, mas ainda assim,
não estava bom e quis a prótese. Era tão cara para mim, mas aquilo havia se
tornado meu objetivo. Um sonho que eu deveria alcançar. Após três anos
trabalhando e economizando cada centavo, eu consegui a prótese e tudo começou a
ser uma novidade para mim. Como é bom poder prosseguir doutor. As experiências
que pareciam me destruir abriram um novo leque para minhas possibilidades. Eu
me descobri um ser humano indestrutível, confiante, perseverante. Exatamente
quando o mundo ruiu, eu senti dentro de mim uma energia que me impulsionou para
o auge da minha existência.
Sei
que foi a força de Deus. Sei que foi Ele. Hoje estou aqui novamente em reabilitação.
Desta vez, para que meu corpo espiritual possa refazer a parte que foi
amputada. Em breve renascerei e não precisarei de deficiências, por isso, vou
me esmerar para corrigir esta imperfeição. Sei que conseguirei com sua ajuda.
Sou muito agradecido.
THOMAS
18/03/18
--------------Paula Alves-----------
“EU
FUI PESSIMISTA E NÃO SABIA QUE ISSO ERA DOENÇA”
A
gente se acostuma a reclamar. Fala que o céu está escuro, que está quente
demais. Reclama da política e da falta de dinheiro. Nos últimos anos, eu só
sabia reclamar. Dizem que é doença de velho, mas eu não era tão velho assim. Eu
me acostumei a ver a parte negativa de tudo. Acho que virou um vício para mim.
Eu
fui pessimista e não sabia que isso era doença. No início, você só vê o lado
ruim, depois você passa a ser perseguido pelo mal. Muito ruim porque os monstros
passam a te perseguir. Vicia, só assiste
a filmes de terror e noticiário que sangra. Você só atrai desastres para
sua vida. Eu saia de casa e era fatal! Só presenciava delinquência, assalto,
violência. Perto de mim nunca tinha um ser bondoso. Aí, eu fiquei com medo de
tudo.
Tinha
medo de ser sequestrado, roubado, tinha medo de acidente de carro e de avião,
então? Nunca entrei num avião. Não comia coisa redonda porque podia morrer
engasgado. Não comia nada na rua porque podia estar estragado. Não saia a noite
com medo dos marginais, enfim, não fazia nada. Nem me envolvi com ninguém
porque tinha medo de golpe.
Eu
só enxergava o mal. Por mais que as situações se revelassem para mim
promissoras ou eu encontrasse alguém melhorzinho, ainda assim, eu via algo
negativo. Foi indo, comecei com pesadelos. Eu achava que eram pesadelos, mas
depois eu via os monstros mesmo acordado. Eles me perseguiam e eu morria de
medo. Fantasmas que estavam em toda parte, seres rastejantes que ficavam na
minha casa. Eu achei que estava enlouquecendo, mas não, era tudo real. Criação
mental que se materializou com efeito daqueles que me perseguiam. Eu dei força,
eu os capacitei. Tanto temi que não tive uma morte terrível. Eu deixei meu lar
num campo vibratório tão propício ao trabalho do mal que morri de susto, de
tanto medo. Os legistas afirmaram que foi um ataque cardíaco. Que nada!
Você sabe que eu morri de medo. E
quando passei para o lado das sombras, foi pior ainda. Todos os meus fantasmas
estavam lá. Porque eu só acreditava nisso. Fui socorrido de tanto que implorei.
Não fui ruim com ninguém. Não fiz o bem e não dei crédito para as pessoas. Eu dei forças para o mal.
Está
difícil demais controlar os pensamentos porque eu me acostumei com aquela forma
de pensar. Estou me esforçando para não ter que passar pelos abortos
espontâneos. Estou me esforçando. Aqui é bom e as paisagens lindas facilitam uma
nova forma de pensamento. Eu vou conseguir.
