Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“ACREDITO QUE FOI MINHA MISSÃO”
Há tanto
o que dizer. Agradecimentos inúmeros a todos aqueles que rezaram por mim. Eu
desejei ficar. Eu quis permanecer entre os meus. Como eu os amo... Quando
percebi que a viga caiu sobre mim, revi meus últimos momentos na carne e pensei
o quanto era feliz desempenhando meu trabalho. Tudo o que desejei durante toda
minha infância era me tornar um bombeiro e depois de tanto esforço, eu consegui.
Eu vibrei de tanto contentamento por ter conseguido. Trabalhei por dez anos com
muita alegria e tudo o que parece sofrimento para alguns, para mim era um
compromisso, uma obrigação.
Eu
fazia com êxtase e sempre fui agradecido por isso. Acredito que foi minha
missão, meu plano de vida e eu o desempenhei com imensa felicidade. Não tenho
do que me queixar porque, além de tudo, foram colocados em meu caminho seres
maravilhosos que me fizeram sorrir. Meus pais, meus irmãos, minha esposa e
filhos. Eu os amo. Pessoas radiantes que me trouxeram a paz. Sei que eles estão
entristecidos pelo ocorrido, mas eu não.
Sou
grato, imensamente grato por tudo. Vida perfeita que tive. É claro que todos
querem mais tempo, eu também queria, mas sei perceber que o tempo foi justo
para vivenciarmos o que era importante e seguir em frente. Não se prendam por
mim, vivam! Sigam a trajetória. Se surpreendam. Como é bom o plano de Deus para
nós. Eu sei que todos têm compromissos, eu tive. Sou feliz e sou grato por
todos.
Luís
Augusto
07/01/18
-----------------Paula
Alves------------------
“ESPOSA
CHORA QUANDO SE VÊ TRAÍDA”
Eu
me envolvi com um homem casado e aí foi todo o meu calvário. Não procurei, não
era promíscua e nem pretendia que ele a agredisse. Nunca desejei causar o mal,
mas foi o que fiz. Relembrando tudo o que aconteceu, eu desejaria nunca tê-lo
conhecido. Eu me apaixonei por uma imagem de homem perfeito. Um homem elegante
e educado que estava trabalhando numa conferência. Eu me aproximei dele porque
também estava trabalhando naquele dia e ele foi tão gentil. Trocamos olhares e
quando dei por mim já estava envolvida. Ninguém pergunta se o cara é casado,
ainda mais quando ele não usa aliança.
Eu
confiei e fui saindo. Imaginei que ele tivesse um trabalho muito rigoroso e,
por isso, não tinha muito tempo livre. Que nada! Ele tinha família, uma menininha
de quatro anos. Demorou pra eu perceber e foi da pior forma. Eu o vi passeando
com toda a família, risonho, descontraído. Uma esposa linda, tudo perfeito
demais pra mim. Ele me viu e fingiu que não me conhecia.
Esposa
chora quando se vê traída, mas não percebe que amante não tem vez. Difícil
perder pra esposa. Esposa tem tudo, tem contrato, tem lembranças, tem filhos e
tem amor. Por mais que haja traição, elas têm muito mais. Eu não quis mais vê-lo.
Ele me procurou, mas eu não quis participar disso porque mulher é tudo igual.
Mulher quer ser amada, quer ter respeito e cordialidade, mulher quer ter
família estável, eu queria e se isso não podia ser com ele, então, seria com
outro, solteiro, disponível.
Enterrei
este amor dentro de mim e aguardei até que outro aparecesse. Ninguém morre de
amor – eu pensava. No meu caso foi mesmo porque depois de dois anos encontrei
um homem que se tornou meu esposo. Vivemos quarenta anos um casamento
maravilhoso, sólido e com um afeto indescritível. Eu ainda lembro muito bem dos
sentimentos que me ligaram ao homem casado e compreendo o porquê precisei
passar por isso. Depois que as lembranças voltaram, eu vi uma existência onde
fui traída por meu marido e castiguei a amante. Eu vivi atormentada por muito
tempo e precisei passar por esta escolha nesta existência. Estou satisfeita por
ter renunciado o desejo do corpo por minhas bases morais. Fiz o correto.
Acredito que se todos nós pensássemos em fazer sempre o que deve ser feito
ninguém seria magoado. Todos seriam mais felizes porque eu não posso fazer para
o outro o que eu não quero que seja feito pra mim. Agradecida pelo espaço.
SOLANGE
07/01/18
-----------------------------Paula
Alves-------------------------------
“ERA
A ESPERANÇA QUE NOS MOVIA, ESPERANÇA, FOME E GARGANTA SECA”
Minhas
botas já estavam tão surradas e eu andava aflito buscando um pouco de água.
Existem bens extremamente preciosos na Terra. Bens que as pessoas usufruem e
que nem se dão conta do quanto são importantes. A gente só percebe quando
falta. Era uma seca desgraçada, não tinha nada não. Água pra ninguém. A ideia
que em outra parte era melhor parecia uma miragem, tinha medo e insegurança,
mas era melhor morrer tentando do que ficar parado naquela seca da peste.
Era
a esperança que nos movia, esperança, fome e garganta seca. Peguei as crianças
e a Maria foi reclamando o caminho todo. Ela não queria ir. Em parte, ela estava
certa porque a gente tinha nossa terra, nossa casa e tinha uns parentes por
ali, mas em outro lugar só tinha o querer. Ela falava de ilusão e de ganância.
