“ESTA
LEMBRANÇA É TÃO VIVA COMO UM RAIO DE LUZ”
Ele foi um bebê lindo!
Nasceu grande, fofo, risonho, tinha as bochechas rosadas. Quando eu o recebi
nos braços foi como um presente de Deus. Eu chorei de alegria e o apertei
contra o peito, beijei, mas o menino chorava sem parar. Já naquele momento era
como se ele se esquivasse do meu contato.
Eu não me importava. Pra mim
só o que importava era que ele estivesse feliz. Passei minha via toda vivendo
pra ele, em função dele. Não tive mais filhos porque ele já me bastava. Era
toda a minha felicidade. Talvez este
tenha sido o meu erro. Otávio nunca precisou dividir nada com ninguém. Era
tudo dele, só para ele. E todos os meus olhares, toda a minha atenção também
eram dele. O pai sempre dizia que eu mimava o menino, mas mãe... Nem ligava.
Cobria de carinhos, acho até que sufocava.
Ele sentia vergonha de mim.
Nunca me apresentou para os amigos e nunca trouxe uma namorada em casa. Demorou
pra entender a situação. O pai falava que ele não gostava de nós, mas eu não
poderia imaginar que fosse verdade porque ele era o meu filho amado. E eu fazia
tudo por ele. Tudo o que puderem imaginar, desde a limpeza impecável do lar e
de todos os seus pertences até todas as mínimas vontades culinárias. Eram todas
atendidas sem que precisasse pedir. Então, um dia eu presenciei ele dizendo a
um amigo, já puberdade, que eu era a empregada da sua casa. Eu não deixei que
ele me visse, tive constrangimento de contar para meu esposo porque ele estava
certo. Meu filho tinha vergonha de nós.
Eu retornei para casa e chorei
tanto que fiquei toda inchada. Existem coisas que não dá para esquecer doutor.
Quando ele chegou me repudiando fiquei com vontade de dar uma surra. Eu fiquei
possessa. Como podia me tratar daquela maneira, eu que fazia tudo por ele. Pedi
que sentasse e como não fui atendida, berrei que sentasse. Ele se assustou e
após relatar o que tinha visto, ele chorou e me informou que era a mais pura
verdade. Ele tinha vergonha de mim, do pai não, apenas de mim. Uma caipira –
dizia ele. Uma mulher que não sabia nem conversar, que arrastava as chinelas e
nem se arrumava, eu saia de casa de qualquer jeito. Fiquei com vontade de
sumir. Eu mesma me olhei e comprovei que era isso tudo, mas não era motivo para
ele não me assumir. Fiquei sem saber o que fazer e fui me deitar. Permiti que
meu filho me humilhasse e deixei a depressão tomar conta de mim. Eu nunca mais
fui a mesma e acho que no fundo eu sempre quis ser amada por ele. Eu quis ser
aceita como mãe, mas não fui. Nosso relacionamento não passou disso e eu ainda
me questiono onde foi que errei.
Existem tantos equívocos,
mas nunca o de faltar amor. Eu o amei e ainda o amo. Ele é meu filho amado e é
tão triste porque por mais que a pessoa lhe ofenda, por mais que você deseje
não sentir a ofensa, isso lhe magoa muito. Eu desejava não ter sentido tanto,
mas senti. Acredito que a explicação disso seja os vários deslizes que cometi
no pretérito, mas todos nós temos falhas, não existe o perfeito por aqui.
Considero que não fui uma boa mãe porque se fosse, ele seria um bom filho,
então admito que fracassei e isso me entristece ainda mais.
Recebi a concessão de
recebê-lo novamente e isso me amedronta porque ele é o meu tendão de Aquiles.
Estou estudando, me reestruturando e o tratamento irá me ajudar, mas a
insegurança ainda mora em mim. Eu agradeço pela oportunidade. LUÍZA
01/08/17
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“AS MULHERES TÊM QUE SER VALORIZADAS
PORQUE TODOS NÓS SOMOS IGUAIS E O RESPEITO É BOM PARA TODOS”
Ninguém
sabe qual é o melhor caminho. Nós temos uma ideia do que devemos fazer, mas na
hora H tudo pode acontecer. Isso porque não estamos sozinhos. Quando no plano
espiritual fica fácil almejar porque sabemos onde devemos corrigir, mas nos
reencontramos com várias pessoas e depende delas se tudo sairá a contento. Quando
você assume que fará os acertos, responde por si e não pelos outros. É muito
confuso, mas é certo.
Eu
pretendia reparar tudo o que ocorreu conosco. Sei que a tratei de qualquer
jeito quando fui seu esposo. Ela não merecia. Eu a traí e nunca fui para ela o
companheiro que todas as mulheres merecem.
Desencarnei
e reencarnei novamente numa trajetória onde não me encontrei com a Celeste.
Nesta, fui mulher e casei com um homem terrível que conseguiu me fazer colher
tudo o que necessitava. O marido cruel me traia e tratava com violência no lar.
Me fez sentir humilhações de todos os tipos. Desencarnei e percebi que as mulheres têm que ser valorizadas porque
todos nós somos iguais e o respeito é bom para todos. Tratar o outro como
queríamos ser tratados deve ser lei. Eu aprendi e quando reencarnei novamente
pude entrar em contato com Celeste que fora minha filha.
A
Celeste parece que se esforçou para me devolver tudo o que a fiz passar, mas eu
já não era o mesmo. Estava tão empenhado em produzir o amor que pudesse curar
nossas mazelas. Eu era o pai mais cordial e afetuoso que pudesse conhecer e a
menina malvada do início até o fim. Quanta dor de cabeça.
Eu
sei que grande parte de tudo aquilo era justificável por conta do nosso
passado, mas entendam, eu já era outra pessoa. Agora como o pai de uma moça
muito desrespeitosa e leviana. Foram várias as vezes na qual saí perambulando
pela cidade de madrugada procurando a desvairada. Cheguei a tirá-la dos braços
de cafajestes. Ela se drogava e quebrava a casa toda. Eu já estava cansado de
tentar colocá-la nos eixos. Nunca pensei que pudesse sofrer tanto por alguém.
Sim, eu a amava.
Valeu
para despertar em mim sentimentos que eu desconhecia, mas eu não acredito que
fomos feitos para fazer sofrer uns e outros. Nós fomos feitos para sermos divinais,
humanos, bons de coração, ternos, solícitos, não isso que somos. Egoístas,
orgulhosos, mesquinhos, loucos. Eu já não sabia se a internava ou se me esquivava
dela e por fim tive a triste notícia do seu falecimento.
