“O
PAI DEVE SER FORTE, DECIDIDO”
Eu
fiz tudo o que pude. Foi tudo por eles e não me arrependo de nada que fiz.
Construí uma família linda. Me casei com uma mulher de caráter, gentil e
trabalhadora que me ajudou a ter filhos lindos e a construir um patrimônio considerável.
As crianças cresciam faceiras, assim como nossos bens.
Quando
os maiores alcançaram a puberdade, minha doce esposa me deixou porque foi
violentamente tirada de nós por conta de um acidente. Eu me esforcei para
continuar sem ela, me esforcei para confortar meus filhos. Três meninos e duas
pequenas. Eu chorei escondido e me apeguei forte com Deus para não fraquejar.
Segui os propósitos da paternidade e vivia para isso.
Nunca
imaginei que um dia iria sofrer as angústias de um fracasso moral como pai
deles. Eu me enganei. Pensei que com minhas posses poderia suprir a carência da
mãe. Penso que a falta que ela fez influenciou nos deslizes que cometeram.
Tantas vezes notei ímpetos de cafajestes, mas fiquei penalizado porque não
tinham os conselhos afetuosos da mãe amorosa. Eu me enganei! Eles tiveram o pai
sempre perto e eu não soube ter pulso firme. Eu me enganei! Passei a mão na
cabeça e evitei contrariá-los e o que eu recebi?
Eu
fui envelhecendo e percebi que não tinha realizado a missão porque eram pessoas
frias e competitivas. Todos queriam amontoar bens e se aproveitar da
ingenuidade dos demais, de todos os que os cercavam. Pessoas vazias. Quanto
pode sofrer um pai quando percebe os seus enganos? Os seus erros?
Eu
ainda sofro e muito. Eu me culpo, não realizei o que estava nos meus planos. O
pai deve ser forte, decidido. Deve estabelecer os critérios de uma postura que
force a pessoa a ser correta e a ser decente. O pai deve se comprometer com a
verdade e não ser omisso ou negligente. Eu fui negligente porque eu fingi que
não vi muitas coisas. Eu falhei!
Perto
do desencarne, já fraco e esmorecido eu pude ser bem tratado pelos serviçais
que me deram todos os cuidados que necessitava e ainda, um pouco de carinho
porque estavam compadecidos da minha solidão. Não houve um filho que pudesse
dispensar alguns minutos preciosos para me ver ou me ouvir. Eles me abandonaram
pelas noitadas, pelos prazeres, pelos atrativos da sociedade. Eu fiquei ali
tanto tempo que não sei mencionar, jogado na cama.
Eu
pensei em todos os momentos em que fiz por eles o meu melhor. Segurei no colo e
fiz dormir. Eu abracei em tantos momentos tentando acalmar o choro. Eu brinquei
e cantei. Me lembrei de situações onde eu mesmo não tive isso do meu pai, mas
proporcionei para meus filhos e quando já estava cansado de pensar ouvi a porta
se abrir. Quando meus filhos entraram e me viram quieto, achavam que eu dormia
e conversaram tranquilamente sobre o que seria feito dos meus bens, assim que
eu morresse. Eu ainda estava vivo. Ainda estou! Eles não se importavam se eu
iria ouvir e eu escutei tudo.
Eu
senti o peito doer de tanta tristeza e frustração. Não existe nada mais valioso
que o sentimento. Eu não me arrependo de tê-los amado com todo o coração. Ainda
preciso entender onde foi que eu errei.
AMARO
13/08/17
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“SÃO COISAS QUE FAZEMOS NO IMPULSO, SEM
MUITO REFLETIR”
Eu bebia pra esquecer. Pra
esquecer a dificuldade, a falta de dinheiro. Eu bebia pra esquecer da fome e do
preconceito que eu sofria por aí. Bebia mesmo e quando chegava em casa tudo me
irritava. Eu não conseguia me controlar e quando percebia já tinha feito
bobagem.
