Cartas de Maio (20)

Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


"NÓS SOMOS CONSTRUTORES DO NOSSO PRÓPRIO DESTINO"

Eu me olhei no espelho e admirei a minha imagem. Era tudo o que eu sempre quis. Aquele vestido, o véu e a grinalda de um branco tão alvo, tão inocente. Me lembrei de Augusto e sabia no fundo do meu coração que ele me faria feliz. Eu sempre quis ser esposa, mãe, dona de casa. Nasci pra assumir o papel que meus pais desde cedo embutiram dentro de mim.

Uma mocinha naquela época, na minha classe social era ensinada a ser a melhor dona de casa que pudesse ser e eu gostava desta ideia. Me esforcei em todos os detalhes para ter habilidades manuais e fazer belos bordados para ornar a casa e as roupinhas dos bebês que viriam e tive tantos talentos que nem imaginava possuir. Tínhamos aulas de etiqueta e eu gostava de tudo. Fantasiava como seria minha vida com Augusto.
Para mim aquele dia marcava uma modificação psíquica, fisiológica e social que eu sempre desejei. Queria ser esposa.
Mas não contava que tudo pode acontecer em nossas vidas e de uma hora para a outra tudo pode mudar. Enquanto eu me arrumava para o dia especial, Augusto estava em companhia dos amigos curando uma ressaca ocasionada pela despedida de solteiro. Não demorou muito até que uma mulher chegasse a minha casa para me mostrar fotografias que foram tiradas do meu noivo em situação muito comprometedoras. Na hora eu fiquei com muita raiva dela porque era de costume que os rapazes fizessem isso e eu sabia que os amigos de Augusto estavam organizando a festinha, mas me surpreendi quando ela disse que estava com ele há algum tempo e que estava grávida. Eu caí sentada no sofá e chorei. Aquele filho para mim era a comprovação, não apenas de uma infidelidade, mas da falta de lealdade e que eles formariam uma família por permissão divina.

Algumas pessoas podem não pensar como eu, mas um filho deveria ser encarado como um elo entre um casal. Elo que foi permitido e consolidado por Deus que é Pai de todos nós. Por mais que eu desejasse meu casamento não poderia ser um empecilho para uma família que, para mim, era algo tão precioso.

Eu enxuguei minhas lágrimas e dei meu vestido pra ela. Eu a arrumei e fiquei em casa enquanto ela se casava com Augusto. Nem mesmo acreditei no que estava fazendo. Nossos familiares, amigos e o próprio Augusto também não entenderam minha atitude. Eu tive raiva, inveja e ciúmes, mas dentro de mim, aquela era a coisa certa a ser feita. Meses depois eu soube que eles estavam bem e com um filhinho nos braços. Nunca mais vi o Augusto. Achei estranho porque no fundo eu desejava que ele viesse falar comigo. Eu queria que ele gritasse e dissesse que eu era a esposa que ele desejava, mas isso não aconteceu. Ele aceitou o presente que eu ofertei a ele. Eu nunca me casei.

Passei toda a minha vida organizando casamentos e fazendo pelas pessoas o que eu sempre desejei pra mim. Não posso dizer que fui infeliz, nunca fiz nada contrariada e nem com frustração. Fazia o meu melhor e as pessoas gostavam do meu trabalho. Fui uma solteirona, uma tia como vocês dizem aí (risos).

A conclusão desta história é que sim, eu colhi os atos levianos do pretérito quando enganei e roubei o namorado de uma amiga, mas a grande conclusão é que todos nós podemos fazer o que é correto. O que é realmente correto por princípios, por convicção. Saber que ser correto é fazer o bem para um inocente. Eu nunca poderia ter me casado com ele sabendo daquele filho. Eu teria perdoado uma traição em nome do amor, mas separar pai e filho, nunca. Eu sinto não ter tido minha família, mas sei que no futuro muitas coisas boas irão acontecer se Deus quiser. Que Deus os proteja.
MICHELE
01/05/17

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Estava tudo marcado e eu estava tão feliz. Acreditava que aquele amor de infância era forte e imbatível. Que nada poderia nos separar. Faltava uma semana para o nosso casamento e ele se aproximou de mim com lágrimas nos olhos e disse que estava com dúvidas. Eu não entendi. Dúvidas do quê? Da nossa casa ou em relação a nossa festa? Ele tinha dúvidas se me amava realmente para se casar comigo. Eu tive a certeza de que ele não me amava e entreguei o anel. Não antes de jogar vinho na cara dele. Pra mim bastava a incerteza para comprovar que não era amor. E eu o amava.

Como o amava e perguntei pra Deus por que é que ele tinha feito este amor tão grande dentro de mim se o homem que eu amava não me queria mais. Eu me afundei na maior depressão. Não desejava mais nada. Nada tinha o mesmo brilho e a mesma importância porque eu estava me sentindo rejeitada. As coisas pioraram muito quando eu soube que ele estava saindo com uma mulher do nosso convívio social. Linda! Aí foi um desgosto. Arrumei minhas coisas e fui embora. Eu não queria ver ninguém que me falasse dele. Resolvi fugir e foi aí que eu encontrei minha felicidade.

Arrumei um trabalho como garçonete e quando me dei conta estava fazendo bolos. Bolos deliciosos que me impulsionaram pro meu próprio negócio e eu tinha tanta satisfação no que fazia que voltei a sentir alegria de viver. Fui visitar uma loja pra vender meus bolos e conheci um rapaz muito atencioso e nos tornamos bons amigos. Deus sabe de todas as coisas. Se eu não tivesse partido não teria encontrado o meu trabalho e também não teria conhecido o meu marido. Nós nos casamos seis meses depois numa cerimônia bem simples e vivemos felizes na maior harmonia por quarenta e cinco anos. Tantos encontros e desencontros que nos possibilitam amadurecer e apenas quando estamos ajustados mentalmente é que podemos atrair pessoas que ficarão conosco para evoluirmos juntos e também possibilitarmos que outras pessoas (filhos) possam participar conosco deste universo que é a família.

Quando desencarnei eu não sabia da imortalidade da alma e chorei tanto a separação. Eu não queria me afastar do Carlos. Me recuperei aqui no plano espiritual e quando menos esperei pude reencontrá-lo aqui. Quanta alegria poder abraçá-lo. Estamos vivendo juntos há muitas décadas e eu sou agradecida a Deus pela oportunidade de ter reencontrado o meu impulsionador. Que vocês possam sentir o envolvimento do verdadeiro amor.
ESTELA
01/05/17

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Eu não queria nada daquilo. Tudo cheio de invencionices. Pra mim era uma armação, farsa. Não simbolizada este amor e a vida dos contos de fadas das crianças. Era como uma cilada pras moças. Tudo uma questão de preconceito porque a mulher tinha deveres e pouquíssimos direitos, mas as tolas não percebiam. Eu não. Sempre percebi o que diziam e a forma como a mulher deveria ser tratada. Criada desde a infância para ser mãe, esposa, para falar apenas o necessário e para obedecer ao marido. Absurdo! Em nada aqueles rapazes eram mais inteligentes do que eu. Não poderia permitir que papai me entregasse pra eles. Mas isso acontecia com todas. Comigo não seria diferente.