Quanta
dor no meu velho coração. Um pai enterrando a própria filha... A dor é muito
grande. Depois do meu desencarne eu tive a certeza do fracasso, mas o amor não
se acabou por isso. Eu só pensava nela e desejei saber onde estava, assim que conjecturei
a realidade das coisas deste lado. Quando fui informado que ela vagava fiquei
desesperado. Precisei ter merecimento como trabalhador disciplinado para
conseguir socorrê-la. Levou um longo tempo para iniciar o meu período de
procura e a encontrei com a graça de Deus. Por isso, ela está aqui entre os
seus pacientes, doutor.
Eu
lhe peço de todo o coração para que a trate com cordialidade porque sei que ela
é difícil. Tenho esperanças que recobre a realidade e que, um dia, possamos nos
entender. Com agradecimentos José MANOEL
01/08/17
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“EU ME SINTO MAL DE TER A CERTEZA DAS
MINHAS VÁRIAS IMPERFEIÇÕES”
Era
tudo tão lindo, impecável. Uma linda casa com móveis maravilhosos. Decorada com
o maior bom gosto e pra quê? Eu investi tudo o que podia naquele casamento e
fiquei tão sozinha. Eu tramei que eles se separassem e o conquistei, mas não
era para ela ser dele. Ridículo! Estudávamos juntos na faculdade e muito me
irritava vê-lo com aquela suburbana, menininha sonsa. Ajeitei tudo para que ele
pensasse que ela o havia traído. Marco sempre foi tão tolo. Imagina se a Lídia
ia traí-lo?
De
jeito nenhum. Funcionou tão bem que nenhum dos dois nunca foi tirar satisfação.
Eu me aproximei e consegui me casar com o moço rico. Foi perfeito se não fosse
o fato dele não me amar e nem eu a ele. Não dá pra mentir deste lado né? Todo
mundo percebeu. Marco passou a beber quando percebeu que eu não podia ter
filhos. Foi uma desgraça porque eu nunca imaginei que fosse seca. Seca mesmo.
Não adiantava tratamento, o que fosse não tinha jeito pra mim.
Aí
ele me veio com a chance de adotar uma criança. Quê? Saindo de mim já seria
difícil de aguentar, imagina dos outros. Não adianta, não nasci pra ser mãe.
Fiquei pensando no choro, a correria, cólica, coco, brinquedos espalhados e a
criança grudenta em cima de mim. Não dava não. Olhei para a cara dele tão
bonzinho que dava raiva. E tentei disfarçar o descontentamento. Vou falar que é
muito duro fingir o tempo todo.
Eu
comecei a me achar uma pessoa terrível porque aquele homem só queria uma família
e eu queria aproveitar aquela vida boa. Não tinha ânimo pra ser esposa que
espera com carinho, beijinho, se preocupa como foi o dia, nem tinha dom pra
atenciosa. Não nasci pra cuidar de criança e então, fiquei me perguntando para
quê eu servia. Não achei a resposta, eu queria ser madame, mas era só isso?
Escrevi
uma carta, tomei coragem, fiz uma bela mala e fui embora. Nem olhei para trás.
Passei grande parte da minha vida irritada com esta decisão porque contar as
moedas sempre foi um sofrimento para mim, mas eu não podia estragar a vida dele
para sempre porque eu era gananciosa. Eu ainda não sei o que Deus pretende
comigo. Queria ser boa, mas não tem nada em mim que remeta a isso. E eu me sinto mal de ter a certeza das
minhas várias imperfeições.
VIVIANE
01/08/17
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“AS PESSOAS DEVIAM SE ENVERGONHAR DE
OLHAR PARA HOMEM CASADO”
Eu
pensei que pudéssemos ser felizes novamente se tentássemos com vontade. Eu me
lembrava de quando nos casamos e quando nasceu o nosso primeiro filho. Eu fui
tão feliz. Casei com ele por amor e pretendia viver a vida toda junto. Tive
três filhos, mas a vida foi ficando diferente e eu me perguntava por que as
pessoas mudam tanto com o passar do tempo. É como se, de repente, percebessem
que não gostam da vida que têm.
Eu
era dona de casa e cuidava da minha família com amor. Em tudo via felicidade,
graça. Percebi que o Léo chegava em casa contrariado e meus assuntos o
irritavam. Ele cansou de me deixar falando sozinha. Eu sentia, mas achava que
era problema no serviço. Ele sempre foi um bom homem. Demorei pra perceber e
como não compreendia uma amiga resolveu abrir meus olhos. Ela foi à minha casa
e parecia se divertir me dando a notícia que o Léo estava saindo com uma moça
do serviço. Eu chorei tão desesperada e ela falou que só tinha ido me avisar,
foi embora me largando no maior chororô.
Perguntei
se ele tinha alguém, falei, falei tanto e o que eu recebi foi um soco. Nunca
imaginei que uma mulher pudesse virar a cabeça de um homem daquela maneira.
Pensei o que ela tinha de tão bom que eu não tinha.
Será
que era mais agradável do que eu?
Mais
bonita?
Mais
jovem?
Mas,
ela não tinha a nossa história, nossos filhos, isso não bastava? Eu não sabia o
que fazer porque a gente não para de gostar de uma hora para outra e mesmo
sendo agredida eu só queria que tudo voltasse a ser como era antes. Queria que
ele me olhasse como antes, com carinho, com respeito e amor.
Eu
olhei pra ele que estava tão distante de mim e desejei pedir que ele
reconsiderasse a nossa vida, mas ele não me ouvia. Dias depois cheguei a ouvir
que ela havia feito macumba pra ficar com meu marido. Não foi só isso. Ninguém
invade uma família quando ela está blindada com amor, com Deus. Quando Jesus
está no lar, não existe macumba, praga ou olho gordo. O que acontece é que as
pessoas se iludem. As pessoas orgulhosas acham ótimo quando outras pessoas
apreciam a sua canalhagem. Sair por aí com uma bonitona a tira colo é lindo
para algumas pessoas que não tem vergonha na cara e não prezam a família.