EUSTÁQUIO VILELA
18/03/18
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“VIREI
A FOFOQUEIRA”
Eu sei que é vício, já adquiri esta consciência. Nem sei como
comecei. A lembrança mais antiga que tenho é de escutar atrás das portas,
pequenina de tudo, nem entendia o que se passava nos quartos ou salas onde os
adultos confabulavam, mas adorava ouvir as coversas. Fui crescendo com este
costume e achava tudo tão engraçado. Ficava chocada com os segredos das minhas
irmãs mais velhas. Ria de algumas verdades que descobria pelos cantinhos,
sorrateira, nunca me pegaram.
A
coisa foi complicando porque a curiosidade foi tomando conta do meu ser. Eu
sentia necessidade de saber de tudo. Eu queria estar por dentro do que se
passava na vida dos outros. E quando eu não sabia dos detalhes, eu ficava muito
nervosa e me atrevia a ir à casa dos outros para descobrir o que estava
acontecendo. Na meia idade ganhei alguns apelidos: bisbilhoteira, mexeriqueira.
Eu detestava ouvir, acho que odiava porque sabia que era verdade pura. O fato é
que algumas notícias me indignavam e quando descobri alguns pobres dos meus
cunhados eu desejei não ter conhecimento do que se passava e nasceu outra
pessoa dentro de mim, virei a fofoqueira. Isso porque eu não podia permitir que
minhas irmãs fossem traídas tão ingenuamente. Fiz de tudo para que descobrissem
a traição dos dois malandros que saiam para se divertir juntos. Quando elas
souberam da traição, simplesmente me agrediram e disseram que eu era má e
egoísta. Elas disseram que preferiam continuar na vida de mentira e felicidade
do que ter de tomar decisões. Elas não queriam a separação e eu estava forçando
que elas se decidissem a viver sem eles. Eu nem acreditei.
Elas
gritaram que eu devia aprender a tomar conta da minha vida. Eu chorei naquele
dia porque percebi que as vidas das pessoas eram mais interessantes do que a
minha vidinha sem graça. Eu me tornei uma pessoa intrometida e futriqueira. Eu
perdi minha existência e me acostumei a cuidar da vida dos outros. Nem assim
consegui parar. Me conformei que era assim mesmo e chegava a me coçar de necessidade de passar a notícia para
frente. Eu não consigo viver sem isso doutor.
Eu
tenho muita necessidade de saber o que acontece na vida dos outros. Estou
doente. Sei que perdi o controle dos meus pensamentos. Eu queria ter tido uma
vida interessante, mas eu não fiz nada, nem fui alguém importante que se
pudesse lembrar. Um nome comum de alguém que não fez nada. JULIANA
25/03/18
--------------Paula
Alves-------------
“MAS EU NÃO SABIA QUE NÃO É PARA TODOS”
Fui muito cabeça dura. Estava num lugar querendo ir para
outro, sempre insatisfeito. Sabe quando a pessoa não para em emprego e diz que
não se conforma com a situação difícil, mas não se mexe? Fui eu.
Tentei
estudar, mas abandonei os cursos que inicialmente me davam tanto entusiasmo. A
verdade é que eu fui um covarde. Eu tinha planos. Todo mundo tem planos. Muito
se engana aquele que pensa que não tem nada para fazer na vida. Pode ser até
uma vida muito simples, mas quando a pessoa leva com seriedade, aprende tanto,
ensina tanto. Eu poderia ter concluído meus planos. Eu tinha capacidade.
Enquanto estava encarnado eu achava que não tinha capacidade, que não tinha
habilidades, nem talentos, mas quando cheguei aqui e visualizei minhas chances
perdidas...
Ah!
Quanta tristeza.
Sabe
aquela sensação de frustração? Quando você percebe que tinha tudo nas mãos e
não fez nada? Como se sua sorte te encontrasse e você desperdiçasse tudo por
tolices. Eu poderia ter conseguido. Não me esforce. Na real, eu pensava que
poderia me escorar. Eu achava que o bom da vida é quando você vive a vida das
facilidades e dos prazeres.