Eu me casei com dezesseis anos e pra minha tortura meu marido era tão intransigente quanto eu. Tudo o que ele queria era o cumprimento de suas ordens e eu sofri muito com ele. Sofri abusos, violências de todos os tipos. Desejei que morresse e tentei me matar. Todas as vezes que engravidei passava mal porque nunca desejei ser mãe. Eu não aceitava minha situação de mulher. Era tudo muito difícil, por isso, que não se deve julgar porque só na pele pra saber do sofrimento. Ser tratada como nada e ainda ter que servir marido com vontades é dose.

Quando meu esposo morreu vítima de um ataque cardíaco eu nem chorei. Dei graças a Deus que estava livre do meu calvário. Eu estava com quase quarenta anos e nunca mais quis saber de homem. Tomei uma raiva tão grande de ser maltratada. Parecia que eu sabia que ia sofrer daquele jeito.

Vocês podem se questionar se eu tinha que pagar algum débito e eu informo que todos nós temos débitos irmãos. Ninguém deste planeta é tão limpo assim que não tem nada pra pagar, mas o fato é que nós, eu e meu esposo, estávamos nos perseguindo há centenas de anos. Éramos inimigos muito antigos e eu não consegui fazer com que a briga tivesse um fim. Não houve amor, só revolta. Sei que teremos outra chance. Desta vez eu serei filha dele. Estou muito receosa, já pedi para mudarem o plano, mas não será possível. Meu tutor disse que não está nos planos que eu passe por nenhum tipo de violência sexual e eu posso estar certa de que ele cuidará bem de mim, mas mesmo assim eu estou fazendo tratamento psicológico para me harmonizar, senão poderei desencadear uma doença psíquica. Orem por mim por favor.
LAÍS
01/05/17  
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No fundo toda mulher é romântica. Toda mulher deseja um grande amor e um homem que seja educado e que a trate bem. Em tudo nós somos incentivadas a pensar no amor. Desde os livros, os filmes ou até os brinquedos quando nós ganhamos bonecas que serão nossos filhos e todos os utensílios domésticos que farão de nós excelentes donas de casa. Todas querem ser amadas. Ser princesas. Mas isso não poderia ser pra mim.

Eu nasci na favela e desde cedo precisei me prostituir pra ganhar um dinheiro pra levar pras crianças porque a mãe tinha um monte de filhos. Minha mãe era boa, mas era viciada e tão novinha a coitada já envolvida com traficante. Eu sei lá. Tudo errado. Se você não é branco, rico, magro e bonito, se dá mal.

Eu não tinha muita ambição porque na minha situação eu não tinha futuro que fosse melhor do que o presente que era uma droga. Mas sempre que eu podia me arrumava no dia de sábado e descia até a igrejinha da Barra pra ver os casamentos. Como são lindos! Eu chorava com as músicas e me emocionava com o “sim”. As noivas tão emocionadas e eu só queria ser como elas. Apenas um dia viver aquela emoção. E foi assim que num sábado como outro qualquer eu estava ali assistindo um casamento lindíssimo quando ele se aproximou de mim. Eu já estava de saída quando um moreno alto se aproximou e perguntou quem eu era. Fiquei assustada e disse que já estava indo embora. Ele me convidou pra festa e eu refleti que nunca tinha ido às festas dos casamentos. Pensei que deviam ser ainda mais belas que a cerimônia, eu aceitei. Foi a noite mais especial da minha vida porque naquele dia eu descobri o amor.

Fábio foi o homem que viu em mim mais do que eu poderia expressar. Era como se eu estivesse reencontrando um alguém muito querido. Uma pessoa em quem eu pudesse confiar acima de tudo. E foi Deus quem colocou aquele homem no meu caminho. Fábio foi um amigo que me impulsionou a ser melhor. A seguir pelos caminhos, não mais fáceis, mas mais corretos e com muito empenho eu consegui sair da favela e deixar aquela vida de promiscuidade. Depois de quatro anos não conseguimos viver afastados e oficializamos nossa união. Eu tive o casamento que sempre sonhei. Não foi luxuoso, nem o mais belo, mas foi real, cheio de amor e cumplicidade. Foi uma cerimônia simples com poucos convidados que nos amavam e desejavam nossa felicidade. Comida caseira e música de amigos. Eu nunca vou esquecer.

Meu esposo Fábio foi um companheiro leal e carinhoso que me auxiliou durante toda minha vida. Nós recebemos como prêmio seis filhos maravilhosos e eu sou extremamente grata a Deus por tudo o que recebi. Minha vida passou tão rápido. Entre erros e acertos só restaram as coisas boas. De vez em quando eu ainda tenho algumas sensações do que vivi. São cenas que me envolvem mesmo enquanto estou trabalhando deste lado. Sei que são meus afetos pensando em mim. Meu marido ainda está encarnado e é um senhor bem idoso, mas muito forte. Estou aguardando o seu regresso e sei que em breve ele estará comigo. Estou um pouco ansiosa e, por isso, faço meu tratamento para controlar minhas emoções neste instante.

Por tudo o que ele viveu já soube que ao desencarnar ele virá direto para cá. Receberá socorro imediato e um desenlace tranquilo porque ele é muito desprendido da matéria. A equipe não terá dificuldades de tirá-lo do corpo. Fábio é um ser muito especial. Eu não vejo a hora de poder abraçá-lo. Que Deus envolva vocês na mais plena paz. CLOTILDE

01/05/17


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“SÓ O AMOR PODERÁ NOS SALVAR E NOS TRANSFORMAR EM SERES ILUMINADOS”

Eu entrei na padaria porque estava com fome. Olhei na vitrine e admirei tudo com um aspecto tão delicioso que aumentou minha vontade de comer. Tinha pães de todos os tipos e percebi quando as pessoas começaram a me observar. Eu chamei a atenção deles por causa da minha vestimenta. Tão surrada, curta. Eu apontei pra vitrine e desejei tanto comer aquele pãozinho com caramelo. Que vontade! Não consigo esquecer. Apontei pra vitrine e a moça só balançou a cabeça na negativa. Mas ela não sabia se eu podia pagar por ele e nem me deu a chance de falar.

Chegou um padeiro perto de mim falando que eu devia sair que aquilo não era lugar pra mim, eu estava assustando os fregueses. Que raiva que me deu. Meus olhos encheram de lágrimas porque eu só queria o pão e eu tinha como pagar por ele. Eu trabalhei e ganhei o dinheiro honesto pra comprar o bendito pão. Me recusei a sair explicando que eu podia pagar, mas outros funcionários se aproximaram de mim e com muita violência me fizeram sair. Eu chorei naquela calçada. Eu me senti injustiçado sim. Nunca comi aquele pão.

Eu chorei porque não adiantava o quanto eu trabalhasse nunca me olhariam com dignidade. A minha aparência denunciava minha origem simples e as pessoas acreditavam sempre que eu tinha envolvimento com algo delituoso. Eu não entendo até hoje porque as pessoas agem assim. Gente não devia ter medo de gente. Eu entendo que muitos devem temer porque sabem da violência que existe e até já passaram por problemas graves envolvendo a criminalidade. Isso faz com que eles se tranquem em casa e não dirijam a palavra pra qualquer um, mas gente não devia ter medo de gente, assim como as pessoas não deviam tentar eliminar a própria espécie. Isso é que é um absurdo.