Eu
parei de chorar e arrumei as coisas dele. Falei pra ele ir para a casa dela que
seria melhor já que eu não tinha mais nada de bom a oferecer. Eu não iria
atrapalhar a vida deles, mas me desse pelo menos a satisfação de sair íntegra,
sem ser apontada. Eu e nossos filhos não precisávamos participar daquilo tudo.
Ele se foi e depois de dois meses voltou ajoelhado.
Eu
pensei tanto, em breves minutos o que poderia ser da nossa vida se eu o
aceitasse e se não. Eu sofri e demorei para reconstruir a minha imagem mental de
mulher valorosa. Ele escolheu, eu olhei para ele e o perdoei. Disse que ainda o
amava e que sentia muito tudo o que vivemos nos últimos tempos, mas eu não
queria mais aquele homem em minha vida. Ele foi embora e eu ainda me lembro do
sorriso dele.
Acho que nunca deixei de amá-lo e sentir sua
ausência. As pessoas deviam se
envergonhar de olhar para homem casado. Lar é sagrado e deviam pensar tanto
antes de mexer num lar, numa família. Foi uma pena tudo o que aconteceu.
LILIANE
01/08/17
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“NENHUMA
PALAVRA SE PERDERÁ NO ANONIMATO”
Era como loucura. Um pequeno mundo
separado dos demais. Fui criado com mais três irmãos. Eu fui ensinado a vida
toda a ser homem, machão. Recebi orientações para me comportar como um sedutor.
Meu pai e irmãos eram namoradores e falavam de uma forma sobre as mulheres que
me davam raiva, mas eu me mantinha em silêncio porque seria ofendido e
discriminado se realmente me assumisse.
Eu chorei. Muitas vezes, desejei não ser
daquela família. Não ser daquele jeito. Me esforçava tanto para concordar com
eles que, por alguns momentos, perdia minha própria identidade. Eu precisava
mostrar que éramos iguais e eu tinha minhas namoradas. Todas gostavam de mim.
Eu sempre fui educado e cordial. Elas diziam que eu era um cavalheiro e eu
tentava ser mesmo. Achava que deviam ser bem tratadas como a mamãe devia ser.
Sempre respeitei as mulheres e apreciava
todo o universo feminino. Não sei se posso afirmar minha homossexualidade
naquela época. Eu não poderia ter pensado nisso e segui os trâmites da
sociedade convencional. Encontrei uma moça na faculdade por quem nutri um afeto
sincero e me casei com ela. Sempre fiz escolhas que pudessem conservar nossa
integridade social e, por isso, nunca tiveram nada a falar de mim, de nós. Fui
bom esposo e pai, ótimo filho, irmão, mas não fui feliz. Sempre desejei algo
que não me fora apresentado e ainda não compreendo.
Em minha mente refletiam algumas
intimidades que não fui capaz de clarear para mim mesmo e recentemente comecei
a investigar se eu não fui o maior preconceituoso que já conheci. Acredito que
fui destes que temem tanto o que os outros irão dizer que se escondem a vida
toda. Tão orgulhosos preferem viver a vida que os outros escolhem para si do
que tomar partido, viver de cabeça erguida, apesar das manifestações de contrariedade,
apesar das pedradas.
Eu vaguei por tanto tempo entre os
homossexuais e ouvi muitos despautérios. Ouvi diversas grosserias e tive que
correr, me esconder porque diziam que eu era uma vergonha.
Eu não me assumi, mas não era pra ser não
é?
Eu ainda tenho os meus questionamentos
porque sei que vivi uma mentira, mas fui aquilo que devia ser. Se estive
encarnado num corpo de homem era pra vivenciar todas as expectativas de um
homem e isso eu fiz, mas percebi que não fui sincero na minha posição porque eu
vivi para mostrar aos outros. Nada foi com sincera devoção.
Eu
desejei os homens que passaram por mim e inconsciente, trai minha esposa
diversas vezes. Mentalmente fui desleal, traiçoeiro e mentiroso, por isso,
sofri na região inferior. Ainda estou muito confuso e preciso me tratar.
Aguardo com reclusão o momento em que tudo será desvendado. Agradecido LEONEL
06/08/17
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“DEUS ESCOLHE CAMINHOS QUE NÃO
CONSEGUIMOS COMPREENDER, MAS É SEMPRE PARA O NOSSO BEM”
Sei que fui tirana, vilã.
Eu era boa. Sentia que poderia constituir família e ser boa
mãe e esposa leal. Nem acreditei quando um dia olhei no espelho e revi tudo o
que tinha ocorrido. Quando conheci Marcílio não imaginei que ele fosse casado.
Tinha uma filha ainda pequena. Ele me olhou com tanto carinho e convidou para
sair. Ele não tinha aliança e nem demonstrou compromisso com outro alguém,
assim, fomos nos encontrando e eu me apaixonei. Acreditava que estaria bem ao
seu lado e me deixei envolver.
Eu
não sabia, mas um dia nossos encontros já haviam tomado proporções enormes e,
após conhecer minha família, ele me falou de sua real situação. Eu chorei e
disse que não poderia ficar com ele, mas ele me pediu paciência e jurou que
iria se separar. Eu não acreditei e me afastei dele, dois meses depois ele me
reaparece dizendo que estava livre. Era verdade e depois de tudo solucionado
nós nos casamos. Eu estava feliz e achei que poderia formar minha família com
aquele que amava.
Percebi
que não se pode apagar tudo porque de tempos em tempos a menina vinha ficar
conosco e ela me detestava. Era uma pestinha de cinco anos, tremendamente
esperta que me fazia tantos desaforos que eu não via a hora para ela
desaparecer da minha casa. A situação poderia ter sido contornada, se não fosse
pela mãe da menina.
A
praga disse que não tinha condições de mantê-las e deu a guarda ao meu esposo.
Ele ficou muito satisfeito e não podia imaginar que nós não nos entendíamos.
Ele tinha um amor enorme pela criança e achava que eu também gostava dela
porque eu nunca reclamei. Tive que aguentar e achei que seria fácil, afinal
tinha a escola e mais várias atividades que tratei de arrumar para ela, mas o
momento que estava em casa era um horror.
Não
dá pra imaginar como uma criança consegue orquestrar tanta maldade. Sério, eu
fui uma vítima. Aí entramos em guerra. Eu me igualei e comecei a fazer de tudo
para contrariá-la, mas éramos espertas. Fazíamos tudo sem que ele soubesse.
Vivemos assim por dois anos até que ele adoeceu. Caiu da escada e precisou
ficar se reestabelecendo por alguns meses. Não houve como disfarçar para sempre
e eu não aguentei.