Eu
queria um emprego que eu trabalhasse pouco e ganhasse muito. Queria ser
reconhecido e bem tratado, então, quando alguém me exigia demais ou me
humilhava, eu abandonava me sentindo injustiçado. Eu queria viajar e me divertir,
aproveitar o mundo belo que Deus coloca ao alcance de todos, mas eu não sabia
que não é para todos.
Eu
não tive como me lembrar que existem provas que nos limitam moral e
fisicamente. Eu não pude raciocinar que existem humilhações que nos elevam e
trabalhos muito dignos que nos cansam e sobrecarregam. Eu não pude pensar em
beneficiar meu próximo e nem encontrei a esposa que me aguardava para ter
filhos que ansiavam pela oportunidade de nos reencontrar porque eu pretendia
viver a felicidade do encantamento e das descobertas. Eu queria ser feliz, eu
não queria sofrer os problemas da vida. Eu me recusei a ter dissabores, sem compreender
o quanto eles poderiam me elevar. Era tudo tão simples e eu compliquei tanto.
Agora estou aqui soterrado com meus arrependimentos.
LAURO
25/03/18
----------------------Paula Alves-------------------------
“O QUE
VAI IMPORTAR SÃO OS EXEMPLOS”
O dinheiro engana a gente. E agora?
Eu
nem sei por onde começar. As lembranças estão todas aqui. Eu me lembrei de
detalhes de outras vidas. Vidas de homem e vidas de mulher que trazem a certeza
de tudo o que deveria ter feito. Pessoas que me prejudicaram tanto e que agora
desejavam se aproximar de mim. A revolta fez com que eu deixasse todos para
fora da minha vida. Eu tive sorte e ganhei tanto dinheiro. O dinheiro serviu
para dar asas à revolta e ingratidão. Meus pais se esforçaram para que o ódio
do pretérito pudesse ser transformado num sentimento positivo.
Um
sentimento qualquer que nos unisse e, quem sabe um dia, pudesse fazer brotar o
amor. Aquele dinheiro que poderia ter facilitado a existência dos meus pais só
nos separou mais. Eu fui embora e
recusei todo tipo de aproximação. Saboreei todos os prazeres, nem me lembrei
deles.
Soube
por intermédio de amigos em comum que estavam sofrendo doenças e dificuldades
financeiras, mas não quis ajudar. O tempo passou, eu tive filhos e nunca mais
vi meus pais e irmãos. Nós envelhecemos e com normalidade adquirimos algumas
doenças. Eu me surpreendi quando ouvi meus filhos dizendo que cada um carregava
o fardo que merecia. Eles nunca me ajudaram. Eu senti como se não fosse amado
por eles e eu os amei. A rejeição de filho dói. Eu não sabia.
Nunca
imaginei que minha ausência teria ferido meus pais. Eu senti tanto que meus
problemas de saúde se agravaram. Após meu desencarnei, ainda tive algumas
explicações. Eles desejavam meu dinheiro porque justificaram que alguma coisa
de bom eu deveria deixar para eles. Afirmaram para todos que eu fui um homem
embrutecido e cruel. Disseram que eu nunca me preocupei com a família porque
nem mesmo os meus pais eu auxiliei sabendo que eles não tinham onde cair
mortos, ou seja, NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ DIZ PARA OS SEUS FILHOS. TAMBÉM NÃO IMPORTA MUITO
OS CARINHOS QUE VOCÊ OFERTA. O QUE VAI IMPORTAR SÃO OS EXEMPLOS. A FORMA COMO
VOCÊ TRATOU SEUS FILHOS, O CARTEIRO, O PADEIRO, OS AVÓS, A MÃE DELES, ISSO SIM
VAI IMPORTAR PARA ELES.
