Cartas de Julho (13)


“SÓ POSSO DIZER QUE TODOS OS QUE AINDA NÃO SABEM DOAR É PORQUE AINDA NÃO SENTIRAM O IMENSO PRAZER DE SER ÚTIL”


Não dava tempo nem de dormir. A vida era uma correria, mas eu sempre gostei. Eu vivi pra isso, pra trabalhar para os outros. Tinha gente que achava aquilo tudo loucura. Me perguntavam se eu não gostava de sair ou se não pensava em formar família. Outros então achavam que eu fosse gay, mas a verdade é que eu sempre fiz exatamente o que me completava.

Eu fui médico e dediquei minha vida para meus estudos e consequentemente para cuidar dos meus pacientes. Trabalhei arduamente em diversos setores de minha profissão e no final, já velho, procurei tornar o meu tempo ainda prazeroso e cuidei de um asilo. Fiquei junto dos meus. Nunca, em toda minha vida, senti solidão. A atenção é algo fantástico porque você oferta e se sente recompensado por ela mesma.

Eu doei meu tempo da forma como as pessoas precisavam. Ouvi, falei, cliniquei, operei e tive tanto carinho que só posso agradecer. Não tive esposa ou filhos, mas sinto que minha família é tão grande.

Tanto amor recebi. Meu núcleo de amigos estava restrito aos pacientes que atendi e isso me encheu de felicidade. Só posso dizer que todos os que ainda não sabem doar é porque ainda não sentiram o imenso prazer de ser útil. Quando nós somos tocados pelo bem, nunca mais queremos parar de sentir a agradável sensação de sermos parte do todo. Do todo de Deus.

Eu recebi a abençoada oportunidade de integrar o núcleo de trabalhadores deste lado e permaneço ativo, útil, recebendo afeto, doando o meu melhor, na medida do possível porque não sou Espírito perfeito, ainda estou dotado de falhas, mas desejo que todos vocês possam abrir os vossos olhos e possam fazer pequenas boas ações para que possam despertar.

Cada um doa dentro das suas possibilidades. Cada um doa dentro de suas limitações. Doa-se sorrisos, atenção, afeto. Doações morais que junto com as preces podem levar esperança e fé. Que Deus abençoe a todos.
MARCOS

01/07/2017           

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É claro que tudo o que nós fazemos tem uma consequência. Isso é lógico, mas naquela época eu não queria saber de nada disso. Imagina, se alguém viesse me falar que era tudo tão sério, eu iria rir.

Eu trabalhava como manicure. Era jovem, bonita e trabalhava para ajudar um pouco em casa, mas principalmente para ter meu dinheiro pra sair com minhas amigas. No fim de semana era decisão comum irmos para o forró. Eu só sei dizer que não ganhava muito e precisava me vestir bem para atrair a atenção de todos porque é difícil arranjar marido na cidade pequena. Todo mundo se conhece e falam demais.

Eu atendi a cliente e ela caiu na bobeira de deixar a bolsa aberta pra ir ao banheiro. Minha patroa havia se retirado um instante, então eu tive tempo de pegar o dinheiro dela. Nossa! Como tinha dinheiro. Ninguém percebeu e eu me arrumei bem naquele fim de semana. O tempo passou e eu até me esqueci do dia que roubei uma cliente. Eu não tinha o hábito de roubar. Só mesmo quando me sentia muito precisada. Umas poucas vezes. Eu me casei e tive três filhos, mas um dia percebi que o dinheiro de todo o meu ordenado estava sumindo. Eu não entendi porque em casa éramos apenas eu, meu marido e meus filhos.

Fiquei pensativa porque ninguém teria motivos para roubar de dentro de casa. Passou-se algum tempo até que peguei meu marido revirando minha bolsa e veio com uma história sem pé nem cabeça. Eu fiquei desconfiada e tentei segui-lo pra descobrir o que estava acontecendo e tive uma descoberta terrível.

Ele mantinha a outra família numa cidade próxima. Eu não soube o que fazer porque eu o amava e tinha filhos com ele. Preferi ficar quieta e voltei pra casa. O Belquior nunca soube que eu descobri sua traição. Levei dias sem conseguir olhar nos seus olhos e me deitava com ele pensando na outra família. Eu pensei em me separar ou esconder o dinheiro, mas pensei que pra eles também não devia ser fácil. E se fosse comigo? Sei lá, é estranho.

Eu não queria ficar sem ele e me sujeite a viver com isso. Foi assim que eu percebi o quanto as escolhas das pessoas podem afetar outras pessoas. Pode parecer bobagem. Eu roubei e a vida me fez ser roubada. Triste porque eu não tive coragem de falar com meu esposo e nem com meus filhos que nunca souberam da existência dos irmãos. São fatos da minha vida que não podem ser esquecidos e eu me arrependo, mas não sei se seria capaz de agir diferente. Por isso, não devemos apontar o dedo na vida de ninguém. As escolhas são sempre difíceis.
MARIA AUXILIADORA
01/07/2017

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Eu senti aquele tiro por tanto tempo que achei que aquela era a minha sina doutor. Quem vive no erro vai pedir o quê pra Deus? Eu sempre soube o quanto era errado. Desde menino aprendendo na malandragem. Cometendo pequenos delitos, furtos, puxando o cano. Malandro tem que se reajustar na justiça, mas isso ninguém quer. Eu fui pego numa emboscada. Tava ficando feio pros moradores da vila. Pessoal não quer ninguém errado pra autoridade não. Aí mano véio, foi bala no peito. Nem vi o rosto do maluco que atirou, tiro certeiro. Caí quadrado cara. Só deu tempo de pensar na mãe e na Otacília.