Mas,
era ganância eu não querer morrer de sede e de fome? Era ganância eu querer
viver com dignidade? Isso tudo eu perguntava pra Maria e ela me falava que a
gente era tudo um bando de ignorante, desajeitado. Falava que Deus colocou a
gente pra viver ali e tinha que aguentar, que era a vontade Dele. Eu respeito o
que Deus quer pra todo mundo, mas achava que a gente tinha que tentar porque o
mundo de Deus é grande demais pra eu ficar conformado com aquilo, com nada.
Pegamos uns panos e partimos. Eu andei demais com aquelas botas surradas e a
Maria reclamando. A gente foi pedindo carona e chegou em São Paulo sem ter nada
nas mãos, só uns e outros pra ficar arrastando. Virar pedinte não aceitei não,
sempre fui honesto e trabalhador. A gente escolhe o que vai fazer da vida e
Deus dá condição da gente se erguer.
É
isso o que eu penso. Fui arrumando uns bicos, fazia de tudo, eu e a Maria.
Limpava, fazia muro, Maria arrumou emprego na fábrica e eu também, as coisas
foram melhorando, as crianças cuidavam umas das outras e foram crescendo.
Quando eu percebi já tinha uma casinha, cansado de trabalhar, mas foi o que deu.
Eu olho pra trás e sei que deu tudo certo. Quanto Deus me testou e colocou o
rumo melhor na minha vida, eu sei. Por tudo o que eu fiz podia ser bem pior.
Eu
não fui coitado. Passei de senhor de escravo que negava água pra negro e virei
negro que quase morreu de sede. Enfrentei minha vida sem reclamar, peguei o que
tinha pra fazer agradecido, sem preguiça fui me virando e quando vi tava todo
mundo criado e eu na rede. Minha casa tinha até rede. Deus me deu um caminho
lindo pra caminhar. E aquelas botas me levaram pra minha salvação. Ô Pai
maravilhoso.
ZÉ
FIRMINO
07/01/18
----------------------------Paula Alves----------------------------
ACREDITAR
QUE É À TOA? QUE É POR ACASO?
É
coisa de gente que tem um olhar limitado. Simplesmente não consegue ver o
futuro da vida. Quando a vida se interrompe porque o corpo não aguenta mais
continuar, se inicia outra bem mais concreta. A vida de verdade se inicia
depois disso e tem gente que nem acredita porque está tão limitado com as
ilusões que dá até pena. Sério, eu sinto muito mesmo porque leva um tempão
perdendo tempo com coisa inútil.
Isso
também aconteceu comigo e eu ainda to tentando me ajustar às coisas que acontecem
aqui. Eu estava tão preocupada em adquirir, em ser, que nunca imaginei que
tinha tudo isso deste lado. Era tão moça quando sofri o acidente e desencarnei
cheia de vícios morais. Era bela e vaidosa. Tinha um excelente trabalho, carro
da moda e apartamento no centro da cidade, tudo isso não bastava, eu ainda
queria mais. Deixei de lado as propostas de ter família porque queria me firmar
na carreira e viajar para o exterior porque detestava esta terra. Nunca sairia
daqui que ainda é meu lugar mental.
Desencarnei
e me vi tão revoltada que vaguei adoentada, infernizei uns e outros por causa
da minha revolta e nem percebi que minha mãe estava sempre ao meu lado,
coitadinha. Faz pouco tempo que cheguei e sou grata por terem me acolhido, por
ter minha mãe junto de mim. Ainda sinto coisas negativas. Sinto vergonha e
receio. Vergonha porque sinto que desperdicei minha vida com coisas inúteis,
não fiz o que deveria e nem mesmo consegui perceber o homem que deveria fazer
par comigo. Tudo o que estava nos meus planos, tudo o que poderia me beneficiar
recusei. Como não percebi que aquele homem era o meu prometido?
Eu
tinha tanto a fazer e não fiz nada, toda cega, iludida. Estou receosa de saber
que terei de voltar. Agora com outros planos, daqui a algum tempo, depois dos
meus estudos necessários. Tudo tão difícil, aquele homem que recusei teve que
receber uma modificação dos planos porque eu desviei o propósito e ele nada tem
a ver com isso, portanto, ele merece continuar. Ele ainda está encarnado e
tentando fazer dar certo com outra pessoa, rezo por ele. De qualquer forma,
precisaremos nos unir e eu ficarei aguardando até a próxima vida dele. Que
trabalhão! Que vergonha! Vai levar um tempo pra eu me sentir melhor.
SUZETE
07/01/18
--------------------Paula Alves--------------
--------------------Paula Alves--------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“EU
TINHA TUDO PRA DAR CERTO E FIZ COMO TODOS”
Foi
tudo estranho porque eu nunca pensei que fosse possível. Morri e, de repente,
estava bem viva. Talvez, mais do que antes. Ainda doía, meu corpo, minha cabeça
e minha vontade de retornar para casa era angustiante. Tudo mais intenso,
audição, visão e o olfato me faziam desejar todas as refeições que um dia
recusei para manter o corpo perfeito. Que fome!
Eu
desejava retornar para minha casa, mas não me lembrava do caminho, nem mesmo me
lembrava de informações simples como endereço ou telefone, estava tão confusa.