O
dia em que parti, me olhei no espelho e considerei o fato de que era uma pessoa
amarga, vaidosa e infantil. Estava deixando o marido porque não consegui ganhar
a confiança da filha dele. Eu não soube me aproximar da criança. Ela me chamava
de madrasta e falava da Branca de Neve.
Quando
desencarnei me vi como a madrasta da Branca de Neve e passei assim por anos,
até que fui socorrida. Quando cheguei aqui foi muito pior porque me foi
revelado que aquela menina deveria ser minha filha. Ela deveria ter sido criada
por mim e era um desafeto do passado colocado ao meu lado para que pudéssemos
resgatar. Eu não pude ser mãe dela, eu não consegui. Deus escolhe caminhos que
não conseguimos compreender, mas é sempre para o nosso bem.
ALESSANDRA
06/08/17
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“O AMOR É DIVINAL”
Foi tão fácil te amar. Apesar das nossas
dificuldades tudo transcorreu de maneira doce e prazerosa. Eu sempre fui um
homem esforçado. Nunca tive nada. Não tive dinheiro, bens, não tive posição
social, estudo ou beleza. Nada que me tornasse privilegiado. Eu estava
trabalhando.
Eu era feirante e conheci a Amália,
enquanto ela comprava batatas. Como estava linda. Com avental e tudo, não
importava. Quem é linda, é linda de qualquer jeito. Senti o seu perfume e não
ouvi mais os gritos dos meus colegas que tentavam vender as leguminosas. Eu
segurei na mão dela e disse que estava apaixonado. Ela ficou assustada e quis
deixar as batatas, mas eu me desculpei. Eu construí uma vida e uma família com
aquela mulher que foi tudo para mim. Nós conversávamos por horas e eu nunca me
cansava de admirá-la. Ainda me pergunto por que existem pessoas que não se
sentem imensamente felizes por terem família.
Homens que não sabem apreciar as pessoas
boas que têm no lar. Minha esposa viveu comigo por quarenta anos e precisou
passar por momentos difíceis quando adoeceu. Quando ela teve Alzheimer achei
que iria morrer de tanta tristeza. Cuidei dela todo o tempo e não aceitei
quando minha filha disse que a colocaria num internato para que pudesse ser
melhor assistida. Eu poderia cuidar dela e fiz isso.
Fazia tudo com o maior carinho porque sei
que ela também faria por mim, mas o pior foi perceber que as nossas lembranças
estavam se apagando. Ela não me reconhecia mais. Sei que gostava de mim, ela me
amava, mas não sabia quem eu era. Eu a limpava e alimentava. Fazia tudo para
que estivesse confortável, mas ela olhava para mim procurando respostas e não
tinha de onde tirá-las.
Eu fui egoísta porque desejava que ela me
desse carinho e atenção. Foi um momento tão pessoal, tão particular. Ela
desencarnou e, apesar de toda atenção e cuidados que eram necessários, eu senti
falta. A ausência dela deixou um vazio enorme. Eu desencarnei cinco anos depois
e vim direto para cá. Quando cheguei fui informado que tudo ocorreu para
beneficiar nós dois porque estava nos nossos planos passarmos juntos por esta
prova e expiação. Eu consegui fornecer a ela os cuidados que foram necessários
com todo o meu amor. Reencontrei a Amália ainda necessitando de tratamento aqui
para se recuperar das mazelas físicas, mas hoje ela está totalmente recuperada.
Como é lindo o seu sorriso quando me vê. Eu me sinto amado e amparado por Deus.
O amor é divinal. Eu estou agradecido por tudo.
JORGE AFONSO
06/08/17
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“NÓS SOMOS CONSTRUTORES DO NOSSO PRÓPRIO
DESTINO”
Ela
falava e eu não queria ouvir porque achava terrível aquela manipulação. As
pessoas insistem que adolescentes são revoltados, mas não é isso. É
insuportável quando você quer uma coisa e as pessoas não permitem que você as
faça, que você as tenha. Eu tinha que ouvir o que a minha mãe dizia o tempo
todo e eu achava que minha mãe exagerava em tudo.
Ela
pegava muito no meu pé. Em parte por ser filha única, em parte por ela estar
separada do meu pai, ou seja, tudo sobrava pra mim. Ele foi embora e tive que
ficar. Se ela era tão insuportável assim, por que eu tinha que ficar com ela?
Eu sempre almejei ir embora e me preparava para isso quando tudo aconteceu.
Aquela situação poderia ter sido evitada se eu tivesse ouvido o que ela dizia,
mas eu quis enfrentá-la.
Minha
mãe sempre falou que eu era promiscua. Que eu não devia andar cercada de
rapazes. Ela me perguntava por que eu não tinha amigas e não me comportava
diferente.
Roupas
e palavras de mulher vulgar.
Eu
detestava ouvir isso e fazia pra irritá-la, mas eu não pensei que todo mundo
via isso. Decidi ir acampar com meus amigos e realmente não costumava andar com
meninas. Elas não gostavam muito de mim. A real é que elas também falavam
comigo como a minha mãe. No passeio não percebi o que eles estavam tramando e
me deixei levar.
Foram
cinco rapazes que me molestaram. É difícil conviver com isso depois. Você não
sabe como vai se olhar no espelho, nem como vai erguer a cabeça. Eu nem sabia
como iria embora e acabou que quando cheguei em casa parecia que ela sabia de
tudo. Eu desejei abraçá-la, mas fazia tanto tempo que eu não fazia isso, não
fiz. Fui pro quarto e queria morrer. Eu pensei em me matar, mas era covarde ou
esperta, nem sei. Nunca falei nada para minha mãe.
Decidi
mudar de escola e de cara mudei meu jeito de ser. A experiência traumática foi
suficiente para me reformar. Mudei o penteado, as roupas e a forma de falar.
Fui para outra escola e arrumei um emprego. Minha mãe percebeu e se tornou mais
carinhosa. Nós começamos a conversar. Estranho como nos tornamos amigas. Eu
queria estar com ela e contar meus anseios, achava que só ela poderia me
aconselhar.
Eu
segui em frente e superei o que aconteceu. Arrumei um bom homem, formei minha
família e apenas quando tive minhas filhas pude entender o sentimento de mãe.