Sabia que pra elas era sofrimento ver o negão morto. Depois eu levantei rápido e saí correndo pra ver se encontrava o abusado, mas não consegui. Percebi a dor e o peito sangrando, mas fazer o quê? Fui pro hospital porque achava que ia morrer. Cheguei lá e pedi socorro e no desespero vi que tinha mais um monte igual a mim. Muito louco este esquema de dois planos, cara. Tem pouca diferença pra quem atravessa de repende como eu. Não entendia nada e demorei pra perceber o que estava rolando.

Cheguei perto dos médicos e ninguém me deu bola, aí fui embora. Não morri, mas o sangue não parava de jorrar, sinistro. Voltei pra casa e lá, a minha mãe e a Otacília estavam chorando tanto. Já tinham enterrado meu corpo, elas lembravam de mim e choravam. Ninguém me ouviu e nem me viu. Eu fiquei com raiva e decidi encontrar o cara que me fez sangrar e deixar minha vida confusa, fui direto pra casa dele. Meu, o cara era meu mano, sacô?

Andava comigo e tudo. Eu fui traído pelo desgraçado. Quem é que tem amigo doutor?

Ninguém. Eu não tô conseguindo mudar minha mente, cara. Vaguei, persegui o delinquente. Fiquei cinquenta anos dedicando o meu tempo pra atormentar ele e quando já tava louco de raiva, consegui enxergar minha mãe que tinha vindo pra este lado e conseguiu me fazer chegar aqui. Mas ainda não dá véio. Eu não consigo perdoar a traição dele. Eu ainda preciso de tempo.

Mas valeu pela oportunidade. Só pra acrescentar o quanto a lealdade é preciosa.
LAZINHO
01/07/17

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Era uma questão de honra. Ele já não me via como em outros tempos. Quando nos conhecemos eu era tão bonita. Sempre tive um corpo perfeito, escultural e eu sei que chamei a atenção dele por causa do meu corpo. Todo o resto era complemento disso.

Infelizmente temos que afirmar que a atração física é o que une as pessoas. Aqui todos tentam me fazer pensar diferente, mas eu ainda não compreendo isso. Meu esposo também era lindo. Abdome definido, rosto de Deus grego, maravilhoso. Eu me encantei na hora e começamos a sair. Era tudo tão bom. O namoro, o noivado, depois, casamos e eu não sei pra quê todos têm que ficar insistindo que a mulher tem que ter filhos. Encheram a cabeça do Felipe e quando percebi meu marido só falava nisso. Eu não queria filhos porque sabia que meu corpo iria mudar. A verdade é que tem coisas que a gente não revela nem para si mesma porque é pecado ou crueldade demais pensar no assunto. Eu só estou dizendo agora porque na época dava inúmeras justificativas, mas nunca disse que não queria mudar meu corpo. Tive o Augusto e desejei fazer uma mudança estética para ficar como antes e veja o que aconteceu. Estou aqui toda arruinada.

Deixei meu lindo esposo com o filho que eu rejeitei e estou com esta aparência terrível que não consigo mudar. Acho mesmo que é castigo porque eu sei que atraí isso porque só pensei em beleza. Eu sei de tudo, mas não acho justo porque eu não prejudiquei ninguém. Não cometi delito, não pensei em fazer o mal. Eu só queria me conservar como era, mais nada.

Aí sua colega me explicou que foi o que atraí porque perdi meu tempo precioso com questões superficiais. Não fiz o mal, mas também nunca me detive em pensar no bem dos meus semelhantes. É ação e reação, pode acontecer.

Durante o tempo que peregrinei, o Felipe teve tempo de arranjar outra esposa, linda e atenciosa com o meu filho. Eu admito que ela é melhor do que eu. Ela é bonita por dentro e por fora. Não é fútil como eu sou. Ela tem dom com crianças, é afetuosa. Eu sei que o Augusto merecia coisa melhor. Na certa eu iria deixá-lo por aí pra ficar nas academias, cuidando do corpo e mais nada. Vaidade demais pra quê?

No fim tudo se acaba não é? As pessoas aqui têm me dito que o ideal é ter moderação. Cuidar do corpo com o ideal de ter saúde e bem estar. Dedicar o tempo para fazer coisas boas para nós e para todos os que convivem com a gente. Aproveitar o tempo de encarnado para evoluir e ajudar na evolução dos outros, mas eu não fiz nada.

Mereci mesmo retornar com esta aparência de acabada. Bem feito pra mim. Agora é mudar a consciência, voltar a ter um aspecto melhorzinho para retornar feia e tocar pra frente. Vê se pode? Que Deus tenha piedade de mim.
STEPHANY
01/07/2017



Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“AS PESSOAS DEVEM SER FIRMES PARA ESCOLHER E SER FIRMES PARA ADMITIR QUE ESCOLHERAM”

A vida foi se desenrolando e não deu tempo de parar para pensar se era aquilo mesmo o que eu queria. A carreira de modelo começa muito cedo. Eu era tão jovem quando uma pessoa importante me viu com minha mãe e me entregou o seu cartão. Nós éramos de classe média. Minha mãe tinha tempo para me levar para os ensaios fotográficos e ficou deslumbrada com toda aquela quantia de cachês.