A
visão que seus filhos têm de você estará relacionada com a maneira que você se
expressou com o mundo. Eles terão, de alguma forma, discernimento ou intuição
para saber se você foi um homem decente ou não e isso implica em ter
admiração ou repulsa por você. Eu precisei passar por isso para me projetar
para um local apropriado ao sofrimento porque eu não honrei meus pais. Sofri
muito, por tanto tempo e gostei de saber que eles estavam sendo bem tratados
pelos netos porque reencarnaram como filhos dos meus filhos e se dão bem.
Quanto
a mim?
Estou
aqui me tratando desejoso de ser mais humano e menos ambicioso.
TADEU
25/03/18
-------------Paula
Alves-----------------
“QUANDO A JUSTIÇA DOS HOMENS NÃO
ACONTECE NUMA VIDA FICA PARA OUTRA”
Ô vida desgraçada essa de ter inveja. Pobre, pobre que não tem
dinheiro para nada. Trabalhava na padaria pra não morrer de fome. Não era
vagabundo não, mas pobre. Morando de aluguel, dois cômodos, lutando pra não
cortar a água, vencendo a fatura do cartão porque precisa de roupa. O dinheiro
era pouco e tem gente que ainda pergunta por que não consegue manter a casa.
Trabalhava
tanto. Quando vi aquele moleque de carrão. Não bastava ser rico dono da
porcaria da padaria?
O
pai deu, pode?
Garoto
novo não queria saber de nada não. Pai rico só deu a padaria pra saber se ele
dava conta de cuidar de uma coisa maior. É tanto dinheiro que nem sabe onde vai
gastar. Quando vi o carro do garoto deu até raiva.
Por
que tanto?
O
carro custava milhões... Pra quê?
Correndo
risco de morrer por causa de um carro? Foi aí que eu tive a ideia de roubar o
menino. Ele não sabia quanto entrava na padaria. Ele deixava tudo na minha mão
mesmo e nem sabia quanto tirava. Pra quem ganha pouco qualquer dinheiro na
folga já ajuda. Eu tô achando que a coisa é fácil e fui levando na alegria.
Tava todo mundo feliz. O menino no carrão e eu lucrando. O pai dele achando que
ele que tomava conta de tudo e era eu. Quando é que eu ia imaginar que ia dar
polícia e tudo?
Outro
teve a ideia que eu tive e tentou roubar o carro, o menino morreu por causa do
carro e o pai ficou louco. Colocou polícia pra investigar a morte do filho e
descobriram que eu roubava. Mexeram em tudo, vasculharam a minha vida e valia
tanto entregar um matador pro pai do menino que eu me dei mal. Quando querem transformam
o inocente no bandido fácil, fácil. Mas, até que ponto eu era inocente?
E, se eu tivesse sido um trabalhador honesto?
E, se eu tivesse orientado o menino do serviço
bem feito que ele deveria desempenhar?
Eu
poderia ter ensinado o serviço para o moleque e ele se tornaria um homem
trabalhador. O carrão estaria em outro lugar e ele trabalhando na hora do
homicídio. Será que eu poderia ter evitado? Eu não sei. Só sei que fui preso e
fiquei muito tempo me questionando sobre tudo o que aconteceu. Eu tive tempo
para pensar. Inveja não leva ao bem só faz piorar as coisas.
Ele
precisava de ajuda e eu poderia ter vivido a vida que Deus colocou no meu caminho
sem ficar de olho nas coisas dos outros. Vim pra cá sabendo que não foi a
primeira vez, pelo contrário. De outras vezes, o homicídio foi praticado por
mim. No desejo de obter os bens alheios eu me entreguei a crimes. A prisão
deveria acontecer pelos crimes praticados no passado. Quando a justiça dos
homens não acontece numa vida fica para outra.