As inseguranças e preocupações. Eu também me importava com as roupas das
meninas, o que as pessoas poderiam pensar delas e como iriam tratá-las.
Não
desejo para ninguém o que vivi. As mulheres devem se respeitar. Saber se
valorizar e imaginar que, infelizmente, as pessoas julgam e se sentem a vontade
para tratar as outras pessoas como acham adequado. Eu passei pelo que devia
para fazer as pazes com minha mãe e para que pudesse ser boa mãe com minhas
filhas. Doeu, mas compreendi.
VERÔNICA
06/08/17
Foto cedida por Magno Herrera Fotografia
“TODOS SÃO CAPAZES DE, COM ESFORÇO E
DIGNIDADE, ULTRAPASSAR SEUS OBSTÁCULOS”
Eu
tinha tantas dúvidas. Eu não sabia o que fazer. De repente, você chega em casa
e tem cobranças, tudo vencendo, aluguel...
Vai
à geladeira e nada, no armário, nada e quando você chega no quarto tem mulher e
crianças. Tristeza! Eu achei que aquele caminho fosse o mais razoável e também
achei que eu não tinha nada a perder. Um amigo me falou que era infalível.
Trabalho certo, dinheiro fácil e felicidade. Nem pensei. Fui ao local indicado
e até emprestei dinheiro pra mulher fazer a mandinga.
Realmente
funcionou e eu pensei que estava tranquilo porque nunca mais precisaria voltar
lá. Foram dois anos de tranquilidade. Eu nunca me questionei como foi que ela
conseguiu me fazer atrair um ótimo emprego, casa, carro e situação favorável.
Eu só vivi. Chegou num ponto que eu não achava mais que tinha sido por causa do
trabalho que encomendei, mas da minha capacidade. Eu me conscientizei que tudo
o que tinha era por causa do meu esforço e, de repente, perdi tudo de novo.
Foi
tolice porque eu aproveitei que estava sossegado e não construí uma base forte.
Continuei morando de aluguel e, ao invés, de planejar uma moradia, comprei um
super carro. No final perdi tudo de novo. Pra completar até no casamento as
coisas iam mal. Lembrei de como havia saído do atoleiro e corri pra mãe de
santo. Encomendei mais um trabalho. Ela ainda me avisou pra não debochar.
Falou
que eu só perdi porque não dei crédito e o guia não gostou nada. Ele deu, ele
tira... Tudo bem.
Entendi
e fiz tudo direitinho. Daí foi só alegria. Recebi tudo de novo e não dei mais
furo. Passei a frequentar o centro dela e a dar mostras da minha gratidão. Tive
tudo o que quis. Nunca mais faltou nada no nosso grande lar. Agora era nossa
casa e uma bela casa, carrão e a família feliz. Todo mundo tinha tudo o que
queria, joias pra esposa, coisa e tal, mas felicidade não dura pela eternidade
camarada.
Dia
se foi e quando dei por mim tava me sentindo mal. Tudo o que tinha corria lá no
centro e eles me avisaram que eu tinha que cuidar da saúde, mas quem disse que
deu tempo. Enfartei. Passei pro outro lado sem nem ver e quem é que estava me
esperando?
Um
grupo de Espíritos que se ligou a mim quando eu ia buscar facilidades no
centro. Foi duro demais. Fazer trabalho não é pra qualquer um. Muita dor,
sofrimento de todo tipo, fome, sede de tudo.
Totalmente
ligado à matéria. Tentava entender e apanhava, tentava falar e apanhava, se
achasse que estavam agindo mal, nem precisava falar, ouviam meus pensamentos e
apanhava, de chicote mesmo. Era arrastado e tudo o que eu tive de facilidades
em vida, foi só tormento depois de morto. Que horror!
Foi
muito tempo vivendo assim. Eu vim pra cá, pra este paraíso onde estou agora, há
pouco tempo. Depois de tanta oração da minha mãe conseguiram me resgatar. Tô
bem melhor, mas lembranças e o arrependimento ainda me machucam. Eu já aprendi
que precisei expurgar porque a vida que eu tinha era a prova merecida e eu não
aceitava. Nunca pedi pra Deus força.
Coragem, trabalho honesto. Não, eu fui pedir um trabalho no centro. Eu fui
pedir pros Espíritos facilitarem a minha vida e, desta forma, eu recusei os
planos que Deus tinha pra mim. Se as pessoas soubessem doutor. Nunca fariam
coisas deste tipo. Mexer com a espiritualidade só pra barganhar, mexer com o
que não se conhece pra pedir favores. Todos são capazes de, com esforço e
dignidade, ultrapassar seus obstáculos. Deus não quer ver ninguém sofrendo, só
quer que avancemos. Agora eu sei.
TIAGO
20/08/17
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“TUDO O QUE FOSSE NECESSÁRIO PARA QUE
CONTINUASSE BELA COMO SEMPRE”
Eu
limpava o rosto e com todo cuidado me detinha em passar os cosméticos
necessários para firmar minha pele, para evitar que ela tivesse manchinhas
indesejadas. Tudo o que fosse necessário para que continuasse bela como sempre.
Os
anos foram passando e eu passei a odiar as rugas. Como elas me irritavam.
Achava um castigo de Deus minha pele tão linda, alva, de repente, ficar
enrugada, escurecida. Tentava fazer tudo o que fosse ensinado para continuar
com uma aparência jovem, mas eu atraí uma cicatriz terrível. Estava indo para o
trabalho quando fui arremessada por um carro contra uma vitrine. Tantas vezes
me observei nela. Eu sempre fui tão linda.
Após
os cuidados médicos, após tirar as ataduras eles me aconselharam a olhar no espelho.
Eu sabia que nunca mais seria igual e eu não queria ver porque sabia que estava
terrível, mas eu olhei e realmente estava terrível. Eu nem de longe era a
mulher que fui um dia. Eu gritei e quebrei tudo o que pude, dei o maior trabalho
para a equipe médica, coitados. Tiveram que me sedar e meus familiares ficaram
com tanta pena que esconderam os espelhos da casa. Eu não me via e vivi com
depressão por mais de dez anos até que não aguentei mais aqueles olhares. Todos
com pena, sem conseguir me fitar profundamente. Eu sabia o que eles pensavam e
desejei desaparecer. Pra quê continuar daquela maneira? A minha vida tinha
acabado. Eu me suicidei.