Só as sensações físicas estavam a me acompanhar e isso me fazia ter a certeza
de que estava viva. Bem viva.
Eu
vaguei sei lá por quanto tempo. O suficiente pra me dar conta de que algo
estava errado. Aos poucos, fui perdendo o torpor e o raciocínio foi voltando.
Aí eu vi de tudo. Gente como gente, gente como bicho, gente como anjo. Era
lindo e aterrorizador. Eu não aguentava mais aquilo tudo e me joguei na
calçada, toda suja, com fome e ainda com dor do trauma que levei. Vi uma moça
sorrindo. Ela se aproximou de mim e perguntou se eu desejava ajuda. Sei lá como
foi que ela chegou, sabendo o meu nome e tudo mais.
Claro
que eu queria ajuda e ela me estendeu a mão. Faz dois anos que estou aqui
doutor e eu já melhorei bastante. É duro ver os erros cometidos, perceber que a
gente só perdeu tempo é muito triste. Eu tinha tudo pra dar certo e fiz como
todos. Eu desperdicei minha vida com
bobagens. Parece um lenga-lenga falar assim, mas é verdade. Tive todas as
chances de voltar jubilosa e fracassei. Meus pais eram servidores públicos e me
possibilitaram estudar, eu tive oportunidades de realizar trabalhos produtivos
frente aos necessitados, mas não quis porque dava muito trabalho e nenhuma
recompensa. Depois tive um homem bom no caminho desejando casar comigo, mas ele
era simples demais. Eu olhei pra ele e vi uma forte emoção crescendo em meu
coração, mas ele não me daria a vida que eu almejava e eu não queria me unir
com alguém pra passar privações.
Naquela
época, eu não sabia que eu mesma havia pedido por isso, enquanto estava no
plano espiritual, eu pedi a prova e recusei. Ele foi embora e nunca mais senti
o coração palpitar novamente. Fiquei só com minha vidinha. Desencarnei vítima
de um atropelamento e não deixei nada para me iluminar. Eu sinto muito. Chegar
aqui e ver tudo isso é muito frustrante.
FÁTIMA
14/01/18
------------------Paula
Alves--------------------
“NÃO
SOU COITADO” “FUI CÉTICO”
Eu
compreendo que muitos não percam seu tempo com leituras. Eles acham que perdem.
Acham que não tem nada a acrescentar. Claro que não. Do que interessa a opinião
de seres comuns que erram tanto quanto eles? Eu acho que poderia ter me
ajudado. Também fui assim e não condeno, ainda mais porque aceito se ninguém me
reconhecer. Os meus não estavam ligados a isso. Não desejo pra ninguém o que
vivi. Não sou coitado. Fui cético. Não achei que precisava me preocupar com
tudo isso no início de uma vida tão promissora. Eu era advogado e ganhava bem.
Tinha propostas de emprego e estabilidade. O que mais poderia almejar? Uma bela
namorada, carro e casa do jeito que sonhei. Tudo só pra mim com conforto e
comodidade. Vivia com regalias. Viagens pelo mundo todo, jantares excelentes e
nenhum ponto para me preocupar porque eu fui muito competente. Eu não tive
tempo pra pensar no porvir, no depois e achava que era bobagem porque quando
chegasse o meu dia não tinha o que protelar. Mas, não acabou. Um cliente
enfurecido me armou uma emboscada e me deu um tiro certeiro. Chegou bem perto
de mim e riu satisfeito. Perguntou do que servia tudo o que eu tinha se não
compravam a minha saúde, minha vida? Falou de tantas viagens e divertimentos
que seriam adiados. Que eu nunca teria que me preocupar com casamentos ou
filhos porque não sobreviveria para passar por isso. Eu não consegui nem
gritar, foi rápido, logo eu já estava fora do corpo. Não sei como. Vi tudo.
Meu
funeral com luxo. Só meus pais choravam sentidos. Eu nem os visitava, estavam
tão sofridos. Minha namorada ficou algum tempo e foi embora pra uma comemoração
com as amigas pra se esquecer da tristeza. Vi meu enterro e o sorriso de escárnio
de alguns colegas de trabalho. O fato é que eu não tinha riquezas para
carregar. Eu não fiz amigos leais, não tive um amor verdadeiro, apenas os pais
que tiveram um filho ingrato choraram por mim. Percebi que tudo o que é bom na
Terra pode iludir. Acho mesmo que o bom deve ser o sofrimento, a privação, a
doença que impedem a gente de pensar, apenas em frivolidades. Ainda tenho que
amadurecer a ideia de que não fiz diferença na vida de ninguém.
ALESSANDRO
14/01/18
--------------Paula
Alves------------
“EU PEÇO PERDÃO LÉO. A MAMÃE TE AMA SIM”
Foi
uma gravidez tão difícil. Desde o início eu me senti mal. Todos os sintomas de
gravidez que me impediam de comer, de dormir e eu fui emagrecendo, ficando
doente com pequenas viroses. Conforme a barriga ia crescendo, as dificuldades
aumentaram e nós começamos a brigar. Meu esposo sempre foi bom e carinhoso, mas
ele não podia nem me olhar e nós brigávamos, nem eu entendia. Me senti sozinha
e desprezada. Com cinco meses tive um sangramento intenso e o médico avisou que
eu precisava de repouso. Saí do emprego e foi ficando mais difícil em casa com
as despesas. Meu marido gritava e eu chorava. A questão toda foi se arrastando
de mal a pior até que chegou o grande dia do parto e eu não estava aguentando
fazer força. Me sentia tão fraca e cansada. Senti um forte puxão e um suspiro
de alívio. Aí ouvi um alvoroço na sala e choro da enfermeira. Eu vi o bebê, mas
não tinha nenhum sentimento, estranho. Todo mundo correndo e ligando uns
aparelhos. Eu demorei pra perceber que eles desistiram de mim.