Muitas questões que me fizeram pensar na rejeição que eu causava na sociedade. Eu pensei tanto que comecei a falar sem parar. Até um dia que acharam que eu era um louco, mas teve quem me ouviu e gostou do que ouviu. Eu gritava na praça. Fiquei tão enfurecido que depois do trabalho, eu era servente de pedreiro, eu parava na praça e falava tudo o que estava na minha cabeça e um senhor sentou pra me escutar. Eu percebi que ele não se cansou. Ele me ouviu naquele dia e no outro, no outro e no outro. Depois de dez dias, ele me chamou pra conversar e me pediu pra palestrar numa universidade. Eu achei que ele estava de gozação, mas era verdade. Eu fui e falei o que estava na minha cabeça e ganhei uma bolsa de estudos. Eu me tornei sociólogo. Minha vida foi maravilhosa e hoje acredito ainda mais que a mente humana é complexa e abençoada por Deus.

Tantas questões que deveremos desvendar quando estivermos mais humildes, curvados para Deus. Tantas questões que me levam a crer que a Humanidade ainda saberá apreciar as potencialidades, além dos trajes e das posses. Mentes brilhantes de qualquer um, de um sei lá quem, sem nome importante e que pode auxiliar na evolução de todos. Antes disso, teremos que aprender a nos olharmos sem preconceitos, tendo a certeza de que as convenções sociais são importantes para cada um estar no local mais adequado a resgatar os débitos, mas isso não quer dizer que devemos martirizá-los. Pensemos irmãos na posição de cada um. Se colocar no lugar do outro é muito importante.
ALEXANDRE
06/05/17


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Foram centenas de anos. Eu creditava naquele trabalho como se fosse uma missão. Não conseguia atinar do quanto estava enganado em relação ao que fazia. Éramos muitos. Na região que habitávamos contávamos vinte. Percorríamos as regiões trevosas e capturávamos aqueles que mostravam no ser os seus delitos. Os criminosos deixam suas marcas registradas no corpo perispiritual, nós agarrávamos e sem perdão estabelecíamos a lei de Talião. Era como se estivesse atordoado e não tinha condições psíquicas de conjecturar quanto a realidade com razão. Eu ficaria assim por mais duzentos anos se não fosse por elas.

Quando encarnado eu fui policial. Acho que a gente se acostuma a ser o serviço que realizou e eu me achei no direito de ser justiceiro. Tão logo desencarnei vítima de uma troca de tiros com criminosos, fui diretamente arrastado para a região umbralina. Lá, simplesmente manifestei o que realmente era. Meu aspecto mudou prontamente e sei que eu causava medo. Precisei ser assim para afugentar, ao invés, de ser assustado. Quando vi aquela luz achei que estava cego. Senti toque, mas não foi fácil vê-las. Eu levei cerca de dez anos do tempo de vocês pra conseguir ver por uma fração de segundos os rostos delas. Imagino que deve ter sido muito difícil pra elas não desistir de mim. Enfrentar toda aquela paisagem, os gritos e presenciar o que eu estava fazendo, sendo elas criaturas tão mais evoluídas e misericordiosas.

O fato é que aprendi nesta ocasião que não devemos achar que as pessoas nunca irão mudar. Quando amamos muito uma pessoa devemos ter fé em Deus e também na essência divina que existe em cada criatura de Deus. Saber que, cedo ou tarde, as pessoas sentem o poder de Deus e podem se reformar. Elas tiveram fé e no dia em que pude ver minha mãe e minha esposa sorrindo pra mim foi um júbilo. Eu levei um tempo pra me lembrar delas, apesar de todo meu amor e da saudade que tinha de sei lá o quê, no fundo da minha alma. Eu sentia saudade de afeto.


Elas fecharam os olhos e mandaram uma luz tão intensa na minha direção que eu caí com o chicote nas mãos. Soltei o chicote e chorei. Quando eu acordei estava num lugar tão limpo e claro que fiquei confuso. O tempo passou e fui recobrando a consciência depois de um intenso tratamento. Recebi a intercessão das mulheres da minha vida. Eu também fiz coisa boa, elas me disseram e eu me arrependi tanto. É horrível quando você faz coisas desgraçadas porque não tem conserto, mas deseja nunca ter feito. Eu ainda me trato. As lembranças insistem em me atormentar. Eu devo regressar em pouco tempo porque não consigo conviver com tudo isso. Estou me atormentando muito.

Vou voltar com deficiência mental, ficarei encarnado apenas por quinze anos, mas serão suficientes para que eu reorganize minhas ideias. Estou agradecido pelo plano e também pelo resgate que obtive. Deus seja louvado!
ELÍSIO
06/05/17


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Eu era pequeno quando ela se casou de novo. Até onde eu sei minha mãe foi abandonada pelo meu pai. As pessoas estavam sempre falando dela e eu não gostava de ouvir. Arrumei briga na escola pra defender a honra da minha mãe, mas não adiantou muito porque parecia mesmo que ela dava motivo.

Eu fiquei muito irritado quando aquele homem chegou na nossa casa abraçando a minha mãe. Eu tinha dez anos. O homem olhava pra ela de um jeito estranho e estava sempre agarrando minha mãe. Ela me mandava ir dormir e eu escutava uns barulhos. Chorava... Não entendia por que não podia ser só nós dois. Ela trabalhava e não faltava nada pra gente. Era pobre, mas não faltava comida e nem dinheiro pra pagar as contas. Eu ia pra escola, ela ia trabalhar e o marido dela ficava em casa dormindo porque falava que não conseguia arrumar emprego.

A vida foi assim até os meus quinze anos quando eu já entendia as coisas e arrumava briga com ele o tempo todo. Não sei o que faz uma mãe colocar homem dentro de casa tendo filho que não é dele. Ela podia namorar, não era ciúmes, mas permitir que ele se apropriasse de nossa vida, era demais. Era o dono da casa, mas não colocava moeda nenhuma, só dormindo e bebendo. Nem sei se minha mãe gostava dele tanto assim, mas também nem sei se gostava de mim.

Fazer um filho passar por situação tão complicada vale a pena? Foi numa dessas discussões em que coloquei minha mãe contra a parede que ele me agrediu. Eu não tinha força pra lutar contra ele e foi fácil me atirar na escada. Foi tão rápido. Só bati a cabeça e desencarnei. Nem senti dor, foi só uma pancada. Saí do corpo num piscar de olhos e já tinha um rapaz muito gente boa me esperando. Fiquei um tempo e pude ver minha mãe debruçada no meu corpo chorando, depois não vi mais, parti com o rapaz. Estou na colônia há dezessete anos.

Aqui é um local para jovens e eu não tenho permissão para voltar para crosta. A gente na pode sair porque é arriscado. Eu fui informado que muitas coisas mudaram no período em que estou instalado aqui. Minha mãe se revoltou com o meu desencarne e colocou o meu padrasto na prisão. Ele não ficou muito tempo, mas ela nunca mais quis vê-lo. Ela mudou tanto. Está trabalhando e não quis mais viver com homem nenhum. Ela ora por mim todos os dias, eu sinto e sou grato mãe. Eu também queria que tivesse sido diferente, mas as coisas acontecem por um motivo e tinha que acontecer. Há pessoas que só conseguem acordar depois de um choque muito grande. Eu tinha que voltar mesmo daquela forma. Tudo é perfeito na lei de Deus. Eu resgatei. Vivi e aprendi. Não queria que a minha mãe sofresse, nunca. Nem por mim, nem por ninguém.
CLÁUDIO
06/05/17


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Vida maravilhosa a que eu tive. Vida de mãe. Vida cheia de afeto e esperança. Eu sempre vou achar que o amor que uma mãe sente é o maior amor do mundo. Só Jesus pra ganhar do amor de mãe. Acho que só ele sentiu um amor maior. Eu tive dezesseis filhos. Comecei novinha. Uma vida tão sofrida. Ganhava em casa com parteira. Tinha que rezar quando sentia que seria difícil e depois do quinto eu já era quase doutora em partos. Entendia bastante.