ELISEU
25/03/18
---------------------Paula Alves----------------------
---------------------Paula Alves----------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“PRECISAVA COMPREENDER A NOBREZA DE
CARÁTER E A DOAÇÃO DESINTERESSADA”
Compreendo que os sentidos eram muito limitados. Limitação
intelectual de bebê, mas os sentimentos já estavam sendo imensamente
estimulados por eles. Eu sou tão agradecido. Dentro do ventre eu me senti
amado. Ela cantava e eu estava ligado ao corpo que ela nutria com o seu próprio
sangue e com todo o seu amor. Ela cantarolava e eu sentia imenso prazer de
ouvir aquela canção. Quando ele chegava e tocava a barriga dela, eu sentia um
bem estar inenarrável. Nem sei como isso foi possível, mas eu podia sentir de
longe aquele contato e eu gostei. Não raciocinava bem, mas sentia tão bem.
Quando
nasci senti medo, não conjecturava, mas sentia medo e quando obtive aquele
abraço, quando senti o cheiro dela foi maravilhoso. Eu me encolhi no seu abraço
e gostei de me sentir aconchegado naquele colo. A verdade é que eu não pensava
muito, mas sentia demais. Tudo foi bom, mesmo quando souberam da minha doença,
ainda assim, foi tudo bom para mim. Eu ganhei tanto. Ganhei afeto no máximo do
meu ser, eu fui tão amado.
Um
bebê que nem mesmo podia chorar. Eu tive todos os colos dos meus familiares, de
todos. Não tive luxo, é verdade. Foi escassez material, privações deveras, tudo
perfeito para quem deveria passar pela prova de uma doença de difícil
resolução. Talvez, se eu tivesse sido um afortunado financeiramente, tivessem
me curado e não era o propósito de minha reencarnação.
Foi
tão bom passar pela prova, bem amparado no afeto. Eu digo que nada me faltou,
pelo contrário, na roça, muitos irmãos. Eu fui só mais um e fui tratado como
todos. Recebendo tanto amor daqueles genitores. Recebi tantos carinhos dos meus
irmãozinhos. Foi uma experiência do sentir que muito me enobreceu. Nem sei
explicar o quanto.
Compreenda que em outras existências, eu
fui tão culto, tão estudado, um médico, outrora um diplomata, vivi em países de
primeiro mundo e sentia a necessidade de ser sentimental.
Precisava
compreender a nobreza de caráter e a doação desinteressada. Saber o que era
este estranho amor que tantos dizem e poucos sentem. Foi a melhor das
experiências e eu quero mais doutor. Eu quero muito mais. Eu senti daquela
mulher humilde tudo o que eu precisava e me elevei. Escolhi a pouco e recebi a
permissão. Agora restam alguns ajustes para se iniciar uma nova fase. Eu desejo
ser mulher. Quero sentir este amor sublime.
Preciso
me preparar para adequar o pensamento no feminino. Preciso ambientalizar com o
corpo em questão para que possa, na carne, aceitar a transferência adequada,
mas eu preciso disso. Preciso sentir o amor materno dentro de mim. Sei que será
maravilhoso. De outras vezes, não me doei como deveria. Agora tenho a
consciência necessária para honrar este papel tão nobre. Sou agradecido aos
genitores que hoje são velhinhos e que possibilitaram, ao pequeno bebê que
tiveram, tão boas experiências na última encarnação. Graças a Deus.
DEOCLÉCIO
31/03/18
--------------------------Paula Alves-------------------
“PARA ELES, O MAL EXISTE E O BEM É UMA
DÚVIDA”
É um trabalho digno, nobre e que exige renúncia e abnegação.
Eu não pensava que fosse tão sério o compromisso de um Protetor. Estava ansioso
para desempenhar este papel e me preparei arduamente para assumi-lo. O fato meu
amigo é que, às vezes, chego a pensar que muitos dos nossos tutelados não creem
confiantemente em nós.