Uma menina tão linda merece o suficiente – dizia meu agente. Era estranha a forma como ele me olhava. Logo apareceu a primeira viagem para o exterior e eu tive um pouco de receio porque minha mãe não poderia ir, mas assinou todos os papéis para que ele me acompanhasse e fosse responsável por mim. Eu gostava dele, era carinhoso e belo, mas não precisava ter sido daquela maneira. Eu era uma menina e sonhava com coisas românticas. Ele foi só o primeiro de uma lista de homens importantes que vieram até o meu quarto em quatro anos.

Depois do primeiro relacionamento vieram as drogas e eu me perdi de mim, de todas as possibilidades que poderiam me elevar. Foi muito triste porque eu tinha sonhos e eles não se assemelhavam à minha história de vida. Me perguntei tantas vezes por que vivia aquilo. Se existia um Deus, por que eu não era vista por Ele? Que vida imunda eu pensava e não entendia por que a beleza acabava comigo.

Eu decidi abandonar tudo e voltar pra casa. Minha mãe não aceitou porque dizia que eu só servia para sorrir nas fotos. Era tão burra que não percebia o que estava perdendo e eu fui dura dizendo a ela no que havia me envolvido. Minha mãe chorou e eu fui embora. Cortei os cabelos e tentei me esconder numa postura de gente feia e desleixada.

Parecia que a beleza me culpava de um sei lá o quê.

Demorou até perceber que nós podemos escolher o caminho. As pessoas devem ser firmes para escolher e ser firmes para admitir que escolheram. Não culpar ninguém pelas escolhas levianas é maturidade. Depois de onze anos eu soube que meu pai estava doente e voltei. Estava gorda e numa aparência bem diferente. Minha mãe nem me reconheceu. Eu pedi perdão, mas no fundo não produzi nada de útil nesta jornada e eu me envergonho disso. Pensar que a aparência pode auxiliar muito, mas deve haver consciência para o trabalho edificante.

Dar a cara para bater, se mostrar e falar alto sobre coisas que as outras não enxergam, exige sabedoria e bom senso.

Eu poderia ter chamado a atenção para uma série de coisas que estão erradas, mas podem se tornar certas se todos se unirem. Quando a multidão crê na bondade tudo se transforma. As pessoas se unem para o bem geral e isso eu quero fazer. Acho que sou capaz de fazer alguma coisa para ajudar os outros. Estou me tratando e em pouco tempo receberei nova chance de trabalhar na carne. Desta vez eu vou conseguir.
SALETE
09/07/2017

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“VIVER A VIDA COM A CABEÇA NO LUGAR” “CONSCIENTE QUE TUDO SÓ ACONTECE PORQUE A GENTE PERMITE”

Não é porque a maioria das pessoas não enxergam que devemos considerar que não existe. Em toda parte os defensores do bem. Espíritos que se esforçam para proteger, para encaminhar e induzir ao bem. São tantos que poderiam lhes dar fôlego novo.

O pior cego é aquele que não quer ver.

Tantos sensitivos que tentam anular suas intuições porque temem o mal e, na verdade, se privam de entrar em contato com seres que trabalham com afinco para o bem da humanidade. Melhor seria considerar que poderiam se aliar trabalhando como intermediários na propagação da palavra.
Existem por toda parte e, por isso, afirmam que ninguém está sozinho ou desprovido de socorro.


Deus é misericordioso. Nunca me esquecerei da imagem dos cinco guerreiros que se aproximavam de mim no umbral. Eram criaturas lindas. Se assemelhavam a guerreiros por causa das suas vestes, mas Espíritos como nós, resplendecendo na paisagem tristonha do umbral.

Caminhavam de passos firmes, carregavam lanternas e alguns de mãos estendidas irradiavam luz. Eu me encolhi, fiquei assustada e temi que, de alguma forma, pudessem me ofender ou me maltratar, mas quando chegaram perto eu senti irradiar o amor e a compaixão.

O frio cessou, a dor passou e eu chorei. Não conseguia andar e o mais jovem deles me pegou no colo, como quem pega uma criança. Me senti em paz e protegida, adormeci. Nunca vou esquecer doutor. O meu resgate foi lindo.

Se as pessoas soubessem que nada devem temer... Se tudo o que passei foi necessário para ter aquele socorro, para sentir aquele amor. Valeu! Nunca na vida tinha visto um anjo e naquele dia, vi cinco. Viver a vida com a cabeça no lugar. Consciente que tudo só acontece porque a gente permite. Não tem castigo não. Tem colheita. Só que Deus abranda tudo por amor. Não temer porque o céu é lindo! IVONE
09/07/17

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“PRECONCEITO NÃO TEM RELIGIÃO, COR E NEM NAÇÃO”

Era uma labuta desgraçada. Tanto trabalho de dia e de noite que doía o corpo todo. Eu tentava não reclamar, mas aquela vida não era pra mim. Tentava ser grato a Deus porque sabia do livro sagrado. Eu estudei, era pobre, mas conheci a verdade e tentei me salvar. Vou te falar que não adianta com hipocrisia.

A gente sabe que não deve sentir, mas sente. Eu achava injustiça em todos os lados. As pessoas são muito mal educadas e desrespeitosas com os pobres. A pessoa tá trabalhando e porque tá com a roupa suja é mal tratada.

Por que ficar menosprezando?
Ou, então, pobre que olha pro outro pobre e não quer servir.

Então, não pode nem comer?
Entrar na loja pra comprar uma roupa e ser observado dos pés à cabeça, mas o dinheiro não é o mesmo pro pobre e pro rico. Eu sempre fui honesto.