Me
cobriram e eu fiquei ali esperando um tempão. Tanto tempo que perdi as contas.
Não tinha força nem pra gritar e adormeci no corpo gelado. Quando a Antonia
(minha amiga espiritual) apareceu para me tirar dali eu não entendi. Ela me
trouxe pra cá e eu ainda acho que podia ter sido melhor do que foi. Eu não
aceitei aquele filho. No fundo eu rejeitei, meu corpo rejeitou. Sentir a
aproximação daquele que me fez mal no passado me fez rejeitá-lo, mas isso não
pode ser. Rejeitar um filho?
Agora
eu entendo tudo. Todos os motivos que levaram Deus a nos aproximar e também que
meu tempo estava se esgotando mesmo, mas eu escolhi ficar mal quando rejeitei a
criança doutor. Eu entendi. Meu marido também rejeitou, mas quando foi
informado de que eu não havia resistido ao parto, ele olhou o bebê e escolheu
ser um bom pai. Tudo é escolha doutor. Tudo. A gente recebe a oportunidade de
Deus, a gente escolhe a prova e quando vai passar por ela, se acha superior. A
gente acha que merecia coisa melhor, mas por quê?
Não
tem o melhor aqui. É todo mundo igual mesmo, uns melhor só um pouquinho. Aquele
que foi santo morreu na cruz. Eu vi meu filho. Tive esta graça. O menino é
lindo e está com cinco anos. Leonardo, lindo o meu filho. Eu sei que poderia
ter amado o menino. Pessoa que me fez mal no passado e agora está disposta a
fazer diferente e está demonstrando com o pai que as pessoas podem se reformar
e despertar o amor das outras pessoas. Eu peço perdão Léo. A mamãe te ama sim.
LUZIA
14/01/18
---------------------Paula
Alves---------------------
“NÃO É PARA QUALQUER UM NÃO. É SÓ PARA
QUEM JÁ ABRIU OS OLHOS”
Dava
pena de ver a criançada com fome. Eu queria fazer mais. O trabalho era duro.
Não tinha material, escola rural é tudo precário. Reforma agrária uma ova. Dava
revolta de ver a necessidade daquela gente. Eu estudei para levar conhecimento,
leitura, informação. Sempre achei que todo mundo tinha direito de ter
esclarecimento, mas não imaginei que existem tantos analfabetos. Tinha dono de terra
que achava luxo aprender a ler. Eles diziam que as pessoas que sabem, desejam.
As pessoas que se esclarecem, ficam ambiciosas demais. Pobre mantido no
cabresto não tem leitura.
Isso
me indignava. As crianças queriam aprender, mas sem caderno, borracha, lápis?
Tem gente que não tem ideia da necessidade de verbalização. Livro é tudo. Leitura, conhecimento
salvam do desespero porque mostram para criança um caminho de esperança e
criatividade. Elas podem ir para qualquer parte, conhecer o mundo todo dentro
de casa. E isso eleva a pessoa e tira as
algemas. Algemas sociais.
Eu
me empenhei, comprei do bolso material para todo mundo. Comprei e vi o sorriso
de contentamento. Eles se esmeraram e eu fiquei a vida toda lecionando na zona
rural. Na minha família, na cidade grande, tinha muita gente que me chamava de
trouxa. Boba, idealista. Se eu tivesse este orgulho todo poderia até ter me
ofendido. Preferi deixar pra lá e valorizar quem me interessava, gente que não
tinha meu sangue, mas precisava de mim, dos meus conhecimentos e dos meus
esforços. Foi uma vida toda vivendo na simplicidade para um belo dia receber um
convite.
Convite
da formatura do Artur. O menino que foi meu aluno, cresceu e resolveu ser
professor. Estudou em outra cidade e não esqueceu de mim. Tem presente maior?
Tudo o que eu fiz na vida valeu naquele dia. Estava já enrugada e vi minha vitória
no canudo daquele menino. Agradeci a Deus porque eu sei que o que vale é o que
a gente faz pelos outros. Ter fé, vergonha na cara e passar aperto para suprir
necessidade dos outros é benção. Não é para qualquer um não. É só para quem já
abriu os olhos. Valeu doutor, estou realizada.
JANUÁRIA
14/01/17
--------------------------Paula Alves---------------------
--------------------------Paula Alves---------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“ONDE
VOCÊS VIVEM EXISTE ILUSÃO E TORPOR”
Eu
queria que pudessem me sentir. Queria que tivessem a certeza de que tudo está
bem. Queria que não houvesse desespero e que tivessem fé. Eu queria tantas
coisas pra eles. Tantas... Acho que não utilizei bem o tempo a favor de mim. A
favor dos meus entes queridos. Sei lá. Acho que ficou faltando tanto. De fato,
tudo é culpa minha. Este desconsolo que sentiram com minha partida. Te confesso
que quando estava entre eles, eu sempre fazia tudo. Eu cuidava de tudo e era considerada
como uma ótima mãe e esposa, mas acho que não fui porque eles se tornaram
extremamente dependentes de mim. Por um momento, considerei que fazia isso por
orgulho. Para poder afirmar o quanto era importante e imprescindível no lar,
mas foi egoísmo.