Eles
acreditam desconfiando e abrem brechas, fendas. Se eles acreditassem com toda a
fé que existe dentro deles, nosso trabalho seria facilitado. Sabemos que nada
pode vencer o bem porque o bem é de Deus. Deus é o Criador bondoso, amantíssimo
e, apenas deseja o bem para Seus filhos. O mal é um erro momentâneo de todas as
criaturas. Permitido por Deus para que possamos resistir a ele e, assim, possamos
ter mérito nas nossas escolhas.
A
questão é que, quando as pessoas acreditam e fortalecem o mal, nossas ações
ficam limitadas porque eles nos repelem. Minha tutelada, por exemplo, é uma
moça maravilhosa. Uma excelente mãe, dona de casa e esposa leal. Ela se esforça
para produzir o bem e ser digna de ser chamada de filha de Deus, mas ela teme o
mal. Ela vê o mal em tudo e se entrega a este sentimento.
A fé
em ruínas amigo. Eu tenho tido dificuldades para alertá-la. Ela me ouve sim. Se
tivesse a certeza que sou eu, poderia alcançar todas as coisas, mas ela ouve e
deixa pra lá. Tenho insistido para deixar os maus pensamentos de lado. Tenho
incentivado a persistir no casamento. Queria que ela tivesse a certeza do
quanto o marido a ama, mas ela vê onde não tem e sofre. Eu a amo amigo. Não
desejo que ela sofra, mas é tudo difícil quando, para eles, o mal existe e o
bem é uma dúvida. Seria bem mais fácil meu caro se, ao invés, de falarem dos
obsessores, eles falassem mais nos Protetores, nos Puros, nos Espíritos de Luz.
Eu não desisto amigo. Sei que para mim é a prova que necessito. Da mesma forma
que ela deve ter fé em mim, eu careço adquirir fé nela também. Desejo que ela
tenha a certeza de que nunca sairei do seu lado, talvez um pouco afastado pela
repulsa que ela emana quando teme, quando forma o mal pelo pensamento invigilante,
mas todos têm o seu tempo. Eu tenho fé e agradeço pelo trabalho que recebi.
PERCIVAL (Espírito Protetor)
31/03/18
----------------Paula
Alves--------
“EXISTEM MUITOS TIPOS DE AMOR, MAS
DEVEMOS RESISTIR AOS IMPULSOS LEVIANOS”
Eu sempre soube a verdade. Não me pergunte como, mas eu sempre
chamei de intuição. A certeza, você sabe se a pessoa é boa ou ruim, se ela
mente ou fala a verdade. Uma sensação que te prova que ela vai te fazer sofrer
ou não. Eu sempre soube de olhar para as pessoas. Eu sempre estive certa. Tive
isso a vida toda e, com o passar do tempo, eu chegava perto das pessoas e sabia
que tinha que me manter perto delas ou me afastar. Estranho quando a gente
segue os sentimentos, a gente nunca se engana. Foi assim que eu o conheci.
Trabalhamos
juntos na escola, eu lecionava e ele era o segurança. Eu simpatizei com ele de
cara e tentei me aproximar, mas vi a aliança. Ele era casado. Eu não quis
prosseguir e entendi que, muitas vezes, a gente tem que sufocar os sentimentos
para não causar sofrimento para outras pessoas. Sem querer nos tornamos amigos
e fui convidada para conhecer sua família. Eu gostei de sua esposa e fiquei
muito próxima dos dois, das crianças. Senti estranhamente que estava apaixonada
por ele, mas ninguém podia notar porque não era correto.
Nos
tornamos tão amigos que Margareth me apresentou seu irmão. Foi um brilho
diferente que me aproximou do Jonas. Era um amor diferente. Eu não conseguia
entender porque eu sempre soube falar de sentimentos, mas depois daquela
família fiquei confusa. Eu me casei com Jonas e sempre estive com eles sem
compreender todo aquele sentir. Sempre fui fiel e nossa amizade só cresceu. Foi
bom poder contar com eles em todos os momentos da minha vida e afirmar que
nossa família era unida e feliz.