Aquela
mulher me amava tanto que aguentava aquela vida miserável e aquele meu jeito
ruim. Que pena! O menino ainda era pequeno e já via o meu jeito cruel, batendo
na mãe. O pobre tentava acudir e eu ainda batia no moleque. É claro que eu me
arrependi. Que pergunta... Eu não faria de novo porque estas coisas que me
atormentam o pensamento. Eu não aguentei aquilo não e fui embora.
Eu
achei que era melhor pra eles sem mim e sumi sem dar explicação. Eu não era bom
pra nada. Eles não mereciam ser tratados daquela maneira. Fui embora e não
entrei mais em contato. Nunca mais. Passei muitos momentos na vida. Daí pra
frente parece até que piorou. Eu me lembrava sempre deles, em tudo o que
fizesse vinham os dois na minha cabeça e eu ouvia: “Covarde!”. Será que era a
minha própria consciência me avisando que eu não valia muito? Sei lá. Só sei
dizer que isso foi o meu calvário.
Morri,
de repente, de uma doença que eu nem sei como apareceu. Lá jogado no barraco
fiquei com a barriga bem grande e morri. No mundo espiritual sofri como um
cachorro sarnento. Eu fui pra lugares terríveis e precisei fugir de quem
gritava: “Covarde! Você abandonou covarde! O que fez pra proteger o filho que
recebeu?” Eu chorava e escutava choro de criança pra todo lado. Foi difícil de
aguentar. É muita visão, muito choro. É o inferno amigo.
Quando
cheguei aqui estava um trapo, nem sei por que foi que me trouxeram. Eu mesmo me
considero um covarde, mas percebi que tudo o que a gente faz, carrega pra
sempre. Eu fui egoísta e só pensei em mim. Que seria mais fácil sozinho. Nem
liguei para como eles iriam se virar, se passariam mais fome sem mim. Graças a
Deus a minha esposa era mulher decente e se virou pra cuidar dela e do menino
que cresceu com dignidade, apesar de tudo.
Deus
abençoa quem se esforça. Ela estava sempre bem amparada e o menino virou homem
de bem, mesmo tendo tido, o pai que eu fui pra ele. Um nada, um zero. Podia ter
sido marginal, delinquente, viciado, mas não. Virou pai de família e foi um
filho amoroso com aquela mulher que foi joia de mãe. Só Deus mesmo pra saber da
nossa vida. Eu peço perdão porque sei que o Antônio Donizete não teve o pai que
merecia. Eu peço perdão porque minha esposa que já foi viver de novo merecia
coisa bem melhor. Agora é consertar a cabeça pra tentar de novo.
JEREMIAS
13/08/17
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“EU NUNCA QUIS SER PAI”
Quando
é que eu ia saber que aquele filho, um dia, ia ser a minha benção. Eu nunca
quis ser pai. Eu vivia pra mim, pras minhas noitadas. Eu queria me divertir e
achava que não precisava escolher uma mulher quando podia ter todas. Elas
sempre souberam que eu não era de ninguém. Nunca enganei. Eu me envolvia e
deixava claro que gostava de namorar, mas tem mulher que quer mudar o homem.
Elas acham que é desafio mudar o cara que não sente afeto. Tanto que eu avisei
e a mulher apareceu dizendo que apaixonou. E eu com isso? Apaixonou? Então,
desapaixona.
Que
nada. A mulher começou a me atormentar e, de repente, me aparece dizendo que
estava grávida. Quê? Grávida? Eu quase tive um treco. Mandei ela sumir da minha
frente e o que ela fez?
Foi
falar com meus pais. Quando meu velho soube não perdeu tempo. Logo, me colocou
anel no dedo, montou casa e me fez assumir família. Eu não queria compromisso
com ninguém e levei de qualquer jeito. Fui vivendo por viver, tentando
controlar aquela vida que não tinha nada de minha, mas meu pai estava sempre de
olho e me fez ser ativo em casa. Eu olhava torto pra mulher que me castrou e
quando percebi já estava acostumado com minha nova realidade. Fui vivendo.
Muito tempo se passou, tivemos mais filhos, fui me acostumando com ela e quando,
na minha velhice, precisei de cuidados e de refúgio porque minha esposa já
havia partido, foi aquele filho que me recebeu em seu lar.