Acabei
com aquele corpo que não era mais nada para mim, mas eu não sabia que não
acabava com tudo e quando me dei conta de tudo o que estava acontecendo foi um
horror. Eu presenciei tudo. Todos os preparativos, ouvi todas as conversas, as
risadinhas das pessoas que viram meu corpo, ouvi o choro dos meus parentes e na
urna foi o pior momento. Não estou autorizada para falar os detalhes, mas eu
estive presente até o final. Não fui para o local onde muitos são encaminhados
pelas ondas mentais. Eu fiquei naquele corpo como numa prisão. Vi o finzinho de
tudo, senti toda a decomposição. E quando eu já estava cansada daquele delírio,
senti um puxão e vi minha avó. Ela sorriu e eu dormi.
Acordei
aqui sendo tão bem tratada. Estou feliz, muito feliz porque aqui é ótimo. Tudo
seria melhor do que onde estava, mas aqui é ótimo. Eu agradeço por tudo, mas
ainda não consigo me olhar no espelho. Tive tanto tempo para pensar e parecia
que eu ouvia uma voz dentro de mim que direcionava meus pensamentos. Hoje sei
que era meu instrutor. Eu fui muito leviana, fui muito vaidosa. Eu tinha uma
adoração por mim mesma e isso não pode, não é natural. Isso também é doença. Eu
passo por isso há muitas existências e devia ter esta prova de aprender a
gostar de mim, ainda que feia, mesmo com a cicatriz. Eu deveria olhar o mundo e
não apenas o espelho, mas eu não consegui.
O
tratamento é necessário porque eu ainda estou doente. Ainda não suporto o fato
de estar destruída e preciso me conscientizar porque em breve retornarei e
serei muito feia. Ainda há muito a fazer.
ESTER
20/08/17
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“EM BREVE SERÁ POSSÍVEL”
Eu
desejava um filho de todo o meu coração, mas meus pais achavam que eu devia
servir ao Senhor em celibato. Não sabia explicar o porquê tinha uma fixação por
crianças desde que era mocinha, menina de tudo, mas eu as adorava. Não tinha
como discordar dos meus genitores e num determinado momento tudo estava
arranjado, parti para o internato de onde suponha não sairia mais.
Nunca
desisti da minha ideia e quando fomos ao interior eu desejei fugir. Aquilo não
era a minha vida. A vida que escolhi. Eu não tinha interesse em namorar ou em
me encontrar com homens, eu só queria um filho. Fugi e me escondi tão bem que eles
partiram sem mim.
Eu
não sei dizer o que foi dito as meus pais, acho que eles devem ter se
desesperado, mas eles já não podiam com tantos filhos, acho que eu só era mais
uma. Sem casa e lugar para ir, eu fiquei no banco da praça e ouvi quando duas
senhoras falavam de mim. Elas se aproximaram e me ofereceram um local para
ficar em troca de serviço, eu aceitei. Trabalhei lá durante dois anos e percebi
que o filho da senhora me observava diferente. Ele se insinuou e nós namoramos.
Eu me entreguei a envolvente paixão de forma inocente. Depois disso, ele nunca
mais me olhou e eu fiquei muito triste, comecei a me sentir mal e pensei que
estivesse doente, mas não, eu estava grávida e quando a senhora descobriu me
mandou embora. Mal sabia ela que eu estava esperando o seu neto.
Saí
de lá com dois meses de gravidez e nem sabia o que fazer da vida, mas eu estava
feliz com meu filho na barriga. Ele era tudo o que eu queria e já tinha
conseguido. Era meu, só meu. Fui embora e com o pouco que tinha peguei o ônibus
sem rumo e segui. Em outra cidade, arrumei emprego, moradia e trabalhei muito,
muito mesmo. Meu filho nasceu e foi a luz dos meus dias. Menino bom que nunca
me deu um pingo de trabalho, um nada. Tudo era por ele.
Trabalhava
tanto que logo estava na minha casinha decente e meu Marcelo já tava mocinho
quando eu precisei de um tratamento. Nem sabia que tava doente e o menino teve
que trabalhar. Que dó que eu sentia do menino, mas em nada reclamou. O bichinho
fazia o que tinha que fazer pra levar a comida pra casa. Eu já pensava que
aquela doença ia durar pra sempre, mas de repente, acabou e eu vim parar aqui.
Ah! Seu moço, que tristeza. Eu que fiz tudo pra ter meu menino comigo fui
adoecer. O tempo em que ficamos juntos não deu pra nada não. Tamanho amor que
eu sinto aqui dentro do peito.
Tô
doida pra saber dele, meu Marcelo. Doidinha mesmo viu?! Ninguém me fala nada.
Tô sem saber o que foi feito do meu menino. Eu to achando que foi castigo por
ter fugido do convento. Por ter fugido dos meus pais. Eu nem sei quanto tempo
faz tudo isso, mas parece que foi ontem esta história toda e o menino como
ficou? Difícil demais carregar um amor desse no peito. Eu sabia que ele era um
tudo pra mim, por isso, que eu fugi porque só ele que importava pra mim e eu
fiquei sem ele. Por quê?
LAZINHA
20/08/17
Nota do escritor: havia se passado muito
tempo. Dona Lazinha foi socorrida e passou muito tempo no posto de socorro
porque não aceitou a separação do filho. Tanto tempo se passou que Marcelo
desencarnou no tempo devido e passou por provas necessárias, foi aceito na
colônia, procurou pela mãe e obteve autorização para vê-la. Marcelo está
próximo, apenas aguardando o progresso dela para fazer contato. Em breve será
possível.
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“A VIDA NÃO ACABA É SÓ UM ESPAÇO DE
TEMPO”
Nossas
vidas se cruzam, nossos esforços beneficiam uns e outros. Eu não entendia, eu
não aceitava nada disso. Eu era uma mulher sofisticada, educada,
intelectualizada, porém rude no sentido da sensibilidade. Não me importava com
os outros, nem os enxergava. A vida era apenas, um amontoado de necessidades
materiais, onde as pessoas precisam estar bem arrumadas e saber se socializar
para lucrar com isso, mais nada.
No
fundo muitos pensam assim, mas não podem dizer porque é feio. Tudo bobagens.
Convenções. Demorei
pra entender que os valores são outros. Às vezes, a gente tem que
sentir doer pra enxergar além do nosso umbigo.