Só
pude compreender tudo quando cheguei aqui e posso dizer que existem muitos tipos
de amor, mas devemos resistir aos impulsos levianos. Todos nós devemos ter
firme propósito de adquirir hábitos moralizadores. Aquele casal com quem tive
tanta afinidade foram meus pais na reencarnação anterior. O marido, o segurança
da escola, havia sido minha mãe por quem eu tive adoração. Eu obtive a
facilitação de reencontrá-los e receber novamente todo o amor e carinho vindo
deles. Acreditando que fossem pessoas ocasionais em minha vida, eles são meus
afetos. Fazem parte da família espiritual que Deus abençoa unindo por diversas
vezes tamanha vontade que temos de estarmos próximos.
Deus
permite que estejamos sempre nos esbarrando como amigos ou entes queridos nos
laços consanguíneos. Que bom que eu pude me unir ao Jonas e me mantive como
esposa leal podendo desfrutar de mais um laço de afinidade que só me
possibilitou ser feliz.
TICIANE
31/03/18
---------------Paula
Alves-------------
“ESCOLHER DOENÇA?”
Eu diria que nunca vi alguém sofrer tanto quanto eu. Acho que
foi injusto tudo o que recebi nesta vida. Muito me espanta vocês ficarem me
falando que eu escolhi. Escolher doença?
Eu
escolheria ser feliz, bela, fazer carreira, trabalhar ou ter filhos para
aproveitar mais minha vivência, mas escolher doença?
Eu
nunca me casei, nunca formei família. Tive que aguentar meus irmãos me jogando
de um lado para o outro depois que meus pais morreram. Eu sempre tive desejos,
sempre tive vontades. Eu fui uma mulher que sonhou e apenas isso. A doença
aparecia em mim, nem sei como. Começou com o Lupus e foi se agravando pouco a
pouco. Era tanta doença reumática que eu não conseguia nem sorrir e o padre
ainda falava de gratidão. E, por um acaso, ele sabia o quanto eu sofria com
aquelas dores?
Me criticavam
de só reclamar da vida, mas veja bem, eu ainda sofro e vocês insistindo com
esta acusação de que fui eu que escolhi. Não acho certo porque eu já estou
aqui, já fui socorrida e ainda estou sofrendo. Você pode ver o quanto eu penei
depois de morta né?
Agora
me fale onde está o lado bom disso tudo? Me informe porque eu ainda não
percebi. Eu não consigo ter acesso a outras informações e aquela moça que fala
que sempre esteve ao meu lado, já me disse que isso é porque eu sou revoltada.
Cadê a compaixão?
Veja
minhas pernas. Sempre inchadas, eu ainda tenho dificuldades para andar e ela me
disse que tudo sempre esteve ligado ao meu padrão mental. Isso é muito descaso.
Me falou que, se eu tivesse sido grata a todas as provações, as dores teriam
sido amenizadas. Me falou que existem pessoas que sofrem muito mais e não são
egoístas com o mundo porque elas sofrem, mas são generosas e bondosas. Sofrem
com sorriso no rosto. Eu acho isso um desaforo, mas não posso falar porque,
senão posso voltar para a zona umbralina. Isso é ameaça?
Voltar
depois de tudo o que eu passei? Aí ela quis me explicar que quanto mais eu
reclamar de tudo, mais reduzirei meu padrão vibratório e isso me expulsará
daqui. Legal! Eu não sei o que fazer porque no fundo eu me sinto injustiçada.
Acho que todos que me falam que eu não devia sofrer assim, deveriam viver só
uma vida de doença bem dolorida para aprender a não apontar o dedo para ferida
alheia. Não é para falar nada é só para ouvir. Cadê a caridade que vocês falam?
Eu
só quero reclamar um pouco da minha sina. E não fui eu que escolhi nada. Agora
lembrar mesmo eu não me lembro. Estou achando que é melhor não lembrar porque
deve ter coisa pior escondida por aí, do jeito que eu sofro.
SALUSTIANA
31/03/18
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