Não suportava aquilo tudo. Dava vontade de bater doutor. Eu nunca fiz, mas era revoltado. Acho que a revolta é como crime pro Senhor porque Ele sabe que a gente não é grato e não olha pro outro como pra um irmão. É delito também. Eu não controlava este lado. Não tem jeito porque pobre tem cara e jeito de pobre. Nem dá pra esconder.

É uma sina ou martírio. E eu tive que chegar deste lado pra assistir um rico se aproveitando do seu poder pra fazer todo tipo de bobagens e comprometer muita gente. Aí meu protetor olha pra mim e diz que o rico fui eu. Que horror! Eu que tive ódio de gente assim, fui assim mesmo em outra vida.

É tudo perfeito. Só sentindo na pele mesmo. Entendi. Tem que sentir. Agora tô tentando assimilar tudo isso pra entender o que eu acho das coisas. Não se pode julgar e nem generalizar. Existe rico cruel e pobre também. Preconceito não tem religião, cor e nem nação. Aos poucos, as coisas vão fazer sentido pra mim. E eu vou aproveitar o que aconteceu pra ser alguém melhor. Obrigado.
MANUEL
09/07/17

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Eu sinto falta do aroma de café. Acordava todas as manhãs com aquele cheirinho que indicava que alguém muito querido estava cuidando de mim. Que mulher!

Deus permite que as pessoas que realmente se amam fiquem se encontrando de tempos em tempos, dependendo da necessidade e das rotas dos planos de reencarnação. As pessoas que se amam se atraem.

Não importa o tempo que temos para desfrutar daquele que amamos porque o tempo parece sofrer uma modificação quântica do lado destas pessoas. Ele voa, mas é suficiente para deixar marcar eternas. Eu já sou grato por isso. Imensamente agradecido.

Quando nos vimos pela primeira vez eu senti que a conhecia a vida toda e apenas quando cheguei aqui, depois do acidente, consegui rever cenas de um passado longínquo que afirmaram que você sempre esteve comigo. Em tantas circunstâncias, mas sempre especial. Em uma delas eu nutria, muito jovenzinho, um afeto inestimável por minha professora e não me esquecia dos olhos azuis, cometia pequenos erros gramaticais para que pudesse me corrigir, já era você.

Em outra, uma avó tão afetuosa que me segurava nos braços e enchia de carinhos meigos. Como doeu sua partida. O afastamento sempre dói porque a incerteza nos faz temer. A insegurança de nunca mais ter os abraços ou os sorrisos. O contato daquele que amamos supre qualquer necessidade moral, sentimental, mas deve ter fé. Nós já nos atraímos tantas vezes. Isso não finda até que estejamos prontos para avançar mais. Sempre nos reencontraremos minha doce Cristina. Sempre existirão possibilidades para nós até que estejamos prontos para avançar.

Até que tenhamos compreendido na carne que só o bem e o amor nos depura. Assim que soubermos ser bons para outras pessoas, para todos do fundo do coração, poderemos ser encaminhados para outra esfera que nos possibilitará estarmos ligados para sempre.

Espíritos afins que espalham o amor. Estes Espíritos afins que tem propósitos edificantes e agem juntos, nunca se abandonam, recebem a permissão de estarem ligados. Nós conseguiremos. Creia que é possível. E eu irei te reencontrar criatura amada.

Portanto, não sofra o meu desenlace porque estou bem, apenas com imensa saudade que dói. Ore por nós. Te amo.
LÚCIO
09/07/17
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Eu vou admitir minha ignorância porque ainda não consegui compreender o porquê devemos sofrer tanto. As pessoas aqui me falam que são consequências dos nossos atos, mas eu não aceito esta resposta. Fazer uma pessoa ser retirada do convívio familiar onde ela estava bem. Onde ela estava cuidando dos filhos e amava o marido. Não me parece justiça. Eu não fiz mal pra ninguém.

Do ponto de vista social não havia o que temer ao meu lado. Caridade até fiz dentro de minhas possibilidades financeiras. Eu visitei os doentes e cuidei dos meus pais quando precisaram de mim. O que eu fiz pra merecer uma morte tão estranha? Aí olham pra mim e me chamam de revoltada. E eu vou fingir pra quê? Pra quem? Se aqui todo mundo sabe de todo mundo? Lê mentes. Eu não tenho como esconder e nem ser simpática porque eu irradio meus sentimentos. Não tá fácil pra mim.

Eu queria ter a minha vida de volta e nem quero chegar perto destes vídeos que vão mostrar que em outras existências eu feri alguém porque todo mundo já sabe que não tem ninguém perfeito na Terra mesmo. Ainda tô achando injusto doutor. Minhas crianças pequenas e o que será feito delas? Eu tava tentando ser boa. Cuidava da família e amava todos eles. Eu não merecia estar aqui.

-Preferia estar em outro local. Talvez não tão amistoso? Onde não tivesse como se alimentar, onde não conseguisse saciar suas necessidades. Onde estivesse sentindo os reflexos da doença, talvez?

Não seja sarcástico. Todos nós sabemos que é melhor para todos estar aqui. Eu não me queixo do local e nem da forma como estou sendo tratada. Eu só queria estar em casa. A aceitação é difícil. Eu não sei fingir. Não aqui. Acho que vai levar tempo.
IVETE
09/07/17     

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“QUEM TEM FORÇA DE VONTADE DÁ A VOLTA POR CIMA”
        
Quem tem amigo, tem tudo. Incrível ver como as pessoas têm carência de afetos. Eu compreendo porque, realmente, as pessoas que nos apoiam e nos incentivam fazem falta. Impossível esquecer toda dedicação que recebi naquela ocasião. Mafalda levava uma vida tão sofrida e ainda conseguiu encontrar motivos para me auxiliar. Meu esposo havia me abandonado com cinco crianças e eu achei que a vida tinha acabado pra mim. Eu o amava tanto que me surpreendi quando achei os armários vazios. Não queria acreditar. Olhei pros meninos pequenos e as panelas vazias. Chorei.