Eu
nunca ensinei o quanto era bom para eles caminharem com as próprias pernas.
Enfim, me sinto responsável pelo sofrimento de todos. Isso me consome. Eu tive
muita dificuldade em permanecer aqui. Passei tanto tempo no meu antigo lar e eu
causei sensações terríveis naqueles que amo. Quando finalmente, aceitei o
socorro e vim pra cá, sabia que levaria tempo para se harmonizarem sem minha
presença, mas soube que ainda não estão bem.
Acham
que acabou?
Que
eu fui aniquilada?
Eu
existo e posso ficar bem melhor se souber o quanto estão se reerguendo sem mim.
Eu preciso continuar e eles também. Aqui tem muita vida e tudo é real. Onde vocês
vivem existe ilusão e torpor. Aqui é maravilhoso. Só não é melhor por causa da
saudade e da preocupação. Eu entrego nas mãos de Deus porque preciso melhorar e
já se passou tempo bastante para aceitar que preciso cuidar de mim. Que Deus
possa ampará-los.
Gertrudes
20/01/18
---------------------------------Paula
Alves------------------------
“TODA
A ESPIRITUALIDADE APLAUDE SEUS ATOS DE BONDADE”
Eu
sinto e por mais que não deseje me influenciar, eu sofro. Eu consigo perceber
os pensamentos dele e são terríveis. Como uma mãe pode viver assim?
Meu
filho amado com pensamentos suicidas. O que faz de um menino tão bem educado,
tão capacitado, ter estes pensamentos de morte?
Será
que não existe o desejo de viver e assimilar um mundo todo de benefícios?
Eu
aprendi tanta coisa aqui e, é por isso, que eu sofro. Se meu menino tivesse
ideia do quanto pode sofrer se concretizar estes planos, ele nunca teria estes
pensamentos. Sei que pode estar sendo influenciado por amigos cruéis ou por
desafetos do passado que pretendem destruí-lo, mas ele precisa resistir e
procurar uma ocupação que o motive. Eu peço a Deus que encontre uma boa pessoa
que mostre a ele o mundo maravilhoso e cheio de possibilidades que ele pode
encontrar por aí.
Não
sei como isso foi acontecer e eu queria ajudar, mas ainda não estou capacitada.
Eu deixei o Augusto quando ele tinha doze anos. Faleci vítima de uma doença
reumática. Queria ter ficado mais tempo, mas foi minha prova e, por tê-la
vivenciado com aceitação, agradecida por tudo o que Deus havia me dado de bom,
eu consegui entrar neste local onde me tratam tão bem. A única coisa que me faz
estacar frente a tudo o que eu poderia realizar é esta situação do Augusto.
Desilusão, raiva, vício, não sei, pode ser o que for, mas ele precisa de ajuda
porque um Espírito em sofrimento padece mil vezes mais do que qualquer
sofrimento na carne. Ajudem! Ajudem a todos. Qualquer um que apresente comportamento
distante, introspectivo demais, indiferente, melancólico, aí pode estar um
forte candidato ao suicídio. Você pode nunca ter a ideia de que conseguiu
salvar alguém porque deu atenção, carinho ou incentivo de vida, mas toda a
espiritualidade aplaude seus atos de bondade. O quanto é bom fazer o bem meus
irmãos. Eu peço a Deus que coloque no caminho do meu filho uma alma abnegada
que possa escutar, falar do Mestre, da imortalidade, que ele possa ser instruído
e amparado para deixar de lado estes pensamentos de destruição do próprio vaso.
Atenciosamente. MARIA HELENA
20/01/18
-------------------------Paula Alves--------------------
“TEM
QUE HONRAR ESTA CHANCE”
Eu
sou tão agradecida. Por tudo o que fizeram por mim. Tive uma belíssima estadia.
Obtive, desde cedo, os conhecimentos adequados para uma jornada enriquecedora.
Se me perguntarem se eu mudaria alguma coisa, eu diria que sim porque nós
sempre achamos que poderíamos ter feito um pouco melhor, mas no geral foi dez.
Conheci pessoas incríveis, muitos dos amores de antigas jornadas retornaram
para me auxiliarem. Filhos maravilhosos e um amor que se tornou meu esposo
novamente tamanha cumplicidade. Os desafetos foram aparecendo com o passar dos
anos e, com paciência e trabalho no bem, conseguimos nos entender. Eu digo que,
pelo menos, não cometemos os mesmo erros do passado, não houve hostilidade e nem
rancor. Se não finalizamos como afins, mas foi em paz. Trabalhando no bem,
seguindo Jesus, doando amor, ensinamentos. Eu tive uma vida simples, várias bênçãos
recebi. Eu só agradeço. Quando a gente desencarna de repente as pessoas ficam
com tantos questionamentos, mas quem tem fé em Deus e em todos os seus planos,
sabe que tudo está certo e foi o melhor que poderia ter acontecido. Eu não
queria ficar em cima duma cama ou ter dado trabalho para as pessoas. Não por
orgulho, Deus sabe, mas porque sei da jornada de cada um, eu nunca quis
atrapalhar ninguém. Acho que a gente recebe uma chance quando retorna, tem que
honrar esta chance, fazer o melhor que puder e quando Deus chama pra voltar,
tem que voltar sem reclamação ou remorso. Por isso, tem que se esforçar para
fazer bem feito dentro da sua possibilidade, para não se arrepender do que não
fez. No geral, foi uma bela jornada e eu desejo que todos tenham a certeza de
que o que eu quero é que prossigam. Prossigam em paz. Eu continuo com o mesmo
amor. Fiquem com Deus.