Sabia da lua, o dia certo da bolsa estourar. A dor era terrível. Podia virar a noite inteira sofrendo pra, de repente, a cabeça da criança aflorar no meio das pernas. Coisa grandiosa escutar aquele choro que revela que está tudo bem. Só Deus mesmo pra fazer tudo tão perfeitinho. A criança chora é pra mãe saber que é forte e tem saúde. E eu tive muita sorte porque todos nasceram perfeitos e com choro forte igual de garrote (risos).

Meus meninos foram todos amados e muito amados, mas mãe sabe que todos saíram do mesmo lugar e não tem nenhum igual ao outro. Não é só na aparência não porque até que eles se pareciam, é no jeito mesmo. Tinha os calmos, os nervosinhos, os chorões, as mimadas, as valentes. Tinha de tudo na minha casa, aquele monte de filho que corria solto no sertão com os pés cheios de poeira e sorriso no rosto. Sorriso banguela que a mamãe adorava. Coisa linda é filho, gente. Mesmo suado é cheiroso e me arrisco em dizer que cada um tem um cheirinho diferente, igual bichinho mesmo.

Acho lindo o amor de mãe e Deus fez de mim mãe tantas vezes. Eu sou tão grata. Recebi afeto e desafeto, mas todos abracei com tanto amor e nunca fiz distinção que todos se transformaram na família querida do coração. Mesmo aquele que tinham um elo forte de coisa errada do passado, mesmo assim, puderam me amar e nós transformamos um grave problema numa cara afeição. Eu espero que no dia das mães todos vocês possam se sentir amados pelas mães de vocês e quem é mãe, o meu desejo é que vocês possam ser amadas por seus filhos.

Não esquecer, gente que mãe é exemplo pra filho. Tudo parte da mãe que é a semente e frutifica amor de Deus que é filho. Quando a mãe ama, o filho sente o amor, então, mães amem porque não tem nada mais importante do que isso. Só o amor poderá nos salvar e nos transformar em seres iluminados. Feliz dia das mães.
MAGNÓLIA
06/05/17

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Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“QUE VOCÊS POSSAM VALORIZAR O AMOR DE MÃE TODOS OS DIAS”

Eu levei tempo pra compreender o quanto ela me amava. Na verdade, acredito que fui deveras egoísta porque não percebia que ela estava sempre ao meu lado e mesmo nos momentos em que nos distanciávamos, ainda assim, ela pensava em mim o tempo todo e se preocupava comigo.

Não posso culpá-la e fazer como muitos fazem justificando que todos os desvios de caráter de alguém são por falta de amor no lar ou, então, por negligencia na educação. Nunca foi assim. Ela me ensinou tudo o que eu deveria saber e se tivesse seguido os seus exemplos e seus pedidos certamente teria me tornado um homem de bem.

Fui traficante e fiz inúmeras leviandades que não valem a pena mencionar. O importante deste relato é afirmar que fui preso e durante todo o tempo em que estive na prisão, durante o período que me foi possível receber visitas, eu pude contar com o apoio dela. Apesar de todas as situações humilhantes e constrangedoras pelas quais se submete o visitante, ela nunca deixou de ir me ver. Me levava sua macarronada com os bolos prediletos e eu nem me importava porque estava preocupado com questões que me fascinavam dentro da prisão. Questões relacionadas ao poder e à chefia. É uma máfia.

Minha mãe valente nunca desesperou-se porque confiava em Deus e sentia que tudo aquilo tinha razão de ser. Impressionante considerar que ela sabia o que eu fazia. Ela me conhecia e sabia quem eu era de verdade. Nunca se deixou enganar por mim e quando ia me visitar com todos os pratos que eu gostava, ela não deixava de levar a Bíblia que a acompanhou durante toda a vida. Me falava do Novo Testamento e dizia que eu, um dia, iria retornar para o Pai. Ela desencarnou na minha frente e eu senti, mas não como deveria e só percebi a mulher extraordinária que é quando acordei deste lado.

Fui perseguido por uma legião de viciados que me arrastaram e me fizeram crer que, além de todos os meus delitos, não honrei pai e mãe, por isso, deveria pagar tudo mais caro. Eu pude ver todas as situações onde deveria ter honrado minha genitora e eu a abandonei sempre. Me arrependi tanto e quando pude ser resgatado, depois de muitas décadas de sofrimento, eu a encontrei tão linda, luminosa. Ela me resgatou e me abraçou de uma forma que não posso explicar, pois me faltam palavras. Foi lindo demais.

Eu sou muito agradecido por tê-la comigo e também estou satisfeito com meu plano futuro. Deverei retornar como mulher e serei mãe, se tudo der certo. Devo sentir na pele este sentimento elevado. Que Deus abençoe todas as mulheres que já conseguiram sentir este amor.
LEONEL
14/05/17

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Eu não sofri nem um pouco porque em todos os momentos que poderia ter privações ela estava comigo. Minha vida não foi fácil, mas foi facilitada pela pessoa mais importante da minha última jornada. Fui especial. Uma pessoa com limitações físicas severas. Restrito ao leito, com movimentos muito limitados e também uma capacidade intelectual bem reduzida. Precisei expiar por erros do passado. O que interessa é que quando minha mãe me pegou no colo pela primeira vez, ela me cheirou e derramou uma lágrima. Ela agradeceu a Deus pela chance de ter um filho e logo depois soube de minhas limitações por conta do parto ter sido muito complicado.

Ela, mesmo assim, agradeceu a Deus por eu estar vivo e jurou que iria me proteger e facilitar minha vida no que fosse possível. Eu vi todo o filme e me encantei com ela. Eu sempre senti um enorme amor e muito prazer em estar ao seu lado, mas não conseguia raciocinar por conta das limitações mentais. Soube mais tarde que tudo foi difícil pra ela, mas minha mãe nunca reclamou. Nem um dia.

Ela me carregou por quinze anos e suportou meu peso sem lamuriar. Me limpou, tratou minhas doenças virais, me alimentou com toda dificuldade que eu tinha para isso, um ato tão simples e ela se esforçava para fazer tudo o que eu gostava. Sempre estive em condições apresentáveis e com conforto. Fui tão bem tratado. O mais legal de tudo é que minha mãe tinha orgulho de mim. Sempre me apresentava para os amigos, eu sempre estava com os familiares, tinha vida social com tudo o que isso pudesse causar de desconforto na sociedade, ela me incluiu.

Sorria faceira e me beijava, como me beijava... E eu sorria com meu jeito estranho de ser, mas sorria contente por causa dela. Agradeço tanto. Era como um anjo da guarda a velar por mim. Minha fiel escudeira. Quem se atrevesse passar perto de mim com um olhar ruim, lá estava ela, disposta a me defender. Quem a conhecesse nunca faria coisa parecida (risos). Esta foi minha mãe. Chegando aqui eu soube de nosso envolvimento de tantas existências pregressas. Quanto amor, quanta união.