Eu
era jovem e tinha uma carreira tão promissora. Não dependia de ninguém para
nada e nem ligava para família, eles me irritavam demais. Até que eu fiquei
doente. Doente de um jeito que não aguentava nem andar. Precisava de ajuda pra
tudo e quem foi me ajudar? Meus familiares e mesmo me irritando, eu precisava
deles e tinha que aguentar. Minha mãe se tornou uma amiga leal, meu pai um
segurança amigo, meus irmãos eram as melhores pessoas que eu conhecia e toda a
irritação foi se transformando num sentimento esquisito que eu não sabia
explicar. Eu ainda tinha uma rebeldia dentro de mim, revolta, mas a vida que eu
tive que assumir foi me lapidando. Carros, joias ou títulos perderam o valor
porque eu não podia utilizar nada disso nem pra ir ao banheiro.
E
eles tinham a maior paciência quando eu gritava e chorava. Minha mãe fazia um
carinho tão bom e meu pai saia de perto pra chorar. Eu sei que ele chorava.
Minha irmã começou a engordar de tanta tristeza e até as crianças tentavam me
dar carinho e eu de carranca. Eu me arrependo muito. Só preciso dizer que eu me
arrependo porque eu tive tempo de sobra e podia ter demonstrado o carinho e a
afeição que eu sinto hoje. Se eu fosse melhor, se eu tivesse a cabeça no lugar,
eu teria aproveitado cada instante ao lado deles. Eu fui tão inútil porque eu
queria a correria e os cargos, os prazeres da matéria, mas não percebi que eu
tinha muito mais que isso.
Eu
tive tanta gente comigo e recebi tanto. Me perdoem do fundo do coração. Eu
sinto tanta saudade de todos vocês. Nem sei como posso dizer que eu sinto
muito. Eu adorei mãe cada carinho seu e não sofra por mim. Eu estou tão bem,
mãe. Eu nem mereço tudo isso. Eu fui covarde. Tudo isso pra ver se eu sentia e
eu só senti aqui de saudade. Agora eu sinto mãe. Eu sinto muito. E você foi a
melhor em tudo. Me deu força, apoio e um amor imenso mãe.
Consola
meu pai, fala que ele nunca errou comigo. Ele deu tudo o que pode, eu que não
entendi, fui imatura e orgulhosa. Eu sempre quis mais do que merecia mãe. Fala
pra Gabriela que ela é linda desse jeito sim. Ela é tudo de bom e eu peço
perdão pelo que falei pra ela. Perdão
irmã. Eu sinto muita saudade e tenho que me tratar de tantas coisas ainda.
Eu vou conseguir. Vocês também. A vida não acaba é só um espaço de tempo. Que
Deus abençoe a bondade de vocês.
MILENA
20/08/17
Foto cedida por Magno Herrera Fotografias
“ERA UMA DOCE OBSESSÃO”
A
afinidade de ideias foi tão grande que nos nutríamos um do outro. Eu tinha o
maior prazer em transmitir meus pensamentos. Toda minha intelectualidade
imortalizada em suas músicas. Era uma honra pra mim. Nunca imaginei que seria
possível e ele percebeu que, de alguma forma, ficou mais expressivo e
perspicaz. Sem muitos questionamentos se pôs a escrever e escreveu sem
dificuldade. Era como se deixasse fluir e simplesmente as ideias fossem
brotando em sua mente. No fundo era eu. Eu a lhe inspirar, eu a lhe comunicar
tudo o que achava da vida. Tudo o que eu acreditava com versos e uma riqueza de
palavras adquirida em outros tempos.
Fiquei
fascinado pela forma como se deixou levar e também pela forma como contemplava
as músicas que eu criava. Em pouco tempo, todos passaram a comentar. Todos
notaram as palavras que se encaixavam e os sentimentos que eram despertados a
partir dali. Meu nobre amigo começou a ser visto e, aos poucos, foi sendo
requisitado, ganhou notoriedade e fama. Eu gostei porque me senti aplaudido
tanto quanto ele. Eu me senti feliz, tive minha vaidade lustrada, mas percebi
que ele queria mais e mais. O dinheiro nunca é suficiente.
Eu
fazia para tocar as pessoas e acredito que ele deveria ter se dado conta de que
todos os pensamentos não lhe pertenciam, eram meus. Comecei a me irritar quando
ele passou a questionar as transmissões. As músicas já não eram boas para ele.
Eu ditava e ele não escrevia porque pretendia agradar. Quando queremos agradar
os outros, isso se torna uma tarefa muito difícil. Já não era bom, já não era
prazeroso trabalhar com ele e fui embora.
Me
vi na mais profunda solidão porque não conhecia outra coisa. Eu havia me
acostumado com o mundo dele. Eu estava vivendo a vida dele e não percebi.
Chorei porque me senti um fracassado. Dependia de um encarnado para falar tudo
o que eu pensava. Que vida! – lamentei. Me joguei na sarjeta e depois de chorar
bastante vi minha mãe tão linda a me estender a mão. Estou aqui há dois anos e
sinto falta do músico. Não consigo me lembrar de um tempo em que fui tão feliz.
Me senti vivo e importante. Eu me senti útil. Eu despertei o melhor nas pessoas
através dos seus sentimentos, mas ninguém nunca soube que era eu. Nem mesmo ele
considerou que era outra pessoa. O arrogante acreditava que era uma mente
brilhante. Tolo!
Quantos
infelizes se julgando superiores perdem a oportunidade de presenciar o intercâmbio.
Quantos não desmerecem o intercâmbio e se acham superiores? Existem aqueles que
sabendo da espiritualidade e também da sua mediunidade, ainda assim, não dão
crédito para o Espírito comunicante. É um absurdo! Eu ainda acho um absurdo,
mas gostava do contato que tinha com ele. Era uma doce obsessão.
MARCONDES
26/08/2017
----------------------Paula
Alves--------------------------------
“EU JÁ FUI AMADA E MUITO”
As
lembranças são tudo o que eu tenho. Elas fazem com que eu me sinta viva e tenha
a certeza de que um dia tudo valeu a pena. Eu já fui amada e muito. Por alguém
que foi gentil e companheiro. Sabe doutor nem tudo na vida são mazelas e
sofrimentos. Existe uma pequena parte de pessoas que estão com os olhos
abertos, acreditam no amor e nas possibilidades de evoluirmos. Eu sempre fui
romântica, eu acreditei e, ainda acreditando, eu tive tudo tirado de mim.