LÚCIA
20/01/18
-----------------------Paula
Alves--------------
”A
LAMENTAÇÃO FAZ PARTE DE MIM HÁ MUITO TEMPO”
Fui
tão durão. Coração de pedra, diziam eles. Do que serviu tudo isso. No fim todos
têm a mesma trajetória. Criados simples, ignorantes. Precisam assimilar tantas
virtudes, se encher de bons sentimentos para evoluir. Para chegar a anjo, falta
muito viu? Eu? Nem sei se isso é pra mim. To aqui parado na reclamação faz
tempo, coitado de mim. O doutor acha que tudo é construtivo, mas até me cansa
ouvir tudo o que eu tenho pra dizer. Acho que é chato ouvir o reclamão. Acho
que é ruim o melindre porque parece que a gente ta na areia movediça.
A
gente não consegue progredir quando reclama e só vê a coisa errada, o mal e o
desgosto. Foi assim em vida e eu to aqui achando que não sirvo para nada. Ainda
falta aprender tanta coisa, que eu nem sei se tem jeito pra mim doutor. A
lamentação faz parte de mim há muito tempo. Estão estudando as minhas
possibilidades e eu estou treinando o plano mental, fazendo exercício de
positividade porque o negativismo está me consumindo. Deste jeito, eu não
escapo de uma psiquiatria na reencarnação. Eu fui chamado de coração de pedra a
vida toda e não absorvi com todo o amor que eu recebi. Eu não nutri este
sentimento por ninguém e eu sei que eles me amaram. Sabe que tem muita gente
que é assim? Pessoas que só pensam em si e não conseguem doar sentimento. Os
outros amam a gente e doam, mas não penetra o nosso ser. É como se a gente
tivesse sempre com um escudo, uma couraça que não deixa nada de bom penetrar em
nós. Eu vivi com uma armadura e acabei afastando as pessoas que me amavam
porque eles não suportaram mais viver comigo. Minha esposa estava certa, ela
merecia encontrar o amor e ela encontrou. Minha filha se recusou a me
abandonar, a pobre sempre estava por perto e cuidou de mim até o final e eu sou
grato por isso. A Amanda foi um anjo cuidando de mim e nem assim eu aprendi. Eu
já sei que vou receber uma boa família que vai me amar muito. Tudo é perfeito
na Lei e Deus não desampara ninguém. Ele nos ama tanto que sabe o que cada um
precisa para amparar e colocar no caminho certo. Rezem por mim.
CHICÃO
20/01/18
-----------------------------------Paula Alves-------------------------------
-----------------------------------Paula Alves-------------------------------
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“A GRAVIDEZ ME TRANSFORMOU NUM PAI DE
FAMÍLIA”
Naquela
ocasião eu precisava de um filho homem. Não por preconceito, mas por honra. O
primogênito devia dar um neto, um menino e eu ansiava por isso. Quando soube da
gravidez da Mila fiquei feliz. Eu nunca fui homem de demonstrar meus
sentimentos, mas claro que fiquei feliz. Minha esposa foi mulher leal e
devotada pela família. Apesar de não demonstrar afetos, eu nutria por ela o mais
terno sentimento e sempre lhe fui fiel. Eu tinha orgulho dela.
A
gravidez me transformou num pai de família.
Fiz
planos e projetos para meu herdeiro, meu filho deveria ter um futuro brilhante
e eu imaginei tudo, uma vida inteira com direito a profissão, carreira e até
casamento arranjado com família amiga, mas deu tudo errado. Meu Kaique nunca
existiu.
Quando
Mila pariu e eu ouvi o choro da criança, corri para ver a genitália do meu
garotão e me surpreendi ao me deparar com um órgão feminino. Eu fervi de raiva.
Bati a porta do quarto e nem mesmo falei com Mila.
Sei que minha esposa
compreendeu o que se passou comigo e ela não gostou nada da minha reação. Eu
bebi e dormi fora de casa. Eu não conseguia entender. Achei que ela era
culpada, Deus era culpado. Eu não tinha feito nada de errado e Ele queria me
castigar. Por quê?
Aquela menina não era pra
estar ali, eu queria um moleque.
Foi
difícil enfrentar a vida e as pessoas me gozando. Todos sabiam do meu desejo por
um filho homem. Ela foi crescendo e a menina chamada Júlia foi ficando
parecidinha comigo. Séria, desconfiada, não sorria muito, brincava sozinha.
Parecia que ela sabia de tudo. Ela sabia que eu não a quis. Eu sentia uma dor
pungente porque não queria ser daquele jeito, mas nada modificava em mim a frustração.
Depois de quatro anos tudo
ficou pior porque eu consegui o menino que tanto almejei e Kaique veio me
deixando contente demais. Júlia sempre percebeu a minha predileção pelo garoto
e todos comentavam deixando a menina irritada e sentida.