Estamos sempre juntos deste lado e trabalhamos num grupo incumbido de fazer o bem para os menores abandonados. Trabalho excelente que merece ainda um apoio adequado da sociedade, mas evoluiremos se Deus quiser. Que todas vocês possam receber as bênçãos do Alto.

Estejam certas que ser mãe é missão. Missão de luz e elevação junto aos emissários de Deus. A paz esteja convosco.
LUIZ AUGUSTO
14/05/17

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Eu senti que minha vida iria acabar quando recebi a notícia que estava grávida porque eu não tinha condições de criar aquele ser. Eu era tão jovem e não entendia muito de ser mãe, não me preparei para isso e senti vergonha de permitir que isso acontecesse porque eu tinha informação e poderia ter me prevenido. Me envolvi com um homem que me abandonou tão rápido quando soube que esperava um filho. Não acreditou que era dele e isso me humilhou. Eu gostava dele, mas logo soube que não era amor.

Cheguei em casa transtornada e minha mãe logo percebeu que eu estava diferente. Impressionante: olhou pra mim e fixou o olhar na minha barriga. O que aconteceu? - perguntou ela. Eu tentei me esquivar, mas foi em vão porque ela é muito astuta e falou que eu não tinha vergonha na cara porque estava grávida. Me falou tantas coisas que acabaram comigo porque eram verdades absolutas.

Eu escutei calada, chorando. Minha mãe gritou e esbravejou e depois sentou ao meu lado, olhou no fundo dos meus olhos e disse que iríamos conseguir porque ela estaria sempre ao meu lado. Aí que eu chorei. Foi tanta dificuldade. Nós passamos por privações, mas logo Deus abençoou e eu consegui um emprego. Eu estava de quatro meses e minha mãe guerreira me ensinou a ser mãe e ser filha digna de respeito. Eu trabalhei até o final da gravidez, tive o meu bebê e cuidei dele com o mais puro amor. Nem sabia que era possível ter tanto sentimento por alguém. Depois que eu tive meu filho olhei pra ela diferente. Não sei explicar, mas eu sabia o que ela sentia por mim e eu jurei que nunca mais deixaria minha mãe sentir vergonha de mim ou se desesperar pra me ajudar.

Deus me deu forças e eu segui em frente. Sempre fomos só nós três porque o amor nos envolvia e meu filho cresceu forte com todo o carinho e honramos minha mãe. Foi uma trajetória abençoada porque ninguém recebe um filho por acaso, na hora errada. Nenhum filho vem indesejado ou num momento ruim. Eu sei que ele veio porque deveria vir. Eu deveria recebê-lo como meu e ela me auxiliou.

Conseguimos reparar erros que cometemos uns com os outros em existências anteriores e conseguimos nos ligar tanto que fizemos nascer um sentimento que nos une até hoje. Estamos juntos e felizes neste local onde somos tão bem tratados. Nunca recusem um amor. Muitas vezes nos levamos a pensar somente em nós e a ponderar apenas pensando de forma imediatista, mas Deus sabe de tudo e podemos evoluir através do amor. Com carinho MALVA
14/05/17

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Fomos separadas precocemente e eu passei toda a minha vida sentindo necessidade deste amor. Cresci num orfanato e infelizmente nunca fui adotada porque passada certa idade os casais nem me olhavam. Eles preferiam os bebês. Eu passei anos da minha vida achando isso injusto porque as crianças merecem afeto, seja de qual idade for.

Amor de adoção também é amor e criança quer amor, mas eu não tive. Saí de lá e passei a me sustentar com meus trabalhos simples nas moradias que me foram possíveis, mas sempre tive curiosidade de saber das minhas raízes. Muitos me disseram que eu não podia desejar o que nunca tive ou, então, falavam que eu não podia sentir falta de alguém que nem mesmo conheci, mas eu tinha saudades e sentia falta da minha mãe.

No fundo do meu coração eu não podia crer que ela não me quis, que me rejeitou. Sempre via mulheres com seus filhos e pensava que poderia ter tido isso, um afeto dela. Que ela teria sido forçada a me dar, a me deixar, mas me amava e ainda pensava em mim. O fato é que nunca conheci minha mãe e nem qualquer parente de sangue. Minha vida também teve um final feliz porque Deus colocou no meu caminho um homem maravilhoso que supriu minhas carências afetivas porque me fez virar mãe e eu tive seis filhos lindos. Teria tido mais se não fosse acometida por um tumor.

Meus filhos são pessoas boníssimas e me encheram de um amor sublime, assim como meu esposo que me cobria de carinhos. No leito de morte, quando estava prestes a partir, eu me lembrei dela. Da mãe que nunca me fora apresentada e desejei tê-la comigo. Eu me surpreendi com uma figura tão linda. Um mulher que se parecia em tudo comigo, apenas um pouco mais velha e que me acariciou. Depois de recobrar a consciência no mundo espiritual, soube que ela foi privada de minha presença porque os pais não desejavam que ela aparecesse como mãe solteira na alta sociedade. Enquanto minha mãe se recuperou do esforço do parto eles sumiram comigo e fizeram com que ela acreditasse que eu havia falecido no parto.

Minha mãe nunca se esqueceu de mim e orava para Deus me guiar, iluminar meu caminho. Jesus iluminou e pudemos nos encontrar. Sei que tudo esteve ligado ao que atraímos. Pela lei nós resgatamos e eu tive muito da vida. Pude contemplar tantos sorrisos, tantos abraços recebi, foram tantos afetos para no final ainda me ver abraçada à ela. Como sou grata. Que vocês possam valorizar o amor de mãe todos os dias. Atenciosamente JOANA
14/05/17


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias

“O IMPORTANTE É RACIOCINAR MEUS IRMÃOS.” “O IMPORTANTE É VERBALIZAR IRMÃOS, ANTES DE ADQUIRIRMOS MAIS DOR E MAIS MAZELAS”.

Eu perdi muito. Eu perdi tudo e tenho dificuldades para pensar que, desta forma, ainda tenho o que viver. Eu deixei a minha vida para trás e percebi que ainda continuo vivo, mas o que me prende aqui?

Tudo o que almejei ficou lá e todas as pessoas que amei, verdadeiramente, ainda estão levando a sua vida, distantes de mim. Isso me dói porque eu desejo estar com elas e não posso. Já entendi e tenho convicção de que a vida continua, afinal, não poderia ser diferente se eu existo, se sinto e se mantive tudo o que sempre me pertenceu: minha consciência, minhas vontades, meus gostos e meus afetos.

Tudo continua como sempre foi com a diferença que meu corpo se acabou por completo. Assim que percebi que me separei dele, depois da batida do carro, fiquei desesperado. É horrível, terrível e angustiante. Eu me vi fora dele, cheio de dor e com a mente estranha. Era difícil pensar porque eu parecia delirar.

O mundo se tornou estranho também e o céu, e a natureza pareciam de outra realidade com cores e abstrações diferentes. Mas, eu achei que era um pesadelo. Me aproximei do corpo que foi arremessado para longe do carro que se acabou. Quando me aproximei de mim mesmo me deparei com uma confusão mental interminável. Não havia ninguém, só eu com meu corpo imóvel. Tentei me acordar, sei lá, eu louco, tentava me acordar e no auge da minha loucura tentava entrar no meu próprio corpo. Só o que consegui foi mais sofrimento.