Eu
me lembro de momentos em que eu desejava estar com ele para sempre e isso foi
tirado de mim. Eu não culpo Deus, nunca faria isso. Tenho fé nos Seus
propósitos e acho que um dia tudo será melhor. Eu rezo pra isso, mas hoje eu
estou aqui e sozinha. A vida não me sorri, mas compreendo que estou num local ótimo
e que as pessoas que estão a minha volta desempenham papeis extraordinários
para me fazer avançar e eu nem sei como posso receber tanto. São todos
maravilhosos e em pequenos gestos posso perceber o amor de Deus por mim. Eu não
sei o que aconteceu com o Ronaldo. Eu vivi uma vida toda me perguntando o que
teria acontecido porque eu desejei me casar e formar uma família com ele, no
entanto, fiquei sozinha e isso é triste.
Achei
que quando morresse eu teria um pouco de paz e que meus pensamentos fossem me
deixar livre de procurá-lo, mas tudo piorou. Eu cheguei aqui perguntando por
ele. Como posso aquietar meus pensamentos doutor? Às vezes eu acho que nem o
tempo é suficiente para me fazer esquecer. As lembranças são tudo o que eu
tenho. De um pequeno período onde fui amada.
ELISABETH
26/08/2017
Nota do escritor: Ela
foi abandonada. Ronaldo não queria se casar e sumiu. Elisabeth ainda não se
permite relembrar tudo o que ocorreu. Para ela é sofrimento e dor porque foi
rejeitada.
-----------------------Erasmo
Gurgel-----------------------------
“SÃO DOCES PRAZERES, DELICADAS CONFUSÕES
QUE NOS ENTORPECEM E COMO SAIR?”
Estranho
submundo quando estamos em toda parte. Vivemos nos debatendo uns com os outros.
Intercalando nossos pensamentos, induzindo, confrontando. Muitos de nós vivendo
por viver se atropelam, se embaraçam. Eu vivi por tanto tempo me misturando com
toda aquela gente. Na noite, nos prazeres, consumindo, me embriagando.
São
doces prazeres, delicadas confusões que nos entorpecem e como sair? Alguns
questionam e são mentes tão estúpidas porque acreditam que nós desejamos
prejudicar, alguns sim, mas outros apenas vivem. É só isso o que conhece do pós-morte.
Viciados, delinquentes, mentes doentes. É um paraíso infernal onde nunca se
encontra o ápice.
Sempre
se quer mais. Eu sugava e me sentia atraído por ele. Vivia potencialmente
atordoado e jamais poderia perceber que pessoas iluminadas estavam sempre ao
meu lado. Trabalhadores incansáveis a estimular o nosso bom senso, nossa razão.
Levou tanto tempo e eu ainda sinto o gosto do Martini. É muita vontade. Nem sei
como posso aguentar. Tem dias que eu peço encarecidamente por um sedativo para
não pensar nas minhas noitadas. Eu sinto falta e estou sem corpo, imaginem eles
que estão totalmente ligados à matéria? Tem que ter muita vontade, tem que ter
atitude e apoio de quem se gosta, senão não sai.
To
vivendo um dia de cada vez porque já me avisaram que não é bom voltar pra lá.
Eu não quero voltar. Já to pedindo por um reencarne pra me livrar disso aqui,
mas se eu reencarnar desse jeito, vou querer aprontar na infância. Que Deus
tenha piedade de mim.
TARCÍSIO
12/08/2017
-----------------Paula
Alves---------------
“EU PENSO, PENSO E NÃO CONSIGO ENTENDER PRA
QUE TEM GENTE QUE NÃO SERVE PRA NADA COMO EU”
Sempre
foi meu sonho. Eu tinha ideia fixa, nada me tirava da cabeça que eu tinha
nascido pra isso. Faculdade de medicina. Estudava feito louca e pra quê?
Eu
nunca tive tempo de pensar em Deus porque tinha tanto o que estudar. Coisas que
a gente deixa sempre pra depois porque ninguém acha que a sua hora vai ser
agora neste instante. Eu não curti nada, família, namoro, festas, nada. Eu só
estudei. Acredito que tudo o que eu estudei deve me servir pra alguma coisa um
dia, sei lá. Será que eu aumentei o meu nível de intelectualidade pelo menos?
(risos) O fato é que quando a gente almeja alguma coisa e não consegue sair do
papel é muito frustrante.
Eu
andei pensando que eu poderia ter sido tanta coisa e ter sido o simples pra
ajudar um monte de gente, mas eu quis ser médica e perdi um tempão, não fui
nada. Que inútil né? Perder a vida sem fazer nada. Eu penso, penso e não consigo entender pra que tem gente que não serve
pra nada como eu. É lamentável! Tem os maus e eles prejudicam e são
lembrados por suas crueldades que são grandes feitos se pensarmos por este lado,
eles fazem tanta maldade que induzem o trabalho dos bons que são muitos bons no
que fazem e fazem a gente se lembrar da grandiosidade de Deus que não nos
desampara e nós?
Os
que não são nem bons, nem maus?
Ficamos
onde?
Eu
penso que não servimos pra nada. São aqueles que tentam atravessar a ponte e
ficam parados no meio do caminho. São aqueles patetas que não produzem, não
ajudam, não impulsionam, nada. Zero a esquerda.
São
pessoas que não fazem diferença e as outras pessoas que são muito boas tentam
animar e as outras pessoas que são muito ruins tentam explorar. Quer coisa
pior?
Eu
acho que se tivesse outra chance na minha existência anterior, o que é impossível,
se tivesse eu ia preferir ser caixa de supermercado ou vendedora, mas faria
alguma coisa útil. Qualquer coisa que pudesse aplicar meus conhecimentos, por a
mão na massa, trabalhar, conhecer gente, me envolver com as pessoas, namorar,
entender alguma coisa da vida, sei lá. Estou bem arrependida.
Já
me informaram que eu fui médica na existência passada e fui muito leviana. Eu
não merecia ser médica de novo. Eu infringi a lei e precisei sentir toda a
vontade de praticar a profissão, sem exercê-la. Espero que um dia eu possa ser
perdoada por meus erros. Eu já entendi e digo apenas: vivam com intensidade.
Vivam com alegria como se fosse o último dia, vivam com amor por todas as
coisas. É bom estar encarnado. É bom tentar ser melhor. Viver no bem e seguir o
plano de Deus, é bom. Que Deus abençoe.
LAURIANE
26/08/2017
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