Eu me arrependo por ter
agido assim com minha filha. O tempo passou e as circunstâncias da vida me
fizeram enxergar que não é o sexo que determina se a pessoa será boa ou não, se
será bom filho ou pessoa respeitável. Meu filho me deu muito trabalho, nunca
quis estudar, roubou carros, se envolveu com drogas, virou um marginal e nunca
me honrou, nem seguiu minha educação. Já a Júlia, foi filha de ouro.
Ela
sempre foi meu espelho. Fez tudo o que eu achei que fosse correto,
disciplinada, leal, mulher de bem. Ela se casou, teve família e me deu netos
lindos. Mulher de inúmeros talentos. Minha filha trabalhou duro e ainda ajudou
muita gente fornecendo trabalho e tudo o que precisavam para se reerguer com
dignidade. Júlia com todos os sentimentos reprimidos por um pai mesquinho e
cheio de preconceitos, soube demonstrar para mim que o que importa é o caráter.
Depois de cinquenta anos, olhando para ela sem saber como dizer o que se
passava em mim, fiquei doente e precisei de cuidados. Minha filha cuidou de mim
com o maior carinho. Nunca atirou em mim tudo o que sentiu com a rejeição, ao
invés disso, ela me forneceu tudo o que eu precisava, alimentos, higiene, atenção
e amor de sobra para nós dois. Ela me amou tanto que eu passei a idolatrá-la.
Minha filha querida que foi capaz de me amar com todos os meus defeitos morais.
Eu peço perdão Júlia. Se eu pudesse voltar atrás filha, eu voltaria. Eu sei que
fui responsável por suas lágrimas, mas eu sou dotado de muitas imperfeições.
Você me ensinou tanto e agradeço por isso. O amor que trago no peito é mérito
seu filha. Que Deus te abençoe.
ADAMASTOR
28/01/18
------------------Paula Alves----------------
“VIVER DE MÚSICA?”
“VAI TRABALHAR VAGABUNDO...”
Eu
ouvi tanto isso doutor. Só queria que minha música fosse ouvida, compartilhada.
Eu nunca achei que a música viesse de mim. Eu sentia que ela vinha do espaço,
sei lá. Parecia que ela caia sobre mim e, de repente, eu estava com ela
prontinha. Não havia tempo para criar, ela aparecia pronta. E era tão
melodiosa, era tão perfeita. Eu queria que todos a ouvissem e saia por aí pra
irradiar a harmonia das notas musicais. Eu não tinha dinheiro, era só violão e
eu. Deus me abençoou com uma bela voz e eu tinha o dom de cantar e tocar sem
ter feito aula. Eu era bom, mas não tinha dinheiro e como se vive da arte sem
ter condições de comer?
Eu
tocava na noite e era ruim porque as pessoas não te veem, elas não te escutam.
É como se estivessem atordoadas e ninguém contempla o que ocorre de fato. Eu
era invisível.
Tocava
na rua e recebia umas moedas. Quem passava olhava com dó, achavam que eu era
mendigo. Eu não queria os trocados, queria que eles admirassem a música.
O
fato é que com o passar do tempo, ouvi tantas vezes meus familiares criticando
o que eu fazia, meus pais pediam por um emprego decente, um com décimo
terceiro, garantias para que pudessem ficar tranquilos.
Eu arrumei
um emprego com registro e garantias e não tive mais tempo para me concentrar na
música, fui deixando o violão. Quando dei por mim, eu tinha uma vida como a de
todos que parecem estar apagados, vivem
por viver. Eu tinha quarenta anos e não tinha família, bebia, jogava e
trabalhava num emprego de garantias para que meus pais pudessem ficar
tranquilos. Eles ainda reclamavam porque eu não estava casado e com filhos, eu
não tinha a minha casa e nem carro da moda.
Eu
acho doutor que as pessoas imaginam que você vai ser isso ou aquilo e se
frustram com seus anseios. Eu nunca seria para eles o que eles queriam que eu
fosse. Eu sufoquei o músico que existia em mim para que meus pais fossem
felizes e nenhum de nós foi realmente feliz. Eu me arrependo porque fui um
hipócrita. Fracassei porque eu podia ter feito o bem com minha música. Eu
fracassei porque não fiz nada por mim. Sei que as notas eram enviadas deste
mundo. Eram canções belas e eu podia ter levado paz e alegria, mas recusei e
fracassei na prova.
Tudo
na vida tem certas contrariedades, as pessoas têm obstáculos, mas não é pra
desistir. Desiste quem tem preguiça, quem não tem certeza do que quer. Só
desiste aquele que não está preparado, por isso, eu vou me preparar mais para
recomeçar.
LÉO VICH
28/01/18
------------------------Paula
Alves----------------------
ORAR
POR MIM? COMO PODIA SER ISSO?
Tanto
mal não pode se apagar. Eu sei o que eu fiz, eu compreendo. Aqui para mim já é
um luxo. Só de estar aqui e receber este tipo de ajuda, já é motivo para falar
que alguma coisa mudou em mim. Vocês não permitiriam minha entrada se eu não
estivesse bem intencionado, mas foi tanta coisa que minha cabeça ferve. Eu sei
que o mal não leva a lugar nenhum, o mal retarda, atrapalha. Só que não dava
pra ser diferente. É como se você só soubesse pensar deste jeito. Eu vivi numa
família boa, todos eram bons. Bons mesmo. Meus pais tinham corações enormes e
permitiam que estranhos dormissem em casa, davam coisas, comida, agasalho.