Permaneci ligado a ele nos momentos finais, ainda objetivando me religar, mas não pode, é contra a lei. Eu vi todos os acontecimentos que se sucederam. A forma como me observaram, como recolheram o meu corpo, o legista que me examinou, como me vestiram e todo o processo de sepultamento, incluindo o velório.

Pra mim foi um grande aprendizado porque pude perceber que, infelizmente, as pessoas fazem brincadeiras em horas inoportunas. Muitas pessoas acabam adquirindo débitos com tudo isso e só pude descobrir quando cheguei aqui.

Fui legista em outra existência e nunca tive o menor respeito pelos corpos. Se viessem com marcas que indicassem que haviam morrido por ferimento de arma de fogo, então eu caçoava deveras com os outros amigos de serviço, nunca me importei com a alma do defunto porque achava que nada disso existia. Tive que sentir na pele toda a falta de respeito quando desencarnei para, só depois de tudo isso, receber o auxílio necessário lá mesmo no cemitério.

As pessoas debocham, fazem gracinhas e mesmo os familiares, ao invés de orar, conversavam sobre inutilidades de seus cotidianos ou, então diziam sobre questões que me humilhavam ali mesmo em frente ao caixão. Foi ali mesmo que eu soube o quanto me desprezavam muitos deles. Eu chorei bastante, me condoí, mas hoje entendo que tudo foi necessário.

Após o sepultamento pude ver alguns trabalhadores que brilhavam e sorriam pra mim me indicando um longo caminho que percorri até chegar aqui onde fui tão bem recebido. Eu agradeço pelos cuidados que tive e também pelos agradecimentos que me possibilitaram seguir em frente. Apesar das saudades, tenho esperanças de poder reencontrar aqueles eu amo. Fiquem em paz.
FRANCISCO
20/05/17

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Eu arruinei minha vida e não havia forma de me transformar numa pessoa melhor estando encarnado. A gente se acostuma a servir no mal e depois não sabe mais como pode se tornar bom. Aos poucos, a vida não diz mais nada. A gente mata como quem faz um ato qualquer, escreve ou conversa e por qualquer coisa comete um crime.

Todos têm o mesmo peso. Eu não pensava muito só vivia. Morava na rua, sem paradeiro e minha vida não tem nada de importante pra ser relatado. O que contou foi depois da morte porque, aí sim, as coisas tiveram sentido. Numa briga de bar eu recebi a facada que me enviou pra cá. Atravessei tão rápido que foi difícil distinguir. Eu senti uma dor forte da faca, de repente, fechei os olhos e abri deste lado.

Já nem estava mais lá. Nem sei como fui deslocado para um local horrível, mas era uma cidade como a vossa. Tem tudo o que tem aí só que muito pior de cheiro, de paisagem, de gente ruim, animal que parece gente, gente que parece animal e nem chance de melhorar aquelas sensações de tristeza, de angústia e de necessidade de tudo, fome, frio, sede. Horrível!

Eu lembrava só dos meus erros e depois fui saber já aqui na colônia que era a minha consciência que me alertava quanto aos meus erros. Isso acontece com todo mundo porque a consciência tem essência divina e é ela quem é o nosso juiz sabe? Muito louco né? Eu não sei quanto tempo fiquei. Não tenho ideia.

Um dia eu tava andando pelas ruas e comecei a correr de uns caras que eram vingadores, tava com medo e tava cansado de tudo aquilo, não aguentava mais, de repente eu não sei por que eu me lembrei de uma tia. Ela sempre foi boa pra mim na minha infância e naquela época eu não era tão ruim. Lembrei dela e esqueci de correr. Que burro! Eles me pegaram e eu tava tão abobado com minha lembrança boa, que eu nunca mais tive, que estava prestes a ser torturado quando ela apareceu e sorriu. No meio daquela paisagem era como uma fada.

Ela sorriu e brilhou tanto que os vingadores ficaram como cegos e me soltaram. Foi assim que vim pra cá. Tão bom. Estou bem melhor. Feliz de fazer o tratamento porque consigo dormir melhor quando faço. Sei que com este relato as coisas vão ficar mais harmoniosas pra mim. Eu tenho fé. Em breve regressarei e sei que tenho muito o que viver porque errei demais. Mas ninguém colhe, além do seu plantio.
JOAQUIM
20/05/17

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Nunca imaginava que seria naquele momento. A vida era tão boa. Eu só tinha motivos para sorrir. Não tinha nada demais. Era uma vida como a de tantas outras pessoas. Eu tinha família, trabalhava pra poder viver com dignidade e só. Todos os dias fazia conta e achava que o dinheiro não seria suficiente, mas sempre dava contado e eu ficava feliz, aliviada. Era difícil, mas a gente era feliz.

As crianças crescendo com saúde e a gente seguindo em frente até que tudo mudou. Eu estava tão apressada naquele dia. Era professora e estava sempre correndo. Numa destas correrias fui atropelada por uma moto e desencarnei. Fui socorrida prontamente e encaminhada pra esta colônia maravilhosa, mas meu martírio começou aqui porque eu queria ver minha família e ninguém nunca deixou. Passei quatro anos em desespero porque não aceitava as condições que estavam me impondo. Eu fui uma das pacientes rebeldes desta colônia (risos). Pensava neles com tanta força que sumia daqui e ia direto pra minha casa.

Lá, eu perturbava todo o ambiente porque eu não devia estar lá com eles na situação em que eu me encontrava. Ainda com minhas mazelas, revoltada. Eu me aproximava dos filhos que procuravam se acostumar com a minha ausência e deixava–os chorando quando se lembravam de mim e sentiam as minhas angústias. Meu esposo também ficava em desespero e tudo só se acalmava quando me encontravam e me traziam de volta.
Eu tinha de ser capturada, pode?
Não queria voltar, não aceitava.

Fiz tudo isso três vezes e na última vez meu instrutor falou claramente que se eu repetisse, iriam me deixar. Eles sabiam do meu amor pela família e, por isso, me resgatavam, porém, se fosse da minha vontade eles iriam deixar que eu aprendesse na prática que minhas ações trariam consequências desastrosas para todos.

Eu pensei bem naquelas palavras e resolvi ficar aqui. Estou melhorando. Não saí mais. Entendi que existe um local para os vivos e outro pra nós. Entendi, mas sinto muita falta deles. Tenho vontade de saber como estão e nem mesmo me dão notícias, aí fico cismada, penso que pode ter acontecido alguma coisa ruim com alguém. É como se eu estivesse presa aqui e, por isso, faço o tratamento.

Eu tenho que me desvincular deles. Eu preciso seguir o caminho individual. Eu sempre fui muito grudada nos meus filhos e isso me faz sofrer ainda. Não aceitei e tenho tentado viver pra mim, mas não sei. Eu recebi este auxílio e já consegui raciocinar que isso foi ótimo pra mim, mas eu ainda sou como uma viciada na família e preciso de mais tempo.

Nem sei como será meu futuro, não sei, eu nunca tive tempo de pensar na vida após a morte e hoje este é meu maior problema. Aceitação. Que Deus possa me amparar.
EVA
20/05/17

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Todos nós precisamos de limites. A criatura humana ainda tem tanto a aprender. Sou levado a crer que as pessoas são belas e fascinantes. Eu tenho fé no homem e confio em Deus. Sei que um dia, que não tarda, as pessoas serão inclinadas a produzir o bem pelo bem e aquelas que já se esforçam para produzi-lo, já conseguem estar envolvidas com seus iguais vivendo um mundo onde estas questões já estão sendo abordadas.