Nem sabia como poderia me virar sem ele, com todos precisando de mim. Fui até a casa dela, engoli meu orgulho porque estávamos com fome. Eu não sabia o que fazer. Pedi pão ou qualquer coisa que pudesse matar a fome dos meus filhos. Mãe que tem dignidade não se envergonha de pedir, engole o orgulho pra colocar comida na mesa. Ela me pediu pra entrar e o feijão estava quente, cheiroso, fresquinho. Todo mundo correu pra cozinha, eu tava com vergonha, mas eram crianças... Mafalda foi um anjo que me ajudou naquele dia e em outros. Nunca vou esquecer. Tem gente que pensa que a gente não tem vergonha e que não se ergue. Que nada! Quem tem força de vontade dá a volta por cima.

Deus ampara e coloca as pessoas certas no caminho da gente. Fui pegando faxina e quando vi tava vendendo verdura. Deu tão certo que logo tava com minha quitanda. A Mafalda sempre do meu lado. Sempre incentivando, secava as lágrimas e empurrava dando a força, a coragem. Ô amiga!

Todo mundo merece ter amigo sincero pra conhecer amor de irmão. Agradeço a Deus por ter tido este prazer de conhecer a Mafalda num momento de desgosto. Depois, quando cheguei aqui tive uma grande surpresa de encontrar a Mafalda linda, jovem. E não é que foi um reencontro? Já fomos tanta coisa. Mãe, filha, neta, casal. Ô amor intenso este nosso. Sempre se esbarrando e uma ajudando a outra. Agradecendo tanto a espiritualidade de fazer a gente se aproximar de quem a gente ama. Carinhosamente.
SÔNIA
15/07/2017

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“O AMOR NÃO FAZ NINGUÉM SOFRER”
“O AMOR IMPULSIONA E TRAZ FELICIDADE”

Eu amei aquele homem no primeiro instante. Nunca imaginei que seria tanta decepção, meu Deus. Casei e só tive olhares pra ele. Nunca fui mulher de dar confiança pra ninguém, mas ele implicava com tudo. Roupa tava sempre curta, não podia usar batom, nem esmalte. E eu adorava esmalte. Achava lindas as unhas das vizinhas pintadas, mas não podia.

Aí um dia encontrei uma delas na farmácia e ganhei um esmalte. Passei, quis ver como ficava. Não tinha maldade nenhuma. Pra quê? Quando o sujeito chegou em casa e viu a unha foi um golpe só. Eu rodopiei e caí sangrando. Ele falou que se eu não tirasse, quem ia tirar seria ele. Eu tirei chorando. Fiquei com vergonha de sair na rua com o rosto marcado e me escondi por alguns dias. Depois daquilo eu vivi com medo. Medo do marido. Pode?

Vida de cão. Sofri demais com aquele homem. Chegou um momento que era nojo. Não aguentava nem olhar pra cara dele. Pedia pra Deus mostrar um caminho pra eu sair daquela vida, mas parecia que só tinha isso pra mim. Tem muita mulher que sofre desse jeito. Eu me acalmava quando orava e ia levando. Até que um dia o desgramado caiu doente. Doente mesmo. De um jeito que nem andava mais.
Que vontade de maltratar. Nem te falo dos sentimentos negativos que brotaram do meu peito.

Eu sabia que era errado, mas que jeito ruim de viver, você deseja o mal e pede perdão porque sabe que é errado. Confusão mental, dor de cabeça. Eu não revidei. Em pensar que aquela mão aleijada tantas vezes me esmurrou. Eu não recaí. Cuidei dele até o fim. Alimentei, limpei e ainda dei afeto. Duvidei que fosse capaz, mas fiz o meu melhor. Orando pra Deus tirar os maus pensamentos da minha cabeça e consegui. Quem pensa que a pessoa não sabe raciocinar sobre o mal que faz se engana. Todo mundo tem consciência viu?

O pior de nós sabe quando erra. Naquele dia, ele tava ruinzinho. Falava tão fraquinho e conseguiu me chamar pra perto dele. Eu pedi pra ele se acalmar e ele me pediu perdão. Falou pra mim que eu fui a melhor mulher que ele poderia ter tido na vida. Me pediu perdão chorando. Sabendo que tinha me maltratado e dizendo que não sabia o porquê. Ele me amava, sempre me amou do jeito errado porque era com ciúme, posse. Eu também gostava dele, mas me senti humilhada e com medo das surras. Não queria sofrer. Ele desencarnou naquele dia.

Ainda bem que deu tempo de se entender. A gente se reencontrou depois de muito tempo porque nós sofremos um pouco longe daqui, mas o importante é que percebemos que aquilo estava longe de ser amor. O amor não faz ninguém sofrer. O amor impulsiona e traz felicidade. A gente se entendeu e combinou de retornar como irmãos. Pra ver se brota o sentimento verdadeiro. Em outros tempos houve traição, mas isso não justificou os golpes que levei. Paguei o mal com o bem e ainda assim sofri. Só Deus pra saber o que é melhor pra nós.
SIMONE
15/07/2017
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“A GENTE VIVE DESREGRADO SEM SABER O QUANTO A SAÚDE É IMPORTANTE”

É engraçado como as pessoas só percebem o quanto vale o corpo com saúde quando está doente. Eu jogava bola todo fim de semana com meus amigos. Gostava de beber, caia na gandaia, mas nunca fiz mal pra ninguém.