Abriu
as portas da casa para mim e cuidou de tudo com o maior zelo e carinho. Depois
que desencarnei recebi uma noticia que me deixou profundamente magoado. Ele não
era meu filho de sangue. Ela me enganou, mentiu para mim para me amarrar.
Dentre os quatro filhos que criamos, apenas ele quis ficar comigo, apenas ele
quis cuidar de mim e apenas ele não era meu filho de sangue.
Nós
nos enganamos com as pessoas. Nós nos equivocamos. Eu estou confuso quanto ao
que sinto e a quem sou. Eu amo todos os meus filhos e sinto por ele um amor
infinito, além da gratidão que nos une fortemente porque sempre serei
agradecido pelo que fez nos momentos de dependência, quando tive necessidades
tão essenciais e ele supriu todas. Meu filho eu te amo demais.
AFONSO LUÍS
13/08/17
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“EU PASSEI A MINHA VIDA TODA PROCURANDO
POR ALGUÉM QUE NUNCA CONHECI”
Procurava por
ele em mim, algum traço que pudesse identificá-lo. Sentia que alguma coisa nos
unia e eu desejei tanto tê-lo conhecido. É ruim crescer sem pai. É como se você
fosse diferente de tudo e de todos porque parece que é só metade.
Eu
via os pais dos meus amigos e queria o meu. Todo mundo tem pai. É sim, todo
mundo tem, mas nem sempre a pessoa conviveu com ele e isso faz toda a
diferença. Eu preferia que tivéssemos tido algum problema no nosso
relacionamento. Preferia que pudesse descrevê-lo como alguém ruim, insano,
leviano, mas ao contrário disso, eu não tive ninguém. Nem uma forma leviana de
maldade a que pudesse me identificar. Minha mãe foi uma heroína, mas tinha uma
mente tão fértil, tão criativa.
De
tempos em tempos, ela me apresentava um pai diferente e, apesar de nossa
pobreza e falta de instrução, eu tive muitos tipos de pai. Pai militar que
morreu na batalha, pai milionário que a havia abandonado, pai viciado que havia
morrido de overdose, tive pai bandido, traficante, músico, ator...
Foram
tantos quantos ela conseguisse criar e os filmes a incentivavam a me criar as
imagens. Eu nunca compreendi por que ela fazia isso após os meus
questionamentos. Só percebi quando cheguei aqui. Eu questionei, assim que
cheguei. Onde está meu pai? Quem foi ele? Por que me abandonou?
E
depois de uma série de apontamentos do meu instrutor, pude visualizar o local
onde ele está. Eu chorei sentido e não consigo esquecer. Ele abusou de mamãe.
Foi tão severo e repugnante que desejei nunca ter visto as imagens. Fez isso
com tantas que carregou para si as consequências desastrosas de uma vida, de uma
morte e de um pós morte na região umbralina junto a seres que o castigam até
hoje. Um aspecto terrível, uma consciência no mal.
Minha
mãe preferia qualquer pai, ao pai que eu realmente tive. Ela preferia me falar
de qualquer pai a dizer o que realmente aconteceu com ela. O quanto sofreu,
engravidou por causa disso e ainda me criou com o amor grandioso, mesmo tendo
que se lembrar deste momento doloroso sempre que olhasse para mim. Ela me
chamava de presente de Deus e minha mãe foi para mim, pai e mãe, dentro do que
era permitido a ela.
Eu
sinto muito pelos questionamentos que fiz porque sei que sempre que perguntava
eu a fazia lembrar mais uma vez de todo o sofrimento que vivenciou. Hoje eu
penso em auxiliá-lo. Sei que Deus tem um plano para cada um e assim que me
reformar irei trabalhar para obter a permissão de ajudá-lo. Eu devo estar
ligado a ele porque não consigo me esquecer dele. Que todos os homens possam
ser conscientes quanto à responsabilidade de ser homem com as mulheres.
Que
todos os homens possam ser conscientes a sua possibilidade de reproduzirem-se e
serem responsáveis por outro ser. Grato.
LEÔNCIO
13/08/17
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