Pessoas que se preocupam com o bem estar de tantas outras necessitadas de matéria e de afeto. Pessoas que se comprazem com seus semelhantes e desejam ver a alegria estampada nos rostos pelo simples prazer de servir. Eu sofri muito numa época onde a escravidão nos fazia sentir como se fossemos animais. Era como se aquela tortura toda jamais fosse acabar. Viver preso e na obrigação de trabalhar até o último das suas forças pra depois de algumas horas, começar tudo de novo é terrível.

Eu me questionei por que não lutávamos, por que nós não tentávamos acabar com tudo aquilo e por que não desejávamos a morte se sabíamos que o nosso fim apenas seria este, mas eu concluí, enquanto encarnado, que nossa dignidade estava arruinada. Pessoas que são tão desvalorizadas que se sentem um nada são pessoas que mínguam, vão apagando. Nós não sentíamos que poderia mudar.

Mas, em qualquer circunstância desastrosa é necessário que mentes lúcidas, mentes revolucionárias com amor possam modificar o futuro de tantas outras. Tudo pode mudar. Não foram apenas os negros que sofreram com a escravidão.

Durante centenas de anos na história da humanidade as pessoas sempre tiveram seus mártires. Pessoas que deram a sua jornada para conscientização global. Para que pudéssemos chegar exatamente onde estamos. Isso aconteceu e ainda acontece com os índios, com as mulheres, com os nordestinos, com as crianças.

Fora deste país, ocorreram com a virada dos séculos e ainda ocorrem, muitas guerras que trazem dor e revolta para as nações, mas tudo necessário para que pudéssemos pensar. Eu tenho certeza que a criatura humana está melhorando apesar de tudo. Tenho certeza de que tudo foi necessário para que pudéssemos estar em papéis alternados, ora como algozes, outras como vítimas, passando pela lei de ação e reação, colhendo e quitando, sempre de forma muito mais branda do que a adquirida por misericórdia divina.

O importante é raciocinar meus irmãos. O importante é verbalizar irmãos, antes de adquirirmos mais dor e mais mazelas. Nós sempre poderemos avançar se estivermos desejosos disso. Que Jesus esteja em vossos lares e possa vos abençoar.
RAUL
20/05/17

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Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“DEVEMOS TENTAR TODOS OS DIAS FAZER AMIGOS, TENTAR TODOS OS DIAS ALIMENTAR O AMOR E A ESPERANÇA”. “TENTAR TODOS OS DIAS REPARAR OS ERROS E CONQUISTAR AFETOS”.

Foram décadas almejando que tudo desse certo pra ela. Sempre que era possível eu ia até a crosta para observar como as coisas se encaminhavam. Eu me sentia entristecido com suas frustrações e com suas angústias. Mal sabia ela que não estava sozinha. Eu sempre a amei, sempre. Todo o meu anseio era que ela fosse feliz e sentisse que as coisas eram perfeitas daquela forma. Minha doce Elisângela.

Era tão moça quando percebeu que a vida era cheia de dificuldades e parecia-lhe tão amarga. Ela tinha dificuldades de se relacionar com a família e tinha brigas terríveis com a mãe. Eu tentava acalmá-la, mas não podia fazer muita coisa. Ela ficou mais velha e tentou descobrir o amor, mas tudo o que conseguiu encontrar foi desilusão. Ficou tão entristecida acreditando que era sozinha. Eu sempre estive aguardando por ela. Viveu assim, só e desiludida. Trabalhava e morava sozinha numa pequena casa de aluguel. Aos poucos perdeu o contato com a família que acreditava não amá-la. Eu me senti triste com tudo o que ocorreu porque ela não percebia o quanto se distanciava dos planos de Deus para ela. Eu temi que, de alguma forma, que isso pudesse nos distanciar também. Nós, que já estamos nas colônias ou desempenhando tarefas deste lado, sempre nos envolvemos com os entes queridos que ainda estão na carne e ficamos aguardando o regresso deles, mas é triste pensar que por conta de uma trajetória enganosa eles podem se perder e parar direto nos locais sombrios.

Este era o meu medo, que Eli fosse para o umbral, ao invés, de voltar para o meu abraço. Orei com fervor quando notei seus pensamentos doentios, desejando por fim na própria vida, mas o livre arbítrio deve ser respeitado, são as provas que alguns devem ultrapassar. Ela não se suicidou, mas se envolveu com questões levianas que me fizeram sofrer tanto que fiquei impossibilitado de visitá-la porque eu poderia comprometer o meu estado por conta dela.

Desejei ardentemente vê-la e, por isso, comprometi meu trabalho necessitando de internação. Não sei como ela está. Isso me atormenta. Ainda aguardo por ela e oro para que tudo se resolva pra ela, de forma que ela encontre no seu caminho pessoas bondosas que possam abrir-lhe os olhos para a real importância da vida.

Algumas pessoas encontram-se cegas e passam a vida toda correndo atrás de questões tão ilusórias. Castelos de areia que desmoronam tão fácil. Estou tentando me controlar, o autocontrole faz parte do tratamento e tenho fé de que em breve estaremos novamente juntos. Com otimismo.
JUAREZ
27/05/17

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Foi sempre rivalidade entre nós. Filhos do mesmo pai e da mesma mãe, acreditávamos que era um castigo sermos irmãos. Por tudo discutíamos, nos sentíamos ofendidos e contrariados. Ele era mais velho que eu três anos e não sei por que sempre achei que fosse o predileto, mas meus pais nunca confessaram isso. Eu sempre percebi nos olhares e na forma como falavam conosco. Minha mãe dizia que os filhos não são iguais e, por isso, não podem ser tratados da mesma forma.

Eu não engolia a justificativa dela e sempre sai consternado das situações em que ela o defendia. Foi assim por vinte e sete anos quando resolvi sair de casa para viver minha vida em paz longe deles. Eu arrumei um bom emprego e decidi mudar de cidade onde residi bem e formei família. Não achava que era necessário visitar meus pais porque eles estavam na companhia do meu irmão, o filho predileto. O fato é que um dia meu telefone tocou e eu me surpreendi quando minha mãe chorando me pediu ajuda. Eles nunca ligaram pra mim, senti que fora esquecido por eles e confesso que isso me doía no fundo do peito. Minha esposa nem os conhecia e não sabia da minha história porque eu disse que não tinha mais ninguém.

Eu me separei deles e os ignorei. Minha mãe me procurou porque meu irmão precisava de um rim. Eu poderia ser o doador que iria salvar-lhe a vida e eu me recusei a ajudar. Disse a ela que nunca iria me submeter a uma cirurgia para salvá-lo porque acreditava que ele nunca faria o mesmo por mim.

Desliguei o telefone e nunca mais falei com minha mãe, nem com nenhum deles. Eu passei o resto dos meus dias infeliz porque o remorso tomou conta de mim. Eu nunca soube o que ocorreu com ele, mas os meus pensamentos me condenavam por minha atitude cruel. É desnecessário dizer o quanto sofri após meu desencarne porque fui ingrato com os pais e rancoroso com meu irmão. Também é desnecessário dizer que o que nos ligou foram questões mal resolvidas do passado e que estamos na mesma família para sermos pessoas melhores que resgatassem os sentimentos adversos.