Trabalhava, cuidava da minha família. Tinha esposa e filhos. Mas, um dia comecei a sentir tanta dor nas pernas que parecia que ia morrer. Fiquei desesperado e procurei um médico. A coisa se arrastou, mas rapidamente me dei conta de que sofria de diabetes. Eu não queria aceitar que estava doente e que deveria mudar minha forma de viver.

Tomar medicação, mudar hábitos alimentares. Eu não queria mudar, então, perdi minha perna. Entrei andando e quando saí estava na cadeira de rodas. Não sei explicar o que senti naquele momento. Era como se tivesse morrido um pouco porque parecia que eu não sabia fazer nada daquele jeito.

Me explicaram que tinham que amputar e eu não podia fazer nada, mas quando acordei e não senti a perna foi um desespero. Na minha cama eu não acreditava e cai chorando. Dei muito trabalho pros meus familiares e vivi assim por alguns anos. A vida nunca mais foi igual. Eu me tornei um homem triste e irritadiço. Morri de um sei lá o quê. Nunca quis tomar remédio direito, fui tão abusado e medíocre. Eu sei disso. Vaguei pulando igual saci. Numa perna só. Sabia da minha delinquência em relação aos cuidados com meu próprio corpo e aqui estou eu, fazendo tratamento pra me conscientizar de que o corpo espiritual é saudável. Por que a minha perna não volta a ser o que era antes da amputação?

Eu me perguntava sempre, assim que cheguei aqui. O doutor teve tanta paciência e me explicou que nós somos o que cremos ser. Eu ainda acho que sou doente e, por isso, a perna não volta. Vou ter que reencarnar e sei que o corpo físico terá comprometimentos pra que eu possa melhorar um pouco. Terei algumas facilidades promovidas pelos recursos atuais. Possibilidades científicas e robóticas. Quanto avanço! Na família que está prevista pra mim é possível que eu consiga reabilitar e quando retornar ficará mais fácil reaver minha estrutura normal. Que Deus seja louvado.
CAMARGO
15/07/2017
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“VIVAM COM A CONSCIÊNCIA TRANQUILA” “A GENTE SÓ LEVA DA VIDA AQUILO QUE FORNECEU PARA OS OUTROS

Aquela visita foi um choque pra mim. Existem tantas histórias mal resolvidas. Tem gente que não sabe pra que serve tudo isso. Como se a gente conseguisse fazer tudo enquanto está encarnado. Imagina. Eu nem tinha tempo pra conversar com minha família. Enquanto provedor da minha casa, eu dava graças a Deus quando chegava em casa com uns trocados e ia tomar um traguinho no bar. Pra esfriar a cabeça jogava um bilharzinho e trocava uma ideia com meus camaradas. Não tinha ninguém ali que não era trabalhador. Tudo gente decente, a gente engolia cada sapo no trabalho que não dava pra dormir com a cabeça cheia.

Eu era caminhoneiro e trabalhei duro pra sustentar minha família. Cheguei em casa e ali no meu sofá tinha um rapaz sentado querendo falar comigo. Falar o que? Eu pensei. A estas horas, o que ele quer? Quem seria ele? Era filho dela. Depois de vinte anos ela me falava que aquele menino era filho dela com outro. Como assim? Eu senti tudo rodar. Estava descobrindo que minha mulher tinha me traído e tinha um filho com outro homem. Foi uma dor tão forte no meu peito que me atirou no chão e aí acabou pra mim. Mas peraí, se fosse fácil acabar tava bom. Eu saí do meu corpo e vi a mulher chorando no meu peito de morto. Logo em seguida, ela me arrumando ou melhor, arrumando meu corpo de morto. Depois vi o moço abraçando meus filhos e minha mulher traíra.  E o corpo foi enterrado e eu continuei ali na minha antiga casa ouvindo todas as conversas, vendo tudo, participando de tudo sem querer porque me dava raiva saber que eles não me ouviam.

É ruim, muito ruim fazer parte de uma cena que só você vê. Eu não aguentava mais aquela situação. Só podia ir onde ela fosse e eu com raiva dela. Sentei na minha antiga cama e pedi pra Deus me ajudar. Aquilo não era vida, era loucura. Que se fosse pra morrer, morresse de vez. Se fosse pra viver, nem dava, sem corpo? Tinha que morrer, mas como?

Pedi pra Deus qualquer coisa pra eu ter paz. Pra todo mundo ter paz. Pra minha família ter paz também porque eles estavam sofrendo como eu e depois de cinco anos vendo a mulher chorar com remorso eu já nem culpava mais a pobre. Todo mundo erra. Eu gostava da danada. Tinha traído, mas homem trai sem sentir, mulher ama. Era o que eu achava, mas ela gostava muito de mim. Sentiu minha morte. Eu recebi socorro quando aceitei que ela era o meu amor.