Trabalhavam na igreja e ensinavam os filhos a orar, então, não foi por falta de
amor, nem foi por falta do Evangelho que eu me desviei. Acho que já fui
desviado. Sei não, mas é da evolução mesmo, Espírito imperfeito.
Éramos
três. Dois meninos e uma moça. Meus irmãos eram uns amores, todos gostavam
deles e estavam em contato com os vizinhos em obras assistenciais da igreja. Eu
nem queria saber de nada. Sempre metido com questões individualistas, pequenas
intrigas e festas de todos os tipos.
Me
apaixonei pela namorada do meu irmão e desejei tê-la, achava um absurdo um
puritano conseguir tudo o que quisesse e decidi me apropriar dela, mas meu
irmão não era tão tolo. Brigamos e meus pais se envolveram, pela primeira vez
disseram tudo o que pensavam de mim. Falaram da minha distinção. Do quanto não
me parecia com eles, por quê?
Tudo
fizeram para demonstrar boa conduta e retidão moral e eu não assimilei nada?
Peguei
minhas coisas e fui embora, nunca mais olhei para trás. Eu sempre me perguntei
por que eu era tão diferente deles. Não era adotado e ainda assim, não tinha
nada a ver com eles. Eu fiz tanta coisa errada, matei, roubei e depois que
desencarnei me liguei com um grupo afim. Só fazendo maldade até que conheci uma
família que me lembrou da minha família carnal. Eu estava com o coração
embrutecido, mas me deixei tocar pelos sentimentos daquele casal e seus dois
filhos. Fazendo pelos outros sem poder... No início, achei que fossem uns
otários, mas depois eu vi o quanto eles eram devotados e me envergonhei de
estar perseguindo.
Eu
desejava fazer mal e dificultar a vida que já era bem difícil e eles ainda oravam
pelos perseguidores, ou seja, eu. Orar por mim? Como podia ser isso? Eu me
entreguei para aquela luz e senti um bem estar que me fez adormecer. Aí cheguei
aqui doutor. Já faz um mês que estamos trabalhando e eu ainda não sei quem sou.
Eu não me reconheço mais e estou confuso.
TIMÓTEO
28/01/18
--------------------Paula
Alves---------------------
“MINHA
VIDA FOI DIFÍCIL E FOI BOA DEMAIS PARA MIM”
Elas
pareciam íntegras, mas não se moviam. Foi tão rápido. De um dia para o outro eu
não era o mesmo e elas estavam imóveis. Eu nunca havia pensado no quanto eram
importantes para mim e para todas as pessoas. Nunca tinha me dado conta do quão
importante é nossa saúde.
Tive
uma doença na medula e fiquei paraplégico. Eu tinha uma vida boa, uma carreira
bem sucedida e não aceitei quando os médicos disseram que não havia mais nada a
fazer para que eu voltasse a andar. Nenhum tratamento iria trazer minha
mobilidade de volta. Eu passei por vários estágios psicológicos e me adaptei
para continuar vivendo. Nada fácil de aceitar e nem sair na rua de cadeira de
rodas, mas eu estava cansado do quarto escuro. Eu deixei a vida passar e
esperei para formar família. Eu achei que tinha tempo, que eu podia me
estruturar financeiramente. Construir um belo patrimônio, ter casa e tudo o que
era importante do ponto de vista material para depois procurar uma esposa e
pensar em filhos. Deixei o mais importante de lado. Naquela ocasião eu estava
sozinho com uma bela casa vazia e um carro que não conseguia dirigir. Tentei
voltar para o trabalho e me dei conta do quanto era trágica minha situação de
cadeirante numa empresa que nunca se preocupou com acessibilidade.
Os
mínimos recursos são favoráveis para quem precisava se locomover com uma
cadeira. Tive muito apoio, não me melindrei. Arregacei as mangas e trabalhei
intensamente, modifiquei algumas situações, arranjei facilitações e fiquei
feliz por isso. Contratei outros como eu que eram esforçados no trabalho que
desempenhavam e um dia, encontrei uma mulher maravilhosa. Chorei porque eu
havia encontrado uma mulher que não merecia ter um marido cadeirante. Eu nem
poderia pedir, mas ela me escolheu e nós ficamos juntos. Tudo é possível no
mundo de Deus. Minha vida foi difícil e foi boa demais para mim. Tive tudo com
dificuldade, mas tive e consegui enxergar muito depois da minha doença. Vi
melhor todas as pessoas, valorizei questões simples, o corpo, o semelhante, a
família, o casamento. Tudo foi muito mais importante depois da minha limitação.
Eu pensei e avaliei meus propósitos, eu devia aproveitar intensamente e fiz
isso.
Vim
pra cá velho, cheio de otimismo. Eu sou grato pela Olívia minha esposa que me
recebeu apesar das minhas limitações. Eu sou grato pelos amigos leais e por
tudo o que tive de oportunidade. Quando cheguei aqui e soube que eu mesmo havia
pedido pela prova, sorri. Tudo a ver comigo pensar numa prova como aquela.
Ainda tem este inconveniente, as pernas chegaram aqui sem movimentos e eu ainda
preciso melhorar esta situação para recomeçar, mas sei que conseguiremos
doutor.
ALFREDO
28/01/18
--------------------------------Paula
Alves-----------------
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