O que é necessário disso tudo é que não devemos alimentar sentimentos mesquinhos. Não devemos acreditar que as pessoas nos odeiam porque nós sentimos rancor, inveja ou mágoa.

“Devemos tentar todos os dias fazer amigos, tentar todos os dias alimentar o amor e a esperança”. “Tentar todos os dias reparar os erros e conquistar afetos”.

Por mais difícil que seja conviver com aquela pessoa que lhe chateia, devemos tentar se amistosos e fazer o que for possível para ajudar a todos sem distinção, sendo irmãos de sangue ou não. Seguir JESUS é tudo o que nos resta para sermos melhores. Fiquem em paz.
MOISÉS
27/05/17
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“NÓS PRECISAMOS UNS DOS OUTROS PARA SERMOS NORMAIS, LÚCIDOS, CORDIAIS, PARA SERMOS IRMÃOS”.


A quem muito foi dado, muito será cobrado. Eu estudei tanto. Eu falava diversos idiomas e me sentia a vontade com meus conhecimentos. Sabia de todos os versículos e poderia explicar um por um, mas o que me faltou é o que falta a tantos e tantos, um pouco de COMPAIXÃO.

Era movido por meu amor próprio. Talvez estive movido pela síndrome de Narciso. Não sei. Penso que tudo acontece porque tem que acontecer. Não existem vítimas e nem um destino que não pode ser modificado, mas eu errei tanto que me afundei nas palavras daquelas paginas sem fim.

Tive tanta oportunidade de mudar meu destino. E não fiz nada, apenas me vangloriava e humilhava as pessoas a minha volta para me sentir importante. Quantos não fazem isso?
Hipocrisia achar que somos superiores, se torna ridículo e eu sentia tanto no final. Notei que não tinha nada e que ninguém me suportava. Não dá pra correr atrás de ilusão a vida toda.

Eu vivi muito e na senilidade, ninguém queria me ouvir. Alguns riam por algum tempo das minhas conjecturas, dos meus devaneios psicológicos, mas logo se saturavam e me deixavam sozinho. Fui parar num internato para idosos e nunca mais me visitaram. Eu não tinha uma família minha porque era muito vaidoso para adorar uma mulher, mas os meus irmãos, os meus sobrinhos, todos me abandonaram e eu fui ficando nervoso.

Eu fiquei tão furioso que comecei a brigar com os funcionários que não queriam se aproximar de mim e fui ficando ali de qualquer jeito. Foi um péssimo fim, mas foi o fim que eu merecia com certeza. Sujo, prostrado, com feridas por todo corpo, emagrecido e abandonado.

Foi assim por tanto tempo depois do meu desencarne quando eu finalmente encontrei um alguém que tentava me fazer entender que todos nós somos iguais e compreendi que em toda parte existem pessoas, encarnadas e desencarnadas, que tentam fazer entender que nós precisamos uns dos outros para evoluirmos e também para nos sentirmos felizes por um instante que seja.

Nós precisamos uns dos outros para sermos normais, lúcidos, cordiais, para sermos irmãos.

Hoje eu ainda me trato porque sei que isso tudo é doença. Doença que adquiri há muito tempo. Aqui todos estão em tratamento como eu e me sinto bem porque não me envergonho mais de ter falhado e também posso falar abertamente que tenho falha, defeito, mas estou me esforçando para melhorar e vou conseguir. Sigamos com fé.
FELIPE
27/05/17

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“AS PESSOAS SÓ SE SENTEM BEM QUANDO AMAM E SÃO AMADAS”. “ISSO É TUDO O QUE IMPORTA”.

Linda noite de céu estrelado. Eu comprei o anel e ansioso parti. Eu desejava que ela dissesse um sim e que me seguisse para onde eu fosse. Nunca sonhei que fosse possível amar daquele jeito. Desde o primeiro dia, naquele olhar eu vi a mulher da minha vida e desejei tê-la ao um lado.

Segui em frente e conquistei o seu amor. Ela me aceitou. Eu era de uma boa família, tinha algumas posses e sempre fui um homem de respeito. Isso foi há tanto tempo. Eu queria ter uma família grande e ela sorria pra mim, aceitando tudo o que eu dizia sem me questionar, sem me interromper. Nós nos casamos e logo vieram os nossos filhos amados. Eu vivia num mundo a parte, era tanta felicidade. Eu trabalhava, chegava em casa com a minha esposa e meus filhos que me aguardavam felizes e satisfeitos até que ela engravidou pela quinta vez.

Eu sempre fiquei feliz, mas naquela ocasião eu sentia irritação de olhar pra barriga. Minha esposa parecia me chatear e sem entender o motivo eu não desejava mais retornar para casa porque não queria chegar perto dela. Passei a frequentar alguns bares para chegar mais tarde e notei que ela se sentiu infeliz e rejeitada, mas eu não tinha outro sentimento pra expressar. Tinha sonhos estranhos e parecia que alguém que eu odiava estava por perto me fazendo irar por dentro.

Ela caiu, se machucou e necessitou ficar acamada até o final da gravidez. Eu simplesmente contratei mais uma empregada para auxiliá-la e me tornei mais distante. Eu não a traí, mas não queria vê-la. Era como se ela tivesse me traído, mas eu sabia que não, era confuso pra mim e irritante. Quando o meu filho nasceu, as coisas pioraram porque eu não desejei aquele menino ao meu lado, nunca.

Percebi que era ele quem me irritava porque eu passei a tratá-la como antes. Entre nós tudo ficou bom e amoroso, mas o menino... Eu não o tolerava e isso era terrível pra mim porque ele era meu filho e eu o odiava. Não podia ser assim. Eu tentava, mas à medida que crescia e mostrava seu jeito afrontando-me, isso me tirava do sério.

É certo que Deus coloca no mesmo lar aqueles que têm questões mal resolvidas de outras vidas e isso só se explica com a reencarnação. Eu passei a vida toda repugnando aquele filho que sentia meus olhares de desprezo. Desencarnei e vaguei tanto tempo movido pela culpa e pelo remorso. Eu procurava em toda parte, naquele umbral, um amor que havia abandonado e um dia eu o reencontrei tão belo e forte, altivo.

Passara-se tanto tempo, mas nunca me esqueci do olhar de Lúcio. Ele nunca compartilhou meu desprezo e meu desamor, ao contrário, sempre fez de tudo para nos reconciliarmos, assim como minha esposa que parecia estar tão esclarecida quanto as nossas necessidades afetivas. Como eu errei. Eu nem conseguia olhar nos olhos dele até pouco tempo quando consegui me desvencilhar do meu orgulho e pedi perdão. Foi um abraço tão cheio de carinho e com uma energia que eu não sei explicar.

Foi maravilhoso abraçar meu filho e eu sinto muito por ter perdido tempo com rivalidades de outras vidas porque ele é um ótimo filho. Não percam tempo com bobagens. Não se deixem enganar pelo orgulho que cega. Digam que sentem muito. Desabafem. Falem de sentimentos no lar e onde for porque isso não é vergonhoso.

Saibam que todos nós somos muito parecidos e temos as mesmas inclinações. As pessoas só se sentem bem quando amam e são amadas. Isso é tudo o que importa. É, por isso, que dizem que a felicidade não é deste mundo. Porque nós só seremos felizes quando soubermos amar.
SILVIO
27/05/17      



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