As pessoas chegaram e, apesar do medo, eu ouvi e entendi que eles estavam pra me levar. Eles me trouxeram pra cá. Hoje só o que eu desejo é que eles saibam que eu não guardo mágoas. Sinto muito por tudo o que aconteceu. Eu não tenho o que desculpar porque ninguém teve culpa, foi o coração véio que não suportou as verdades. Vivam com a consciência tranquila. A gente só leva da vida aquilo que forneceu para os outros. Eu que me arrependo de tudo o que fiz, mas minha família foi presente de Deus. Obrigado.
ENOC
15/07/2017


Foto cedida por Magno Herrera Fotografias


“NENHUMA PALAVRA SE PERDERÁ NO ANONIMATO”

Estávamos felizes porque aquela viagem era um sonho. Meu marido trabalhava tanto e eu cuidava dos meninos. Dois rapazes lindos e muito especiais que nunca nos deram o menor trabalho. Era a família perfeita. Quando o Sebastião me falou da viagem fiquei animada e nem questionei o horário porque meu marido dirigia bem. Nunca bebeu e era muito prudente. Arrumei todas as nossas coisas e olhei para casa com um saudosismo estranho. Era como se eu soubesse que não voltaria mais.

Olhei minhas plantinhas e o nosso cão que sempre fora tão amigo. Me preocupei com ele e pedi para vizinha alimentá-lo até que eu retornasse. Olhei para cada ambiente onde eu passara aproximadamente quinze anos e sorri. Estava agradecida pela vida que tive naquele lar harmonioso. Procurei me deter na arrumação das malas e fiquei fascinada por meu Tião que cantarolava. Meu Deus! Eu realmente estava me despedindo daquela vida.

Já estive a pensar que as pessoas sabem intuitivamente quando irão fazer a passagem. Será? Acho que pressenti. Observava tudo, mas foi uma vida tão boa que não tinha arrependimentos, frustrações ou medo. Eu simplesmente vivi. Fomos felizes e apenas sentimos um forte impacto quando um motorista de caminhão ultrapassou a faixa. Foi um segundo. Eu só pensei: “Deus nos ampare!”.

Depois foi como se estivesse flutuando, ouvi algumas vozes e senti um pouco de frio. Tive poucas lembranças, mas foi como sonhar com momentos especiais. E aí eu acordei com um barulho tão forte. Som alto mesmo que doía minha cabeça. Eu sei que meu instrutor falava calmamente, ele é tão tranquilo, mas parecia gritar. Levou cinco dias pra acostumar com a audição ultrasensível que tenho aqui. Quando readquiri minhas lembranças e tive a real noção de onde estava, chorei e me desesperei para saber onde estavam os meus. O que teria acontecido com eles era só o que me importava. Estranho como nesta hora não somos tão egoístas. Pensamos nos afetos. Eu pensei e descobri que estavam todos bem perto de mim. Quanta satisfação!

Meu esposo estava no quarto ao lado e meus filhos foram para um educandário bem pertinho. Logo foi possível o nosso reencontro para elucidar o que vivemos e também para nos prepararmos para nossa continuidade. Participamos de um grupo de terrorista e tivemos que nos reencontrar na mesma família, aprendermos através do amor a sermos pessoas melhores. Vivemos tanto bem querer que a nossa pena foi abrandada, mas mesmo assim, tivemos que enfrentar este desencarne em grupo para resgatar. Eu agradeço tudo o que ocorreu porque nem mesmo sofremos dores ou sensações de desprazer. Deus teve misericórdia de nós e sei que Ele nos ama muitíssimo. Meus filhos já estão reencarnados, eu e Sebastião trabalhamos na colônia há muitos anos em tarefas simples, porém muito prazerosas.

Retornaremos, mas sei que tudo será para nosso bem porque Deus só quer o nosso bem.
LIANA
22/07/17

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TODOS OS ATOS DE IMPRUDÊNCIA PODEM TRAZER UMA COLHEITA BEM  DESAGRADÁVEL”

Eu fui jovem e como todo jovem queria viver o momento. Queria me divertir. Nunca quis fazer mal para ninguém e aproveitei a oportunidade de uma vida confortável para curtir. Nos primeiros anos da adolescência descobri no sexo uma agradável sensação e acho que isso virou um vício pra mim.

Sexo promíscuo sem nenhum compromisso que me rendeu uma doença gravíssima. Na época sem cura, sem solução. Eu definhei, mas demorou tanto pra perceber que estava doente. Demorou tanto que enquanto achava que estava esbanjando saúde, eu estava era espalhando minha doença por aí. Nem faço ideia de quantas pessoas contaminei com minha doença sexualmente transmissível.

Veja que eu não tinha conhecimento disso e, por isso, por muito tempo me achei vítima da situação. Foi só quando cheguei aqui e depois de longo tempo de terapia que consegui compreender que todos os atos de imprudência podem trazer uma colheita bem desagradável. Percebi que meu corpo não era o mesmo e minha aparência causava desconforto aos familiares que se perguntavam o que havia comigo.

Quando procurei um médico diagnosticaram o que eu tinha: AIDS. Que triste! Fui descartado por onde passava. As pessoas me discriminavam porque morriam de medo de serem contaminadas. O pior foi me privar do sexo. Eu adorava. Quando desencarnei estava tão revoltado. Fui direto para a região umbralina e lá me aliciei com várias entidades que estavam ensandecidas como eu. Não tenho permissão para revelar os pormenores do que fazíamos lá, mas saibam que foi o pior momento sexual de todos. Vim pra cá porque Deus me ama.

Fui socorrido depois de tanto ser molestado. Sofri abusos cruéis e sei que foi menos do que eu merecia. Me desculpem a franqueza. Eu ainda faço tratamento por tempo indeterminado porque não consigo esquecer. Certo seria reencarnar, mas tenho medo do que poderia resgatar na carne. Em breve regressarei. Orem por mim.
LUÍS ANTÔNIO
22/07/17

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“NÃO FAZER DE QUALQUER JEITO, MAS FAZER O SEU MELHOR SEMPRE”

Foi uma linda missão. Tive o prazer de estudar e me formei para cuidar das pessoas. Como enfermeira eu desempenhava os cuidados dos meus semelhantes e eu amava a minha vida. Dediquei todos os meus dias para cuidar dos meus irmãos e agradeço tanto. Me lembro de alguns momentos que acredito ser oportuno mensurar.

Enquanto estudante, analisávamos os despojos de outras pessoas e muitas vezes sei que os estudantes não tratam com o devido respeito os corpos que nos permitem aprender de fato, mas se vocês soubessem que muitas vezes as pessoas que os habitaram estão perto, não fariam gracinhas. Eu nunca havia parado para pensar nisso enquanto estudava, só aqui. Depois trabalhei tanto tempo com os bebês e presenciei muitos casos onde as mães abandonavam recém-nascidos. É cruel e desumano.

Eu nunca tive a oportunidade de ser mãe, sei que por razões ligadas a erros do passado, mas como eu os desejei nesta existência e nunca os tive. As mulheres têm nove meses para se afeiçoar a um ser que cresce no seu ventre, não consigo entender por que muitas não sentem nada. Só me comovia ver o rostinho deles, tão frágeis, entregues a própria sorte.
Nem sei. O desejo era levá-los para casa, mas eles iam para adoção.

Trabalhei muitos anos doando um pouco de amor para os filhos dos outros e quando percebi estava trabalhando com os idosos que eram mantidos em casas de repouso. Por que é que as pessoas abandonam aqueles que têm fortes ligações com eles? Nunca entendi. É como se fossem descartáveis. Um horror! Não pensem que é tudo ruim no asilo porque muitas vezes quem cuida e nem tem laço de sangue, se afeiçoa e doa amor, doa carinho enquanto o parente que deveria cuidar larga e vai embora sem olhar para trás. Inversão de valores.

Pessoas que não permitem um arranhão no carro e abandonam familiares por aí. Falar o quê? Eu tive uma vida maravilhosa. Por onde andei encontrei pessoas que não sorriram de pronto, mas me viram, me sentiram e trocaram amor comigo nos olhares, nos gestos. A minha profissão é a melhor do mundo pra mim porque temos a obrigação de cuidar, mas o amor não estava no pacote e vem se a gente sabe aproveitar da situação para doar um pouco mais.

Não fazer de qualquer jeito, mas fazer o seu melhor sempre. Isso é bem importante. Agradeço a Deus.
CLÉO
22/07/17
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“TUDO NASCE DO EGOÍSMO, PORQUE EXISTEM PESSOAS QUE ACHAM QUE O MUNDO GIRA EM TORNO DO UMBIGO DELAS”

Cozinhar é uma arte. Eu preparei tudo do início até o fim. A horta e o jantar. Tudo com capricho, com zelo. Morava num local para os militares. Eu cozinhava para as tropas e todos apreciavam minhas receitas. Um local bem apropriado porque eu sempre fui disciplinada, era um prazer fazer o que eu gostava e ainda poder sustentar minha família com este trabalho. Meu marido era mecânico e estávamos bem vivendo ali.

Até o dia em que ele apareceu no local. Eu nunca traí meu esposo e nem mesmo pensei em fazer isso. Vivia para minha família e para o meu trabalho. Tudo nasce do egoísmo porque existem pessoas que acham que o mundo gira em torno do umbigo delas. Pessoas que estão acostumadas a ter tudo o que desejam e tratam as outras pessoas como moeda de troca, como objeto. Competição, valorização do ego. Tudo hipocrisia. O homem começou a me perseguir.

Eu não queria falar nada para o Leonel porque meu marido nunca permitiria um abuso destes e eu não queria que isso atrapalhasse a nossa vida. Eu achei que se eu não desse confiança ele iria parar, mas não. O homem insistia descaradamente e um dia tentou me pegar à força. Não consigo descrever o que senti. Uma mistura de indignação, nojo, repulsa. Homem que trata mulher como animal. Eu bati, tentei correr, achei a arma dele e não pensei, atirei.

Foi um grito só. Ele caiu e eu tentei fugir, mas os outros chegaram rápido. Apesar de minhas alegações o que sobrou foi a prisão. Ele era condecorado e foi um choque para todos o trágico fim. Meu esposo nunca me visitou, separou meus filhos de mim. Eu sofri com o abandono e também por causa do Espírito que me jurava vingança. Será que ele não percebia que acabou com minha vida?

Viver aproveitando todos os bons momentos é o meu conselho. Saber valorizar o que é realmente importante. Abrir os olhos. Enquanto estive presa pensei por que não recebia visitas. Se eles se esqueceram de mim, se tinham vergonha, se não queriam se expor, sofreram tanto quanto eu? Foram muitos porquês, sem respostas. Eu senti tanto.

O culpado também sente saudade. Sente solidão. Eu pedi tanto perdão a Deus e sabia que deveria aguentar com resignação que quando desencarnei de pneumonia recebi o socorro imediato. Soube que meu marido nunca deixou meus filhos me visitarem e os outros familiares após algum tempo se esqueceram de mim. Eu era tida como a coisa ruim que ninguém queria na família, eu era o motivo de escândalo. Eu entendo tudo, entendo todos, mas atire a primeira pedra... SILVANA
22/07/17







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